segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O teu ano em fotografias, feito especialmente para ti (Para mim, Google?!?!)

Montegordo 2014
créditos fotográficos: sr. tio sabis

Ainda estou muito longe de conseguir perceber essa maravilha estapafúrdia chamada Google+.  Sei que nos dias de hoje, tudo o que é tecnologia e multimédia vale quase como tanto quanto a vida. Mas ainda assim, prefiro o ser, o respirar, o tocar, o comer e um cigarro saboreado a contemplar a paisagem. Tudo aquilo que nos faz sentir vivos.

Nestes últimos dias tenho-me desvorciado das deambulações narcísicas facebookianas de que sofremos todos os que por lá passamos. Mais ou menos tempo, de acordo com as andanças diárias de cada um, mas sempre a mais do normal que seria desejável.
Tenho andado arredado a viver. O que é muito bom. Não partilhável nas redes. Mas sempre partilhado na vida.

Traído pelo segundo smartphone que caiu em K.O. técnico do nada (Sony Xperia - Samsung SIII mini), ainda atordoado pelo segundo tablet gripado (também Samsung) pelos ares que lhe deram, tornei-me info-excluso.

Afastei-me do @rroba.

Como não consegues viver sem elas, hoje depois de ver as notícias passeei e deparei-me com isto. Como é óbvio: fiquei rendido.

Diz-me espelho meu, espelho meu: porque será que acho que tu sabes coisas de mim que nem eu sei que as sei, ou vivi, ou sequer me lembro que as vivi.

Foram estas mas poderiam ter sido tantas outras…


Trinta e quantas mil???




quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

(luckily) Times they are a Changin'

 




Afinal este Papa Francisco não mete só a populaça a dançar tango na Praça do Vaticano quando faz anos; nem só diz, sem complexos e sem peias que sendo argentino, gosta de vinho tinto.


Ele foi o grande motor disto que está a acontecer. Esta mudança histórica, há uma década impensável, aconteceu mesmo e é tão bonito de ver as famílias a reencontrarem-se com os prisioneiros agora libertados de ambos os lados que tudo isto me comove.

Papa grande mas não é o único motor de justiça e alegria no mundo










E como dizia O GRANDE Dylan, os tempos estão mesmo a mudar.
E isso é bom.
Muito bom.

Bastava os galos no poleiro serem outros como os depostos (pela vontade ou pela lei da vida), mais fechados, menos sensatos, para o mundo ser menos feliz, menos bom de se viver nele hoje.




segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

ICONA ALICE POP - QUEKÁSABEDISS!


Adoro a música e o vídeo. Isto para mim é punk rock dos anos 2010.
Se original faz-me dançar e é muita bom, fiquei rendido com a versão da Dona Alice da qual só consegui captar um excerto. Só consegui gravar o refrão mas ela traduziu-a toda! Sério! ;)

Tive este sentimento num dia de Verão quando abalaste,
Bati com o carro contra uma ponte, fiquei a vê-lo arder,
Meti as tuas merdas num saco e atirei-as escadas abaixo,
Mandei o meu carro contra a ponte.

Que cá saber disso! Adoro! Quero lá saber disso!

Estás numa estrada diferente, eu estou na via látea,
Tu queres-me com os pés assentes na terra, mas eu estou no espaço,
És tão difícil de satisfazer, temos de rebentar esse interruptor,
Tu és dos 70 mas eu sou uma cabra dos 90.


Que cá saber disso! Adoro! Quero lá saber disso!

Alice, dá-lhe!





domingo, 14 de dezembro de 2014

Um dia difícil

Da janela onde passei uma infância e da qual nunca mais vou olhar...

A minha Leonor, de 13 anos, ontem viu o post que eu estava a fazer no facebook e disse: “valha-me Deus!”
“Valha-te Deus porquê?, Leonor.  És parva?”
“Ó pai, valha-me Deus porque o facebook não é para esses testamentos…”

Se não é para estes testamentos, agora aqui, a sós, em casa como eu gosto e mereço estar, sozinho comigo mas com o espaço todo da minha tasca virtual, posso dizer o que me vai na alma. É aqui que me confesso. É aqui que me encontro. É aqui que me descubro.
Isto é público?
Não interessa. Quero lá saber se o psicólogo tem um altifalante atrás da cadeira, para a praça toda ouvir. Eu sou transparente. Não tenho espelhos. Só vidros, porque sei bem o que vai cá dentro.

Manhã difícil. Dizem que os homens não têm medo. Mas eu estava com medo de fazer isto e de voltar àquela casa. Ainda assim, alguém tinha de ir “despejar” os últimos monos antes de uma senhora lá ir limpar a casa que sempre foi a da Cali, para que possa ser entregue antes do final do ano, que já está pago e será o último para sempre.

Uns não podem (mesmo que quisessem, que eu sei que querem), outros não estão cá (infelizmente para tudo), outros têm de trabalhar e têm mais de fazer até porque esta guerra não é a deles, outros liminarmente não querem e… o Pedro Sobreiro teve assim de se encontrar a sós com o passado e fazer uma pega de caras a esse animal pesadíssimo. Trabalho muito pesado. Não pelo esforço físico mas por ter percebido mais uma vez que as casas não são quatro paredes e um telhado. As casas têm vida, as casas têm-nos lá dentro e estão dentro de nós. Cada prateleira que tirava da parede, cada azulejo que tocava, cada armário que abria, cada até autocolante que me aparecia no chão vindo sabe-se lá de onde, que até o pensava há muito desaparecido, mexiam comigo, faziam-me suspirar e fechar os olhos.

Eu já sabia, porque já pensei muito nisso, que os passos mais importantes da nossa vida têm de ser feitos a sós. Nós sozinhos. Quando se nasce e quando se morre, por mais acompanhados que estejamos, seremos sempre nós a darmos o primeiro ou o último suspiro. É assim e nada há que possa ser feito para combater e alterar.

Quanto à casa… eu sou aquilo, eu sou ali também e tive de voltar e respirar tudo outra vez. A aparelhagem, a marquise da cozinha onde passávamos as tardes à braseira (eu, a avó Joaquina, a Maria e a Cali), o sítio onde estavam as galinhas e ia buscar os ovinhos pela mão da minha avó para comer a gemada quando ainda estavam quentinhos, o forno feito pelo primo Zé onde assávamos os cabritos a lenha na Páscoa

Tudo outra vez.

Olhei Marvão e não se via.

Deixei todos os detergentes, lixivias, vassouras e esfregonas prontos a atuar numa casa já em condições de ser entregue para ser limpa. Tudo feito com cabeça, tronco e membros. Como eu gosto.

Encontrei-me com uma vizinha querida da minha rua que me conhece desde bebé e me disse: “ai o Pedro… Sempre o Pedro… Então o que andas a fazer?”

Expliquei e disse-lhe: “Vizinha, nós temos sempre que fazer o que a nossa consciência manda. A mim não me importa o que os outros pensam. Pode-me influenciar e levar a pensar, se as pessoas estiverem próximas e me quiserem bem, mas não me obriga em nada. Tenho de pensar que eu é que sei. Posso estar errado. Mas também sei pedir desculpa porque ninguém é perfeito e eu conheço as minhas fraquezas melhor que ninguém.”

Sentia-me mal, em baixo por tudo o que passei nesse dia e ela, já sem marido e sem o único filho que tinha, que perdeu sem nunca lhe ter dado netos, contou-me que ainda há dias mandou pintar a casa toda e arranjar tudo. Isto a propósito de se ter de fazer o que se tem de fazer.
“Tu ainda tens as tuas filhas e a tua mulher, filho. E eu?”, e continuou a subir a rua, para ir almoçar sozinha, naquela casa que “em tempos tudo pareceu pequeno e agora…”

A vida não é fácil e a porra é que nem sequer tem um livro de instruções onde um gajo possa ir ler o que dizer em determinada altura. Ou então ficar calado.


Dia difícil.

87-88. Desenho de Henrique Batista
A contestatária a sair de C(um castelo) de Vide. Era finalista. Estava a acabar e a sair.
Nunca mais vi este autocolante que me apareceu hoje nas mãos do nada. Lembrava-me perfeitamente dele.
Como se o tivesse visto ontem. Há 26 anos. Um papel trouxe as memórias da noite em Pombal, da viagem ao Porto, de tantas memórias... um papel no chão trouxe isto tudo.

Aqui as tardes. Lá em baixo, as galinhas




Um esquecido que foi transferido... para minha casa

Tantos e tão bons assados...


Está lá sempre...

Estante de madeiras atadas com corda, creio que feito pelo meu pai.
Lavado e tratado sei que servirá a quem o dei.

A minha marca no cimento feita com a roda da biciclete.
O PEDRO já desapareceu. Mas valeu um ralhete


Elas riram-se mas eu gosto muito do meu enfeite novo de Natal.
Diz-me muito.

Do sempre duro regresso à minha Beirã, parei na casa do meu amigo Tó para lhe entregar dois cds que lhe prometi, com a dedicatória: "para o grande poeta, meu amigo António Gonçalves." O mundo pequenino da Deolinda e o novo e fantástico regresso dos U2. Em pijama entrou em êxtase. “Calma António. Eu disse que vinha cá, não disse?”

Ficou radiante e por força que me queria oferecer dvds, livros, filmes... “escolhe aí das prateleiras…”
“Tó, olha para mim, eu só te quero dar os discos e um abraço. Dá cá um abraço.”
“Epá, tá bem mas leva lá um cd que te vou buscar…”

E ofereceu-me ao calhas (ou talvez não porque eu não acredito em acasos) o cd que ouvi em disco até à exaustão e marcou a minha vida porque me fez perceber que as músicas não são só sons engraçados para se dançar. Também podem ensinar muito sobre a vida e esta, deste disco, marcou-me para sempre.


A Leonor viu o cd no carro e levou-o para o quarto. Obrigado António. Quem dá… recebe a dobrar.




terça-feira, 2 de dezembro de 2014

13 anos de ti


Soube agora por aqui que a minha filha vai hoje fazer anos e quero ser o primeiro a dar-lhe os parabéns. A minha caçula, a minha pequenina, o meu milagre impossível de ver o meu amor pela Cristina feito gente já aconteceu há 13 anos.
13 anos. Apesar de ela ser trapaceira e dizer que são 24, eu fui ver ao cartão do cidadão e afinal são só a contar desde 2001.A alegria que sinto ao teclar estes botões pretos não é mensurável. Faz-me transbordar e agradecer de corpo inteiro e vi’alma a quem manda nisto tudo (seja Deus, Alá, Buda ou o acaso, que não acredito que seja porque há aqui ordens a mais na terra para isto tudo funcionar) por poder viver este momento.

Nasceu e vi logo que ia ser torta. Com a mãe tão grávida, tão grávida que estava quase a rebentar, falhou o feriado do 1 de Dezembro como eu queria, e assim a garantia que iriamos no futuro estar todos juntos nesse dia. Mal sabia eu é que já revelava aptidão política e inteligência in útero ao antever que viria a troika e trocaria isto tudo, ao ponto do 1 de Dezembro de folga deixar de o ser um dia.
Torta mais se revelou na forma como escolheu desaguar neste mundo. Com o hospital do José Maria Grande que também foi doutor, em obras, fomos recambiados para a ortopedia, num piso qualquer lá em cima. E desculpem-me lá de estar a contar esta história outra vez, quando toda a gente já a sabe mas eu gosto e faz-me ficar feliz nesta altura, quando se chega aos anos dela. Isto é como o Natal, que é nesta altura de propósito. Toda a gente já sabe que o menino nasceu numa manjedoura, sem ar condicionado, aquecido pelo bafo de uma vaca e um burro, nas palhinhas deitado, nas palhinhas dormido e ainda bem que nessa altura não havia a ASAE senão ia tudo dentro; mas ninguém se cansa de ouvir a história. Por isso ouçam lá a do vosso Tio Sabi que ele gosta muito.
Pois eu queria mesmo ver a minha filha a aterrar no planeta terra. Era a primeira vida gerada por mim. Porra.
E avisei o pessoal todo que apanhava no corredor. “Olhe que eu quero ver…” ( e fazia beicinho e um ar de súplica que penso que resultava porque eles ficavam com pena.)

Mas as visitas abalaram, a noite caiu, já estávamos perto da meia noite, foi ficando tudo deserto e já não via a minha Cris há um tempo; se ela já estava em trabalho de parto quando a deixei à tarde… Não? Ai aquilo não era trabalho de parto?!?!? Não podia ser tantas horas antes? Então haviam de ver a pobre como transpirava (das senhoras não se diz suar porque senão era isso, por ser tanto) para verem se aquilo não era trabalho. Era sim!
Mas os maqueiros e os enfermeiros e os ajudas e o pessoal de apoio me disseram: Ai é  Dr. Durão? Ai joga o Benfica? Ooohhh… então prepare-se porque só depois do jogo é que nasce.

O médico vinha animado mas sorumbático como sempre. (agora posso dizer a verdade até porque já não conto que acompanhe mais nenhuma gravidez minha. J)
Entrou, não me cumprimentou (hábito…), foi andando pelo corredor fundo, tão fundo... até à ultiminha porta, onde a minha mulher estava.
Eu, utilizando as técnicas que aprendi nos raides dos lobitos, fui-me esgueirando entre as ombreiras das portas e fiz-lhe a surpresa quando a minha mais que tudo já estava sem forças depois de ter aguentado tanto tempo. A cara de sofrimento e esgotamento dela doía até a quem não a conhecia. Imaginem a mim…
Uma enfermeira (uma tipa com cara de bruxa e uns caracóis louros platinados) barrou-me à porta. – Não pode entrar!
- Mas eu pedi… Eu quero ver nascer a minha filha… é a primeira… (e a generala que não se torcia, nem se amolgava)
- Não pode.
- Mas por favor…
Por favor…
Por favor…
. Doutor, está aqui o pai a dizer que quer ver. (com o ar de um empregado de balcão que diz para o da caixa: saí um galão pingado!)
- O pai é muita grande e a sala é muito pequena e está aqui muito calor. (com uma ternura, sensibilidade e humanidade tocante…)
A bisca lacaia empurrou-me com jeito, encostou-me a mão e assim abriu o flanco. Segurei-lhe a mão, apertei-lha com jeito, assim bem apertada, muito bem apertadinha (de maneira a fazer-me entender mas não ao ponto de a fazer chamar o segurança, e disse baixinho: EU SOU O PAI. EU CONHEÇO OS MEUS DIREITOS.)
Foi como a gruta do Ali Bábá quando ele disse: “abre-te sésamo”.
Entrei, passei e fiquei de frente para a minha mulher o que é uma experiência… tocante. Vi a minha Alice também nascer mas foi como deve de ser. De lado. Com pára-quedas. Mais romântico, mais poético, mais bonito. A Leonor foi como dizem o ingleses: RAW MATERIAL! Dureza!

Mas não me senti mal, nem vacilei, nem nada. Tudo bom ao ponto de me orgulhar em mim. Suportei aquela tentativa de utilizar outros materiais menos naturais porque não passaram de hipóteses e conversa médica. E se nós… mas não foi preciso. Saiu naturalmente. As contracções impeliram-na.
A minha única aflição foi que a cachopa não chorava. COMO NÃO CHORA SE NOS FILMES É LOGO A PRIMEIRA COISA?!?!?!?!!?
Estava já eu quase a chorar quando a aspiraram e abençoado aspirador que fez ouvir o berro mais lindo de sempre.
Foi a maior alegria da minha vida. A mais contente. Mas fiquei tão feliz quanto extenuado. Eu e a mãe, que a carinha tranquilizou quando a viu nascer com uma felicidade divinal.

Mas apesar de cansado, tinha os amigos todos à espera para um jantar organizado ali em cima da hora no Zé Calha; seguido de uma lerpa em minha casa no Espírito Santo até altas horas da madrugada. Como na igreja ao lado estava a realizar-se um velório, chamava insistentemente atenção para o pouco barulho, até porque aquele era um prédio de trabalhadores da câmara que tinham de se levantar bem cedo para estarem no parque de máquinas. O que vale é que o meu irmão estava cá e ajudava: olhem que acordam o morto!
Já não me lembra bem como mas a garrafeira levou arrombo e quando acordei no sofá já tudo se tinha ido embora. Estão a ver o vídeo do “Come Undone” do Robbie Williams?


Pois… foi assim do género. O frigorífico vazio, o armário do liquor idem,  idem; aspas, aspas; e os pratos da avó da minha mulher retirados das paredes onde estavam expostos e cheios de lasanha no lava louça. Vá lá, vá lá isso.
Foi tudo inesquecível e fiquei tão feliz de recordar aqui isso. Bem hajam todos. Tenho saudades. Alguns continuam perto como sempre, outros estão mais longe pelas voltas que a vida dá como o meu irmão e o Pedro Matos; mas na verdade, na verdade, estão todos aqui bem dentro do coração.

Quando regressávamos do hospital, os dois… os três! tão sem jeito… olhei no espelho e perguntei: “e agora, Cris?”
Ela sorriu com aquele ar dela. De quem sabe sempre por onde ir.
E é por aí que temos ido. Todos juntados, como diz a pequena.
Obrigado.
Às duas. Às três. As mais importantes na minha vida.

A Leonor hoje é uma menina já mulherzinha com a qual choco muitas vezes porque a puberdade é mesmo a porra da idade.

Mas eu sei que se a Alice é toda mãe, a Leonor é bem Sobreiro, e barraqueira como o pai e o avô. Vejo isso pelo humor que tem.
Quando cresceres mais e ficares mais velhinha, sei que vais voltar para mim com toda a força.
Agora tenho de acabar isto porque já estou a escrever há mais de 1 hora e quero ser o primeiro e nem sequer vou ter tempo de escolher uma foto linda das tuas que tenho milhares.
Porque tu, ao contrário do que digo à Alice que é a minha filha preferida (tem 4, Leonor… Tu não te lembras quando eras assim. Mas eu lembro. Tanto. E tu, nessa altura, não tinhas uma irmã embirrante como ela tem agora. Isso passa-te.),
 TU ÉS A ESPECIAL. TU FOSTE A PRIMEIRA. E és mesmo mais bonita que a mãe.
Tens um bocadinho de mim…


Amo-te. Incondicionalmente.