sábado, 20 de novembro de 2021

Morrer gelado à porta do quentinho bom do Céu

 


 

 Ao final do dia, após o jantar, quando me sento no sofá à lareira, com a família, no quentinho do lar, assistimos, graças às gravações automáticas, às notícias de cá, e do mundo inteiro. Esta tragédia absolutamente tenebrosa que se assiste na fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia, tem sido a minha última assombração.

O que se passa ali na realidade, e não é explicado às pessoas com detalhe (ai a falta que fazia um bom programa de informação semanal, que abordasse os três ou quatro assuntos mais importantes da cá, e de lá fonteiras, à imagem do saudoso “Informe Semanal” da TVE), é que o nosso continente europeu é para muitos hoje um “El Dorado”, um território sonhado, onde impera a democracia e a justiça, a liberdade de oportunidades, onde qualquer um pode almejar a ser feliz. Ora estes objetivos são tão procurados, que os desgraçados que tiveram a infelicidade de ter nascido num continente mais pobre, num país dominado por um tirano, onde não tenham acesso a trabalho, comida, higiene, condições de saúde, um sistema médico que os apoie e salve, sejam capazes de fazer tudo, incluindo enfiarem-se numa embarcação sobrelotada no escuro da noite, para fugirem à polícia natal que não os quer deixar “fugir”, e às autoridades dos que tampouco os querem receber, muitas das vezes, para darem à costa já cadáveres, e ajudarem tragicamente, a batizar o mar mediterrâneo que nos separa do continente africano, como o maior cemitério dos nossos dias. 


Alexandre Lukashenko, o presidente da Bielorrússisa que foi reeleito para o seu sexto, SEXTO (!!!!) mandato (estão a ver a saúde da “coisa”, não estão?) com 80% dos votos, tem sido carinhosamente apelidado como "o último ditador da Europa", e tem recebido o apoio sempre entusiasmante do presidente russo, ex-KGB (serviço secreto da USSR) Vladimir Putin. Pois o que tem sido é uma pedra no sapato da União Europeia praticamente desde que foi eleito pela primeira vez, em 1994, tendo uma das suas últimas patifarias sido esta, em que desviou um avião para a efetuar a detenção do jornalista e ativista Roman Protasevich, em Minsk, numa operação dos serviços de segurança bielorrussos. Segundo testemunhas, Protasevich expressou medo de ser executado na Bielorrússia. Pudera! 

https://observador.pt/2021/05/23/bielorrussia-oposicao-acusa-lukashenko-de-desviar-aviao-para-deter-um-jornalista-que-enfrenta-pena-de-morte/ 

Pois este sujeito é de tal calibre que é mestre em promulgar leis de segurança nacional que alargam os poderes da polícia, bem como de outras forças estatais, que podem utilizar armas militares para reprimir a desordem. E que desordem será essa, pois então, perguntam vocêses todes? Pois qualquer uma que seja ou contra o senhor, ou contra a vontade do mesmo. Natural neste ambiente, não?

 

Esta tensão entre a fronteira da Polónia, que pertence à União Europeia, e a da Bielorrússia, ex-país da USSR, e fim da linha com o resto do mundo, reside em que esta tem conseguido atrair as rotas emigratórias, e os cidadãos do Iraque, Afeganistão, Síria e outros países para suas respetivas fronteiras, mais para desestabilizar a EU, que outra coisa qualquer.


Segundo um comunicado de imprensa da Comissão Europeia, de 24 de junho último, o Conselho introduziu novas medidas restritivas contra o regime bielorrusso para dar resposta à escalada das graves violações dos direitos humanos na Bielorrússia, e à violenta repressão da sociedade civil, da oposição democrática e dos jornalistas, bem como à aterragem forçada de um voo da Ryanair em Minsk, em 23 de maio de 2021, e à detenção conexa do jornalista Raman Pratasevich e de Sofia Sapega.

As novas sanções económicas específicas incluem a proibição da venda, fornecimento, transferência ou exportação, por via direta ou indireta, a qualquer pessoa na Bielorrússia, de equipamento, tecnologia ou software destinados principalmente à vigilância ou interceção de comunicações telefónicas ou pela Internet, assim como de bens de dupla utilização ou de tecnologias para uso militar, e visam determinadas pessoas, entidades ou organismos na Bielorrússia. São impostas restrições comerciais relativas aos produtos petrolíferos, ao cloreto de potássio ("potassa") e às mercadorias utilizadas para a produção ou fabrico de produtos do tabaco. Além disso, é limitado o acesso aos mercados de capitais da UE e é proibida a prestação de serviços de seguro e resseguro ao governo bielorrusso e aos organismos e agências públicos bielorrussos. Por último, o Banco Europeu de Investimento cessará qualquer desembolso ou pagamento ao abrigo de quaisquer acordos relativos a projetos no setor público e de quaisquer contratos de serviços de assistência técnica existentes. Os Estados-Membros deverão também ser obrigados a tomar medidas para limitar a participação de bancos multilaterais de desenvolvimento dos quais sejam membros em atividade na Bielorrússia. 


Como retaliação, Lukaschenko, garantiu na semana passada que irá responder a novas sanções europeias relacionadas com a crise migratória na sua fronteira com a Polónia, cuja responsabilidade é atribuída por Bruxelas, a Minsk: "Estamos a aquecer a Europa e eles estão a ameaçar fechar a fronteira. E se cortarmos o gás natural que vai para lá? Aconselho os líderes polacos, lituanos e outros sem cérebro a pensar antes de falar".

Neste complicado jogo de diplomacias políticas bem intrigadas, em nenhum está, na verdade, isento de culpas, é bem fácil de ver, e perceber, quem está a agir com as piores intenções. 


Cansados de lidar com esta pressão cada vez mais desgastante, a Polónia já anunciou há dias que está a equacionar construir um muro na fronteira com Bielorrússia, que vai custar cerca 353 milhões de euros e deve abranger 180 quilómetros, cerca de metade do comprimento total da fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia. Enquanto a humanidade se deveria esforçar por estreitar laços e unir esforços, a segregação continua a fazer-se sentir, de forma cada vez mais incisiva, e em locais cada vez frequentes, nas zonas limítrofes.  


Afinal não são animais, não são cães, não são seres inferiores a nós, não racionais, que não pensam, não sentem, que não contam. Falo de seres iguais a nós, nossos irmãos, descendentes de um antepassado comum, cuja inteligência, caso fosse potenciada, desenvolvida, poderia chegar sabe-se lá onde. O mais certo é caírem, e morrerem gelados, roxos, envolvidos no manto frio da noite. 


Entretanto, nas nossas sociedades evoluídas, nos nossos ambientes faustosos, onde não falta todo o conforto no lar, a sempre quente comida sobre a mesa, as roupas aconchegantes, a riqueza da segurança pública e dos hospitais, vamos a continuar a assistir pela TV, como à nossa “porta” batem milhares de mulheres e sobretudo crianças, canalizados pelas rotas de tráfico de seres humanos, que passam semanas a fio na floresta, cheios de frio, de pézinhos nús na neve, sempre rodeados pelos lobos famintos, até que muitos, e um já seria demais!, morram de hipotermia. Isto dói, porra!



sexta-feira, 12 de novembro de 2021

O avançado "fura-redes" dROCAS Sabi, a faturar n'"A LiNHA AVANÇADA"

 

Ouço rádio desde sempre. Esse sempre, tem sido mais presente desde os idos anos do início da década de 90 do século passado, quando a estudar em Lisboa, passei a andar para todo o lado com um pequeno transístor da Sony, envolvido numa bolsinha de cabedal negro, que me enxia a casa, e a vida de música e de companhia.

Desde então, tem sido uma presença constante na minha vida, desde o banho matinal, à viagem de carro para o emprego, durante todo o dia no trabalho, e só à noite, em casa, a rádio cede lugar à televisão e ao pc, às leituras diversas, e à atenção total à família.

Habituei-me a ser muito da turma do Ribeiro, o outro Pedro, que se fez patrão na Comercial, desde os tempos do Malato e da Ana Lamy. Sempre ouvi, consumi com sofreguidão e quase com selo de exclusividade, até ao cúmulo de ter  acompanhado e ajudado a cumprir o sonho da minha filha Leonor, em ir assistir a um espetáculo do natal, Xmas in the night, ao Pavilhão Atlântico, hoje Meo Arena.

De há uns tempos a esta parte, acho que cansei das playlists, do mudarem os animadores e a estação parecer sempre a mesma, e atingi a dieta atual: começar na Comercial ao acordar, sim, mas deixar-me das (já aborrecidas) historietas do Markl de seguida, para às 9.30h mudar para a Antena 3, para o “Vamos Todos Morrer” do Van der Ding, e para ouvir o grande Zé Nunes, na sua deliciosa “Linha Avançada”. Depois volto à animação da manhã da Comercial até mudar para a Antena 1 por volta das 12.15h, para ouvir o Portugalex, dos tremendos e imperdíveis Manuel Machado e António Marques. Acabo por passar a tarde toda na irmã mais nova, a Antena 3.

No dia de ontem, com a sua natural galhardia e espírito bom vivant, mister Nunes, ao falar sobre o confronto nessa noite entre a seleção portuguesa e a seleção da Irlanda, abordou um episódio mítico que presenciei na minha juventude/vida, do qual não ouvia falar há mais de 30 anos, e me levou a entrar em contato com ele via facebook, e a ter como recompensa, a honra de ser largamente mencionado no programa de hoje, 12-11-2021, como podem ouvir em baixo.

Esta foi a crónica que me fez entrar em contato com o carneiro amigo Zé:

 

Dia 11 Novembro, dia do jogo Portugal x Irlanda, ouçam clicando no link abaixo:

https://open.spotify.com/episode/09h6IVqCzprduUuV3x4Xyr?si=c21c86db127f4b22

 

No seguimento, escrevi-lhe em mensagem:

Meu querido José Nunes, boaaaaaaaaaaaaaaaas! Sou o Pedro Sobreiro, de Marvão (Alto Alentejo), tenho 48 anos, e sou um ouvinte assíduo das tuas “Linha(s) avançada(s)”, que não perco enquanto me encaminho para as finanças onde trabalho. Adoro saber do futebol mas sobretudo das tuas estórias, brincadeiras, sound bytes, e larachas gerais. Bem hajas por na manhã de hoje, 11/11/21, dia em que a nossa seleção jogará com a Irlanda, teres recordado o celtic punk dos Pogues, e o seu mítico concerto no final dos 80, no Coliseu dos Recreios. Na verdade, esse foi o primeiro concerto ao vivo da minha vida que inclui já uma lista simpática onde se incluem desde os gigantes U2, Rolling Stones, Leonard Cohen, reais Doors sobrevivos, acompanhados de Ian Astbury dos Cult, e alguns festivais onde vi, por exemplo, os Artic Monkeys, os Strokes, e os Arcade Fire. Voltei a esse coliseu para ver nomes como Nick Cave and the Bad Seeds, e os Radiohead, mas essa primeira visita, em que acompanhei o meu querido amigo Francisco Roldão, que também trabalha na RTP, ficará inesquecível para sempre. Recordo-me perfeitamente dessa história que contaste, de terem gamado o anel ao bebedíssimo, como sempre, Shane McGowan, episódio sobre o qual eu já não ouvia falar há umas luas. Tão booooom! Abração”, num texto que leu quase na íntegra! J

Para meu espanto, respondeu de imediato:



Depois mais escrevi,

Aproveito este contato contigo para reforçar o apreço que tenho por ti, que tem a ver com as tuas qualidades humanas, jornalísticas, de gourmet, amante da boa gastronomia portuguesa, e de entertainer, enfim. Claro que te sigo religiosamente, bem como à deliciosa "Cozinha avançada", e sabendo eu da riqueza da gastronómica do meu concelho, quero desde já convidar-te, a ti e aos teus deliciosos colegas estarolas, para almoçarmos num dos templos gastronómicos daqui.

No Liceu, como te disse, estudei com o Francisco Roldão, que me levou a ver os Pogues, trabalha na RTP e é um dandy muito popular, fã dos Oasis, próximo do Baião e da Tânia de Oliveira, do qual talvez já tenhas ouvido falar. Aqui estudei também com o grande Alexandre Afonso, que chegou a ser meu colega de secretária, e do qual era muito amigo, embora a vida nos tenha afastado, e já não nos vejamos há algum tempo. Eu também fiz Comunicação Social no ISCSP, mas a vontade de regressar à terra, a falta de emprego na área por aqui, e a oportunidade de concorrer ao maior concurso da função pública em Portugal até então, para a DGCI - Direção Geral dos Impostos, hoje A.T.A. - Autoridade Tributária e Aduaneira, fez-me mudar para uma área onde sou também muito feliz. E prontos, portantes, como diz o JJ, é tudo! Um grande abraço, muita saúde e tudo a correr bem! Do carneiro amigo, lampião mas que gosta do JJ só na perspetiva humorística (J. J. Bóce), e está deserto que o bacano baze pró Brasiú, e que o grande maestro vá buscar mas é o nosso Pepa, (antes que o Pintinho o abafe) já que deixou fugir o Amorim.



 Após o jogo, o a rubrica de hoje, dia 12 Nov.…






Para ouvir:

https://open.spotify.com/episode/2y5eVzDdJmo6KBNQAmKWj5?si=eb51c98c69f946e3

 

Fiz o comentário:

Bom dia, Caríssimo carneiro amigo! Embevecido pela menção, e sobretudo, pelo extenso tempo de antena, que permitiu ler quase toda a mensagem, te agradeço do fundo do coração, e reforço o convite que fiz! Grande abraço, querido ZÉ NUNES!!!!

 

E como eram os Pogues, o assunto afinal, de quem tive tantos discos?!? (UMA DELÍCIA!!!)








E já numa fase final, com o Shane miraculosamente vivo, mas bem amolgado pelas décadas de abusos, e sem a original Kirsty MacColl, tragicamente falecida prematuramente num acidente com uma embarcação. 



PS: E os amigos que ouviram, e ligaram de imediato a saudar, como o grande Doc de Chateau de Vide, diretamente do Algarve?!? Top!!!! 🌞😎