quarta-feira, 25 de março de 2020

A angústia da suspeição (que nos sufoca... a todos)

(nota do Tio Sabi, o vosso escriba: esta publicação foi muito elaborada, trabalhosa, e contém profusa informação que convém ser aproveitada, porque o assunto é sério, e só não tem consciência que os nossos tempos estão a mudar, quem também olhou para o 11 de Setembro e achou que aquilo dos aviões irem contra os prédios, os tontos, foi apenas um azar. Aconselho vivamente a visualização da entrevista ao Dr. Fernando Maltez, que estando à frente do Hospital Curry Cabral, está a comandar as operações no olho do furação. Tudo, como sempre, gratuito e a pensar em vocês, meus fiéis leitores. Forte abraço e que a sorte vos proteja. A todos nós) 

Centros lúdicos de grande espetacularidade transformados, de um dia para o outro... em hospitais e... morgues gigantes

Essa dor dilacerante de um nem sequer poder abraçar os seus entes queridos, na partida de outro que já foi 


Tenho de começar por dizer que estamos todos, repito, todos a viver um pesadelo tremendo, que revira por completo tudo aquilo que tomávamos por certo, garantido, intocável, e… encharcado de suor nos lençóis, exaspero porque nunca mais toca a porra da campainha para que possa ir mijar!

Nunca tinha visto isto e pensava que nunca haveria de o viver. Parece que o mundo está em suspenso e foi tirado do seu eixo habitual! Só dá isto nas notícias, não se vê ninguém nas ruas, tudo parou.
Bem sei, e insistem que não é um vírus criado por mão terrorista, num bunker qualquer escondido nessas zonas do globo, que vivem numa paranóia de exterminar o nosso modo de vida, ocidental, civilizado, mas de verdade que é só o que parece. Só falta o vírus transmitir-se mesmo pelo dinheiro para… isto ser tudo de certeza, uma obra maquiavélica para exterminar a nossa forma de viver.


Nem os fins de semana antes deste verdadeiro tsunami de medo, que eram habitualmente dias tranquilos, desafogados, para se estar com a família e os amigos, a fazer aquilo que mais gostamos (desporto, imperiais e futebol, escrever e ver filmes, séries e documentários); deixamos de ter esta nuvem de suspeição invisível que paira sobre nós, que nos ameaça, nos sufoca, pesa sobre a passagem dos minutos. Já devo ter “ouvido” esta imagem algures, mas a verdade é que sinto como se estivéssemos, num mergulho forçado num túnel que ninguém sabe quando terá fim à vista, ou sequer se o terá, um dia.

Falo com amigos comerciantes cá da terra, e em jeito de abertura de conversa, deixo-os sempre falar. “E esta merda?”, pergunto eu, seja à porta da sua loja, ou perto da carrinha onde habitualmente mantêm os seus negócios.
Eles… carregam a cara, fazem uma careta, metem a língua de fora, deixam cair a cabeça e dizem que não, enquanto deixam fugir um “isto está a ser terrível!” entre os dentes. Lamentam que as pessoas deixaram de lhe comprar o seu produto porque fecharam, outro teve de mandar fechar todas as suas lojas porque… as pessoas, pura a simplesmente deixaram de ir lá, e as funcionárias estavam amedrontadas, em stress, sem nada para fazer… 

O mal é geral. Assisto a uma reportagem sobre as estufas do Algarve e… não há palavras porque… está lá tudo dito.

https://sicnoticias.pt/especiais/coronavirus/2020-03-22-Dispensados-100-trabalhadores-de-viveiros-de-plantas-no-Algarve

Nasci em democracia, num mundo de comodidades, e tenho levado a minha vida toda a pensar que poderei chegar a velho. Sempre imaginei isso mesmo, o Sabi idoso, sem cabelos brancos porque já não os tem, mas capaz de se reformar e andar a passear os netos pela mão. Agora, da maneira que as coisas estão, o mais certo é termos de andar de bengala a trabalhar até que caíamos redondos sobre o balcão, e esta do novo corona vírus, vem baralhar tudo. Pergunto mais: e será que poderá ter mutações? Novas vidas? Atrás desta versão, poderão vir mais?!?!?

Se um indivíduo pratica uma alimentação cuidada e sem excessos, se não os tem habitualmente, seja de que ordem for, se pratica exercício e leva uma vida realizada, feliz com a família, pode não ter assim uma segurança tão grande em que tudo correrá bem.
Do nada, aparece-me esta barraca e… já foste!


Agora, até mesmo os que não tinham o hábito de acompanhar diariamente a comunicação social, não perdem as últimas desta vaga avassaladora, colados ao ecrã, e tremem por constatar que o que devastou a Itália, lá semeou o medo, o pânico e a morte; continua a vir pela Europa abaixo, como se de uma mancha de petróleo se tratasse. Neste momento, esta pandemia arrasa Espanha, e hoje, dia 25 de Março de 2020, registou ali 3.434 mortes, tendo-se transformado no segundo país com mais mortes, apenas superado pelo drama vivido em Itália, onde se contabilizam mais de 6.800. Por cá, no cantinho à beira-mar plantado, dizem-nos que o pico poderá chegar em Abril. Será?!? E até lá?!?!?


Eu próprio, que não me considero dos mais desinformados, parece-me muitas vezes que já não sei bem para onde eu, e os meus, nos havemos de virar. Felizmente, o Alentejo tem continuado a resistir heroicamente a esta intempérie de desgraça, quase como os gauleses resistiram aos romanos, mas…


Por aqui… resguardados, mas sempre preocupado com os meus mais queridos que vivem em cidades, e estão mais em contato com pessoas, ajuntamentos, e infeções.

Tento reunir a maior informação possível, muita da qual, difundo aqui (se puderem, não deixem de ver esta belíssima e muito clarificadora entrevista, a um dos homens da frente de combate, o Dr. Fernando Maltez, responsável pelas doenças infeciosas do hospital Curry Cabral. É uma hora que vale muito a pena!), e o folheto da Direção Geral da Saúde.





Vivi muito tempo a pensar que para que houvesse contágio, teria de existir contato direto com gotículas expelidas por uma pessoa infetada através de um espirro, ou “gafanhotos”, que entrasse no corpo do novo rector pelos olhos, nariz, ou boca. Pensei por isso que para ficar livre da doença, bastaria a distância mínima de segurança de uma pessoas infetada (metro e meio/dois metros), evitar espaços com muita gente, que favorecessem a proliferação do vírus (idas às praias aos primeiros calores, e grandes saídas noturnas foi mesmo uma ultra-mega-burrice à tuga); evitar partilhar objetos com sinistrados (teclados/telemóveis/beijos e apertos de mão… todo o contato físico, afinal), mas agora… um vírus que aguenta 8 dias num ambiente hostil?!?!? O grandessíssimo filha da puta!!!

Com a atual razia em Itália (que guerra desgraçada!!!), em Espanha, na Alemanha, no Reino Unido, nos Estados Unidos do louco com o cabelo amarelo, nas praias do maluco do capitão brazuca, enfim, à escala planetária!, e a força que vem a descer por aí abaixo, que faz com que as previsibilidades apontem para o auge do flagelo no nosso país em Abril. JÁ NÃO SEI ONDE É QUE ME HEI-DE ENFIAR!!!!!!!!!!!AAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHH

Sic - Reportagem - Mortos na Europa por Covid 19

É que o planeta está todo apanhado, e já não há sítios limpos para onde bater asa!
(Desculpem, é só um desabafo aqui, que eu tenho filhas pequenas que tenho de acautelar…)

SIC_Reportagem_Mortos no mundo por covid 19

Parece que já é muito comum que haja quem não entre em casa com os sapatos que usa na rua, porque pode ser um veículo transmissor. Quem está por dentro da matéria, já me fala em meter a lavar a roupa que se usa lá fora (quando se vai passear o cão, ou trabalhar, como eu faço, ainda que seja de porta fechada, em backoffice) assim que se entra em casa; que, em vez de se tomar banhinho de manhã, se faça assim que se regressa, e POOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORRRRRRRRRRRRRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!

Quando era mais puto, era muito mais hipocondríaco e abrasado! Estou com medo que esta fobia me dê um amok  e passe a andar feito queimado, maluquinho das limpezas. Começam-me a falar nisto, e todo eu sou comichões e formigas imaginárias a andarem em correria nas costas! No outro dia até me fui despir à casa de banho lá do serviço só para ver ser eram de verdade! Opá, não se brincam com coisas sérias que o homem... sofre!!!

Se me ponho a lavar as mãos à vontadinha… quando for renovar o cartão do cidadão aos colegas da Conservatória… tenho de pedir o dedo emprestado a um, para fazer a impressão digital.

Dos líderes do grande mundo, para além do meu amigo Marcelo que ainda é pior que eu, que certamente já fez uma ronda de inauguração pelos hospitais de campanha, que foram propositadamente criados, só para fazer um teste em cada um; destaco o pequanelho Macron que grita “nous sommes en guerre”; o convencido do Trump, que respondendo aos jornalistas classificou a sua posição perante o infortúnio com um 10; e sobretudo a Angela Merkel, a Dona da Europa que com um nível impressionante, catalogou a presente guerra como a maior desde a segunda mundial, a tal em que o mundo todo se uniu aos americanos e aos russos, para bater nos seus ascendentes.
Oxalá esta também a ganhemos!

- Aí ó presidentxi! Aqui u capitãu não tem mêdu dessi vírus não, hein?!? Eu tenhu um físicu trabalhadu, e si me péga, tudo não passará di um resfriadu!

- I'm sure of that. I rate myself a 10/10 dealing with this China Stuff

Tenho de aqui, publicamente, manifestar TODA A MINHA ADMIRAÇÃO E PROFUNDO AGRADECIMENTO A TODOS OS SOLDADOS DA FRENTE MÉDICA QUE LUTAM A NOSSO LADO, E TÊM SIDO VERDADEIRAMENTE IMPRESSIONANTES! Têm feito um esforço sobrenatural, sobrecarregados de horas e mais horas, colocando a sua própria vida em risco, e comovendo por nunca baixarem os braços.
Aqueles e aquelas que regressaram às funções depois de aposentados, os que chegaram a abandonar os cargos que ocupam atualmente, como o Dr. Varandas, Presidente do Sporting, dão um exemplo tremendo de força, entreajuda e solidariedade que é capaz de arrastar montanhas.


Também a Sra. Dra. Graça Freitas, Diretora Geral da Saúde, tem tido uma, quanto a mim, extraordinária atuação, conseguido fazer esquecer-nos de pensar qual seria a postura do seu antecessor, Francisco George, que conseguiu manter sempre um nível altíssimo.

Uma pergunta continua a ecoar na minha cabeça, e ainda não consegui reunir informação sobre isso: os recuperados recuperam mesmo?!? De que forma se consegue?!?!? E aqueles pulmões.. como ficarão no futuro? Qual será a sua capacidade de regeneração?

Raro momento de humor, para quebrar o gelo, em que a Diretora Geral da Saúde despediu os tradutores de língua gestual, que só sabem tirar macacos do nariz (ver ligação), e ela própria tentou reproduzir as caretas da ministra da saúde, o meu amor, que para celebrar, fez uma carinha tão engraçada

Depois, haverá sempre a tal história da vacina que hoje é o santo graal da saúde, tendo destronado a cura para o cancro, SIDA, e outras doenças terríveis do nosso tempo. Era bem positivo, se as grandes potências mundiais corressem todas para ver qual sairia vencedora, e pudesse assim dar um grande contributo para a humanidade.

Poderiam ganhar dinheiro com isso, poderiam fazer jogo branco e jogo sujo, mas que salvassem caramba! Tantos cientistas no mundo inteiro, tantos super-computadores, e não haverá uma saída?!? Só daqui a um ano?!?!?

Suspenso. Em suspenso estará o nosso futuro, e as nossas, outrora, tão programadas vidas.


Um resumo muito bom da pandemia, em 40 fotos legendadas, sempre atualizadas, no link abaixo:
https://www.dw.com/pt-br/coronav%C3%ADrus-as-principais-not%C3%ADcias-sobre-a-pandemia-04-04/a-53016139

https://www.rtp.pt/play/p6954/e463671/especial-covid-19

segunda-feira, 23 de março de 2020

As manas rock'n'roll




Este vídeo marca um tempo. Nunca mais nada foi assim, e ele há-de sempre recordar-nos como foi, um dia.

23 de março de 2014 às 17:14. Uma com 4, a outra com 13.

No início, acharam muita graça, e por isso acederam a deixar fazê-lo. 

Era uma brincadeira delas… que o pai pôde filmar.

Depois, a mais velha deixou de gostar, pela mudança de idade e por se passar a sentir incómoda e comprometida.

A mais pequena, deixou-se influenciar pela exposição (e os medos que lhe incutiam), por ser pequena, e deixou de gostar também.

Hoje, eu, que o sabia perdido no facebook, e ele mo recordou, quero “colá-lo” aqui, no sítio certo, para que fique para sempre.

Revemo-lo em conjunto, e vê-las a divertirem-se tanto hoje com a memória, uma rindo de cada lado, faz tudo valer a pena.

Hoje já gostam. Imagino daqui a 10, a 20 anos, quando o puderem ver com os seus filhos, numa altura em que eles tenham a mesma idade.

Obrigado...

sábado, 21 de março de 2020

Parabéns, Calyzita!



Uma foto do meu querido amigo Pedro Silvério, creio eu, da última vez que te levei à torre de menagem do castelo de Marvão. Hoje seria impossível.
E a tu cara? Ai meu Deus... que alto| 

Nestes últimos estranhos tempos de recolhimento e aprendizagem comum, tenho-me apercebido que muitas pessoas têm, de sua livre e espontânea vontade, iniciado diários digitais nas diversas redes sociais, que funcionam como um manual de sobrevivência ao isolamento, pois o convívio é, para nós, seres vivos, absolutamente essencial, por sermos gregários e necessitarmos uns dos outros como de ar para respirar. Perante esta manifestação, constato que o que está realmente ali de essencial, não é aquilo que mostram aos outros, os jogos que os entretêm em família, os ambientes onde vivem, mas o facto de combaterem a solidão, por mais acompanhados que estejam. Aquilo pode não chegar a ninguém, o que certamente não será o caso, mas a eles sabe-lhes como se fosse um maná dos céus: aquece, consola, satisfaz, tranquiliza, rejuvenesce, é um sinal de esperança e sanidade.

Sorrio por dentro e percebo que este blogue é também precisamente não mais que isso, e quem por cá costuma passar, ou o segue desde o início, há mais de 10 anos desta aventura que é, no fundo, a minha vida; sabe-o perfeitamente.

Hoje vivo um enorme dia de festa e aqui o quero partilhar, embora seja uma festa tão completamente diferente da festa que poderia ser se tudo fosse tão diferente, mas a verdade é que é festa na mesma! A minha Calizita completa hoje 89 anos de vida, no dia em que começa a Primavera. Eu, que de todos os seus tão amados sobrinhos, sinto que fui sempre diferente pelas contingências que rodearam a minha vinda a este mundo, quero felicitá-la como o filho que nunca teve, porque ela sempre foi uma segunda mãe para mim. Só não pariu, termo técnico utilizado pelos que sabem, mas sempre foi uma fonte de amor, de aconchego tremenda, que sempre me acompanhou ao longo da minha vida.

Calizita, falo-te como se percebesses o que estou a dizer, a conversa fosse percetível, e assim para ti, entendível. Faço-o porque para mim é mais fácil assim, porque é melhor.
Fazes anos e… não só não te lembras do que isso significa, como não te posso ir ver.



Gosto tanto de ti…
Quero-te tão bem. Amo-te tanto…
Não me consigo lembrar de uma única vez na vida que te tenhas zangado comigo! Das vezes em que tentaste, se é que o fizeste, porque não me lembro de uma só, antes te deixavas rir e acabávamos os dois sem saber porque tinha começado tudo.

Falam-me em ti, e eu… que passava os dias contigo na casa da tua mãe, a minha querida avózinha Joaquina, lembro-me de estar muito pequenino, deitado na tua cama à noite, resguardado do frio, embora morasse apenas a escassos metros dali, ao cimo da rua. Nunca ouve pessoa no mundo da qual recebesse um amor tão puro, tão benevolente, tão condescendente, tão sem pedir nada em troca. A mãe de verdade sempre exigiu, e bem (comportamentos, pessoais e cívicos, prestações escolares…), ralhava sempre que tinha de ensinar; a mulher sempre esperou um companheiro e tudo o que ele deve dar, em todos os campos da vida conjugal, e desde que há filhas, mais ainda; as outras tias tinham os seus próprios filhos, que obviamente lhe ocupavam a atenção; mas… sei que sempre fui o teu menino, que nasceu quando solteira como sempre foste, tinhas 42; e nem o meu irmão, que chegou 6 anos depois, mereceu a mesma atenção porque, lá está, as tuas contingências eram outras, a mercearia já estava aberta, e tudo era tão diferente nesse então.

Agora acatamos, claro, as orientações da Santa Casa da Misericórdia onde te encontras, que reduziu as visitas a um familiar, e é a minha mãe quem habitualmente te visita, mas quando assim não era, não passava uma semana sem que fosse ver como estavas, embora já não saibas o que é isso do tempo. No final de cada visita, em vez da felicidade do dever cumprido, ficava sempre antes com um sabor amargo na boca, e era incapaz de deixar de me sentir um canalha, por deixar a sós que tudo fez por mim.

Com as amigas da tua nova família, que tanto te tratam bem...
A mina gratidão não tem fim...

Depois das despedidas feitas fico sempre a olhar a sala onde costumas estar sentada, com todas as tuas colegas, tendo uma imagem da tua Nossa Senhora do Carmo colocada em cima do armário em frente, e respiro sempre fundo, pensando duas coisas: no bem que estás ali, e até quando cá te terei.

O facto de ter conseguido que entrasses para a Santa Casa foi o garante que fez com que pudesses estar ali mais 6 anos tão tranquilos, já desde 2014, quando entraste; tão bem vigiados, tão higienizados, tão bem alimentados, tão felizes.
O darem-te a comidinha na boca como aos passarinhos, muitas vezes passada, porque até de mastigar te esqueceste; o estares sempre asseada, a cheirares bem; bem vestida e aconchegada, bem vigiada medicamente, deixam-me estar tranquilo.

Das vezes que lá estou, sempre que entra uma funcionária com quem tenho mais proximidade, ou porque tem uma filha um pouco mais nova, mas da minha idade; ou porque tem um filho a quem já dei explicações, de quem sou amigo e vizinho; ou porque somos da mesma idade e mais próximos, diz: olha Cali…. Ai quem temos cá hoje? É o menino? É o Pedro da Cali? Derreto-me todo por ver a alegria nos teus olhos, com o ar de quem está mesmo a perceber e quase diz que sim, que o amor ainda está em ti.

Há muito que acredito que todos temos um plano a seguir nesta vida, e não somos só nós que o definimos. Tu que lês, pensa na tua vida, e cedo perceberás que para estares no sítio onde estás hoje, muita coisa aconteceu para teres essa família, esse emprego, essa situação na vida, e muitas delas não foram decididas por ti.

Não sou egoísta ao ponto de pedir a Deus que te mantenha por cá mais um ano nesta vida, embora isso seja aquilo que mais sonho e desejo. Não vegetas mas apenas estás. Eu adoro sempre ver-te porque és minha, e esse corpo onde vives, foi sempre o que me habituei a amar durante a vida toda. Esta situação é como se tivesse um Ferrari na garagem… sem motor, que sei que já não me pode levar a passear com grande estilo por onde quer que passe, nem dos 0 aos 100 km em escassos segundos, mas que me enche de orgulho e amor apesar de estar já  muito marcado pelo tempo, por ter de estar suspenso por um guindaste. Mas está!

Causa-me muita estranheza ver ao ponto em que podemos chegar. Como eras, meu Deus, que primor de elegância, sempre muito bem arranjada; com uma delicadeza sóbria de estar, uma perfeição nos trabalhos bordados que fazias (aprendidos na escola das máquinas Singer, em Castelo Branco, onde viveste durante tantos anos); e como estás hoje, na verdade, já de há muitos anos a esta parte, quando te foste esvaindo como as ligações do teu mapa cerebral que te permitiam estar à tona e ao nível dos outros.

As manas Sobreiro...

A tua mãe partiu com 86 num Dezembro azedo que me mostrou que assim do nada, podemos mesmo perder quem adorávamos que estivesse cá, e sempre pensámos que entre nós ficasse até que deixássemos de existir (embora soubéssemos que isso seria impossível). Com a mesma idade da mãe, partiu a tua companheira, a tua irmã mais velha, Maria, que descansou de vez, na segunda noite em que chegaram a esta nova casa, derrotada por já não poder mais tomar conta da mais nova, mas descansada por te saber tão bem. Os casos do teu pai (70), do teu irmão João, meu pai (49), da tua irmã Mirene (56), e do seu filho João (44), foram mais prematuros ainda, e até dói só de pensar no quanto poderíamos ainda desfrutar deles, e eles de nós.
Por isso, que eu saiba, tu que atinges hoje os 89, és a recordista da família. Obrigado por resistires, também!

Saudade imensa...


Se as coisas fossem como eram dantes, tu hoje terias vestido um tailleur daqueles clássicos que compraste numa loja qualquer em Barcelona, numa das tuas muitas idas a acompanhar a tua amiga enfermeira Teresinha, às suas consultas oftalmológicas; e terias nos convidado a todos, para irmos almoçar fora, ao Sever, que era onde gostavas tanto de ir.


Na última grande alegria que te demos, quando as primas da Covilhã, e a Belinha cá vieram...

Lembraste do nosso assobio? Pfui, pfu, pfiuuuuuuu. Na esquina, fosse a que horas da manhã fosse, e lá aparecias tu, a dizer adeus, e até amanhã.

De todas, serás sempre a minha Cali. Um amor diferente.

Quero-te tanto…

Enquanto eu cá estiver…

E te puder continuar a dar estas alegrias...

sexta-feira, 20 de março de 2020

Dia do Pai 2020

Foi assim... para que nos lembremos sempre...
Um rei e o seu reino... <3

Final da etapa com os habituais beijinhos ao camisola amarela

Ontem de manhã, quando acordei, pensei: será que elas, que estão retidas em casa por causa da pandemia, e não ligam aos calendários, se lembram do dia que é?

Afinal... como sempre acontece, surpreenderam-me!
Ligaram-me, cada uma em momentos diferentes, e fizeram-me uma prenda linda (3 em linha com cartas da boneca, e um pai de Super-Homem, concebidas pela Alice).



Agora, que vivemos num estado de emergência nacional, em que quem pode não sai de casa, e há que reinventar os dias, foi uma atenção única.

Publicaram a felicitar-me no meu mural do facebook.


Eina ... tanto cabelo... tanto pêlo... tanto quilo a mais...



CARREGAAAAAA, FILHAAAAAAA...  

Tudo foi uma prenda que para mim, tem um valor incalculável, e será sempre inesquecível.

Bem hajam (de coração cheio), por a cada ano que passa me ajudarem a perceber que este dia também é meu, quando para mim sempre foi só do meu, cuja memória me esforço sempre por reavivar a cada dia que passa, mas que cada vez é mais difusa, perdida no túnel do tempo, para grande desgosto meu.

É... era esse ar de leão, seguro e confiante, sempre com o tição a arder nos queixos...
Bem disposto, realizado, feliz...

E vão 26... 

Grande abraço dos nossos, Dai.
Sabes que será até um dia... (que oxalá seja tarde, porque a eternidade será toda para nós).

E o serão não terminou sem que, a pedido meu, tivéssemos visto todos em família, um filme que elas escolheram, claro.




E foi muito bom!

Obrigado filhas, e à mãe, que me-as deu tudo fotoreportou! J

Beijo enorme!

quarta-feira, 18 de março de 2020

O (corona) Caos


 

Meu Deus… ao que isto chegou…

Esta… creio que nem eu, nem provavelmente nenhum de vós, esperava ter de enfrentar pela frente. Que cenário absolutamente terrorífico e inimaginável. Às vezes sinto-me como se estivesse a viver preso num pesadelo, onde ninguém é capaz de conseguir avançar uma data possível para acordar com o despertador.

Tenho de confessar a ti, que me lês, que ultimamente não me tem apetecido assim tanto escrever. É impossível que um não se renda ao imediatismo e proximidade do facebook. Se há por lá tantos bons motivos para que isso seja mais que compreensível, a verdade é que o sucesso daquela rede social, muito maior que a versão mais modernista e avançada do instagram, acabou por produzir, na grande maioria (nunca no todo, entenda-se bem, não me queimem já!), uma legião de zombies replicadores que consomem, vomitam os muitos sub-produtos que por lá proliferam, e pensam pouco sobre o que lhe dão a mastigar.

Isto para dizer que tenho saudades de tempos que já não voltarão, há que saber assumi-lo, em que no final de cada dia me reunia aqui com os meus leitores imaginários, e dissertava um pouco sobre tudo e sobre nada, dando largas à minha verve de amanhador de palavras, vendo o mundo pelos meus olhos de criança, porque sei que nunca deixarei de o ser, só que vivendo agora no corpo de um homem de meia idade, que, com um bocado de sorte, é que sou agora (estás fresco, Ti Pedro).
O que eu quero dizer é que em 46 anos de vida, nunca vivi, e nunca pensei chegar a viver um tempo destes, tão estanho e inédito que mais parece impossível.

Esta epidemia do Covid-19, que está a assolar o mundo, da Europa à Ásia, do Brasil aos Estados Unidos, está a somar mortes, infetados, e a colapsar a vida tal como sempre a vimos e imaginamos, fazendo ruir toda a nossa forma de viver, e verdades que pensávamos intocáveis. Que coisa estranha…

O mais bizarro é que para um se deixar arrastar para esta legião de condenados, quanto mais não seja, à desconfiança e ao isolamento; não é necessário adotar nenhum comportamento de risco específico (sexo, álcool, drogas), mas basta apenas existir, basta que haja proximidade, um toque que foi o que sempre mais nos aproximou, enquanto iguais e seres vivos nesta mesma experiência de vida.

A forma como este surto epidémico foi tratado, reduzido, praticamente extinto nesses países asiáticos, dificilmente poderá ser aplicada na nossa zona do globo, muito mais afetuosa, quente, próxima, onde os habitantes pura e simplesmente não foram capazes de entender a gravidade da situação no início, e são incapazes do fugir ao ”aaahhh… isso não será assim por cá”. Por isso encheram as praias assim que a temperatura aumentou apesar dos diversos avisos das autoridades; continuaram a sair à noite em grandes ajuntamentos que encheram bares e ruas, e praticamente “saquearam” todos os hipermercados que puderam que isso do civismo, do respeito mútuo e da entreajuda… não é pro tuga! Que ainda está a sofrer do tempo de ditadura, que a culpa disto tudo foi do Salazar, e antes dele que do meu Benfica!


Creio que apesar de todas as medidas valentes, austeras e arrojadas que já se tomaram, ainda foram poucas, e, o desfasamento de tempo entre elas é capaz de comprometer o sucesso global. Mas cabe na cabeça de alguém que a população não tenha sido toda privada da sua liberdade, e tenha sido obrigada a permanecer compulsivamente em casa?!?

Pois eu acho que não percebo, e a verdade é que não percebo mesmo.

O senhor Presidente vai decidir amanhã se larga a bomba de decretar o estado de emergência, ou não. Amanhã?!?!? E as escolas estão fechadas há quanto tempo? E se esse estado tivesse sido decretado antes, não se teriam evitado infeções e possíveis consequentes mortes no futuro?
Para mim, é assim: há fogo na quinta, o palheiro está a arder. Os vizinhos que vivem do outro lado da propriedade,  já provaram que quanto mais depressa se meterem todos dentro de casa, e se chamarem os combeiros, mais depressa se extinguem as chamas.
Mas por cá, o capataz, se sabe que há fogo na herdade no sábado, reúne com os conselheiros na quarta, enquanto os caseiros vão tomar banho para a barragem, e apanhar uma grande bubadeira na tasca da Ti Ermelinda, junto ao portão de entrada, p’ra afogar as mágoas.

Leio piadas com alguma graça que este vírus da gripe foi inventado por uma mulher, porque quer todos em casa, os homens a um metro de distância, uns dos outros; e sem ajuntamentos nos bares, mas a coisa é grave.

Grave porque numa altura que o homem pensa que é quase Deus, quando clona seres vivos, quando consegue aumentar a idade de vida com qualidade, até limites inimagináveis na ficção científica do século passado, quando explora o universo como nunca antes, e parece já não temer doença alguma (tamanha é a sua erudição científica…) , fica de rastos perante uma merda de um vírus, de uma ameaça invisível que faz soar a campainha do medo, o sentimento mais perturbante que um ser vivo pode sentir, porque será seu companheiro durante toda a existência, até que mergulhe no desconhecido.

A economia tão sólida e imperturbável, parecia ela; tomba com enorme estrondo perante a insegurança de que os nossos dias agora são feitos.

Pára-se o campeonato de futebol e com ele a animação certa de quase todos os homens, adia-se o campeonato europeu, Roland Garros, e os grandes ajuntamentos, adiam-se as celebrações pascais, mete-se tudo o que se possa em stand by. Fecham-se as portas dos serviços públicos, restringem-se os atendimentos, desconfiamos de quem está ao nosso lado a beber café, no mesmo bar, a respirar o mesmo ar, e ficamos a desconfiar que sem toque, nem gotículas de espirro de um infetado na boca, nariz, ou olhos, também possamos ficar infetados. Damos largas à nossa mania esquizofrénica da perseguição, enfim,  em que passamos a esfregar as mãos com sabão azul, sabonete, creme, e tudo o que apanharmos.

É perante as grandes dificuldades e questões da humanidade, que a verdadeira essência das pessoas se revela, e é aqui que se distinguem aqueles que tudo querem açabarcar, dos que se voluntariam para ajudar quem, pela idade ou doença, não pode; e os líderes como o imbecil do Trump que pretendeu adquirir o exclusivo da vacina que combate esta enfermidade, prostrando-se aos pés dos alemães, logo eles, para deles levar uma humilhante bofetada de uva branca, ao renegarem os seus milhões, e colocando-a desde já, quando exista, ao serviço da humanidade.

Passamos a deitarmo-nos sempre com a enorme nuvem negra de suspeição a pairar sobre a cama, e quem acredita pede; crente que essa entrega o fará diferente dos outros, que se deixam andar à rédea larga, entregues à sua sorte; quando na verdade sabem sempre que aos olhos de quem manda em tudo, esse não será o critério diferenciador.

Estar vivo é tão bom, é tão feliz, apesar de todas as dificuldades que nos podem saltar ao caminho, baralhando tudo; que ninguém merece viver assim nessa suspeição.

Nesta nossa época, em que basta que escrevamos na barra “pesquise no google”, para termos acesso ao “abre-te sésamo da informação”, que dá entrada num mundo dela, vídeos, infografias, reportagens, notícias, textos e relatos sobre o assunto, não quis aqui replicar aquilo que cada um pode procurar por si, a seu bel prazer.

Apenas quis deixar o meu testemunho, a minha opinião, que, no meu entender, por merecer mais que a espuma das ondas do faceboook, que vão e vêm, esbarram nas rochas e se desvanecem no areal; subirem aqui ao meu miradouro.

Que Deus nos ajude, que a gente não merece um fim assim.


7.949 mortos e 197.135 casos?!?