terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Restaurante "emigra"


Na segunda-feira passada, o meu amigo Tonho Zé e a sua Estrela fizeram honras ao nome da última e brilharam nos ecrãs de todo o país, através da SIC, onde contaram a sua história, de como fintaram a ASAE e se mudaram de armas e bagagens para o outro lado da fronteira, onde podem tranquilamente fazer aquilo que por cá sempre fizeram: trabalhar, servir com qualidade e honestidade.

A história é emblemática e um verdadeiro sinal dos tempos. A legislação comunitária é a mesma mas nós em Portugal, como sempre, querendo ser mais papistas que o próprio Santo Padre, criámos para aí uma polícia especial que derrete pequenos negócios e as esperanças alheias, fiscalizando até a própria sombra. Os espanhóis, à sua boa maneira e imagem, com o pragmatismo que os caracteriza, disseram que sim mas eles é que sabem e assim continuaram.

A Estrela e o Tonho Zé borrifaram-se para a tacanhez das nossas leis e mentalidades, arrumaram a trouxa e bateram asa. Fizeram um manguito à ASAE e mostraram-lhe a língua bem na linha de fronteira como acontecia nos filmes de cowboys do John Wayne, quando os ladrões de gado se riam nas barbas dos Sheriffs assim que punham o pé do outro lado do estado.

Falei no assunto ao repórter Hugo Alcântara quando esteve entre nós a propósito das Comidas de Azeite e ele aproveitou muito bem a dica. Engendrou uma peça notável que espelha em pouco mais de 2 minutos toda a complexidade da situação. Depois foi só ligar para o telemóvel no Pino para fazer a “ponte” e deixar o espectáculo do mediatismo fazer o resto.

A peça tem rodado pelos diversos canais e em variados horários e eu imagino o Torquemada António Nunes a engolir chapéus no Terreiro do Paço e o coro de comentários de apoio pelo país fora, vindo de muitos colegas do ramo da restauração que certamente suspiraram: “ah! Estivéssemos nós lá perto e haviam de ver se eu não fazia igual!”. Pois é, o assunto merece mesmo uma reflexão mais profunda.

Que raio de país de merda é este que nos matamos uns aos outros por nada. E a culpa disto tudo, e já me ouviram dizer isto mais do que uma vez, é do tal Afonso Henriques que se em vez de andar a espetar surras na velha, se distraísse a caçar faisões, valia-lhe bem mais. A ele e a nós.

Quanto ao Nunes, o tal que diz que “há negócios a mais em Portugal. Se fecharmos metade, ficam só os melhores e acaba-se com os prevaricadores”, mais lhe valia estar calado, o fascista da porra, como se esses que são obrigados a fechar não fossem pessoas como ele, com família, filhos e aspirações de uma vida melhor.

Isto está-se a pôr de uma maneira que não falta muito para me barricar na Torre de Menagem do Castelo com a minha espingarda e uns sacos de aveia para não morrer à fome. E só de lá saio quando a coisa mudar ou o Alentejo se tornar independente.

Quanto ao Tonho Zé e a minha amiga Estrela, já tinha escrito sobre eles nos meus “Desabafos de Marvão”, se bem se lembram, e podem recordar clicando aqui.

Não sou nenhum Zandinga mas as palavras que ouvi deles então fizeram-me escrever: “À Dona Estrela e ao Tonho Zé, um abraço do tamanho do mundo, como aquele que quase demos meio a tremer na segunda-feira. Eu tenho esperança e não há-de faltar muito para que possamos erguer as taças do tal tinto para brindarmos sobre um pato com castanhas como só vocês sabem fazer. Havemos de voltar a ser felizes juntos nem que no final vos tenha que dizer um “gracias” orgulhoso em vez de um “obrigado” envergonhado.", vaticinando o futuro.

Um ano depois podemos sorrir e dizer, "ainda bem que tudo correu pelo melhor".

Muita sorte e muita saúde, amigos, que o resto não vos há-de faltar.

Dentro em breve, conto avançar para aí com o meu pessoal, para celebrarmos a vossa libertação como deve de ser.

Tchim, Tchim!

PS: Gostei muito de ver o nosso António do Talho a tecer elogios aos novos empresários. Um galã, este homem, uma classe e uma calma… Muito nível!


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