Montegordo 2014 créditos fotográficos: sr. tio sabis
Ainda
estou muito longe de conseguir perceber essa maravilha estapafúrdia chamada
Google+. Sei que nos dias de hoje, tudo
o que é tecnologia e multimédia vale quase como tanto quanto a vida. Mas ainda
assim, prefiro o ser, o respirar, o tocar, o comer e um cigarro saboreado a
contemplar a paisagem. Tudo aquilo que nos faz sentir vivos.
Nestes
últimos dias tenho-me desvorciado das deambulações narcísicas facebookianas de que
sofremos todos os que por lá passamos. Mais ou menos tempo, de acordo com as
andanças diárias de cada um, mas sempre a mais do normal que seria desejável.
Tenho
andado arredado a viver. O que é muito bom. Não partilhável nas redes. Mas
sempre partilhado na vida.
Traído
pelo segundo smartphone que caiu em K.O. técnico do nada (Sony Xperia - Samsung
SIII mini), ainda atordoado pelo segundo tablet gripado (também Samsung) pelos
ares que lhe deram, tornei-me info-excluso.
Afastei-me
do @rroba.
Como
não consegues viver sem elas, hoje depois de ver as notícias passeei e
deparei-me com isto. Como é óbvio: fiquei rendido.
Diz-me
espelho meu, espelho meu: porque será que acho que tu sabes coisas de mim que
nem eu sei que as sei, ou vivi, ou sequer me lembro que as vivi.
Afinal
este Papa Francisco não mete só a populaça a dançar tango na Praça do Vaticano
quando faz anos; nem só diz, sem complexos e sem peias que sendo argentino,
gosta de vinho tinto.
Ele
foi o grande motor disto que está a acontecer. Esta mudança histórica, há uma
década impensável, aconteceu mesmo e é tão bonito de ver as famílias a
reencontrarem-se com os prisioneiros agora libertados de ambos os lados que
tudo isto me comove.
Papa grande mas não é o único motor de justiça e alegria no mundo
E como
dizia O GRANDE Dylan, os tempos estão mesmo a mudar.
E isso
é bom.
Muito
bom.
Bastava
os galos no poleiro serem outros como os depostos (pela vontade ou pela lei da
vida), mais fechados, menos sensatos, para o mundo ser menos feliz, menos bom
de se viver nele hoje.
Adoro
a música e o vídeo. Isto para mim é punk rock dos anos 2010.
Se original
faz-me dançar e é muita bom, fiquei rendido com a versão da Dona Alice da qual
só consegui captar um excerto. Só consegui gravar o refrão mas ela traduziu-a
toda! Sério! ;)
Tive
este sentimento num dia de Verão quando abalaste,
Bati
com o carro contra uma ponte, fiquei a vê-lo arder,
Meti
as tuas merdas num saco e atirei-as escadas abaixo,
Mandei
o meu carro contra a ponte.
Que cá
saber disso! Adoro! Quero lá saber disso!
Estás
numa estrada diferente, eu estou na via látea,
Tu
queres-me com os pés assentes na terra, mas eu estou no espaço,
És tão
difícil de satisfazer, temos de rebentar esse interruptor,
Da janela onde passei uma infância e da qual nunca mais vou olhar...
A
minha Leonor, de 13 anos, ontem viu o post que eu estava a fazer no facebook e
disse: “valha-me Deus!”
“Valha-te
Deus porquê?, Leonor. És parva?”
“Ó
pai, valha-me Deus porque o facebook não é para esses testamentos…”
Se
não é para estes testamentos, agora aqui, a sós, em casa como eu gosto e mereço
estar, sozinho comigo mas com o espaço todo da minha tasca virtual, posso dizer
o que me vai na alma. É aqui que me confesso. É aqui que me encontro. É aqui
que me descubro.
Isto
é público?
Não
interessa. Quero lá saber se o psicólogo tem um altifalante atrás da cadeira,
para a praça toda ouvir. Eu sou transparente. Não tenho espelhos. Só vidros,
porque sei bem o que vai cá dentro.
Manhã
difícil. Dizem que os homens não têm medo. Mas eu estava com medo de fazer isto
e de voltar àquela casa. Ainda assim, alguém tinha de ir “despejar” os últimos monos
antes de uma senhora lá ir limpar a casa que sempre foi a da Cali, para que
possa ser entregue antes do final do ano, que já está pago e será o último para
sempre.
Uns
não podem (mesmo que quisessem, que eu sei que querem), outros não estão cá
(infelizmente para tudo), outros têm de trabalhar e têm mais de fazer até
porque esta guerra não é a deles, outros liminarmente não querem e… o Pedro
Sobreiro teve assim de se encontrara
sós com o passado e fazer uma pega de caras a esse animal pesadíssimo. Trabalho
muito pesado. Não pelo esforço físico mas por ter percebido mais uma vez que as
casas não são quatro paredes e um telhado. As casas têm vida, as casas têm-nos
lá dentro e estão dentro de nós. Cada prateleira que tirava da parede, cada
azulejo que tocava, cada armário que abria, cada até autocolante que me
aparecia no chão vindo sabe-se lá de onde, que até o pensava há muito
desaparecido, mexiam comigo, faziam-me suspirar e fechar os olhos.
Eu
já sabia, porque já pensei muito nisso, que os passos mais importantes da nossa
vida têm de ser feitos a sós. Nós sozinhos. Quando se nasce e quando se morre,
por mais acompanhados que estejamos, seremos sempre nós a darmos o primeiro ou
o último suspiro. É assim e nada há que possa ser feito para combater e alterar.
Quanto
à casa… eu sou aquilo, eu sou ali também e tive de voltar e respirar tudo outra
vez. A aparelhagem, a marquise da cozinha onde passávamos as tardes à braseira
(eu, a avó Joaquina, a Maria e a Cali), o sítio onde estavam as galinhas e ia
buscar os ovinhos pela mão da minha avó para comer a gemada quando ainda
estavam quentinhos, o forno feito pelo primo Zé onde assávamos os cabritos a
lenha na Páscoa…
Tudo
outra vez.
Olhei
Marvão e não se via.
Deixei
todos os detergentes, lixivias, vassouras e esfregonas prontos a atuar numa
casa já em condições de ser entregue para ser limpa. Tudo feito com cabeça,
tronco e membros. Como eu gosto.
Encontrei-me
com uma vizinha querida da minha rua que me conhece desde bebé e me disse: “ai
o Pedro… Sempre o Pedro… Então o que andas a fazer?”
Expliquei
e disse-lhe: “Vizinha, nós temos sempre que fazer o que a nossa consciência
manda. A mim não me importa o que os outros pensam. Pode-me influenciar e levar
a pensar, se as pessoas estiverem próximas e me quiserem bem, mas não me obriga
em nada. Tenho de pensar que eu é que sei. Posso estar errado. Mas também sei
pedir desculpa porque ninguém é perfeito e eu conheço as minhas fraquezas melhor que ninguém.”
Sentia-me
mal, em baixo por tudo o que passei nesse dia e ela, já sem marido e sem o único
filho que tinha, que perdeu sem nunca lhe ter dado netos, contou-me que ainda
há dias mandou pintar a casa toda e arranjar tudo. Isto a propósito de se ter
de fazer o que se tem de fazer.
“Tu
ainda tens as tuas filhas e a tua mulher, filho. E eu?”, e continuou a subir a
rua, para ir almoçar sozinha, naquela casa que “em tempos tudo pareceu pequeno
e agora…”
A
vida não é fácil e a porra é que nem sequer tem um livro de instruções onde um
gajo possa ir ler o que dizer em determinada altura. Ou então ficar calado.
Dia
difícil.
87-88. Desenho de Henrique Batista A contestatária a sair de C(um castelo) de Vide. Era finalista. Estava a acabar e a sair. Nunca mais vi este autocolante que me apareceu hoje nas mãos do nada. Lembrava-me perfeitamente dele. Como se o tivesse visto ontem. Há 26 anos. Um papel trouxe as memórias da noite em Pombal, da viagem ao Porto, de tantas memórias... um papel no chão trouxe isto tudo.
Aqui as tardes. Lá em baixo, as galinhas
Um esquecido que foi transferido... para minha casa
Tantos e tão bons assados...
Está lá sempre...
Estante de madeiras atadas com corda, creio que feito pelo meu pai. Lavado e tratado sei que servirá a quem o dei.
A minha marca no cimento feita com a roda da biciclete. O PEDRO já desapareceu. Mas valeu um ralhete
Elas riram-se mas eu gosto muito do meu enfeite novo de Natal. Diz-me muito.
Do
sempre duro regresso à minha Beirã, parei na casa do meu amigo Tó para lhe
entregar dois cds que lhe prometi, com a dedicatória: "para o grande poeta, meu
amigo António Gonçalves." O mundo pequenino da Deolinda e o novo e fantástico
regresso dos U2. Em pijama entrou em êxtase. “Calma António. Eu disse que vinha
cá, não disse?”
Ficou
radiante e por
força que me queria oferecer dvds, livros, filmes... “escolhe aí das
prateleiras…”
“Tó,
olha para mim, eu só te quero dar os discos e um abraço. Dá cá um abraço.”
“Epá,
tá bem mas leva lá um cd que te vou buscar…”
E
ofereceu-me ao calhas (ou talvez não porque eu não acredito em acasos) o cd que
ouvi em disco até à exaustão e marcou a minha vida porque me fez perceber que
as músicas não são só sons engraçados para se dançar. Também podem ensinar
muito sobre a vida e esta, deste disco, marcou-me para sempre.
A
Leonor viu o cd no carro e levou-o para o quarto. Obrigado António. Quem dá…
recebe a dobrar.
Soube
agora por aqui que a minha filha vai hoje fazer anos e quero ser o primeiro a
dar-lhe os parabéns. A minha caçula, a minha pequenina, o meu milagre
impossível de ver o meu amor pela Cristina feito gente já aconteceu há 13 anos.
13
anos. Apesar de ela ser trapaceira e dizer que são 24, eu fui ver ao cartão do
cidadão e afinal são só a contar desde 2001.A alegria que sinto ao teclar estes
botões pretos não é mensurável. Faz-me transbordar e agradecer de corpo inteiro
e vi’alma a quem manda nisto tudo (seja Deus, Alá, Buda ou o acaso, que não
acredito que seja porque há aqui ordens a mais na terra para isto tudo funcionar)
por poder viver este momento.
Nasceu
e vi logo que ia ser torta. Com a mãe tão grávida, tão grávida que estava quase
a rebentar, falhou o feriado do 1 de Dezembro como eu queria, e assim a
garantia que iriamos no futuro estar todos juntos nesse dia. Mal sabia eu é que
já revelava aptidão política e inteligência in útero ao antever que viria a
troika e trocaria isto tudo, ao ponto do 1 de Dezembro de folga deixar de o ser
um dia.
Torta
mais se revelou na forma como escolheu desaguar neste mundo. Com o hospital do
José Maria Grande que também foi doutor, em obras, fomos recambiados para a
ortopedia, num piso qualquer lá em cima. E desculpem-me lá de estar a contar
esta história outra vez, quando toda a gente já a sabe mas eu gosto e faz-me
ficar feliz nesta altura, quando se chega aos anos dela. Isto é como o Natal,
que é nesta altura de propósito. Toda a gente já sabe que o menino nasceu numa
manjedoura, sem ar condicionado, aquecido pelo bafo de uma vaca e um burro, nas
palhinhas deitado, nas palhinhas dormido e ainda bem que nessa altura não havia
a ASAE senão ia tudo dentro; mas ninguém se cansa de ouvir a história. Por isso
ouçam lá a do vosso Tio Sabi que ele gosta muito.
Pois
eu queria mesmo ver a minha filha a aterrar no planeta terra. Era a primeira
vida gerada por mim. Porra.
E
avisei o pessoal todo que apanhava no corredor. “Olhe que eu quero ver…” ( e
fazia beicinho e um ar de súplica que penso que resultava porque eles ficavam
com pena.)
Mas
as visitas abalaram, a noite caiu, já estávamos perto da meia noite, foi ficando tudo deserto e já não via a
minha Cris há um tempo; se ela já estava em trabalho de parto quando a deixei à
tarde… Não? Ai aquilo não era trabalho de parto?!?!? Não podia ser tantas horas
antes? Então
haviam de ver a pobre como transpirava (das senhoras não se diz suar porque
senão era isso, por ser tanto) para verem se aquilo não era trabalho. Era sim!
Mas
os maqueiros e os enfermeiros
e os ajudas e o pessoal de apoio me disseram: Ai é Dr. Durão? Ai joga o Benfica? Ooohhh… então
prepare-se porque só depois do jogo é que nasce.
O
médico vinha animado mas sorumbático como sempre. (agora posso dizer a verdade até
porque já não conto que acompanhe mais nenhuma gravidez minha. J)
Entrou,
não me cumprimentou (hábito…), foi andando pelo corredor fundo, tão fundo...
até à ultiminha porta, onde a minha mulher estava.
Eu,
utilizando as técnicas que aprendi nos raides dos lobitos, fui-me esgueirando
entre as ombreiras das portas e fiz-lhe a surpresa quando a minha mais que tudo
já estava sem forças depois de ter aguentado tanto tempo. A cara de sofrimento
e esgotamento dela doía até a quem não a conhecia. Imaginem a mim…
Uma
enfermeira (uma tipa com cara de bruxa e uns caracóis louros platinados)
barrou-me à porta. – Não pode entrar!
-
Mas eu pedi… Eu quero ver nascer a minha filha… é a primeira… (e a generala que
não se torcia, nem se amolgava)
-
Não pode.
-
Mas por favor…
Por
favor…
Por
favor…
.
Doutor, está aqui o pai a dizer que quer ver. (com o ar de um empregado de
balcão que diz para o da caixa: saí um galão pingado!)
-
O pai é muita grande e a sala é muito pequena e está aqui muito calor. (com uma
ternura, sensibilidade e humanidade tocante…)
A
bisca lacaia empurrou-me com jeito, encostou-me a mão e assim abriu o flanco.
Segurei-lhe a mão, apertei-lha com jeito, assim bem apertada, muito bem apertadinha
(de maneira a fazer-me entender mas não ao ponto de a fazer chamar o segurança,
e disse baixinho: EU SOU O PAI. EU CONHEÇO OS MEUS DIREITOS.)
Foi
como a gruta do Ali Bábá quando ele disse: “abre-te sésamo”.
Entrei,
passei e fiquei de frente para a minha mulher o que é uma experiência… tocante.
Vi a minha Alice também nascer mas foi como deve de ser. De lado. Com pára-quedas.
Mais romântico, mais poético, mais bonito. A Leonor foi como dizem o ingleses:
RAW MATERIAL! Dureza!
Mas
não me senti mal, nem vacilei, nem nada. Tudo bom ao ponto de me orgulhar em
mim. Suportei aquela tentativa de utilizar outros materiais menos naturais
porque não passaram de hipóteses e conversa médica. E se nós… mas não foi
preciso. Saiu naturalmente. As contracções impeliram-na.
A
minha única aflição foi que a cachopa não chorava. COMO NÃO CHORA SE NOS FILMES
É LOGO A PRIMEIRA COISA?!?!?!?!!?
Estava
já eu quase a chorar quando a aspiraram e abençoado aspirador que fez ouvir o berro
mais lindo de sempre.
Foi
a maior alegria da minha vida. A mais contente. Mas fiquei tão feliz quanto
extenuado. Eu e a mãe, que a carinha tranquilizou quando a viu nascer com uma
felicidade divinal.
Mas
apesar de cansado, tinha os amigos todos à espera para um jantar organizado ali
em cima da hora no Zé Calha; seguido de uma lerpa em minha casa no Espírito
Santo até altas horas da madrugada. Como na igreja ao lado estava a realizar-se
um velório, chamava insistentemente atenção para o pouco barulho, até porque aquele
era um prédio de trabalhadores da câmara que tinham de se levantar bem cedo
para estarem no parque de máquinas. O que vale é que o meu irmão estava cá e
ajudava: olhem que acordam o morto!
Já
não me lembra bem como mas a garrafeira levou arrombo e quando acordei no sofá
já tudo se tinha ido embora. Estão a ver o vídeo do “Come Undone” do Robbie
Williams?
Pois…
foi assim do género. O frigorífico vazio, o armário do liquor idem, idem; aspas, aspas; e os pratos da avó da
minha mulher retirados das paredes onde estavam expostos e cheios de lasanha no
lava louça. Vá lá, vá lá isso.
Foi
tudo inesquecível e fiquei tão feliz de recordar aqui isso. Bem hajam todos.
Tenho saudades. Alguns continuam perto como sempre, outros estão mais longe
pelas voltas que a vida dá como o meu irmão e o Pedro Matos; mas na verdade, na
verdade, estão todos aqui bem dentro do coração.
Quando
regressávamos do hospital, os dois… os três! tão sem jeito… olhei no espelho e
perguntei: “e agora, Cris?”
Ela
sorriu com aquele ar dela. De quem sabe sempre por onde ir.
E
é por aí que temos ido. Todos juntados, como diz a pequena.
Obrigado.
Às
duas. Às três. As mais importantes na minha vida.
A
Leonor hoje é uma menina já mulherzinha com a qual choco muitas vezes porque a puberdade
é mesmo a porra da idade.
Mas
eu sei que se a Alice é toda mãe, a Leonor é bem Sobreiro, e barraqueira como o
pai e o avô. Vejo isso pelo humor que tem.
Quando
cresceres mais e ficares mais velhinha, sei que vais voltar para mim com toda a
força.
Agora
tenho de acabar isto porque já estou a escrever há mais de 1 hora e quero ser o
primeiro e nem sequer vou ter tempo de escolher uma foto linda das tuas que
tenho milhares.
Porque
tu, ao contrário do que digo à Alice que é a minha filha preferida (tem 4,
Leonor… Tu não te lembras quando eras assim. Mas eu lembro. Tanto. E tu, nessa
altura, não tinhas uma irmã embirrante como ela tem agora. Isso passa-te.),
TU ÉS A ESPECIAL. TU FOSTE A PRIMEIRA. E és
mesmo mais bonita que a mãe.
Dia feliz porque o cante alentejano foi reconhecido pela UNESCO como património da humanidade. O cante agora é de todos… mas é nosso. Aquilo somos nós. Aquilo que o extraordinário filme do realizador Sérgio Trefáut mostrou na estação da Beirã neste Verão, levou hoje o selo de qualidade que merecia. Aquele sentir, aquele respirar onde cabe a tradição árabe, judaica e cristã já é de todo o mundo.
Para as coisas serem bem feitas, se eu mandasse, amanhã os serviços públicos de Marvão atenderiam todos os utilizadores em modo cante alentejano. Imaginem a GNR, por exemplo. Isto para ver se aqueles azaméis da UNESCO percebiam o erro que fizeram ao dar a indicação que a nossa terra não poderia ser património do mundo, também.
O grande Woody Allen que me desculpe o roubo e adaptação ao universo do vosso tio favorito mas:
O Anthímio já foi (há dias), agora o Sousa Veloso foi também e eu já não me estou a sentir lá assim muito bem. (que nem jantei, ainda cheio do extraordinário cozido à portuguesa que comi hoje ao almoço no restaurante Varanda do Alentejo, em belíssima companhia feminina, todas lindas mulheres e um amigão daqueles).
Dos desaparecidos, paz à sua alma, homens bons e grandes comunicadores. Agora nunca mais vou saber quando e como podar a laranjeira que tenho no quintal e se hei-de ir trabalhar de galochas ou de havaianas.
Saiam da frente! Ó que horror! Fascist... (ai já não há?!?!?) Horríveis, prontos!
E
eis que Mário Só ares, o paladino da
democracia, foi visitar o seu amiguinho a Évora. Claro que ele, o defensor
acérrimo da democracia e da justiça, arranjou logo maneira de entrar no
xilindró num dia em que não há visitas. Pode não haver visitas para os demais
mortais neste dia mas para ele, o pai de tudo o que é livre e bom em Portugal
(segundo o que diz), era coisa pouca e nem sequer se perguntava.
Ahhhh valente! Prá frente camarada! Não te achiques!
Às
primeiras palavras, disse que era tudo uma farsa, uma coscuvilhice, uma pouca
vergonha e até puxou pelos seus galões de jurista: “esse juíz (de trazer por
casa…) que meta bem a mão na consciência porque eu também percebo de leis e
isso não é assim por “dá cá aquela palha”; disse numa ameaça de fino recorte.”
Ai
Marinho, Marinho… a dizer claro que o seu amigo é inocente quando tudo aponta
para o contrário… As peças vão-se juntando no xadrez e por muitos erros e
defeitos que tenha este governo, que os tem (claro!), está-se agora a mexer na
merda como nunca antes e isso deixa-me satisfeito e tranquilo. Durmo mais
descansado e faz-me acreditar que as minhas filhas vão crescer numa sociedade
mais justa que a minha. O que é bom.
A
desgraça alheia nunca me satisfez, mas não deixaria de ser curioso ver os dois
a emocionarem-se na cela com toda esta cena, como confessou. O Joselito sabendo
das movimentações do carcanhol para os avecs, fazendo-se coitadinho; e o
velhinho, de tão gagá, que está já, a revoltar-se com o óbvio.
Tás a ver, Zé? Também já me fizeram a folha. Olha que ainda cheguei a isto...
Tu ainda lá podes ir...
Perguntaram
ao empregado de um cafézito nas redondezas como é que estava a correr o
negócio. “Óhhh… maravilha! Havia era de cá ficar muito tempo”. O meu santo…
Post dedicado à Dona Maria do Céu Roque (e companheiras, sem as quais ainda estaria tudo desarrumado), jardineira do
Município de Marvão que me perguntou mais que uma vez pelo blogue. Se já estava
pronto… Hoje fica, miga.
"Ah... até que enfim! Estava a ver que não... Nunca mais acabavas isso, Pedro"
Constatação de uma realidade e reconhecimento para
deixar na mesa do editor: este texto está atrasado. Ponto. Noutra altura (na
era A.A.- antes do acidente) estaria pronto na noite seguinte à feira porque o
material (fotos e notas cerebrais) já estava todo na redação. Apesar do
ordenado ser parco, o brio profissional mandaria, ainda que em regime de
voluntariado, ser profissional e mesmo que dormisse apenas 4 ou 5 horas,
estaria pronto para entrar nas rotativas, a tempo de sair no dia seguinte.
Mas vivemos na era D.P. (depois do acidente) na
qual o cansaço acumulado ao final do dia faz com que as pálpebras pesem quilos
e a sonolência ganhe terreno à consciência. Este repórter do quotidiano
sente-se agora assim, naquela hora sempre esperada, quando as damas recolhem
aos aposentos e fica com a noite toda para ele, (entre as 10.30h e as 2h/3h); infeliz
e sem capacidade de a aproveitar. Mudam-se os tempos… limitam-se as vontades.
Sinto-me muita vez e cada vez mais como um
super-herói que começa os dias com a carga de energia sempre no máximo para
depois, à medida que o dia se aproxima do fim, vai-se esgotando. Mas deixemo-nos de lamúrias e avancemos, que há
muito para contar
Pois a mim pareceu-me naquela conversa de família
pós um almoço convívio qualquer que estavam a colocar a minha pouca vontade em
colaborar com preguiça e isso não me pareceu bem. De todo. Não gostei, prontos.
E como tenho um feitio difícil (um mau feitio por demais conhecido por todos),
amuei. Prendi o burrinho porque nunca foi esse o caso, de todo. Baldas não sou
e nunca fui. Acontece (e a verdade é) que um gajo é uma autoridade que anda sem
pistola e sem cacetete mas pertence à Autoridade Tributária e Aduaneira e por
isso é uma. Maneiras que o que dizia eu é que não podia habitualmente andar a
trabalhar para servir o fisco, o Estado e as pessoas de bem; mas depois
meter-me atrás de um balcão a vender porque não joga. Não fica bem.
Mas… fiquei a pensar na coisa uns dias, com a pulga
atrás da orelha. A verdade é que a ir, eu iria apenas ajudar. Não mexeria no
dinheiro que esse estava guardado ao caixa / co-sócio gerente, santo sogro,
João Manuel Lança que estava incumbido das massas, das senhas na registadora e
da escrita que sempre foi a vida dele. Eu seria apenas um amanuense, uma garota
de balcão da lanchonete, uma carinha laroca incumbida de bem servir para a
satisfação da clientela o que não é crime nem vai contra código algum. A
aventura seria desenvolvida sob a égide da actividade independente das
“Delícias da Avózinha” (santa sogra), a bem saber fabricar sabores de
antigamente (doces, escaldados, licores e muitos afins) na avenida 25 de Abril
em Santo António das Areias, desde 2004, devidamente coletada e em dia. Nesta
investida castanheira seria destacada num espaço pré concedido e acordado na
feira. Onde contaria com o prestimoso apoio do grande carteiro/padeiro meu
santo vizinho Mário Guedelha, que bem conheci quando era miúdo e ele desempenhava
essas funções na padaria do Sr. Maridalho, na Beirã, quando ele ainda tinha os
dez dedos na mão, antes de ter inventado os cachorros quentes quando se
esqueceu de um dedo indicador dentro de um.
Foto de família de 2014 dos empresários com os artistas
Pois eu cá enchi-me de coragem e deitei-me às
brasas. Como descaramento nunca tive, foi só um passinho e em menos de nada,
estava no filme. Entrei logo no turno da manhã que durou todo o sábado e se
prolongou por todo o domingo com cerca de 8 horas a pé por dia. 16h no total do
fim de semana num tratamento verdadeiramente aconselhável para um bacano que
foi duas vezes à faca pelas hérnias discais. Fez-se. Sem dor, muito movimento e
boa disposição que tristezas não pagam dívidas e era preciso chamar a clientela
com animação.
O espaço era verdadeiramente simpático, num sítio
de passagem embora eu tenha a opinião que desde que o produto tenha qualidade,
como o nosso, e haja simpatia no atendimento (por demais evidente), resultaria
em qualquer lugar desta feira. Desta e em qualquer outra se a gente se metesse
a jeito de fazer vida disto. Mais trabalhosa mas de certeza que seria mais
rentável e mais feliz.
Se me ia meter na empreitada, teria de meter o meu
toque na coisa. Toque controlado pelos patrões mas um toque a la Sabi. A parte
gráfica seria extraordinariamente importante, como é sempre, e nisto aqui, como
em tudo, quando nós não sabemos, temos de nos rodear de quem sabe. Contatei
assim o meu amigo Miguel Patrocínio de Nisa, um camba que vem já dos tempos de
liceu e é artista na arte. Nesta e em muitas outras. Animador, agitador e
músico, é um companheirão da melhor estirpe nisorra e onde ele está, está-se
sempre bem. Pois o Miguel e eu trocámos mails, fizemos provas pela net e
ajustamentos por telefone até que resultaram duas lonas que chamavam e davam um
ar de sofisticação ao trabalho e um preçário que acabou por ser um importante
chamariz, também.
Sendo
uma especialista em doces (e eu acho é em tudo o que faz mas como sou
suspeito…), a sogra optou neste ano depois da experiência feliz do ano passado, por ter
dois espaços abertos: um destinado à doçaria e aos licores, e um outro onde se
lançou em força às pizzas de castanha que não eram mais que pizzas comuns mas
feitas com ingredientes diversos (quadrado grande com seções vegetariana /
chouriço / fiambre e cogumelos) mas cuja massa era realizada com farinha de
castanha e pequenos pedaços das mesmas para lhe dar o típico sabor, numa massa
de criação exclusiva. Antes dos espanhóis terem trazido a batata da américa
latina para a dieta europeia no século XVI, a castanha, um fruto local, era
utilizada com esse propósito e de acompanhamento. Foi um regresso ao passado e
às origens que marca um ano de lançamento e onde o segredo primou como sendo a
alma o negócio. Podem vir outras atrás mas nós fomos os primeiros e isso marca.
Se os doces metiam vista... as assistentes de venda Célia e Paula Lança, não destoavam na envolvência e convidavam a um docinho
Bolsinhas de cheiros por carinhas lindas: Matilde Costa, Leonor Sobreiro e Maria Dias
Com os mestres atrás do bonito armário antigo que
estabelecia a divisória para o público, fiz parelha de balcão com meu
cunhado Bonito e formámos uma dupla que parecia talhada para o sucesso. Até
parece que Deus nos junto como cunhados por causa disto. Correu muito bem mesmo
e a Dona Rosa provou que sabe muito mais que dedicar-se aos cabelos e se a
coisa continuasse, as bifanas de Vendas Novas que se preparassem porque eram
capazes de ter os dias contados que as dela eram demais.
Os genros garçons
Ó Dona, olhó pão de castanha com chouriço. Acabadinho de sair e vai esgotar...
No sábado o tempo esteve terrível e foi um dos
piores anos de que me lembro. Muito frio, muita chuva e muita gente de guarda
chuva em punho e malinhas às costas, que não havia dinheiro, nem vontade de
comprar. Ainda assim e apesar de tudo, muita gente que as excursões estavam previamente
marcadas e pode faltar dinheirinho para tudo mas a barriga não tem culpa e está
habituada a comer de 4h em 4h. Ou menos.
A hora de ponta começava bem cedo, pouco passava do
meio dia e ia até depois das 3h / 4h. Incrivel como os hábitos dos humanos os
faz sempre mover em carneirada e bastaria uma antecipação ou um atraso para
fugir às filas que chegaram a ser no nosso caso de muitos metros. Filas muito
grandes mesmo mas que não intimidaram e antes se desfizeram à medida que os
clientes iam saindo satisfeitos. Já queriam um Mc drive de pizas no pelourinho
mas as obras começam só para o ano.
Pelourinho que esteve visivelmente desaproveitado e
foi vítima da má gestão autárquica de quem distribui as animações pelo espaço.
Um espaço nobre e central da vila onde o artesanato/animação deixou muito a
desejar. Vivemos em democracia: manda quem pode, critica quem quer. Eu nunca
deixei nada assim à balda quando comandavas operações e custa-me o desleixo
mas…
Um dos herdeiros do império pizzeiro está bem entregue em termos de fervor clubístico, como todos os outros. Assim até dá gosto.
No domingo, o sol rompeu para reinar e a alteração climatérica do mau tempo de sábado para o reerguer das esperanças no domingo fez-me até pensar que poderia ser/ter uma alusão política, de um fim de ciclo que se está a fechar e de uma novo amanhã que nos pode devolver as esperanças a todos os que acreditam na nossa terra. De resto, sabem como sou muito místico e um gajo que vai muito nesta do acreditar. E o domingo foi muito trabalhinho e apenas alguma animação quando
pude ir visitar a tenda e me apercebi da extraordinária performance dos Voodo
Marmelade que me conquistaram à primeira audição de uma cover do “Ring of Fire”
do Johnny Cash, arrematada pelo “Dirty Old Town” dos Pogues (Um beijo
Franciscus Serôdius). Muito bom. Parabéns Hernâni.
Foi um fim de semana daqueles à antiga portuguesa,
quando andava em alta rotação nas lides artísticas, em que chegamos à porta do
serviço na segunda de manhã e suspiramos por termos a certeza que vamos
encontrar um ambiente calmo onde podemos estar sentados e a trabalhar sem filas
e sem ouvir barulho.
Foi bom. Ajudei e senti-me bem. Venha o próximo!
E para fechar este post de elaboração muito trabalhosa mas que vale a pena para ficar registada para a posteridade, quatro apontamentos musicais com duas bandas residentes deste espaço de venda de produtos locais que se destacava de todos os outros criados propositadamente para a feira por ter bandas ao vivo: os Mimo´s Dixieland Band de Águeda e os grande Domingos e Dias Santos, da vila de Nisa, o centro do mundo (qual fronteira, qual quê!
Malta, para o ano vai haver fundos europeus para um dvd ao vivo e o mesmo deste ano: comida e bubida pra todos!
Ó patrão: serves mais uma gulodice dessas, pões-me a falar e até digo uma asneira.
Tocando o clássico "When the saints go marchin' in"
Tremenda jam session das duas bandas residentes nas Delícias d'Avózinha em total delírio, união sentimental e musical
Eu vou, eu vou, lá prás Delícias d' Avózinha...
Muito boas noites, senhoras, senhores... ( e até à próxima!)