terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Restaurante "emigra"


Na segunda-feira passada, o meu amigo Tonho Zé e a sua Estrela fizeram honras ao nome da última e brilharam nos ecrãs de todo o país, através da SIC, onde contaram a sua história, de como fintaram a ASAE e se mudaram de armas e bagagens para o outro lado da fronteira, onde podem tranquilamente fazer aquilo que por cá sempre fizeram: trabalhar, servir com qualidade e honestidade.

A história é emblemática e um verdadeiro sinal dos tempos. A legislação comunitária é a mesma mas nós em Portugal, como sempre, querendo ser mais papistas que o próprio Santo Padre, criámos para aí uma polícia especial que derrete pequenos negócios e as esperanças alheias, fiscalizando até a própria sombra. Os espanhóis, à sua boa maneira e imagem, com o pragmatismo que os caracteriza, disseram que sim mas eles é que sabem e assim continuaram.

A Estrela e o Tonho Zé borrifaram-se para a tacanhez das nossas leis e mentalidades, arrumaram a trouxa e bateram asa. Fizeram um manguito à ASAE e mostraram-lhe a língua bem na linha de fronteira como acontecia nos filmes de cowboys do John Wayne, quando os ladrões de gado se riam nas barbas dos Sheriffs assim que punham o pé do outro lado do estado.

Falei no assunto ao repórter Hugo Alcântara quando esteve entre nós a propósito das Comidas de Azeite e ele aproveitou muito bem a dica. Engendrou uma peça notável que espelha em pouco mais de 2 minutos toda a complexidade da situação. Depois foi só ligar para o telemóvel no Pino para fazer a “ponte” e deixar o espectáculo do mediatismo fazer o resto.

A peça tem rodado pelos diversos canais e em variados horários e eu imagino o Torquemada António Nunes a engolir chapéus no Terreiro do Paço e o coro de comentários de apoio pelo país fora, vindo de muitos colegas do ramo da restauração que certamente suspiraram: “ah! Estivéssemos nós lá perto e haviam de ver se eu não fazia igual!”. Pois é, o assunto merece mesmo uma reflexão mais profunda.

Que raio de país de merda é este que nos matamos uns aos outros por nada. E a culpa disto tudo, e já me ouviram dizer isto mais do que uma vez, é do tal Afonso Henriques que se em vez de andar a espetar surras na velha, se distraísse a caçar faisões, valia-lhe bem mais. A ele e a nós.

Quanto ao Nunes, o tal que diz que “há negócios a mais em Portugal. Se fecharmos metade, ficam só os melhores e acaba-se com os prevaricadores”, mais lhe valia estar calado, o fascista da porra, como se esses que são obrigados a fechar não fossem pessoas como ele, com família, filhos e aspirações de uma vida melhor.

Isto está-se a pôr de uma maneira que não falta muito para me barricar na Torre de Menagem do Castelo com a minha espingarda e uns sacos de aveia para não morrer à fome. E só de lá saio quando a coisa mudar ou o Alentejo se tornar independente.

Quanto ao Tonho Zé e a minha amiga Estrela, já tinha escrito sobre eles nos meus “Desabafos de Marvão”, se bem se lembram, e podem recordar clicando aqui.

Não sou nenhum Zandinga mas as palavras que ouvi deles então fizeram-me escrever: “À Dona Estrela e ao Tonho Zé, um abraço do tamanho do mundo, como aquele que quase demos meio a tremer na segunda-feira. Eu tenho esperança e não há-de faltar muito para que possamos erguer as taças do tal tinto para brindarmos sobre um pato com castanhas como só vocês sabem fazer. Havemos de voltar a ser felizes juntos nem que no final vos tenha que dizer um “gracias” orgulhoso em vez de um “obrigado” envergonhado.", vaticinando o futuro.

Um ano depois podemos sorrir e dizer, "ainda bem que tudo correu pelo melhor".

Muita sorte e muita saúde, amigos, que o resto não vos há-de faltar.

Dentro em breve, conto avançar para aí com o meu pessoal, para celebrarmos a vossa libertação como deve de ser.

Tchim, Tchim!

PS: Gostei muito de ver o nosso António do Talho a tecer elogios aos novos empresários. Um galã, este homem, uma classe e uma calma… Muito nível!


A rainha do blush


Assisto ao “Prós e Contras” na RTP1 sobre a reforma da educação e dou por mim a perguntar-me se a Ministra terá fugido do Museu de Cera da Madame Tussauds.

Só encontro uma explicação plausível para o make-up que a senhora ostenta perante as câmaras: a responsável pela maquilhagem tem de ser professora em part-time, sindicalista ou casada com um membro da classe.

A diferença de tom entre a palidez das mãos e dos pulsos e o rubor das bochechas gera apostas entre os telespectadores que afirmam ser o próprio Sócrates quem está por detrás da caraça, a argumentar e gesticular.

Isto está a ficar bom, está!

A tua sorte, José, é que no próximo domingo é a Matança do Porco da minha freguesia e eu a esta não falto por nada. Se o dia não estivesse tão preenchido, eu sei quem é que estava capaz de fazer quase 500 quilómetros (contando a ida e volta) só para te dar uma rabeta na travessia do Tejo em atletismo.

Ando deserto de ta pregar!

PS: Mas como diz o povo, “há mais dias que chouriços!”. Espera pela demora…

Perguntas que a minha filha me faz e às quais eu não sei responder


Uma das coisas que eu sempre mais quis desde que me lembro de mim é de querer saber. Sempre quis saber mais e mais e mais como se pudesse um dia ser mais rico, mais alto e mais forte por saber mais. Gostava tanto de saber coisas novas que não me cansava de perguntar e é por isso que um dos meus livros favoritos era o “Livro dos Porquês” que tinha um menino como eu na capa precisamente a dizer “porquê?”. Lá dentro, centenas de perguntas das mais variadas áreas eram decifradas em quatro ou cinco curtas linhas que apesar de breves, tinham o poder de abrir os portões do conhecimento.

Eu adorava aquele livro que lia e relia e tanto apreciava por me ajudar a fazer luz no meu mundo.

Vivi muitos anos na idade dos porquês. Na verdade, ainda hoje a revisito sempre que posso.

De forma que aguardei sempre com alguma expectativa que a minha pequena lá chegasse e acho que já por lá anda.

Hoje reparei como está grande... Tão enorme ao ponto de eu reparar nela quando me fitava com as duas azeitonas com que filtra tudo à volta, enquanto balançava os braços pendurados nos braços da cadeira.

“Onde é que tu tens os pés, Leonor?”.

“Ó pai… no chão! Onde é que haviam de estar?”.

E estavam mesmo e ela sorria, como que a roubar o pensamento que me perpassava naquele instante.

Está grande e pergunta. Às vezes… sem eu conseguir dar réplica.

1) O castigo

Há dias, quando entrávamos na escola pela manhã, encontrámos uma funcionária que questionava um dos colegas de sala da minha, com ar comprometido.

“Conta lá! Conta lá o que fizeste?”.

“Roubei”, disse ele com ar convicto.

“Roubaste quem, pá?”, disparei eu, aproveitando a deixa.

“Roubei os dois. A minha mãe e o meu pai”.

“Os dois?!?!?! Ena pá! Logo os dois? Então para que queres o dinheiro?”.

“Ora! Para comprar coisas para mim…”,

E nesse momento uma chamada de última hora impediu-me de chegar ao gozo pleno do interrogatório. O meu entusiasmo ao confrontar o rufia era tanto que me esqueci que ela, de mão dada, observava tudo atentamente.

Nessa tarde, quando em casa e arrumando umas roupas no armário, ouvi-a perguntar: “ó pai, e o meu colega **? Já viste o que ele fez?”.

“O quê, filha?”, inquiri, fazendo-me difícil.

“Olha, o que roubou! Roubou dois! O pai e a mãe! Já viste?”.

“Já vi, já! Já vi que fez muito mal e já vi que Nosso Senhor vai castigá-lo!”, disse eu armado em Ned Flanders dos Simpsons sem sequer pensar no que dizia.

“Deus é que o castiga? Como é que o castiga, pai?”

“…?”


2) Um país

Leio o “Expresso” esparramado em cima do sofá e prendo-me na fotografia de uma menina que corre com um grafitti belíssimo de fundo, com o logo da Coca-Cola e a inscrição “Kosovo Livre!”.

Ela olha-me por trás. Às vezes parece um caranguejo, com olhos por toda a parte.

“Mostra lá essa menina, pai. Isso aí diz o quê?”.

“Ó filha, é sobre um país novo…”.

“Diz lá pai, quem é que o inventou?”.

“As pessoas …”

e fiquei com a voz embargada. Esta é daquelas perguntas que sempre esperei que um filho um dia me pudesse fazer e eu, que já tinha de memória uma resposta ensaiada que explicava o drama dos Balcãs desde os ódios ancestrais às fronteiras do pós-guerra, que transmitia os pilares que sustentam um país e a importância de baterem certo com os de uma nação, que queria ali contar tanto sobre o que de pior há na natureza humana, os dramas dos extermínios e mais mil e uma coisas a propósito que não fui capaz de fazer nem dizer mais nada.

Pensando bem, talvez não houvesse muito mais a dizer.

O resto… há-de ela descobrir.

Por agora, cobiçar o casaquinho vermelho e a graça da brincadeira da menina que corre nas folhas de papel do jornal, é capaz de ser mais que suficiente.

Aspirações


Quis o destino que em três dias me cruzasse com as duas profissões que eu mais gostava de ter, diferentes mas iguais no amor pelas palavras: jornalista e escritor.

Na sexta e no sábado acompanho os homens da SIC e da RTP que nos visitam a propósito das “Comidas d’Azeite”, em cartaz nos restaurantes aderentes do concelho até ao final do mês. Dá jeito ser da mesma escola e compreender melhor que ninguém a ajuda de ter um vereador disponível e às ordens, funcionando como cicerone de todo um concelho, estabelecendo contactos e abrindo as portas, proporcionando assim total disponibilidade para se dedicarem em exclusivo ao processo informativo.

Ajudo no que posso mas não consigo esconder o frémito de emoção ao assistir de lado ao filme no qual gostaria de ser protagonista. Os micros e as câmaras, as luzes e os diálogos, os sorrisos e as confidências… tudo aquilo tem toque de Midas no bailado mediático da informação. As tantas perguntas que eu gostava de fazer.

No domingo leio num jornal atrasado, notícias sobre o José Luís Peixoto, em vias de se tornar do mundo inteiro ao entrar no mercado editorial americano pela mão dos grandes e pela porta maior. Quero tanto que lhe corra bem, porque mais afinidades, é quase impossível:

É da minha idade. É alentejano. É de uma pequena aldeia. Perdeu o pai cedo demais. Adora ler e saber e criar mundos imaginários que gosta de habitar. È fã de música digamos que pouco convencional. Também era adepto do Professor Pardal e queria ser cientista por causa dele, enfim…

Descubro que agora, ainda por cima, começou a correr (como eu!), quase sempre de noite (igual!), cronometrando treinos (sim!), definindo rotas e percursos semanais que cumpre escrupulosamente (como eu!), sentindo-se mais livre apesar do sacrifício (não há dúvida! És mesmo cá dos meus!).

Maneiras que fico mesmo feliz de ver como um conterrâneo meu, de aqui tão pertinho, das Galveias, consegue conquistar o mundo pelo poder da palavra. È bom e é prova evidente de que pode ser possível.

Apesar do sucesso, o Zé Luís trava agora as mais duras batalhas para provar nessa Liga de Campeões que está lá por direito próprio, dono e senhor de uma escrita que se reinventa, se amplia, evolui e afirma.

Eu cá gostava de ser como o Hugo e como o Zé Luís. Mas também gostava de ser professor primário e actor e muitas outras coisas entre as quais ser como sou e fazer o que faço.

Agora que penso nisso, lembrei-me que quando era pequeno pensava que ia ser imortal e esse era o grande segredo que teria de guardar até ser descoberto pelo resto da humanidade.

Na verdade, acho que não crescemos assim tanto quanto pensamos.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O “milagre” (e não o julgamento!) de Nuremberga


É por estas e por outras que o futebol é considerado o desporto-rei.

Tão dramático, injusto e inesperado como a própria vida.




Três notas de rodapé:

1) Não jogamos uma beata. Não merecem a água que bebem e o ar que respiram. Mais valia abrirem uma portinha qualquer e largá-los em pleno voo de regresso.
2) A partir de hoje, o Camacho não serve e jamais voltará a servir.
3) Bem feita para os alemães! Viram bem aquelas caras de nazis?

O "meu" Crime


De toda a gama de oferta jornalística nacional, "O Crime” ocupa de longe, por uma enorme distância, o lugar de publicação rainha do meu coração.

Desde que o “Jornal do Incrível”, que eu lia de fio a pavio, desapareceu, só este preenche por completo a minha sede de notícias, de grandes notícias.

E não me venham com histórias do “Público” e do “Expresso” e do jornalito do Saraiva porque a coisa mesmo é no “Crime”.

A minha devoção é de tal ordem que já experimentei ignorá-lo e passar ao seu lado mas não resisto. Incute uma magia tamanha na minha mente débil que rastejo até à banca mais próxima deserto de lhe botar as unhas em cima.

Ah, meus amigos. Que grande seria o nosso país se as criancinhas lessem “O Crime” desde os bancos do jardim-escola, aprendendo com esta aula clássica do melhor jornalismo aquilo que a arte do bem informar tem para nos oferecer em todo o seu esplendor.

“O Crime” é grande e acho que ele sabe.

Há dias liguei para a RTP a mandar vir com aquele programa da manhã onde dizem que fazem uma revista de imprensa e eu disse ao telefone que raio de merda era aquela de darem notícias só de pasquins e não fazerem qualquer tipo de menção a um jornal de categoria como “O Crime” e o sujeito desligou-me o telefone e disse que aquilo afinal era uma drogaria. Nós, os contribuintes que pagamos os nossos impostos, temos uma palavra a dizer, olha que coisa!

O número desta semana, que me tem acompanhado nos momentos de lazer que vou apanhando, é particularmente bestial.

Em grande manchete, numas enormes parangonas, lança as previsões para 2008 e logo aqui revela uma classe nunca vista. A grande maioria dos jornais que por aí andam adiantam-se logo a dar as previsões no final do ano, ou nos primeiros dias do novo. “O Crime” não! Seguindo a norma que “o primeiro milho é para os pardais”, cala-se bem caladinho e lá para o meio de Fevereiro, avança firmemente com previsões com um selo de garantia e qualidade que tornam os nosso planos mais seguros.

“O Crime” é um manual de sobrevivência.

Quanto à qualidade das previsões avançadas, não se fica por Mayas e Zandingas de 3ª divisão! Não! Aproveita e apresenta a única e fabulosa Maria Graciete que não só nos dá previsões como nos lê efectivamente o futuro.

E a Maria Graciete, meus amigos, para todos aqueles que andam menos informados nestas coisas do oculto, é o verdadeiro Cristiano Ronaldo da quiromancia.

Esta miúda é ultra-profissional e não brinca em serviço.

Na sua folha de serviço presente a páginas 6, surge-nos como uma vidente radicada em Los Angeles, que trata o George Clooney por “tu cá, tu lá” e está habituada a passear-se nos sets dos filmes que nós só vemos aqui pelo burgo décadas depois, quando os compramos em dvds manhosos ao lellos do mercado de Portalegre, isto se não levarmos antes com um balázio dos Asaes.

A Maria Graciete é um luxo e só o olhar para ela nos deixa tranquilos. Numa caixa alaranjada com o sugestivo subtítulo “Conselhos de Vidente”, a prestigiada publicação avança-nos em primeira mão que a nossa Maria Graciete avisou o Kennedy, (sim, sim, esse mesmo! O Presidente dos Estados Unidos!) que ia ser assassinado. Para tal, deslocou-se à Casa Branca e disse-lhe “tin-tin por tin-tin” que se insistisse em ir a Dallas, o mais certo era levar um tiro na corneta e ir de canoa para o outro lado. O homem não lhe deu ouvidos e a história foi o que se viu.

Também a Sharon Tate, na altura esposa do realizador Roman Polansky, foi vítima da sua própria insensatez. A Graciete bem lhe disse, “anda lá filha! Vê lá se te trancas em casa que andam para aí umas seitas manhosas que andam desertinhas de armar confusão e vai na volta ainda te amolam. A cachopinha não quis saber e o Charles Manson, claro, aproveitou e cortou-a assim em postas boas para guardar na arca até ao Natal.

O curso do mundo passou pelas mãos desta mulher.

Por acaso não falou no Martin Luther King, mas esta Senhora, com “S” grande, ou maiúsculo, ou lá como é que se chama, não se dá com qualquer pessoa.

E o que nos diz a Maria cá para o nosso Portugal?

Grandes novidades, meus amigos! O Terreiro do Paço vai afundar-se e o Santana Lopes vai voltar a casar. Duas notícias dadas em paralelo porque de facto, têm a mesma ordem de grandeza. A Floribella vai sair das luzes da ribalta e o Papa vai malhar da cadeira como o Salazar. Vai haver muitos mortos e muito sofrimento, Portugal não ganha o Campeonato da Europa e a Alexandra Lencastre vai ter um acidente. Vai descobrir-se que a Maddie foi assassinada por um vagabundo e o Valentim Loureiro vai de cana.

Dois destaques:

A nossa Maria vê o Sócrates “prostrado no chão, envolto numa mancha negra” e eu se fosse ele, com estas previsões de atentados, já ia mas á alugando um duplex do outro lado da fronteira. A mancha é capaz de ser ruptura no cárter.

Resta uma notícia boa para o Alentejo, com a descoberta de petróleo nestas terras. Fico com um sorriso optimista e já vejo o Rondão de Almeida a saltar como um girino. Para a Maria, “Elvas vai estar em grande”.

Informação de primeira linha, rapaziada!

Mas “O Crime” não se fica por aqui.

Só neste número apresenta:

- uma extensa reportagem sobre o “Pifas”, o rei dos assaltos que com apenas 18 anos “fanou” 2.500 euros em ouro, à sua própria mãe, numa tarde de Março de 2007 e nessa mesma noite já o tinha esturrado;

- a história de uma mulher que foi chorar o marido ao funeral e foi presa assim que o caixão entrou no buraco, suspeita de o matar;

- uma fotografia inédita do olho de vidro do José Cid, na rubrica “Que saudades”;

- uma entrevista nas centrais com o Marco Horácio e o seu Rouxinol Faduncho;

- A trágica história de um jovem que levou 28 facadas por 12 euros;

- e o destaque do episódio da jovem que morreu electrocutada quando praticava sadomasoquismo com o companheiro. Parece que era hábito darem assim uns choques para ver se a coisa animava e o rapazito, deixou-se levar pelo entusiasmo e esturrou a piquena que também não se podia queixar porque tinha a boca tapada com aquela fita-cola mais grossa que se vende na Loja do Chinês a euro e meio. Esta pode bem servir de aviso à malta menos informada que gosta de meter os dedos nas tomadas quando está prestes a atingir o clímax. Cuidadinho, ãh? TZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ! PUM!


Mas “O Crime” vale muito mais. Na verdade, só a página de detectives e bruxos vale o preço de venda ao público. São mesmo muitos e tratam de tudo: temos os Professores Fofana, Sissé, Sidya, Eros, Madi, Diaby, Muctar, Mohamed, Biai; Baio e muitos outros que acabam de um dia para o outro com o alcoolismo e a impotência que são duas coisas que não dão jeito nenhum. Temos o Raul Duval, a vidente Ana Paula e a médium Fátima Mendes e não me venham com histórias que não vale a pena sofrer com tanto apoio especializado.

A página “Mensagens de amor” é outra relíquia a não perder, com anúncios da qualidade de um “Cantinflas Português” e o “Rei dos Feios” que espeta tudo o que tenha entre 20 e 50 anos. Com “casa em Albufeira e carro” o rapaz não faz a coisa por menos e acho que é de aproveitar.



Dois destaques finais:

Um para o “Correio dos leitores” onde se escamoteiam (bela palavra!), assuntos da delicadeza de um vizinho que espreita raparigas, uma velha insuportável e dvds da candonga;

E um segundo destaque para a notícia da última página que nos dá conta que o Nuno Guerreiro, o panasca a quem o criador trocou a voz com uma menina de 10 anos, e os amigos, escavacaram a pastelaria “Jau” ali no Largo do Calvário. Não se faz! E eu pagava para ver as bichonas todas a partirem vitrinas e mandarem bolos de arroz para a linha do eléctrico. O Sr. Manuel da Costa, um dos sócios, queixa-se até que lhe fizeram desaparecer um puxador de uma porta e a máquina das bolas! Eu estive cá a pensar e sendo rapaziada desta, até aposto que sei o buraquinho onde a esconderam. Assim pelo tamanho….

Bom, caros leitores e amigos. Deixem-se de tretas, mandem este blog à fava, não percam tempo e leiam mas é “O Crime” que aí sim podem aprender alguma coisinha de útil para as vossa vidas.

Para quem já não apanhar este número mítico na banca do nosso amigo Boto (este por acaso até o comprei no Tapas), fiquem sabendo que eu alugo o meu por 6 euros e meia à meia-hora.

Garanto-vos que vale a pena!

Inscrições pelo 1618.

Colheita de 2008

Eu sei que a música e os vídeos não são dos assuntos mais requisitados aqui pela taberna mas o que é que querem? Não me consigo desligar desta minha melomania, desta minha missão evangélica de divulgar tudo o que de bom me chega aos ouvidos.

Não seria capaz de sobreviver sem música.

A música acompanha-me sempre e desde sempre e passo a vida a compor a minha própria banda sonora que estará sempre incompleta.

Um dos meus passatempos favoritos é escarafunchar na internet, nos jornais, nas revistas e nas televisões à procura da minha próxima banda favorita e divirto-me imenso com esta busca incessante.

Porque nunca tem mesmo fim.

Dos últimos tempos, duas pérolas preciosas: os discos de estreia do Lightspeed Champion e dos portugueses Sean Riley and the Slowriders que vi há dias no nosso CAEP de Portalegre.

O Lightspeed é um freak londrino, um alien que aterrou sabe-se lá de onde e que faz música como eu não ouvia há muito. Correr no escuro à luz do luar com isto a bombar nos ouvidos é de ir às nuvens e voltar! 5 estrelas!

O Sean Riley é o Afonso, um rapazito que tem o sangue dos grandes cantautores americanos a correr-lhe nas veias e que fez um disco belíssimo que há-de durar muitos, muitos anos. Façam o favor a vocês próprios de não passar ao lado disto.


Abraço!

Como dizia o bom do Sérgio: “Fiquem em paz e que o som vos acompanhe!”.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Pesar...


Volto à minha Beirã para um funeral, mais um funeral, confirmando uma estatística tenebrosa que teima em se reafirmar.

Chove como nunca antes neste ano e o Inverno parece ter chegado de vez.

Quando entrei na calçada de paralelos reparei que o ribeiro, onde eu brinquei verões em fim, parecia querer transbordar pela força da enxurrada.

Apagou-se mais um vulto, uma personagem, uma figura daquelas muitas que compunham o universo da minha aldeia. No caso, o Sr. Correia, figura distinta e com uma classe cativante de outros tempos que eu conhecia desde que me lembro. Já tinha muita idade mas a sua lucidez clarividente e a aparente forma física enganavam quem lhe queria decifrar a idade.

O Sr. Correia era daquelas pessoas que ainda hoje me tratavam por Pedrito e me faziam sempre sentir que ainda tinha seis anos e podia sair a correr por aqueles canchos fora, de fisga no bolso e maço de Kentukis na mão, sem que ninguém me pudesse apanhar.

Nem sabia que estava doente, de forma que me apanhou assim de surpresa.

Via-o na Anta, quando por lá passava, e cumprimentava-me sempre com extrema delicadeza. A Dona Fortunata, sua esposa, parecia-me sempre mais abatida e chorava quando eu cumprimentava, deixando fugir pela face abaixo umas lágrimas furtivas com saudades de sabe-se lá o quê. Do tempo… Como se eu fosse um elemento que vinha do passado para a assombrar ali, uma memória de épocas que sabia que já não podia viver.

Porque a vida tem destas coisas e se há sítios que eu dispenso, são os funerais.

E não é por muita coisa. Custa-me sobretudo por motivos óbvios:

porque há sempre gente que faz questão de falar de tudo e de nada sem sequer ter noção do que está ali a fazer (até negócios de gado uma vez ouvi fazer em pleno velório)...

porque há rapaziada que vai para ali como se fosse para o cinema, só para ver a dor alheia num espectáculo de comiseração sem par...

porque fico completamente sem jeito e sem saber o que hei-de fazer e como hei-de reagir...

e sobretudo, porque para haver um funeral, tem de haver alguém que deixou de existir, que deixou de respirar, que deixou de ser.

E isso dá-me muita pena.

Depois das condolências, vim para o exterior e via a chuva cair quando dois olhos me sorriram do lado de lá da soleira. O Primo Amieira e o Chefe Neves, falavam dos tempos passados e dizem-me eles (os dois para aí na casa dos 80), a mim (34!): “ai Pedrito, o que vai ser da nossa Beirã. Tudo acaba!”.

E esta é uma coisa fantástica para se dizer porque o facto de termos os três vivido uma Beirã nos seus tempos áureos, ainda fervilhante de vida comunitária e de força, faz com que haja um elemento transversal às nossas vidas que é capaz de superar a própria idade.

Estes dois jovens, que conheceram bem o meu avô Sobreiro, que eu já não tive a sorte de apanhar nesta encarnação, falaram comigo como contemporâneos na plena acepção da palavra.

Quando encontro o meu amigo e vizinho João José Bicho (também nos oitentas?) a beber café com os seus amigos de geração, costumo gracejar e dizer “eh pessoal do meu tempo!” e eles riem-se mas eu sei que tenho razão. Se estamos todos vivos na mesma altura, então são do meu tempo! E se assim é, estes dois amigos da Beirã de hoje fizeram-me acreditar nisto como nunca.

Na minha mente e na deles persiste a mesma ideia: a da extinção de uma terra.

Pode haver Antas e UAIS e trabalhos ultra-meritórios, que eu respeito profundamente, mas tratam-se de cuidados paliativos. Balões de soro e oxigénio que retardam a sobrevivência mas jamais devolverão a qualidade de vida. A da nossa aldeia já foi.

Pergunto-me se os romanos que viveram no apogeu do império e os que sentiram as primeiras rupturas no casco terão tido noção do que se passava à sua volta.

Na minha terra foi diferente, morreu com data marcada, quando as fronteiras se abriram para a Europa e as do futuro se fecharam para nós, como eu costumo dizer.

Nascida com o progresso. Sacrificada pelo progresso.

A história de uma terra e de duas ou três gerações, num abrir e fechar de olhos.

Quando por ali estou, percebo aquela história dos elefantes irem todos morrer ao mesmo sítio, ao lugar deles, onde se sentem bem.

Por pouco ou nada que ali haja, cada pedra tem uma história, uma memória, um significado, uma palavra para preencher este quebra-cabeças que é a nossa existência.

A Beirã há-de ser sempre nossa e nós dela, sobretudo quando há mais um elo que quebra e se dissolve para sempre.

Falei por telefone com o Jorge Miranda. Ligou-me em missão diplomática e acabámos por falar num almoço que há muitos anos vimos acalentando, com os miúdos todos daquele tempo cujo rasto perdemos pela vida fora. Perguntei-lhe se era em Setembro e ele disse-me que a altura era boa.

Será que somos capazes? Eu imagino logo uma sala enorme e nós todos mais gordos, mais carecas, com filhos ao colo e a rirmo-nos de nós. Há gente que eu gostava bem de abraçar…

De tarde proponho uma visita às Acácias, ao tanque da Broca, à Estação e ao Campo da Bola (Será que ainda lá vive a família de lacraus debaixo das pedras da baliza?).

À noite, jogamos aos castelos nos Adro da Igreja até o cuco cantar.

Alguém alinha?

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O Salvador da Pátria (e não! Não é o Scolari!)


Quer ler a notícia? Clique aqui.

Para aqueles que andam mais distraídos, fiquem a saber que nós cá em Marvão temos um novo herói.

É verdade!

E por mais que continuem com esta mania tremenda de quererem puxar para Portalegre ou para outro sítio qualquer aquilo que é nosso e é bom, eu digo-vos que desta vez não vamos deixar.

O homem que salvou o Ramos-Horta, o Presidente de Timor-Leste, é de Marvão, catano!

Bem podem vir com histórias a dizer que era enfermeiro não sei onde e que era bombeiro em tal parte e fazerem de conta que nós não existimos que nós sabemos bem ao que isto vai.

De Marvão, meus amigos. De Marvão porque a malta daqui é feita desta massa.

E esta é uma daquelas casualidades que nos deixa a todos, filhos desta terra, felizes.

Soube dos atentados logo na rádio, pela manhã, e custou-me ouvir como é possível que os interesses instalados, farejando petróleo, poder e minério, podem deitar por terra os sonhos de um país que todos nós ajudámos a parir, pelo menos em pensamentos.

Não há certamente alma viva que não se tenha arrepiado ao ver as imagens não editadas do massacre do cemitério de Santa Cruz, num cenário bizarro de terror inimaginável no qual seres iguais a nós foram caçados como se de animais selvagens se tratassem.

Gritos, campas e poeira. Olhares trémulos e orações em português.

Não pode haver gente que respire que não se tenha comovido com a coragem de Xanana e dos guerrilheiros das montanhas, com a classe diplomática e a luta de bastidores de Ramos-Horta, com a notável onda de solidariedade que uniu todo o país.

É por isso que tão duro ver como tudo se desmorona de um momento para o outro.

O sentimento que tenho em relação a Timor é o de uma criança que assiste impotente ao divórcio irreconciliável dos pais.

É difícil demais sobreviver enquanto estrutura organizada quando há tanto em jogo e predadores tão grandes a rondar a presa.

Quando soube do atentado, fiquei triste por todos aqueles que morreram e lutaram por Timor, por todos aqueles que tanto trabalharam para o reerguer das cinzas, por todos aqueles que tombaram na última grande epopeia democrática dos nossos tempos.

Soube por familiares, meus colegas de trabalho, que o Jorge tinha estado em cima do acontecimento.

Nunca pensei foi que fosse tanto!

Um pouco mais velho que eu, o Jorge sempre foi assim um gajo circunspecto, que parecia mais velho que os outros, talvez pelo seu próprio percurso de vida. Quando nós só pensávamos em ramboiar, ele mantinha assim aquele ar algo sisudo que lhe conferia uma respeitabilidade insuspeita.

Já tinha ouvido dizer que era um profissional a toda a prova, do género daqueles gajos das séries que dão na televisão, digno de entrar num “Dr. House”, um “E.R.” ou numa “Anatomia de Grey”.

As voltas que a vida dá, hem? Quem é que lhe havia de dizer, quando embarcou nesta missão, que haveria de ser ele a salvar o nº 1 deste estado tão nosso irmão. Aposto que quando ouviu falar de Timor, se lhe dissessem que num fatídico dia, as suas vidas se haveriam de cruzar, o Jorge acreditaria tanto como eu acredito que me há-de sair a bonoloto espanhola onde nunca jogo. Mas olha, aconteceu e ainda bem que o homem esteve à altura. Se fosse eu e visse o outro tão mal e aos gritos, o mais certo era começar também aos gritos feito macaco, correndo como um louco pela vegetação fora. Mas também é verdade que eu nunca poderia ser, senão que raio estaria lá a fazer?

A última vez que falei com ele foi no bar do Hospital de Portalegre, quando eu visitava a minha mãe então internada e na qual trocámos algumas impressões. Sempre foi assim um low-profile e não me estranha nada que seja mesmo verdade quando diz que não se sente um herói. É o género dele.

E ele é de Marvão, atenção!

Hoje tive oportunidade de brincar e felicitar o pai e a irmã que em vez de parabéns e abraços, antes o querem cá! Eu percebo.

O progenitor, obviamente babado como é mais do que natural, não conseguia esconder o orgulho, a quem o conhece e até lhe garanti que o mais certo é o filho ser condecorado não só em Portugal como em Timor também. Só espero que o Tio Cavaco não se esqueça do rapaz e faça aquilo que é devido.

Quanto ao Ramos Horta e aos timorenses, era fixe se dessem aos naturais do concelho do salvador, um estatuto tipo”tudo à pala”, com direito a férias à borla para surfar e curtir naquelas praias maravilhosas. Mesmo que não chegue a nós, pelo menos a ele e aos dele é capaz de chegar e ainda bem porque é mais do que merecido.

O caso é mesmo para louvores. No Cavaco não mando eu mas cá pelo burgo, é mais do que merecida a atenção.

Pela parte que me toca…

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Apresentando, O Magnífico Circo Cardinas


Meus amigos,


Espero que tenha sido tão bom para todos vós como foi para mim.


Esta tinha que ficar imortalizada e o cartaz comemorativo, que deu horas de trabalho, parece-me que ficou à altura da actuação.


Bem hajam e um grande abraço a todos!


Do Pedro

O Folião do Marvão - Os Metralhas, Circo Cardinas e o Enterro
















Realmente, já tinha saudades disto mas a ausência parece-me que está mais que justificada: foi um Carnaval rijo, pessoal!

Festa é festa e mal havia tempo para descansar, quanto mais para escrever…

Mas agora, no rescaldo da coisa, olho para trás e vejo que há mesmo muitos motivos para sorrir.

Santo António das Areias, 10 de Fevereiro de 2008

Composição

O meu Carnaval

O meu Carnaval foi bem divertido, o gajo.

No meu Carnaval, eu e os meus amigos rimo-nos muito uns com os outros e com as parvoeiras que fazíamos e com os restantes meninos também. No Carnaval sentimo-nos todos mais libertos e bem dispostos e capazes de pensar que o que interessa é estarmos bem.

Eu aqui há uns anos não ligava muito ao Carnaval.

Quer dizer, quando eu era pequeno, vestia-me como todos os outros e íamos passear para a Carreira de Cima de onde regressávamos cheios de frio e algo desiludidos por não termos visto aquilo que queríamos.

Depois cresci e deixei de achar assim piada às coisas do entrudo. Cheguei mesmo a pensar nos totós que eram os crescidos quando se vestiam nesta altura, de médicos, marinheiros, mulheres e vampiros. Achava que isso já não era coisa para a idade deles.

Mas depois, como pela boca morre o peixe, começaram a haver outra vez bailes e desfiles na minha terra e eu também me juntei à coisa. E correu bem aquilo, pá! Pelo menos a gente gostava e isso era o mais importante.

Comecei num grupo pequeno que contava já com foliões de larga experiência nestas andanças e depois fizemos algumas contratações de luxo que habitualmente desfilavam na vila e a coisa ficou no ponto.

Agora temos um grupo definido, ao qual se juntaram mais alguns companheiros e digamos que levamos a brincadeira muito a sério na medida em que fazemos reuniões e trabalhamos muito para que depois corra tudo como esperamos.

Agora, como o Carnaval cá do sítio já tem muita graça, passou a ter também muita gente e os senhores dos cafés dizem que gostam disso. È porreirinho porque a malta assim brinca cá em casa, não anda às voltas em sítios onde não conhece ninguém a fazer figura de parolo.

Este nosso Carnaval é bom porque não ligamos a danças sincronizadas e a vestidos caros. Aqui é assim do género “meia bola e força” e corre tudo muito melhor.

No meu Carnaval houve muitos grupos que desfilaram, muitos mascarados por todo o lado, houve chuva e desfiles e bailes e discotecas e alegria e boa onda.

Eu até podia contar mais coisas mas não vale a pena porque no fim apareceu lá um bispo para o enterrar que fez uns versos que dizem mais ou menos como tudo foi e como ele os deitou fora, eu corri a apanhá-los e agora deixo-os aqui.

Eu agora já gosto muito do Carnaval e até digo que o Carnaval é como o Soares aqui há uns anos: é fixe! (e eu gosto muito!).

PS: E mesmo que não vá ninguém ver não faz mal porque quem brinca, brinca para ele mesmo e não para os outros verem. Se vierem, melhor, mas não é por haver mais ou menos gente que a coisa corre bem ou mal. Nós é que sabemos!

E reza assim,
Nesta 3ª edição,
Do nosso lindo Carnaval,
Muita folia e divertimento,
Como nunca houve igual.

Esta é uma festa do povo,
Da nossa comunidade,
Pequena, mas feita com gosto
E com muita originalidade.

Batemos por muitos a concorrência,
O Crato, Elvas, Castelo de Vide e o tripeiro,
Já estamos mesmo ao nível,
Do Carnaval do Rio de Janeiro.

Só nos faltam as mulatas,
Com os rabinhos a dar a dar,
Mas houve por aí umas galinhas,
Que deixaram muitos a salivar.

Começámos na 6ª feira,
Com o desfile das escolinhas,
Desfilaram as professoras, as empregadas,
E também as criancinhas.
(e eu gosto tanto de criancinhas!)

No sábado abriu o batuque,
Que não chamou muita gente,
Mas mesmo assim apareceu,
O pessoal mais resistente.

No domingo houve chuva a cântaros,
Que deixou a barragem rasa,
Mas mesmo assim não conseguiu,
Que ficássemos em casa.

Com bom tempo todos desfilam,
Disto estamos nós seguros,
Agora com frio e água,
Só desfilam os mais duros. (como nós!)

Tivemos índios e cáubois,
Guardas civis e os Metralhas,
Um grande grupo de Elvis,
As “St.º António Stars” e mais alguns canalhas.

O Bar do Tirolês foi de luxo,
Trajado e decorado a rigor,
Mas com uma invernada destas,
Não vendeu nem um licor.

O baile de segunda esteve bem,
Houve muitos mascarados,
Travecas e um casamento,
E mais alguns saca-rabos.

Na terça foi em grande,
Ruas cheias, praça apinhada,
Acertámos em cheio no coração,
De adultos e criançada.

Galinhas loucas aos gritos,
Galos gigantes, ovos pelo ar,
Hippies num descapotável,
Apinhado e a fumegar. (coisas esquisitas)

Até uma criancinha,
Nasceu em pleno desfile,
O pai, o grupo da Relva,
A mãe, uma idosa de perfil. (que já foi pedreira!)

Da Beirã veio um carro,
Um Motocultivador,
Com um motorista engraçado,
E uns mosqueteiros cheios de calor.

Tivemos um circo nunca visto,
Repleto de artistas de gabarito,
Palhaços, acrobatas, mágicos e ciclistas,
Encantadores, um índio, um preto, um escarapão, uma pomba e um coelhito.

Num espectáculo inédito,
Encantou a multidão,
Com números de qualidade,
E sem cobrar um tostão.
(mas mesmo assim juntamos umas massitas para uns copitos!)

Pela 1ª vez houve jantar,
Que reuniu os foliões.
A mesa conversaram,
Sobre fatos e actuações.

E eis que nos encontramos,
Nesta ponta final,
Em que encerramos com chave de ouro,
O nosso Carnaval.

Aqui todos reunidos,
Teremos de constatar,
Já que o gozámos,
Temos de o enterrar.

Todos os convivas chorando,
As viúvas, as carpideiras,
As criancinhas, a assistência,
As antológicas bubedeiras.

O nosso folião bateu a bota,
Deu o peido-mestre, esticou as muletas,
Vai prá “Quinta dos Pés Juntos”,
Pró “Jardim das Tabuletas”.

Pegando-lhe fogo despedimo-nos,
Deste nosso querido “Hermano”,
Adeus, adeus Folião,
Volta sempre, até pró ano.

Que Deus o tenha em descanso,
Muitos anos sem nós.

Amén