quarta-feira, 30 de maio de 2012

The end



A ideia já andava na minha cabeça há algum tempo mas nada como concretizá-la.

Poderia ser um abandono progressivo, lento, como se deixam os animaizinhos na berma da estrada mas isso é de uma crueldade tamanha que não me ficaria de todo bem e não seria justo para os leitores, nem para mim que criei este “filho” com tanto amor e o estimei com tanta dedicação. Há que aceitar a vida e as coisas como são, meus amigos. Ninguém o lamenta mais do que eu, mas isto tudo que começou por ser um prazer e me deu tantas horas de diversão, chegou ao ponto de ter de ser uma obrigação, coisa que nunca foi a minha intenção. Nada dura para sempre.

Fecha-se o livro, fecha-se esta vista de Marvão para o mundo, mas ficam os textos e as memórias que vão sempre permanecer para recordação e como um álbum de “fotos” de um determinado período da minha vida pelo menos até que os senhores do blogspot assim o entendam e o deixem.

A todos fico grato, pelo apoio, até por alguma crítica, por terem estado presentes e sempre do outro lado.
Foi uma viagem que valeu a pena!

Foi uma viagem que valeu MESMO  a pena!

Terminou esta mas outras se seguirão e tendo a vida toda pela frente e uma família linda que amo com toda a minha força e os melhores amigos e amigas do mundo, novas aventuras esperam por nós a cada esquina.

Bem hajam por tudo!

Que Deus vos abençoe e encha os vossos corações de amor, carinho e alegria.

Até sempre, camaradas!

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Bernardo (1970-2012)



Lamento profundamente a morte e o triste fim do Bernardo que era, afinal, um rapaz do meu tempo. Levava-me apenas 3 anos e era também nascido em Junho.
Uma vida inteira, cheia de sonhos e talento desapareceu assim num ápice, em condições e circunstâncias que vão sempre ficar por apurar.  Apaixonado pela fotografia, poderia estar à procura daquela “tal” imagem quando escorregou ou colocou um pé em falso e caiu assim à falésia que lhe roubou a vida. Tudo desapareceu num instante, tudo se esfumou num abrir e fechar de olhos. Tantas horas de trabalho e aprendizagem e criação ao piano não  lhe valeram de nada e desapareceram com ele.
Todas as imagens e entrevistas que têm passado recentemente na televisão revelam um artista calmo, um criador que amadurecia, um pai de família responsável que colocava a mulher e as filhas sempre em primeiro plano. Um génio humilde que sempre sabia estar no seu lugar e preferia passar despercebido em vez de correr atrás do brilho dos holofotes.
Realmente, a vida é trágica e prega-nos assim estas “peças” que tanto custam a digerir e nos deixam muito mais pobres enquanto país. Há coisas que por mais que se pensem e expliquem acabam sempre por ficar assim no ar, sem uma resposta ou justificação.
Claro que muita gente já conspira e tenta de alguma forma encontrar teorias que justifiquem o fim mas pode tudo mesmo ter sido um acaso, fortuito e infeliz.
A vida é mesmo assim e o show tem de continuar mesmo que falte uma das figuras principais  do cartaz.
A nós, restam-nos as gravações, os discos e os espetáculos para não deixarmos que tudo caía no esquecimento, para que tudo tenha e continue a ter um sentido.
A memória que acaba por ser maior que a vida. Uma pessoa nunca morre desde que haja alguém que a recorde com carinho e saudade. 

terça-feira, 8 de maio de 2012

A concurso!


A minha Leonor está cada vez mais engraçada, mais crescida, mais mulherzinha a cada dia que passa e é um prazer enorme vê-la a crescer assim. O maior do mundo!

Esperta, mete-se em tudo, ouve tudo, sabe opinar sobre tudo, não deixa nada em claro. Nesta semana que passou, nestes últimos dias, passaram-se duas com ela que não resisto a contar-vos. A primeira foi a publicação na “Visão Júnior” de um texto seu sobre as bonecas preferidas, as “Monster High”, umas piquenas horripilantes que são filhas de vampiros ou lobisomens e estudantes de um liceu dos Estados Unidos. Ela lê a “Visão Júnior” desde que aprendeu e tem a sua sempre encomendada no Rui Boto para quando acompanha o pai a buscar o “Expresso”, trazer também o seu exemplar. Eu sabia que ela tinha escrito para lá mas fiquei surpreendido por ver a publicação do seu comentário entre muitos outros, dezenas deles que têm por lá certamente caído nos últimos tempos. Claro que ficou radiante e guardou a edição que passou a engrossar o seu espólio bibliográfico. Esta foi boa mas o melhor ainda estava para vir...



Ultimamente não se calava com o espetáculo do CSI (título da série americana “Crime sobre Investigação”) que iria acontecer no nosso país creio que no Pavilhão Atlântico e em Santa Maria da Feira. A ideia era recriar o ambiente que rodeia a investigação policial nos Estados Unidos e seguia as linhas orientadoras da série televisiva que ela costumava acompanhar com a mãe sempre que esta última a deixava assistir (porque o teor da série o permitia). O evento era um festim para os mais novos, para a malta jovem que segue com curiosidade estes eventos dos crescidos.

Fartou-se de nos pedir se podia concorrer aos bilhetes e nós, depois das habituais perguntas e cuidados sobre a privacidade, demos-lhe autorização para se “fazer” aos bilhetes, embora estando sempre cientes que era um concurso à escala nacional, que os concorrentes deviam ser mais que muitos, que as hipóteses de vitória eram muito escassas. Alimentámos-lhe assim as esperanças mas nunca pensamos que a história que redigiu fosse uma das escolhidas. Qual não foi o nosso espanto quando depois de me pedir para utilizar o computador, ouvimos um grito e a vimos numa felicidade estonteante que até dava direito a saltos e a uma coreografia. Ficou radiante, meu Deus, e eu vi logo o que vinha a seguir. Depois da alegria viria a desilusão quando se apercebesse das dificuldades em levantar o bilhete e estar presente. Era uma sexta-feira e a mãe trabalhava nesse fim-de-semana, eu teria a responsabilidade de tomar conta dela e da irmã nos dois dias que se seguiam, faltavam apenas horas para a abertura das portas e ir a Lisboa, por muito que lhe custasse perceber na euforia, não é propriamente como ir ali à Beirã. Há coisas que os adultos têm de levar em linha de conta, coisas triviais com o combustível, as portagens, os almoços, os passeios e as lembranças… que as crianças não pensam nelas mas que pesam  nestes tempos modernos e à hora que era e perante o cenário que se adivinhava, ir a Lisboa de sobressalto não era certamente o nosso programa ideal para fim-de-semana. Posto isto, teria de se passar para a parte das negociações e eu aqui declaro publicamente  que apesar do esforço por agradar ser enorme, não estava a conduzir nada bem as negociações. Só lhe dava os parabéns e pedia para não ficar triste, o que não lhe levantava  o astral, nem fazia com que a barra ficasse menos pesada.

Eu aflito, a mãe cabisbaixa, a pequena a léguas de tudo o que se passava, e ela… na mesma. Eis que senão a Cris teve uma ideia realmente brilhante daquelas que desbloqueiam as situações de crise porque naquele momento prometeu que assim que visse uma, lhe comprava outra boneca “Monster High”(daquelas que a mãe não suporta), e fez-se luz: o pranto deu lugar a um sorriso, serenaram-se os ânimos e ficou tudo muito mais calmo.

Falou-se num bem maior, naqueles que ocupam os lugares cimeiros do gosto e após aquilo já nem ela, nem ninguém se recordava do que eram e para o que eram os ingressos. Tudo tinha passado e tudo fica bem quando acaba bem.

A boneca já cá dorme em casa há uns dias, instalada com as suas colegas no prédio residencial que possuem no quarto da Leonor e onde não faltam todas as comodidades do mundo moderno, jardins e jacuzzis incluídos. O CSI já foi à vida, ficou apenas uma memória que vai querer guardar, como nós com o episódio.

Só espero que quando crescer e se meter noutras paragens, tenha um pouco mais de cuidado e certeza quando se enfiar nestas embrulhadas e me pergunte antes se posso mesmo dirigir o iate que nos vai sair nesse cruzeiro que nos vai tocar pelo Mediterrâneo. Eh, Eh…




quinta-feira, 3 de maio de 2012

Para quem gosta (disto!)



Não concordo nada quando se defende que a televisão portuguesa é um lixo porque desde que se queira e se procure muito bem, há muitos programas de qualidade de carácter gratuito e estão ali mesmo à mão de semear. Fala-vos disto porque nem sempre a televisão é cinzentona, triste, quadrada e sem graça. Aqui em casa, a hora dos noticiários é sagrada e geralmente a opção recai sobre a SIC porque é aquela em que a qualidade geral é superior à dos canais estatais ou mesmo da TVI.
Depois dessa hora que está instituída e é intocável apesar das reclamações das classes etárias inferiores, estamos todos de acordo e não nos rendemos a esse domínio tenebroso das telenovelas e concursos e afins, porque toda a família se senta em conjunto no sofá a assistir ao programa “Gosto Disto”. Em primeiro lugar, o formato está muito engraçado e deve resultar muito bem porque as temporadas sucedem-se e por vezes chega inclusivamente a passar aos fins-de-semana! O programa costuma recorrer a todas as situações do dia-a-dia que são passíveis de fazer sorrir os espectadores e para isso utiliza todos os suportes, desde os ficheiros recebidos por e-mail, às gravações de programas antigos, até às fotos que foram enviadas propositadamente pela assistência. Os apresentadores são dois: uma “piquena” engraçada que teve a sorte de sempre integrar as equipas da SIC e o grande César Mourão que é provavelmente o melhor comediante português do género a atuar no nosso país.
Desde os tempos em que o Herman José tinha mesmo graça (aos anos!) que eu não me divertia tanto com o trabalho de alguém. Ele cria personagens muito bem “caçadas”, ele brinca com tudo e mais alguma coisa, ele faz vários “bonecos” que são uma mais-valia para o sucesso do programa e ver aquilo até dá gosto. É de deixar qualquer um muito bem disposto.
Como se não fosse suficiente, o César soube encontrar uma dupla de altíssima qualidade e recrutou os inenarráveis Homens da Luta, o comediante Jel e o seu irmão Falâncio, para com ele comporem o ramalhete que com todos juntos ficou a funcionar na perfeição. É uma seleção intocável que está ao nível do melhor que se produziu em Portugal.
Quem é que disse que os serões em família a ver tv têm de ser enfadonhos  e sempre iguais? Experimentem a ver e certamente acabam por ficar também a fazer parte da enorme assistência. 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O "nosso" São Marcos

 





As festas da minha terra, em honra de S. Marcos que ontem tiverem aquele que era habitualmente o seu dia grande são o espelho mais que evidente do estado em que se encontra o nosso país relativamente a muitos aspetos. Tudo depende do ponto que lhe pegarmos mas é assunto para nos entreter muitíssimo e bem vistas as coisas, “dá pano para mangas”. O “S. Marcos”, pura e simplesmente passou. Passou quase sem que tivéssemos notado.

É certo que nunca foi assim uma festa grandiosa, daquelas de “encher o olho”, mas pelo menos tinha outra dignidade. É certo que aqui temos de estabelecer uma linha divisória entre a festividade em si e a sua componente religiosa porque nesse aspeto, desde que as pessoas queiram e mantenham a sua devoção, tudo pode permanecer inalterado.

À festa faltaram as pessoas, meus amigos, as populações e quando assim é, o natural é que as coisas vão inexoravelmente caminhando para o seu fim mas é assim e contra isto não há nada que possa servir de arma de arremesso ou motivo contra.

Eu ainda me lembro de grandes festas do S. Marcos em que vinha muita animação, muitos amigos chegados de todos os pontos do país, muita gente. Vinham os carrinhos de choque com uma pista enorme que levava dias a montar, diversos carrosséis para os mais pequenitos, inúmeras barraquinhas de tiro, divertimentos diversos e nunca faltava o belo do algodão doce e a fartura. Era uma festa com tudo, como devia de ser, com princípio, meio e fim. Agora é uma festa que só serve para quem se lembra recordar como foi no passado.

Neste ano, apenas assisti ao grande festival taurino organizado pela Casa do Povo a favor da construção do lar de idosos e que como era uma homenagem póstuma ao Amigo Lourenço Mourato, grande impulsionador e divulgador da festa brava recentemente falecido, teve um cartaz absolutamente único que reuniu as dinastias Moura e Bastinhas, Tito Semedo e ainda Luis Procuna que deu um ar da sua graça no toureio a pé. Foi uma oportunidade verdadeiramente única de homenagear um grande homem e creio que a grande afluência da assistência que acorreu em grande massa se deveu também a isso.

A outra única ocasião que me levou sair de casa foi o espetáculo noturno de “Estrelas da nossa terra” no qual as crianças da nossa escola atuaram, cantando e dançando, cobrando um valor simbólico de entrada para ajudarem os finalistas que tiveram todo o trabalho de encenação e organização. Coisa de nível feita com a prata da casa que também encheu a sala do Grupo Desportivo Arenense com pais e familiares desejosos de verem os seus pequenos brilharem. Foi a oportunidade que tive de ver a minha Leonor cantar o  “Fon, Fon, Fon” dos Deolinda quando em casa nem sequer nos deixava assistir aos ensaios. Esteve muito bem como aliás estiveram todos os miúdos que não se limitaram a fazerem as poses e a mexerem os lábios, mas que deram o corpo ao manifesto e cantaram mesmo. Bem ou mal, mais ou menos desafinados, mas presentes de carne e osso, ao vivo para o que desse e viesse! Gostei de ver e como eu, creio que toda a plateia que aplaudiu de facto, convicção e gostou.

Foi um S. Marcos pequenino, dos”300” como é a nossa imagem de comunidade atual, mas um S. Marcos resistente, um S. Marcos que ainda persiste, apesar de tudo. Até quando já não sei e isso se calhar era uma conversa que nos podia levar longe sobre o futuro destas localidades pequenas no interior perto da fronteira.

Ontem à noite, bem perto da meia-noite, quando já na cama, ainda ouvi os foguetes que cruzavam os céus, encerrando os festejos e relembrei os grandes fogos de artifício e as grandes noites de outrora que já não voltam nem se repetem. Tempos de mudança em que assistimos ao fim da linha, ao fim de um mundo que também é o nosso e do qual também fazemos parte.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Os cortes e o essencial



É claro que eu, como toda a gente, me preocupo com o dinheiro. Sempre me preocupei mas agora que somos todo o dia bombardeados com notícias sobre a crise, sobre a falta de trabalho, sobre o problema em que se encontra a Europa, ainda pior!


Graça a Deus, e já agora, a nós próprios que nos fartámos de estudar e pedalar para chegarmos onde estamos, podemos perfeitamente viver contando apenas connosco. Saber gerir a “coisa”, o “barco”, e tendo duas filhas catraias a nosso cargo, não é tarefa fácil mas com muito boa gestão e com os pés sempre assentes na terra, tudo se organiza e se leva da melhor maneira. É certo que nunca fomos de grandezas nem tampouco de gastar aquilo que não tínhamos, por isso tem sido tudo tão fácil.


O patrão Estado, que é o nosso (dos dois!), tem-se portado sempre bem e nunca tem deixado que falte o “mais que tudo” à mesa, mas é importante que estejamos atentos porque o cerco tem-se vindo a apertar e está cada vez mais fechado. Primeiro acabaram com os dois vencimentos extra que tanto jeito davam e nunca caíram da carteira. Agora falam de ir cortando o pessoal nalguns institutos públicos (sendo certo que nalguns havia mesmo muita gente a mais), falam de aumentar a idade de reforma, falam de muita coisa sendo certo que as notícias são para pior e deste lado não se pode mesmo esperar que venha nada de bom.


O melhor é irmo-nos preparando para tudo e estando nós aquartelados e com a despensa de mantimentos cheia, nada nos assusta ou mete medo.


É por isso que sempre que podemos devemos cortar em tudo aquilo que é supérfluo ou passível de poder vir a ser considerado excedentário. Foi o que aconteceu aqui em casa há dias quando reuniu o Conselho Interno de Economia composto por mim e pela minha esposa com a assistência das duas pequenas: uma que tem a mania que quer ser grande e pensa que somos ricos e a outra, coitadinha, que de tão pequenita e alheia a estas questões de adultos que não têm nada de interessante e só aborrecem, se fartava de olhar em volta a ver se arranjava uma coisa mais engraçada para se entreter. Desse dia constava da ordem de trabalhos, uma análise dos gastos diários e sobretudo um estudo mais profundo sobre de que forma é que a fatura de televisão se poderia encolher. Realmente, pagar quase 100 euros de meo era um pouco excedentário e não fazia muito sentido. Assim sendo e concordando com o exposto, eu próprio dei o corpo às balas e ofereci de bandeja o corte da chamada “televisão dos ricos”, ou seja, a Sport tv. Eu nunca fui um daqueles loucos por ver desporto e sou sincero: tirando os jogos do meu Benfica que seguia sempre com enorme atenção, tudo o resto que passava naquele canal me passava ao lado. Não passava manhãs, nem tardes e muito menos noites a visionar o “dito cujo” pelo que não foi uma daquelas medidas que me custasse mesmo muito. De resto, há sempre a possibilidade de me deslocar a um café para ver o jogo com companheiros, ir à casa de um amigo que tenha o canal, ou mesmo juntar-me ao meu sogro cujo fervor clubístico nunca permitiria um corte deste natureza. Perde-se o conforto caseiro mas não se perde mesmo tudo e até se ganha aquele espírito que havia antigamente quando se seguiam os relatos pela rádio no café da terra. Do mal o menos!


O corte na fatura da televisão ainda passou pela redução do número de canais mas aí sou-vos sincero se disser que ainda estou para descobrir quais foram os canais que desapareceram porque ainda estou para tentar saber quais foram. Tirando os generalistas que acompanho sempre, não temos assim em casa especial predileção por nenhum à exceção da minha Leonor que certamente fugiria de casa se deixasse de poder ver o Disney Channel que consome até à exaustão e que tem sempre a gravar mesmo quando está a ver. Se há canal intocável aqui em casa, esse é certamente o único.


Isto também levou-me a pensar um pouco mais profundamente e refletir um pouco na natureza da pessoa humana. Eu explico: quando era criança e me deslocava a Idanha para visitar os meus avós maternos, visitávamos sempre a casa da avó velhinha (bisavó) e ainda hoje me consigo lembrar como era. Recordo-me que era uma casa pequenina onde tudo tinha o seu lugar com primor e higiene mas mais parecia uma casa de bonecas: não faltava nada mas era ali evidente que ao aproximar-se do fim da vida, a pessoa tinha a tendência para se ir despojando de tudo aquilo que lhe fosse acessório, de tudo aquilo que não lhe fizesse realmente falta.


A minha casa (e nem sequer falo do sótão!) está hoje repleta de cds, filmes, livros, revistas… enfim, coisas das quais eu sinto imensa falta mas que não fazem falta nenhuma. Vistos uma vez, ouvidos uma vez, lidos uma vez, são guardados porque é uma forma de os mantermos, de fintarmos assim a nossa finitude. Vejamos o caso dos filmes, por exemplo. Todos os dvd que guardo são filmes que de uma forma ou outra mais me marcaram. Tenho os todos os Lynch, os Tarantino, os Burton, mas também alguns que me marcaram pelos atores, pela história, enfim… filmes da minha vida que já foram todos vistos mas que me confortam desde a prateleira porque basta-me olhar para eles para os relembrar e ao recordá-los, reviver também algum momento da minha vida em que os vi. Podia perfeitamente passar sem eles mas vê-los ali fisicamente faz-me sentir bem, mais seguro. Estranho, não é? O mesmo digo dos discos, dos livros, dos objetos porque por mais significado e valor emocional que tenham não passam apenas disso, de serem coisas que só têm valor pelo valor que lhe atribuímos. Ainda assim, cá ficam e cá permanecendo, acabam também por fazer parte de mim. Estranho mesmo!

quarta-feira, 11 de abril de 2012

O coelho...



Enquanto vos teclo estas palavras, ouço de fundo o agora constante barulho presente no meu bairro, ensurdecedor não por ser muito alto mas por ser constante ao longo do dia: o som de uma máquina perfuradora a trabalhar para romper a rocha e assim permitir a abertura das fundações do prédio novo que vai nascer ao fundo da minha rua. É massacrante e sobrepõe-se a tudo.


A obra tem toda a razão de ser e faz todo o sentido: trata-se de uma estrutura de apoio às crianças e jovens que necessitam de apoio mental. Já não me recordo há quanto tempo se passou a sessão de esclarecimento público que ocorreu na Junta de Freguesia, nem tão pouco se ainda era o vice-presidente da câmara, mas eu estive lá, presente entre o público e os moradores e concordei com tudo. Achei bem que se atribuísse o terreno a fundos perdidos ou a preço simbólico, achei que trazer a estrutura, vida e emprego para a terra era um motivo mais do que válido, achei tudo bem.


Agora, que a parte mais difícil (da obra) começou, tenho-me lembrado imensas vezes das palavras de uma figura icónica da minha aldeia de infância, que já não vejo há muito tempo: o “menino” Augusto Forte. O Augusto, que agora já deve ter uma idade bem avançada, marcou muita a minha infância e juventude pela sua maneira de ser e pela maneira de estar no mundo. Ficaram famosos os seus devaneios etílicos e sobretudo os seus fogosos discursos públicos que poderiam surgir em qualquer situação mas que tinham especial interesse quando eram ouvidos por muita gente e sobretudo quando a audiência era vasta como na Carreira de Cima em Castelo de Vide onde eu me recordo uma vez de o ouvir. O Augusto era tudo menos parvo. Filho do Sr. Forte, um proprietário e um agricultor abastado na minha aldeia que foi dono da enorme propriedade da Broca, creio que chegou a estudar no Colégio em Tomar, quando aquilo eram paragens apenas ao dispor de bolsas mais abastadas. Defensor da esquerda e dos seus ideais (pelo menos era isso que dava a entender por quem o ouvia), pessoa culta e bem informada, foi tendo os seus devaneios que todos nós permitíamos porque vinham de quem vinham. Num determinado momento lembro-me que o “Ponta Esquerda”, como era conhecido e nós lhe chamávamos, deixou pura e simplesmente de falar. Como decidiu, em resignação, não emitir nenhum som, passou a comunicar apenas por gestos, o que era uma enorme parvoíce para quem gostava tanto de falar e quem nós gostávamos tanto de ouvir, mas enfim, era a sua vontade e nós respeitávamo-la.


Quando penso nos discursos dele e quando ouço este enorme e irritante barulho lembro-me sempre de uma história sua que de tão engraçada e tão bem contada me ficou para sempre. Dizia ele num dos seus célebres discursos que bem podiam ter sido compilados e publicados porque eram um verdadeiro tratado: “Eu, Augusto da Mota Forte, plantei uma alface. Veio o coelho, comeu a alface. Veio o caçador, matou o coelho. Agora digam-me se eu, Augusto da Mota Forte, tenho ou não tenho direito a uma pata desse coelho?”. A pergunta ficava no ar e não havendo quem se atravesse a responder, a audiência dividia-se entre aqueles que ignoravam a questão, um ou outro que ficava a pensar e o resto eram os miúdos sorridentes entre os quais se encontrava este vosso tonto que nunca se esqueceu da mesma. A ideia do Augusto sobre o comunismo e sobre aquilo que pertencia ao bem comum é bem refletida nesta questão e não deixa dúvidas a ninguém: se o homem tinha contribuído para o coelho se tornar no animal que era, também ele teria direito a saciar a sua fome no manjar do animal. Faz sentido e de tanto que faz, cá me ficou para sempre. Até hoje!

Lembrei-me dela porque eu, enquanto morador, sou muito a favor do terreno ter sido utilizado para um fim que vale a pena, ser utilizado por pessoas e famílias que merecem mas penso que também a câmara deveria de levar em consideração aqueles que escolheram este bairro para fazer a casa das suas vidas e para criarem as suas famílias. A saber: este é um bairro residencial pequeno, muito limitado e deveriam já ir sendo pensadas algumas medidas para apoiarem a nova estrutura e utentes. A saber: em primeiro lugar, a nível de acessos, deveria já ir sendo pensada uma nova estrada direta que não obrigasse as viaturas de apoio e as famílias a entrarem por um bairro antigo (o primeiro, dos Outeiros) que não está habituado nem foi criado a pensar neste aumento de tráfego. Depois fazia falta ir sendo pensada por aqui uma zona ajardinada onde as famílias e os utentes pudessem dar os seus passeios na hora das visitas e aos fins de semana, deveria ser pensada a forma como é que o aumento de viaturas vai alterar a forma do bairro ser gerido em termos de fluxo e estacionamentos, enfim… eu penso que projetos desta envergadura que são capazes de ter repercussões em gerações de terras pequenas como é a nossa deveriam sempre de ser acompanhados por todos os moradores não apenas na sessão inicial (na qual souberam estar presentes), mas sim ao longo da obra para que pudessem dar sugestões e o feedback de quem “por estar no convento sabe o que vai lá dentro”. Enfim, o fundamental e aquilo que infelizmente não tem acontecido ao longo destes últimos tempos. Estou certo que se falassem com a responsável pela obra desta possibilidade, não iria descartar a hipótese de ouvir e ser ouvida. Havendo esta abertura dos moradores e da promotora, apenas a câmara municipal que em vez de ser a grande responsável e beneficiada pelo diálogo, pode pensar de forma contrária. Há dias estiveram por aqui para colocarem simbolicamente a primeira pedra. Para fotografias e inaugurações, todos estão presentes e dizem que sim enquanto fazem o bonito. Mas o resto, o trabalho, o importante… fica por dizer e fazer. Pena… Assim vai o nosso país!

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Ir a jogo!



Por estes dias tomei a decisão de não voltar a falar na minha saúde, na minha convalescença, neste problema que me afetou e pelo qual estou a passar. Ponto final sobre o assunto pelo simples motivo de que não me traz nada de novo ou de melhor. Não vale a pena bater mais no ceguinho e assim sendo, há que caminhar e andar para a frente. Quando nasceu, este blogue era também o meu caderninho de notas digital, o bloquinho de papel que eu trazia no bolso de trás dos calções onde tomava nota de tudo e assim foi até agora mas eu nunca pensei que as coisas escurecessem tanto. Fazendo o ponto da situação, o melhor é separar as águas e meter o blogue num patamar e deixar os pensamentos e as dúvidas, noutro. Nunca antes tinha pensado nisso mas é melhor assim. No blogue escrevo aquilo que os outros podem ler, aquilo que posso tornar público e sempre que eu preciso escrever algo mais pessoal, tenho de arranjar maneira criando um diário daqueles pequenino que têm uma chave e tudo. As coisas ficam mais limitadas assim, esta “tabanca” fica reduzida a ser um miradouro de onde apenas posso escrever e pensar sobre aquilo que me rodeia e vejo. “De dentro para fora” e não o contrário para assim blindar a carroçaria e tornar a couraça mais homogénea. Não quero que quem me quer bem fique mais preocupado comigo, a pensar se as coisas estarão bem, se estou mais preocupado ou taciturno. Eu quero é um “virar de página”. O que foi, foi e não se ganha nada em escamotear as coisas, em dar voltas e mais voltas. O que sucedeu, sucedeu e há que seguir em frente.


Eu digo limitado porque nunca vim para aqui “vender jogo”, contar mentiras ou armar-me ao “pingarelho” mas tenho de me cingir ao que me rodeia, ao que está à volta e o meu universo agora cinge-se a ver o mundo não de binóculos porque se não estrago a vista, mas à vista desarmada. É o que há! Quem quiser compra, quem não gostar pode meter para o lado e comer só as batatas fritas.


Agora apetece-me falar e escrever sobre o estado político da nação porque é um assunto muito atual que nos preenche os noticiários e vai enchendo as páginas dos jornais. Ainda na sexta-feira passada li no Público, uma crónica do Vasco Pulido Valente que se referia ao “fantasma” do Sócrates e eu concordo com ele porque penso que o gajo ganhou um estatuto e uma projeção que assombrou não só o partido socialista mas até o próprio país. Fez uma política de terra queimada que depois dele não deixou nada. Pedro Passos Coelho é um bom homem, um homem sério, um homem que se esforça por conduzir o país, um homem que tenta dentro das enormes limitações que são impostas pela Europa, traçar o melhor dos cenários mas não é fácil porque Portugal é um país periférico que está muito arredado dos grandes centros de decisão que passam muito pela Alemanha e até por França. Apesar de tudo, tenta ser um timoneiro e um resistente, alguém que não baixa a guarda. Já António José Seguro e a sua rapaziada do PS, fazem a triste figura de alguém que diz mal só por dizer e fazem oposição só para não estarem calados, o que confunde quem está a ver e não ajuda em nada porque trata-se de uma oposição retórica. Eu acho piada porque até os antigos rapazes do séquito, agora são os primeiros a dizer que de Sócrates não querem nada e são os que se destacam do grosso da coluna em primeiro lugar. Rei posto… rei morto, e isso é algo que se constata todos os dias.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Em modo "Stand by"



Dias difíceis, estes! Tempos difíceis!


Tento manter-me bem, quer física, quer mentalmente, mas não tem sido nada fácil. Também… quem é que me disse que as coisas poderiam ser mais simples?


Continuo a não baixar os braços e a ir sempre à fisioterapia mas é uma luta abnegada com o tempo e comigo próprio. As melhoras são imperceptíveis para mim, mas pelo que me dizem, não para quem me rodeia. Sendo assim, é quase como caminhar cego pela selva seguindo apenas as instruções, as orientações de quem nos vê. É preciso ter uma força que eu nunca pensei ter para não baixar os braços e deixar-me ir pela corrente. É uma prova sobre-humana!


Assim, tenho de fazer um esforço todos os dias de manhã para não influenciar negativamente quem me ajuda mas… (é o que eu digo!) não é nada fácil!


Os meus dias agora resumem-se a isto: ir ao hospital de Portalegre pela manhã para os trabalhos físicos e passar a tarde não sem fazer uma caminhada ou uma natação para que o corpo obedeça e não se torne apenas um habitáculo da alma.


Bastante simples, não é?


Para quem lê ou ouve, pode parecer muito pouco mas para mim, tudo é muito. Por exemplo: só a sala de espera da fisioterapia onde tenho de aguardar que chegue a minha vez, dava para fazer uma caracterização do sítio e do momento. Nessa salinha situada no rés-do-chão do hospital distrital, existem muito poucos lugares sentados e a média de idades é muito elevada. A bem dizer, tirando os bebés que vão fazer trabalhos para melhorar a sua capacidade respiratória dificultada pela bronquite ou constipação, devo ser o mais novo daquela gente toda onde proliferam as maleitas próprias da idade sempre relacionadas com as quedas e a falta de equilíbrio. Sinto-me sempre muito bem tratado e sei que as pessoas me estimam como eu a elas e trato com a melhor das educações mas aquela entrada no dia não é propriamente a mais agradável. Enfim… que fazer? Ele há coisas que acontecem que mudam tudo para sempre e esta que me aconteceu a mim é disso um excelente exemplo.


De resto, essa é uma frase que me habituei agora muitas vezes de ouvir da boca dos outros: “as coisas para se desencaminharem é num instante mas levá-las ao sítio demora mais tempo, não é”? Se é! E eu que o diga!


Essa é uma das que me habituei agora muito a ouvir, como prognósticos da situação e avaliações diversas ao meu estado de espírito. Dizem-me que estou ora acabrunhado, ora pensativo, ora esmorecido, ora em baixo… Quer dizer, perguntam-me, ou comentam e dão-me a entender que assim é. Eu acho que estou sempre normal e procuro assim me manter mas, constantemente analisado e sujeito a estas abordagens… já nem sei como é!


Gostava de ter tempo para ler, gostava de ter tempo para ver os meus filmes, gostava de ter tempo para muita coisa mas a verdade é que não posso nem quero, porque a única coisa que quero mesmo é voltar a estar bom e voltar-me a sentir como me sentia dantes. Coisa bonita para se meter numa t-shirt do Cão Azul: “Eu quero ser como era dantes!”. Comprava-a logo!

quinta-feira, 15 de março de 2012

Os resistentes!









Pois é claro que comprei a Visão desta semana! Assim que soube que era dado o destaque, corri logo para o quiosque e fui o primeiro a comprá-la. Ainda as revistas estavam todas arrumadinhas e embrulhadas num pacote e já eu estava na fila da frente para ter direito ao meu exemplar. Gostei da reportagem. Acho que estava jornalisticamente bem feita e traçava bem o quadro.


Se fosse eu a fazê-la (lembrem-se que a minha formação é jornalística, eu estudei para isso e terminei o curso muito bem classificado, só não cheguei foi a exercer), só mudava o título e passaria a chama-la de “Os resistentes” porque é sobre eles que trata. Esta geração que é também a minha, é feita de homens e mulheres que apesar de tudo não desistem dos seus ideais e resistem contra tudo e todos para terem o seu cantinho e serem felizes. Sou fã, fã de todos eles porque merecem o meu elogio e toda a minha consideração. Muitos deles têm estudos superiores, querendo isto dizer que estudaram grande parte da sua vida esperando um mercado de trabalho que os integrasse mas isso nunca chegou a acontecer. Por revezes do destino, pelas mais variadas razões acabaram por ver-se assim por sua conta própria e das duas, uma: ou pegavam nas rédeas e começavam a controlar o seu futuro ou deixavam-se ir abaixo e passavam a ser apenas mais um número! (nas filas do desemprego, nas estatísticas…). E eles (e ainda bem!) não ficaram quietos e parados. Criaram o seu próprio emprego e assim conseguiram o seu espaço numa revista nacional que (atenta!) lhes soube dar valor e tempo para os ouvir.


Gostei imenso de ler e de saber melhor a sua história. Conheço muito bem a Paula e o Nuno que conheci no Serviço de Finanças em Marvão, cujo sonho de criar um parque de campismo naturista entre nós acompanhei sempre; conheço muito bem o meu primo Jorge Rosado e aplaudo o seu regresso à terra; sou cliente e adoro a mercearia da Catarina e do Nuno, loja da qual tenho o enorme prazer de ser cliente sempre que posso, apenas não conheço o Márcio e a Mónica mas uma vez que vamos ser aqui vizinhos em Santo António, assim que puder passo por lá para lhes dar um abraço e uma força. Quero que eles saibam que eu sinto que são heróis e torço por tudo para que o negócio lhes corra bem. Ter vizinhos do seu lado só pode ajudar e já que tudo estava contra eles todos, deve ser reconfortante saber que têm na vizinhança quem os admire e queira bem.


Os tempos são duros! Em termos económicos, o que nós assistimos todos os dias é que estamos a ser engolidos. Na Europa, pelos alemães e pelos franceses, mas para mim, o grande problema vai vir da China porque os chineses que já estão a comprar e já se estão a meter em Portugal, são mesmo muitos e gajos que se multiplicam onde quer que haja um bocadinho de humidade, qual erva daninha que se alimenta de tudo o que apanha à volta.


Tempos difíceis! O interior não interessa a ninguém. Os grandes centros de decisão só se preocupam com cidades e os enormes agregados populacionais. Com as fronteiras assim desamparadas, qualquer dia, os espanhóis entram pelo país adentro e só reparam que estão no nosso país quando chegarem às portagens e lhe queiram cobrar o ticket.



Que desgosto, meu Deus! Que desgosto… Um país tão bonito, tão bem localizado à entrada da Europa, com solos de uma qualidade excecional (que agora não leva “p”, diz-me o computador! Modernices!) com um clima bestial, com uma relação privilegiada com a água (com o mar e os rios que o banham), vê-se assim reduzido a nada! Nós já dividimos o mundo ao meio, caraças! Pode haver gajos que hoje jogam forte a nível internacional mas nós nunca nos podemos esquecer da nossa história e temos de ser orgulhosos do nosso passado e daquilo que fomos! Eu com a extrema direita não quero nada, mas há coisas que o velhinho Salazar dizia que não eram descabidas de todo e se ele falhou muito nas políticas que tinha, de parvo não tinha nada. Pelo menos via o país como um todo e não apenas as cidades onde estão os votos e o poder. Não cabe na cabeça de ninguém ter uma casa onde a sala é faustosa e do mais requintada que há e depois ter as outras divisões todas por mobilar. Ou há meio termo e cuidado em tratar tudo por igual ou não vale de nada ter dois pesos e duas medidas.


E é por não concordar com as regras do jogo, por verem que quem dita as leis, o faz muitas vezes sem pensar no que deve ser pensado, que estes “resistentes” decidiram meter mãos à obra e terem uma palavra a dizer quando alguém está a decidir o seu futuro. Nem toda a gente tem de ser cinzenta, a vestir fatos cinzentos, a viver em casas cinzentas, a correr para um trabalho cinzento, a viver uma vida cinzenta. Há pessoas, há jovens como estes que estão entre nós e ganham direito a destaque numa revista nacional que ainda têm uma palavra a dizer e não querem deixar o seu futuro ser decidido por quem não merece sem os ouvir.


Sorte da terra que pode ter gente assim desta categoria que apesar de ter que contar só consigo, faz-se ouvir muito alto e muito longe.


Palmas, muitas palmas a todos e força!

quarta-feira, 7 de março de 2012

Beeeeeennnnnffffiiiiiiccccccaaaaaaa!!!!!



Ontem foi dia de glória! Regressei finalmente ao Estádio da Luz (escrito com maiúsculas), à grande catedral da qual estive tão perto e tão próximo me senti quando estava em Lisboa, mas da qual estive tão distante que cheguei a pensar e a temer que nunca regressaria dela com vida.


A culinária é a de sempre: juntou-se um grupo de amigos com paixão benfiquista com vontade de viver com fervor a sua devoção ao clube e prontos! Uns meteram um dia de férias, outros meteram-se “a jeito” e disponibilizaram-se para a deslocação… “Juntámos a trouxa e zarpámos!”, como dizia o bom velho Zeca Afonso.


É uma aventura! Uma jornada destas não é apenas ir a um jogo de futebol. No fundo, isso é o que menos conta! Quando embarcamos numa destas, a celebração verdadeira não é do desporto rei, nem sequer é do Benfica. A celebração é nossa enquanto seres humanos que se adoram mutuamente e decidem viver em conjunto um dia único das suas vidas. É certo que não nos juntámos para ir ao zoológico (embora também não seja uma má ideia), nem para uma reunião da Tupperware! O futebol não deixa de ser um motivo mas não é de longe o principal. É apenas a razão que todos arranjamos para legitimar a coisa!


Desta vez o alvo eram os russos do Zénite que coitadinhos, vieram lá de tão longe para apanhar um calor destes , mas a malta não fez a coisa por menos. Divertimo-nos e vivemos a bom estilo, que é o que manda a lei! Muito nos rimos e muito brincámos desde que entrámos nos dois carros que levaram a comitiva, até quando chegámos já de madrugada. Ninguém deu certamente o tempo por perdido que é o que mais importa.


A coisa meteu almoço de peixinho grelhado da ordem, meteu a bela da bifana nas rulotes, meteu um lanchinho na berma da estrada já ao regresso, meteu (como diz o bom do meu cunhado-mano Bonito): “tudo aquilo a que temos direito!”.


Os lugares estavam muito bem posicionados numa zona central bem próximo do relvado e melhor que aquilo era impossível: parecia que estávamos dentro do campo a cheirar a verdinha! Víamos tudo, ouvíamos tudo, sentíamo-nos mesmo dentro das quatro linhas! O jogo, claro!, foi aquilo que já se esperava dele: uma grande prestação dos nossos bravos e uma vitória e o carimbo para a passagem os quartos de final da liga dos campeões que isto de estar entre as 8 melhores da Europa nos enche a todos de orgulho, não é só ao J. J. que se fartava de dar gritos de contente no final. “Virar” um resultado de “3-2” lá fora e espetar 2 secos (de Maxi Pereira e Nélson Oliveira) em casa não é para todos!


Muito boa a jornada cheia de tudo o que há de bom e mais uma página de recordações gravada a ouro no nosso livro de memórias. 5 estrelas!


A caminho da grelha...



Ei-los!













Porra! Já estou a bailar com a mais feia!







"Ó pra mim! Olaré!"







"Não ligo a pingentos! Diferenças..."



Isto sim! Zambogaaaaa!



"Pfff.... Que coisa... querem-se misturar com a gente grande!"



"Tarequices!"





"Psssst! Ó cachopa: não és de Unhais da Serra?"



"Eu já te vi na Covilhã!"



Ganham, ganham... mas é no ski!










Do resto da história já sabem!

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Para onde vai o cinema?



No rescaldo dessa noite de glamour e vedetismo que é sempre a noite dos Óscares, para todos os cinéfilos como eu importa saber antes de mais, não quais foram os vencedores da academia, mas sim qual é o verdadeiro sentido da sétima arte, qual é a direcção que vai seguir.


Não conheço nenhum dos filmes a concurso, nem qual foi a performance de nenhum dos actores nomeados. Assim tem sido ao longo dos anos e a novidade até aqui não é nenhuma. Costuma ser sempre habitualmente assim.


Vivendo longe das salas e dos locais onde habitualmente brilham as películas, limito-me a sonhar. Tem sido sempre assim desde criança e continua a ser. A última e muito porventura a única vez que entrei numa sala de cinema neste último ano foi aqui há dias quando cumprindo uma promessa de pai, levei a minha pequena Leonor a Castelo Branco para no fórum poder assistir ao último filme dos marretas dobrado em português. O sonho e a ilusão eram os dela mas aqui parra nós que ninguém nos ouve, eu não ia propriamente contrariado. Sempre adorei os marretas desde pequenino e acho absolutamente incrível que ao fim de tantos anos ainda tenham a audácia e a inteligência de fazerem isto: sentarem lado a lado um pai e uma filha que são fãs do que vão ver.


Os Marretas são ícones do mundo da animação e do espectáculo. Cada pessoa terá certamente os seus favoritos, aqueles de que gosta mesmo muito e eu não sou excepção à regra. Contei-lhe que naquele tempo não tínhamos televisão por cabo nem Meo, contei-lhe que os canais de televisão portugueses eram apenas dois e muito fraquinhos e que muitas vezes a nossa sorte era morarmos perto da fronteira e assim podermos absorver de Espanha coisas absolutamente fabulosas como a icónica “Bola de Cristal”, um célebre programa para as crianças onde brilhava a célebre Alaska y Dinarama e onde passavam programas e figuras que ficaram para sempre na nossa memoria como a família Monster, os teleduendes e um sem fim de personagens memoráveis. A minha paixão pelos marretas também vem daí, mas eu não era aquele tipo que caía de costas pelo sapo Cocas. Eu sempre preferi as personagens alternativas, aquelas que não eram as preferidas dos demais como por exemplo o “Conde de Contarrr” ou o baterista “Animal”. Os marretas eram um mundo e com uma família tão grande e disléxica, o mais fácil era encontrar e seguir aquele ou aquela que valia realmente a pena. Havia muito por onde escolher.


O filme é muito bem conseguido porque pisca o olho aos dois tipos de fãs: aqueles que como eu vão em busca de um tesouro de infância e aos outros como a minha filha que vão ver apenas os marretas, uns bonecos animados engraçados. E funciona!


Gajos do meu tipo (pais e fãs) vi eu no elenco onde brilhou o grande Dave Grohl que se celebrizou enquanto baterista dos Nirvana e é hoje o frontman dos muito célebres Foo Fighters ou o célebre Jack Black que para além de músico é também um cómico e um actor com um humor sarcástico brutal que brilhou por exemplo na “School of Rock”.


A pergunta que formulo no título do post e do texto faz sentido porque sei que o filme já estava em exibição há alguns dias e a sessão era de tarde, num dia de semana, que não ajuda nada mas ainda assim, éramos as duas únicas almas na sala que mais parecia privada e assim teria ficado até ao final não tivéssemos tido a companhia de um pai e uma filha que eram parecidos com a nossa dupla mas ali era tudo muito mais evidente porque acho que aquele paizinho deixava transparecer que ali o fã era só um (ele!) quando se começou a rir à gargalhada com a pequena já a dormir mais de metade da película no seu colo.


Das duas uma: ou a indústria cinematográfica se consegue adaptar aos tempos que vivemos e consegue uma forma de distribuição caseira onde pode faltar tudo resto mas se tem o conforto do lar, ou então tem os dias contados. É inconcebível ser de outra forma. Para vermos este filme tivemos de fazer uma deslocação enorme ainda por cima paga na A23, tivemos de almoçar fora, tivemos de comprar os bilhetes mais umas pipocas e um copo de souvenir que ainda hoje é o seu de eleição por onde bebe tudo (incluindo água), tivemos de estar dispostos a perder um dia, tivemos…


O cinema começou e tornou-se tão popular porque era fácil, porque era acessível, porque fazia sentido. Hoje em dia, com as enormes tecnologias domésticas que existem, não era necessário tudo isto, tudo podia ser pensado à escala do mundo que temos. Para quê passar os filmes apenas desta forma e não democratizar e tornar mais rápido o circuito de distribuição? Porque não criar um videoclube na televisão por cabo onde não de demore tanto tempo a ver os filmes que realmente se querem e se pague pelo serviço para que se cortem as piratarias? Porque não reaproximar o cinema das pessoas?


Se assim não for, se não se andar o caminho que há que andar, se não se encurtarem os prazos de estreia e se não se trabalhar para chegar a todos mesmo que se perca qualidade de exibição, o cinema deixa de fazer sentido pelo menos nas zonas longe das grandes cidades e o mais certo é morrer de vez.


Oxalá que não mas há tanto para fazer…



domingo, 19 de fevereiro de 2012

Brincando ao Carnaval



Escrevo num domingo gordo quente, solarengo, a convidar a brincar ao Carnaval. As filhas saíram as duas vestidas, acompanhadas pela família e eu fiquei em casa, só, porque assim me apetecia, porque era aqui que me sentia bem. Tivessem-me dito no ano passado que assim haveria de ser e eu não acreditaria, de todo. Mas a vida escreve-se por vezes de uma forma e em linhas que nós nunca pensámos possíveis. Dá voltas incríveis e a força do acaso é imensurável.


Eu aprendi a dar imensa força ao Carnaval porque a tem, de facto. É a única altura do ano em que tudo é possível, em que tudo é permitido, em que tudo pode ser posto à prova. No meu grupo de carnaval consegui reunir um grupo de extraordinários amigos que com base na boa disposição e na amizade conseguiram realizar feitos que ficaram não só na nossa memória mas também na dos nossos filhotes e na de muitos que assistiram. As cenas eram todas muitíssimo bem representadas, ficando ao critério de cada um a exploração da sua imagem e o seu contributo para o grupo que ficava a ganhar com esta multiplicidade. Num ano recriámos os circos ambulantes que percorriam antigamente as terreolas e assim fundámos o “Circo Cardinas” que ficou para a história e do qual chegámos a criar um dvd que ainda hoje é revisto pelos mais pequenos que adoram recordar a nossa actuação onde não faltam os equilibristas e os palhacitos e os mágicos. Tudo feito como deve de ser, com muita piada mas também com muito bom gosto e amor à causa.


Num dos anos criámos uma comunidade cigana onde não faltava nada. Arranjámos uma carroça que era puxada por um burro que disso não tinha nada e teimava sempre por ir para locais contrários aqueles que lhe indicávamos. Tínhamos um Joaquin Cortés que era perito a bailar o flamenco, um Quaresma craque no futebol, uns Gipsy kings para o bamboleo, um pai ciganão que não se coibia que fazer negócio nos estupefacientes, enfim… tínhamos uma trupe daquela à antiga que não deixava ninguém indiferente por onde passava. Chegámos até a ter um encontro imediato com o grande Joselito Maia em pessoa, nome grande da etnia que ficou tão tocado pela nossa prestação que nos convidou de imediato a beber uma bebida paga por si. O que ele não sabia era que um dos nossos, mais afoito, se prontificou a roubar-lhe o carro que tinha deixado à porta do café, tendo inclusivamente levado a sua acompanhante que estava sentada no banco da frente! Tudo terminou com uma enorme panela de feijoada cozinhada pela mãe ciganorra (a minha Cris)e distribuída por todos os presentes de forma gratuita que se puderam deliciar com o repasto. Histórias, tantas histórias que ficam para todo o sempre, histórias que jamais esqueceremos, histórias que ficam para a “nossa” história do Carnaval.


Os carnavais também encerravam sempre com um “enterro da sardinha” feito por nós. O padre, o já célebre Jacinto Leite Capelo Rego, personificado por este vosso escriba, fazia sempre uma homília que era seguida por muitos fiéis que se deslocavam a Santo António propositadamente para o ouvir. Nas suas rimas descrevia como tinha sido o carnaval que tinha acabado de sucumbir e fazendo uma análise ao que se tinha passado, traçava as novas pontes para o futuro sempre com grande fervor religioso e devoção.


Um carnaval que podia não ser o melhor do mundo mas era o nosso, o feito por nós e por isso, o que tinha um sabor especial. Se quiserem saber mais e ver algumas fotos das edições passadas, cliquem do lado direito no blogue na etiqueta “Carnaval” (ao lado, em cima) e fiquem com alguma ideia ou recordem.


Agora, se me dão licença, tenho de me ir vestir que tenho um jantar de carnaval do meu grupo e tenho ali um fatinho de bobo por estrear de outros anos que me deve de ficar mesmo bem.


Até já, sim?

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Brincando a Ícaro



Anteontem, eu e a minha Cris deixámo-nos rir quando recordámos o episódio que nos tinha sucedido durante a noite anterior. Eu tinha acordado com vontade de ir verter águas, fazer xixi, vá. Quando regressava da casa-de-banho, reparei que a portada da janela do quarto para a varanda estava aberta e deixava entrar a luz do candeeiro da rua. Decidido a terminar com este incómodo, antes de entrar na cama, abri a portada da janela, pronto para a encerrar. Quando ela me viu a meio da noite abrir a janela do quarto, assustou-se e começou-me a chamar, sem saber muito bem o que iria sair dali. Eu, tranquilo, na minha, nada respondi sabendo que a situação estava controlada. Mas ela, mais uma vez, tinha razão. O mais certo era poder ter pensado que eu estava para ali a imaginar alguma, nunca sabendo o que poderia resultar. Imaginem que eu estava a sonhar que era o Ícaro ou um bicho voador qualquer e saia dali esvoaçando, batendo a asa pela noite fora… Mas não! Até era bem mais simples e passado aquele incómodo, pode-se descansar bem melhor, repousando no aconchego do escuro e no quentinho dos lençóis. Mas eu compreendo-a. Oh… se a compreendo. Imaginem vocês que eu há dias, numa saída de passagem pelo quarto-de-banho, passou-se-me qualquer coisa pela cabeça que eu não sei imaginar qual foi e regressei não ao meu lugar no quarto mas fui-me deitar na caminha junto à minha filha Leonor. Só acordámos pouco depois os dois quando demos pela Cris a chamar por mim. Realmente foi uma coisa estranha que eu ainda hoje não consigo explicar porquê. Nestes últimos meses foram muitos hospitais, muitos quartos, muita confusão e eu certamente me baralhei e fiquei com as voltas trocadas que me levaram a buscar hospedagem junto da herdeira quando a cama do rei ficava livre.


À luz deste facto, o mais certo era a minha “piquena” Cris ter imaginado, quando me viu avançar para a varanda, que eu iria ou saltar a pensar que estava num bombardeiro, ou sair planando pela noite fora, daí a razão do seu “apoquento”. Assim se explica a nossa risada e a nossa graça quando recordámos a cena.


Realmente, quando um tipo está assim na “mó de baixo” e tem de justificar quase tudo, até é bem provável que as pessoas que nos sejam próximas e estão junto de nós, façam perguntas e a nós nada nos resta senão responder a tudo depressa, com boas maneiras e tranquilidade para que o cenário de acalmia se instale.


A cena não se voltará a repetir. Se fosse hoje, antes teria o cuidado de dizer quais eram os meus objectivos e manteria todos os meus ao corrente do propósito porque as minhas intenções eram de facto as melhores como de resto se provou. Se as intenções eram boas e valeram o frio e o risco, o que faltou foi a forma certa de dizer as coisas e o timing!


Também, tudo se explica e é preciso ter calma como homem porque se se estão a habituar à sua nova situação, este episódio também foi todo novo para ele. Calma sempre foi uma palavra-chave, mas vai-o sendo cada vez mais.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

...



Não raras vezes sou abordado pelos meus leitores com base naquilo que escrevo, que me comentam verbalmente ou via net. Dizem-me que gostaram do que leram, que não gostaram tanto, perguntam se estou preocupado, se estou deprimido, se estou assim, se estou assado, querem indagar e saber mais… E eu tenho de ser como sempre fui com eles… sincero!


Depois do que me aconteceu, desta revolução completa na minha vida, houve momentos em que pensei se valeria a pena continuar com o blogue, se seria capaz de lhe dar continuidade. O mais fácil teria sido dizer que era o fim, que não me lembrava da password, que tinha acabado. Mas isso era ser contra mim e contra tudo o que tenho trabalhado nele. Este blogue são os meus olhos virtuais, sou eu na net a ver o mundo de Marvão e a escrever sobre tudo o que se passa nele. Este blogue também sou eu! E já que tenho tido tantos leitores que me falam nele nos sítios mais inusitados e onde eu menos espero, ainda tenho ganho mais força para não me calar e dizer livremente o que penso. Noutras alturas não sei se foi assim… acho que escrevia por escrever e dizer tudo aquilo que me ia na alma. Era uma espécie de desabafo, um diário digital onde ia colando as minhas memórias. Hoje, quando escrevo e publico lembro-me de tudo mas sobretudo de quem me segue, dos meus leitores e... como já vai sendo normal agora na minha vida, houve alturas em que era eu a lebre, era eu quem puxava. Agora é tempo de ser ao contrário.


É importante que fique bem clara a forma e o estado em que as coisas estão: este foi (e continua a ser…) um processo muito pesado e muito lento que me surpreendeu por completo. Não é que eu esteja só em baixo! Foi mesmo barra pesada! E quando um “mano” entra assim numa destas, na “mó de baixo”, regressar ao de cima, ao ponto em que estava, é tudo menos fácil! Tudo, até as coisas que pareciam mais simples e fáceis, custam a fazer. Por exemplo, agora sinto sempre quando estou de pé porque tenho sempre esta estranha sensação de estar em cima de duas pernas. Coisa ridícula e absurda de ouvir, certo? Mas é a verdade! Por isso é que eu me espanto quando me falam em trabalho, se eu tenho saudades de voltar ao trabalho. Trabalho? Eu passo os dias a trabalhar na minha recuperação, a fazer tudo o que possa para me sentir mais recuperado. E eu só me pergunto como é que uma pessoa que esteja neste estado, assim em baixo pode pensar noutra coisa que não recuperar-se e ficar melhor? Exemplo: para mim é extremamente difícil conseguir caminhar a direito, manter-me sobre as minhas pernas e seguir alinhado quando caminho porque o corpo só quer é estar na horizontal. Quando se passa o tempo nisto como é que se pode pensar em querer ser produtivo, em regressar e manter um emprego? Impossível!


Não sou eu que me estou a tentar fazer triste e difícil. Se estou assim é porque me sinto assim, é porque tenho consciência que vai ser muito difícil conseguir recuperar e tenho a clara sensação disso!


Eu já passei muitas horas a trabalhar neste blogue! Eu já aqui escrevi milhares de palavras e ideias! Eu tenho aqui uma enorme entrega de anos! Aqui nestas páginas pode-se ter muito e saber muito sobre a minha vida e o que fui. E eu espero, muito sinceramente que melhores e mais animados dias venham porque só quando o “astral” certo regressar, eu posso voltar a escrever como eu quero e gosto. Até lá, eu peço calma e paciência.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O meu pequeno mundo



Na passada quinta-feira assisti à estreia no jornal da noite da SIC da grande reportagem “O meu pequeno mundo”. Situada algures entre a reportagem e o documentário, este novo programa da estação de Carnaxide prometia dar “espaço a esses pequenos mundos e às suas intimidades”, desvendando “segredos de realidades que julgamos conhecer e também histórias de realidades que nem imaginamos”. Segundo o comunicado da estação, este novo formato é “um olhar diferente sobre os nossos mundos. Um programa onde os lugares têm voz. Porque cada mundo é uma história“. Esta foi da autoria de Ana Sofia Fonseca, chamou-se “Hospital”, debruçou-se sobre o Centro de Reabilitação de Alcoitão e trouxe histórias de pessoas que chegaram àquela unidade para “reaprender a viver”.


O meu primeiro ímpeto foi assistir, assim que ouvi o anúncio no ar pela primeira vez. Tendo estado e tendo sido mais um residente hospitalizado em Alcoitão, não queria perder por nada esta visão sobre aquele mundo que foi também o meu, agora visto por outros olhos quando eu inclusivamente assisti sem querer à filmagem fortuita de algumas cenas sem ainda saber muito bem para o que eram. Aquela impulsão que me “empurrava” para ver refreou-se por vezes, intimidou-me, questionou-me se eu estaria mesmo preparado para assistir a tudo aquilo. Mas ainda assim, não perdi a oportunidade de estar “na linha da frente” e ver tudo.


Do ponto de vista jornalístico, a peça recebe aquele louvor a que a SIC já nos habituou, como melhor canal do género em Portugal. Não há outra televisão assim, capaz de produzir e colocar peças deste calibre no nosso país.


Quanto ao resto, a peça em si… foi aquilo que eu já esperava. Eu vivi ali, eu estive lá no meio deles, eu conhecia e conheço por dentro aquele lugar como ninguém porque o conheço à minha maneira. Aquilo que lá vivi, lá ficou mas eu não esqueço! Conheci os doentes da reportagem com os quais me cruzei muitas vezes em corredores, no refeitório, na sala de convívio e em elevadores sempre em cadeira de rodas porque as normas de segurança não nos permitiam (de todo!) circular de outra forma que não fosse essa. Reconheci os enfermeiros, os auxiliares, os médicos… reconheci-os todos!


Rever tudo aquilo fez-me regressar e apesar de já estar a salvo, em casa, junto às minha três princesas, a sensação com que fiquei não foi de alívio, não foi de ter ultrapassado tudo aquilo. Estranhamente fez-me só regressar… aos corredores, aos quartos, àquele mundo. Revivia a história do protagonista que era muito popular por lá apesar de não conseguir dizer um só palavra. Revivi tudo.


Agora pensei que para defesa minha, habituei-me a pensar que era diferente deles. O pessoal de apoio também sem querer, ajudou nisso pela forma como me tratavam. Quando entravam no quarto, por exemplo, perguntavam quem era ali “o independente”? Ora com tanta gente acamada que era incapaz de se levantar por si, sem apoio, eu até tinha todo o gosto em ser positivamente discriminado e colocava-me em pé na cama de um salto. Como tinha toda a mobilidade e era capaz de fazer tudo a nível de arrumações no armário, sacos de viagem, como não precisava de chatear ninguém… fui-me convencendo que estava melhor do que realmente estava, fui-me convencendo que estava melhor do que quase todos eles, fui-me convencendo que seria tudo mais fácil, mais acessível… o que não estou, de todo, a ver no meu regresso à realidade. É tudo muito difícil. Muito, muito difícil. Este tempo em que eu tenho estado doente, em que eu estou a recuperar da coma, é terrivelmente difícil.. Tenho que fazer todos os dias um esforço enorme para não me “ir abaixo” porque o mais fácil é desistir, é entregar-me, “deitar-me às feras” e “entregar o jogo”. Quando eu tenho de pacientemente assumir o meu estado de convalescente, sempre que eu me tenho assumir que estou em recuperação, que estou a tentar melhorar, fazendo os exercícios que me mandam fazer ou as coisas que me solicitam… tenho de me saber posicionar, tenho saber ser “pequenino”, tenho de me saber colocar “no meu lugar”. Não é fácil, não é fácil, não é mesmo nada fácil e isto digo-vos eu, podem acreditar. Se eu era uma pessoa que sempre tive olhos para os outros, se sempre quis e amei os mais necessitados, os que passavam mal, se sempre fui consciencioso, se sempre fui humilde, se sempre fui amigo do meu amigo, porquê esta lição tão grande e tão dura? Não me canso de perguntar! Porquê?


A minha recuperação é a prova mais difícil que tenho de fazer na minha vida. De longe! Quer a nível psicológico, quer a nível físico. Nunca houve nada que eu tivesse feito tão difícil em 38 anos! Nem o curso superior de comunicação social, nem o curso de fiscalidade para entrar nas finanças, nem as meias-maratonas, nada! Isto é, de longe, a coisa mais difícil e que me está a custar mais fazer por uma razão muito simples: em todas as outras coisas eu nunca duvidei que chegaria ao fim e nunca questionei que chegaria ao sucesso. Eu sabia que custasse o que custasse, acabaria por triunfar. Eu tinha a certeza do meu trabalho, do que era capaz, do que me esforçava e dos resultados que acabariam por vir. Agora… nem noto os avanços do meu trabalhos, nem sei realmente o que tenho e o que quero fazer, nem tenho a certeza de nada. Limito-me a seguir as instruções de quem me é próximo ou de quem me ajuda. É muito bom ter apoio e auxílio sem o qual não seria nada mas limito-me a caminhar em frente sem perguntar para onde ou como. Pela primeira vez na vida em muito tempo eu limito-me a seguir em frente o que não deixa de ser seguro mas redutor. Olhando, sonhando mas apenas caminhando, esperando que melhores (e mais esclarecidos…) dias venham.


Como ele diz logo no início da reportagem e muito bem: "É como se tivesse nascido de novo".


A reportagem na íntegra está clicando aqui: http://videos.sapo.pt/4RcB6zRQYq96a6CQc3VL , com o título "O Hospital". Vá lá... Façam isso. É meia horinha que não se esquece. Vale mesmo a pena!