terça-feira, 2 de agosto de 2022

Sabes quem morreu?!?!? O Jakim!



Ouvi comentar entre os presentes que alguém tinha morrido, mas como estava ao serviço, precisamente a recolher as informações do óbito de uma pessoa de idade, concentrado nos dados a recolher, e nas informações em causa, não prestei atenção. Notei alguma incredulidade, algum espanto nos intervenientes. Falavam que estava… assim, que o tinham encontrado…, que agora vão ter que…, mas não me fixei.

 

Quando saí, à tarde, alguém, no café Pinadas, comentou que “sabes quem morreu? O Jakim!”

 

O JAKIM?!?! OOOooooohhhh… Como tal?!?!?

 

O Jakim, como eu, e a gente que o conhecia sabia, era tão novo e parecia estar tão bem….

Realmente, para se morrer, como eles costumam dizer, basta estar vivo. É um ar que se dá, e prontos! Está tudo arrumado!

 

Fiquei mal com aquilo, ópá!

 

Acordei de noite, a pensar que tinha que escrever alguma coisa sobre ele, e sobre isto. 

Não sei se quem me lê era cliente habitual deste meu lugar, mas a verdade é que com a falta de tempo cada vez maior, a oferta multimédia cada vez maior, o crescimento do aumento de formas de darmos azo ao nosso sentir, e até… por alguma preguiça e comodismo, passo por aqui menos vezes, quase só quando acontecem coisas que me puxam mesmo a atenção e o sentir, assuntos que merecem outra solenidade.

 

O Jakim, era o Joaquim… cujo apelido acho que ninguém sabe, a não ser as pessoas que se relacionavam com ele por motivos de trabalho, ou outra necessidade do seu dia a dia.

O Joaquim tinha o mal de ser alguém que sempre foi o irmão do Mané Bodes, esse sim, uma figura mesmo, mesmo, muito popular em Santo António das Areias, na Ranginha, nos Cabeçudos, nos Barretos, na Beirã, em Marvão, em toda esta parte norte do concelho, onde passou a vida a deambular sempre na esperança da boa caridade das pessoas que sempre muito o estimaram, pelo seu atraso mais que evidente, pela sua boa vontade, pela sua forma cómica de se expressar, pelo seu jeito natural tão engraçado. Quem é que não conhece um, ou outo episódio mesmo engraçado com ele?

 

O Joaquim… era sempre o “irmão do…”. Uns anos mais novo que o famoso irmão, estava sempre bem disposto, coitado, sempre a rir, sempre bem. O Joaquim tinha uma forma diferente da do mano, mas também ela muito cómica de falar porque… mal se percebia! Ria-se e expressava-se ao falar connosco, mas acabávamos todos a rir-nos sempre, sem percebermos muito bem o que era.

O Jakim andou muito tempo assim também sem pouso que se soubesse certo. Nem sempre muito tratado, nem sempre muito asseado, andava por aí, onde calhasse. Nos últimos anos, a sua vida deu uma grande volta porque passou a trabalhar para a Freguesia de Santo António das Areias, e começou a comer através da Casa do Povo da terra. Começou a andar com o seu dinheirinho no bolso, andava a trabalhar enquanto passeava a conduzir o dumper (viatura motorizada de 4 rodas, com uma pá de apoio para carregar materiais diversos), com o ar mais satisfeito e realizado do mundo. Dava gosto, caraças!!!! Passou a ir buscar as suas refeições sempre antes das horas destas à Casa do Povo, e era um regalo vê-lo ir com a sua cestinha para a trazer cheia.

- Então, Jakim!!! Já lá vais com ele, não?!? Dá para mais um?

E ele balbuciava, a rir, qualquer coisa absolutamente impercetível.

Eu ria-me, e ele também, e lá seguia em direção a casa, um quartinho que tinha conseguido junto à igreja, nesta sua nova vida.

 

O Jakim gostava muito dum tintinho. Às vezes, quando a carregava a mula, seguia assim muito pé ante pé, para não dar bandeira. Era muito engraçado, quando ia assim. De vez em quando, bebia sumo.

- SUMO, JAKIM?!?!? Andás-te-te a portar mal, outra vez, não?!?!?!

Ele justificava-se com uma explicação… claro que impercetível!, a rir.

 

“Foi o Senhor Doutor?!?”  

E ele ria-se, enquanto contava as moedinhas… para pagar.

 

Tenho tanta pena dele, o pobre. Coitado.

 

Sei que infelizmente há muitos assim, mas eu, este, conhecia-o. O Jakim, nem livro, nem filho, nem árvore. Bem, árvore talvez tenha plantado alguma, e certamente fê-lo na junta, mas foi um saco vazio que bailou ao sabor do vento, talvez há 50 e muitos anos, que eu não sei quantos tinha, mas por certo seria muito mais velho que eu.

 

Já me informei, e sei que tem mais familiares, bem inseridos na nossa vida. A mãe, que deve estar muito velhinha, também era de relacionamento difícil; mas já soube que tem uma irmã na Ranginha, que não estou a associar; uma irmã que já não vejo há muito; um irmão, a viver lá longe; e o Manuel, que passa os dias na APPACDM, junto à minha casa.

 

Não acompanharei o seu corpo ao cemitério, porque ele já não está lá, porque tudo o que se faz, deve ser feito em vida, e não depois de se partir; porque essa é uma cerimónia muito íntima, que não deveria ter assistência para lá dos portões daquele local; mas farei questão de passar pela câmara ardente, rezar, e pedir por ele.

Não sei como é que será aquilo a seguir, nem quero saber para já (a haver, haverá toda a eternidade para se descobrir), mas se houvesse alguma coisa, como tenho fé que haja, gostaria que o nosso amigo Francês, que também gostava tanto dele, e se riu tanto com ele, e comigo, o orientasse.

 

Tenho muita curiosidade para saber o resultado da autópsia. Que será que terá acontecido?

 

Como passa tudo tão depressa, Deus…

 

Que descanse em paz…

FIMMarvão 2022... Sonhando clássico sob as ruínas seculares da civilização romana

 


Na vida, não há senão benesses, bênçãos, sopros de divindade, aos quais, os menos esclarecidos, chamam de... "sorte".

 

Cá para mim, acontece sempre o que tem de ser! Ou seja, acontece o que alguns tontos, como eu, que  pensam que acham que sabem, dizem que é por intervenção divina, por algo muito maior que a sorte.

 

Nascemos, com todo o nosso potencial, porque o nosso espermatozóide (nome estranhíssimo para semente de vida), venceu a corrida contra muitos milhões de adversários, e furou o óvulo materno... para dar origem ao que haveremos de ser nós. (Benesse 1, primeira de todas.)

 

Não tive a sorte (cá está ela, de novo), de nascer junto ao mar (o que eu queria, e sonhava tanto), mas tenho próxima essa benção dos céus, sonhada pelo Sr. António Andrade e sua equipa (como o nosso Antonio Garraio recordou), mas creio que inaugurada pelo Dr. Manuel Bugalho, chamada o Centro de Lazer da Portagem, junto à praia fluvial que é o mar, sem areia, mas com a mesma frescura, e agradabilidade. (Benesse 2, que me lembrei agora, acerca da manhã de hoje.)

 

Outra benção chegou ontem, através de uma amiga muito próxima, que me permitiu assistir ao concerto noturno ocorrido mas ruínas da Cidade Romana de Ammaia, onde a "Orquestra XXI", patrocinada pelo "BPI" e pela "Fundação La Caixa", orientada pelo jovem maestro Dinis Sousa, que interpretou 3 peças belíssimas:

 

- A abertura de "Inês de Castro", a ópera perdida (e que agora, após recuperada, nunca mais será esquecida, segundo as palavras proferidas ontem, pelo maestro), do pianista, compositor, maestro e musicógrafo português, Vianna da Motta, nascido nos finais do Séc. XIX;

 

- Um "Concerto para violino e orquestra em Ré Maior" de Tchaikovsky, interpretado por uma violinista asiática absolutamente deslumbrante, que o executou na P E R F E I Ç Ã O (sem recurso a partituras!!!! De memória!!!), que prendeu, e calou qualquer esboço de reação da assistência (para além de uma torrente de aplausos) pejada de figuras de Estado, e de connaisseurs;

 

- Um "Concerto para orquestra" de Béla Bartók, compositor húngaro dos finais do Séc. XIX, princípio do XX, ideal, como disse o maestro, para ser tocado naquela ambiência, com o coro de grilos e outros animais noturnos de fundo, e um sem fim de insetos esvoaçantes em volta, correndo para a luz que rompia a escuridão.

 

Para quem, como eu, olha para uma partitura como um boi para um palácio, um concerto de música clássica providenciando por jovens artistas desta categoria, exímios executantes daquela linguagem, é muito agradável porque: é incrivelmente belo, é agradabilíssimo e prazeroso, é muito interessante por se poder assistir à forma como executam as notas musicais, e depende muito da performance do maestro, que os conduz.

 

Quando lá cheguei, com tempo para conseguir lugar para estacionar, cadeira para nos sentarmos, tempo para desfrutarmos da envolvência, vi um maestro muito jovem, de Hawaianas, como eu, quando vou à piscina, e... lá que estranhei 😧 estranhei. Contudo, depois de todos terem trajado à altura, e do mestre ter envergado o hábito negro, tudo foi tão diferente, seleto, e tão melhor...

 

Aprende-se nos livros que um maestro é um treinador de futebol, um realizador de cinema, um encenador de teatro, o que faz acontecer.

 

Ali, frente a uma orquestra, marca compasso, agita e apazigua as diferentes secções (cordas, metais, percussões...), orienta e anima o seu "exército", e para nós, assistência, traduz o sentimento e a alegria, a zanga, a confusão, a alma do som.

 

Não lhe tirei os olhos de cima.





Foi mágico!

 

Sempre agradecido,  a quem sabe quem é!

 

Longa vida ao FIIM, a todos os músicos, colaboradores, pessoal técnico, assistentes e envolvidos, e claro, ao Mágico Maestro Christoph Poppen , esse anjo na terra que um dia sonhou que Marvão merecia sonhar tão alto! Sempre agradecido!