domingo, 31 de outubro de 2010

It´s Halloween! Let's have a ball!

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Digam-me lá de verdade, do fundo do coração: o que é que tem mais piada?

Ir amanhã de manhã de porta em porta, de bolsinha do pão na mão, mendigando guloseimas e uma ou outra moeda, pedindo ao santinhos… (a Igreja… sempre ela…)

Ou sair hoje de noite, nesta noite chuvosa e ventosa e assustar tudo e todos, homenageando o rito celta da festa dos mortos que nesta data varriam a terra em busca das almas penadas para purificar o mundo antes do ano novo.

Caraças, pá! Não ma lixem!!!

Eu aqui desertinho de sair pelos campos a uivar e nem ao fundo do corredor me deixam chegar…

Ele há coisas que custam…
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Há coisas que marcam uma criança...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sonhando acordado


Por incrível que pareça, ainda assim, há gente que me cobiça a condição.

Que “é só vida boa…”, que tenho “sorte de levar os dias deitado…”, que “agora é que é só descansar e ver televisão...”

Pois é… mas o que eu acho mais engraçado é vê-los responder que “nem pensar!!!” quando lhes pergunto se nesse caso, aceitam trocar de lugar comigo. Eles ficariam aqui “a gozar”… como dizem, e eu passaria para o lugar deles, podendo assim caminhar sem dores e limitações, ir para onde eu quisesse, à horas que quisesse sem depender de ninguém, podendo correr, nadar, andar de bicicleta, podendo tomar a minha Alice ao colo (ainda não percebeu que não dá… a pobre… ainda me estica os bracinhos…) podendo conduzir outra vez, podendo beber um belo dum tinto com uma posta de bacalhau cozido e podendo desfrutar de uma imperial no Choca, com um pratinho de tremoços, enquanto leio o Correio da Manhã fresquinho e admiro o jardim pela vidraça.

Coisas simples. A cada dia que passa percebo melhor o Peter Falk das “Asas do Desejo” do Wender que a primeira coisa que quis fazer ao cair dos altos ceús foi beber um cafézinho na primeira roulote que apanhou aberta. Coisas simples…

Realmente não me posso queixar. De todo…

Tenho televisão, portátil e internet, telefone e telemóvel, filmes, discos, revistas, jornais e livros, guitarra para ensaiar, comida, cama, roupa lavado e sobretudo… muito amor, carinho e compreensão. Tudo coisas que ajudam a quem tem de passar os dias deitado (sentado nem pensar!!!), com precárias de 10 minutos para ir à casa-de-banho ou tomar uma refeição.

Nestes dias sempre iguais tem-me valido o cinema, definitivamente, a melhor forma de sonhar acordado e uma das paixões da minha vida. As sessões triplas diárias têm-me ajudado a dar baixas na infindável lista de filmes “a ver” e assim consigo viajar tanto, no espaço e no tempo, sem sequer sair do lugar. Tanto posso andar pela América Latina a decifrar enigmas ancestrais, de chapéu e chicote na mão na companhia do meu amigo Dr. Jones, como na hora seguinte me mudo para uma Nova Iorque futurista para dar uma mãozinha ao Will Smith na sua luta desesperada para salvar a humanidade de um vírus mortal. Por estes dias, já andei com um Tom Cruise zarolho a ver se matava o Führer, já ajudei o Jake Gyllenhaal a apanhar o serial killer do Zodíaco, já passeei por uma Paris ébria pela mão de Gainsbourg, já me juntei a Robin de Locksley na sua luta desigual com o maléfico Rei João, já andei perdido em Las Vegas, depois da mais louca despedida de solteiro de todos os tempos… enfim… vivendo a vida de outros…

E cumprindo à regra uma das minhas máximas: “always look on the bright side of life!”

PS. Por falar em coisas boas: já viram a qualidade dos políticos que temos? Aqueles sujeitos nem assim conseguiram chegar a um acordo… mesmo sabendo que ao defenderem os interesses partidários, colocam em risco os supremos interesses do país. É o que eu digo sempre: estamos bem entregues, estamos…

domingo, 24 de outubro de 2010

Operando...

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E prontos… Foi o que tinha de ser, como tinha de ser, como Deus quis que fosse, como estava escrito que haveria de ser (eu, como bom português, acredito no destino) ou então, foi como calhou. E foi bem. Correu bem. Está a caminho de ficar fino.

A médica disse-me que dentro da categoria das hérnias volumosas, não ganhou o 1º prémio mas atingiu uma posição cimeira e que o que mais a impressionou foi o estado da raiz nervosa, toda trilhada entre a dita cuja e o osso. Que as dores tinham de ser muitas e é tão bom quando nos compreendem, quando sentimos que foi mesmo assim e não tudo apenas produto da nossa imaginação. Foi sofrer a sério, foi ter privações, limitações e sacrifícios. Foi aguentar até não dar mais, até não ter mais paciência para tanta impaciência.

E eu estava naquela… Era a estreia absoluta em tudo. Primeiro internamento, primeira anestesia, primeira cirurgia… e estas são daquelas estreias que acho que ninguém quer ter. Abala daqui um gajo quando ainda o galo ressonava, atravessa o país, e vai assim rumo ao desconhecido, de mala aviada e sem sequer ter companhia para jogar uma bisca lambida. Não é fácil para ninguém. Para quem tem uma séria propensão para a hipocondria… pior.

Quando chego aquela zona da cidade só costumo ter olhos para as roulotes e para a catedral, de forma que nunca tinha sequer reparado que ali estava um hospital. A cegueira é tanta…

Situado no Alto dos Moinhos, o Hospital dos Lusíadas é uma estrutura ultra-moderna, recentemente inaugurada (2008) pertencente a um grupo privado que opera na área da saúde e que claramente se pode classificar como unidade de proa em Portugal. Tudo ali é, de facto, moderno e personalizado: da arquitectura aos interiores, da decoração à forma de atendimento. Tudo foi pensado ao mais ínfimo detalhe com o exclusivo intuito de agradar. À primeira vista, ninguém diria estar num hospital. Mais parece um hotel ou um spa. Nada de filas intermináveis, nada de camas apinhadas nos corredores, nem sequer vestígios do cheiro tão característico das unidades de saúde, a camas e medicamentos. Aqui as caras são sorridentes, as funcionárias são jovens, bonitas e vestem fardas, mais parecendo assistentes de bordo que outra coisa qualquer. Perante todo este cenário, o pensamento não pode ser outro: estou em boas mãos.

Por muito que nos consigam fazer pensar que o nosso bem estar é a prioridade e o objectivo último, todos nós sabemos que num negócio privado é o dinheiro que fala mais alto e assim sendo há que racionalizar, rentabilizar, lucrar o máximo… não há tempo a perder. Do programa constava comparência na quarta-feira para consulta com o médico anestesista, análises médicas (sangue, raio-x, electrocardiograma) e internamento ambulatório. O folhetinho Xpto disponível na sala de espera explicava que o internamento ambulatório é para os casos que eu designo de “tratar e andar”: sabemos o que tu tens mas não penses que vens p’raqui fazer sala. Fazemos o que temos a fazer e assim que provares que estás no bom caminho: “ala que se faz tarde” porque há outros que aguardam na fila. Pensando bem… até é bom que assim seja.

Depois de percorrer pelo meu pé as diferentes áreas onde haveria de obter os exames pretendidos, acabei por me instalar no quarto por volta da 1h e meia e às 15 h estavam a rebocar-me para o banco de ensaio. Presumo que no entretanto me foram ministrando uns pozinhos de perlimpimpim porque há medida que o tempo passava fui-me sentindo cada vez mais calmo, relaxado e com vontade de me deixar ir.

Numa das antecâmaras, umas senhoras de toucas plásticas na cabeça perguntou-me:

- “Então mas você não é atleta? Não corre? Como é que raio arranjou isto?”

- “Eu sei lá, senhora… Tenho pensado tanto… Excessos… Asneiras que a gente faz na vida. Pesos à toa… mochiladas de quilos quando era pequeno a caminho do ciclo, do liceu, da faculdade… alguns acidentes de mota e de carro e tonterias… bilhas do gás às costas… milhares de quilos de lenha de empreitada… e as corridas… o impacto do pé no chão que pode ter desencadeado esta reacção. Sabe que numa meia-maratona (fiz diversas…), o pé bate no chão mais de 35.000 vezes? Tanto corri que acabei por dar cabo do amortecedor…”

- “Ai ó (não sei quantas), ouviste o que este disse? Diz que deu cabo do amortecedor! (gargalhada geral). Esta está muita boa! Esta nunca tinha eu ouvido. Tenho de tomar nota e contar ao meu marido em casa.

A esta altura já eu me sentia como o E.T. do Spielberg quando os cientistas governamentais invadem a casa do Elliot. Tudo à minha volta eram tubos e contadores electrónicos, prateleiras metálicas e gente vestida de plástico da cabeça aos pés. Só via os olhos e tentava responder, o melhor que podia, às perguntas que me faziam.

- “Olha… que engraçado… tem duas andorinhas tatuadas. Muita giras! Quem fez?”

- “O Fontinha da Bad Bones, no Bairro Alto. O melhor tatuador de Portugal. São old school. Não se nota?”

- “Nota, nota! E querem dizer o quê?”

- “São as minhas filhas, a Leonor e a Alice” e nisto já respondia só com um olho aberto. Mais do lado de lá do que de cá…

Não sei que voltas mais demos à conversa que a última pergunta de que me recordo foi: - “e gostas mais da Ferrari ou da Porsche?”

-“Da Ferr…a…ri… é…ou..tr..a…cla…ss…e…”

- “Ai sim? Então boa viagem!”

E prontos. No segundo seguinte já estava no recobro, uma sala enorme com muitas camas onde diversas enfermeiras faziam ronda aos sinais vitais e ao estado dos pacientes. Foi num instantinho e de verdade que esta parte… não custou nada. Ainda me recordo da médica a sorrir, felicitando-me que tinha tudo corrido bem, envolta assim numa névoa como se fosse um sonho. Lembro-me de ter tentado balbuciar umas palavras mas a pedra ainda era enorme e não dava para muito mais.

Ao fim de meia hora já estava deitadinho no quarto, rondando as estações de rádio no telemóvel para ouvir o relato do meu Benfica com o Lion. Por incrível que pareça, parece-me que naquele estado de dormência em que ainda me encontrava, só consegui ouvir os dois golos que sofremos. Sendo assim… boa noite e até amanhã!

A 5ª feira foi dia para recuperar de toda esta aventura no meio de muito jornal, muita televisão, muita Praça da Alegria, muita Júlia Pinheiro, cházinhos de camomila e pacotinhos de bolachinhas Maria que estão para os hospitais como as bolas de Berlim estão para a praia. As funcionárias todas elas excelentes, as enfermeiras encantadoras, um asseio enorme, muita simpatia, as refeições belíssimas… Enfim… do melhor.

E eu, à custa de muito patuá, ainda consegui convencer uma das piquenas que prestavam assistência ao meu sector para me ajudar a encenar que estava instalado não ali mas no quarto do Benfica que não aluguei por me terem pedido mais 40 euros por dia. 40 euros?!?!? Para um sócio?!?!? Granda roubalheira! Com 40 euros estava uma semana a almoçar e jantar sandes de courato empurradas para baixo por girafas Sagres letra Z (de litro, as maiores que há!). Aquela malta não têm consideração por ninguém!

Ela disse-me que sim, mas ao fim de uma horas chegou-me lá toda aflita: “ó senhor, se quiser ver o quarto do Benfica tem de ser já porque vai entrar um inquilino”. Corramos, então! Por infortúnio já não tinha a cama, dado que gorou a sessão fotográfica, mas pelo menos deu para ver como é bonito e arejado e decorado com as cabeçorras dos nossos jogadores como se fossem gigantones do Minho. Não vale é o dinheiro, sobretudo depois da ensaboadela da noite anterior que não ajudava convalescença alguma mas isso aí…

Depois foi preparar o regresso e em menos de nada já estava de volta ao lar, com as minhas pequenas a fazerem-me companhia, que é como quem diz: melhor é impossível Tudo está bem quando acaba bem!

Espera-me agora um mês (ou mais…) de molho, sempre deitado, com autorização apenas para me levantar esporadicamente e nunca por um período superior a 15 minutos. Faço votos que depois de sexta-feira, quando tirar os 30 agrafos, possa ter uma alta mesmo que ligeira e guia de marcha para uma maior mobilidade que eu sei que isto custa a todos mas se há quem não foi feito para estar assim parado… fui eu.

Não gostaria de terminar este post sem fazer alguns apontamentos (até para minha memória futura) que me parecem oportunos:

Em primeiro lugar, agradecer a todas as pessoas, familiares e amigos, que se preocuparam comigo e com o meu estado. Obrigado aos que me ligaram, aos que rezaram, aos que enviaram sms, aos que aqui postaram as melhoras, aos que ligaram para minha casa, aos que estiveram comigo mesmo que apenas fosse em pensamento. OBRIGADO. MESMO! Eu ACREDITO que essa força toda junta foi indispensável para que as coisas tivessem corrido pelo melhor.

Um obrigado muito especial ao Carlos e à Fatinha que foram as primeiras caras que vi quando entrei no hospital. O conforto que se sente quando damos inesperadamente com rostos familiares num sítio que imaginamos inóspito, é indescritível. Eu tinha-lhes pedido para não irem e mesmo assim… foram. E ajudou imenso. Acreditem.

Outro obrigado às minhas tias que há quase 20 anos me fizeram companhia no comboio quando entrei na faculdade (levando o menino a Lisboa…), e passados estes anos todos (quem diria!) ainda têm força suficiente para me animar no hospital. Duas forças da natureza! Obrigado também à Rosa Maria e ao Manuel pelo fim de tarde tão agradável, em amena cavaqueira.

O meu óbvio obrigado à Dr.ª Anabela Nabais, com quem simpatizei de imediato e nas mãos de quem me senti tranquilo desde a primeira hora, pela sua simpatia e enorme profissionalismo. Obrigado a toda a equipa médica e a todos os profissionais do Hospital dos Lusíadas com quem privei.

Obrigado a todos os meus familiares que me apoiaram (mãe, sogros, cunhados, irmão, tias), às minhas visitas e sobretudo às minhas filhas (por me animarem) e à minha Cris, esta baixinha que é a mulher da minha vida, quase sempre calada e sorridente mas que é uma guerreira gigante, uma lutadora e uma valente que agora me leva ao colo e tem a casa às costas. Desculpa e mais uma vez, obrigado.

E para terminar, duas ou três notas:

1) Estar doente deve ser a coisa mais triste que há no mundo. Mais triste, só a morte. O doente fica debilitado e desanima. Vê a vida lá longe. Perde o ânimo e a vontade. Sente-se sozinho e esquecido, por mais acompanhado que esteja. Duas ideias me surgem daqui:
- Temos de aproveitar a vida o melhor que podemos, desfrutando de cada momento bom como se fosse o último e,
- Temos de ajudar mais que está doente e quem sofre nem que seja ouvindo, sorrindo, dando a mão. Sendo mais compreensivo. Eu prometo que vou fazer a minha parte.

2) Um conselho a quem padece de hérnias discais ou mal semelhante: não sofram mais! Não se deixem limitar pelo medo, não andem às cambalhotas de um lado para o outro a experimentar mil e um paliativos e mezinhas enquanto gastam rios de dinheiro, não se iludam e avancem! Eu também segui o conselho de outros antes de mim. Vale mesmo a pena! Para grandes males… grandes remédios!

3) Neste período em que tenho estado acamado tenho-me recordado com frequência de dois amigos, o César e o Henrique, que a estrada traiçoeira aprisionou para sempre a uma cama. Nesta minha reclusão momentânea tenho pensado, tenho tentado imaginar a extensão infinita do seu sofrimento e angustio-me só de o vislumbrar. É preciso ter uma força e uma coragem à prova de bala para conseguir seguir em frente. A eles também prometo que passarei a estar mais presente e a ajudar ainda mais.

Para finalizar, um abraço que jamais saberei se será entregue, ao meu companheiro de quarto, o Sr. João, a quem ainda consegui arrancar um sorriso fortuito na despedida quando lhe pedi desculpa por alguma coisa que tivesse corrido menos bem, desejando o seu restabelecimento e rápidas melhoras.

A vida é linda, é boa, é maravilhosa e eu tenho umas sapatilhas novas de corrida por estrear.

So help me God!

Beijos!!!!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Em manutenção...


E prontos… rapaziada… lá terá de ser.

As dores são muitas e persistentes (há meses…), as limitações constantes e perante este cenário… há que dar a mão à palmatória e deixar a faca resolver.

De forma que se tudo correr bem, amanhã, este vosso amigo estará bem pertinho do Estádio da Luz a afinar os amortecedores.

Natural será que as notícias sejam poucas nos próximos dias mas prometo que assim que me deixarem dar ao dedo, por aqui passarei para contar as últimas aventuras.

Um abraço a todos e até já.

domingo, 17 de outubro de 2010

Calar...



Nós, os portugueses, somos um povo do caraças. Tudo toleramos, ó camandro!

Tenho televisionado as reportagens sobre as filas intermináveis nas lojas da Via Verde, onde centenas e centenas de condutores pacientemente aguardaram a sua vez para adquirirem o aparelho que lhes vai passar a cobrar o que até agora foi de borla.

Metros e metros de bicha (eu sei que não se deve dizer assim mas eu gosto da expressão, o que é que querem?), bichas intermináveis, bichas sem fim e o Zé Povinho ali prostrado, com a cabecita entre as orelhas, a meter-se a jeito para o “encavarem”. Paciente. Submisso.

Mulheres com filhos pequenitos, crianças de colo que não puderam deixar no infantário, homens de todas as idades, vidas empatadas, negócios parados, trabalhos adiados à custa daquilo. Pessoas que passaram o dia anterior na fila apenas à espera de senha, que regressaram conseguindo ainda sorrir, dizendo que têm expectativa de ser atendidos porque senão… terão de voltar noutro dia. Que remédio…

Alguns reclamam mas reclamam baixinho, só para o filme… que a capacidade de atendimento é pouca para tanta gente, que a fila anda lentamente, que se passa a hora de almoço, de jantar e um gajo nem uma sandezinha de presunto com manteiga e um penálti de tinto pode meter goela abaixo…

Rezam as crónicas que houve malta a sair de lá à 1 hora da manhã.

E eu a pensar…

FODA-SE! (desculpem. Sei que é mal mas há vezes em que tem de ser). MAS ESTA GENTE NÃO SE INDIGNA? NÃO SE REVOLTA? NÃO SE REBELA? NÃO BARAFUSTA? NÃO OS MANDA A TODOS PARA A RAÍZ DA PUTA QUE OS PARIU?

Se há tribunais que aceitaram providências cautelares baseadas na inconstitucionalidade do normativo. Se há motivos para reclamar… se há interioridade, desfavorecimento, se aquela via é a única em condições para se circular…

Espanta-me como é que não aparece ali um maduro que diga alto e bom som que isto é uma vergonha! Que estamos a ser dominados por uma cambada de bandidos que nos esmifram até ao tutano para poderem levar vidas de lordes enquanto nós… os que trabalhamos, os que não fugimos aos impostos, os que nos preocupamos com o nosso país, pagamos a factura sem piar. Eles a esbanjar, a derreter milhões em obras megalómanas que não fazem falta a ninguém excepto aos consórcios que lhes financiam as campanhas, e o povinho que se amole que dos fracos não reza a história.

Eu sei que foram muitos anos de ditadura, quase um século inteiro!, que acabámos por moldar a nossa personalidade social a um nível de submissão e apatia que vão muito para lá do que é aceitável e tolerável mas isto é demais!

Às vezes custa-me a acreditar que somos mesmo descendentes daquela cepa de gajos que tiverem tomates para se enfiarem em barcaças e rumarem mar adentro, desbravando mundos que se acreditavam povoados de demónios de todas as cores e tamanhos, de todos os feitios e malvadezas. Não há na história deste planeta, episódio de braveza tamanha como esse protagonizado pelos nossos patrícios. Vai-se a ver hoje… Não chegávamos a deixar o areal…
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É pena...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Nacer de nuevo



O resgate dos mineiros chilenos parou e encantou o mundo. Não deve ter havido ponto no globo onde a emocionante operação não fosse o assunto do dia. De olhos colados aos ecrãs da televisão, a humanidade acompanhou em directo o salvamento destes verdadeiros heróis com renovado suspense de cada vez que a cápsula metálica extraía mais uma vida das entranhas da terra.

De facto, esta aventura que felizmente terminou da melhor forma teve todos os ingredientes para nos tocar bem fundo. Teve a desgraça inicial que tudo despoletou, teve sofrimento e incerteza, teve esperança e abnegação, teve tenacidade e sacrifício, teve resistência e heroicidade, teve solidariedade e compaixão, teve redenção e vitória. Não há quem resista a tanto. Até o mais duro e insensível vacila.

Agora imaginem o que foi isto para mim (e vou fazer uma confissão que embaraça qualquer um…) que me devo ter emocionado em 90% das comédias românticas que vi. O que é que querem? Não dá, pá! Já atingi uma fase em que filmes em que o Hugh Grant entre (é o grande canastrão do género, para quem não saiba), já só os vejo sozinho. Serei menos macho por isso? Cá para mim acho que não.

Não quero com isto dizer que alaguei a cozinha de lágrimas ao almoço quando vi as primeiras imagens do salvamento no noticiário da 1 hora. Nada disso, nem de nada que se pareça. A esfregona nem sequer serviu mas que estremeci… lá isso estremeci. E fi-lo porque a cada um daqueles seres pálidos e empoeirados que regressava à superfície, regressávamos nós também. Cada sorriso, cada abraço, cada beijo eram uma vitória da vida e do engenho do homem sobre a morte e contra ela, estamos infelizmente mais habituados a perder do que a ganhar.

Eu senti que também lá estava, que também eu os abraçava, a eles e aos familiares porque apesar de não os conhecer pessoalmente, acompanhei tão de perto a sua luta pela sobrevivência que me achei no direito de, pelo menos mentalmente, também desfrutar do momento.

Dos 69 dias em que estoicamente resistiram enterrados vivos, 17 foram passados na penumbra e na incerteza se seriam alguma vez encontrados. Alimentados por duas garfadas diárias de atum, bebendo a pouca água armazenada na maquinaria que jazia ao seu lado, agarraram-se a essa fé profunda que é tão característica das gentes sul-americanas e sonharam certamente muitas vezes com este momento enternecedor que nos pode e deve servir como modelo a todos.

Num mundo em crise e violento como só o nosso, uma epopeia desta dimensão é coisa para levantar o ego e o astral a níveis nunca esperados. Bem precisamos…

Agora é também hora de voltar à realidade. Livraram-se de um inferno húmido onde reinava a escuridão mas irão necessitar de muito engenho para não se deixarem levar pelas muitas tentações que os esperam. O mediatismo excessivo, a exploração consumista para, por exemplo, campanhas publicitárias, o dinheiro fácil, são alguns dos hábeis demónios terrenos que tão cedo não os deixarão descansar. Mais tarde, quando os holofotes se apagarem (dos 3.000 presentes no resgate, 2.000 eram jornalistas), será a dura volta ao quotidiano e aos problemas que o caracterizam que não raras vezes empurram estes heróis efémeros para o trilho do álcool e das dependências. Longo será o caminho para a felicidade que tanto desejam e merecem. Oxalá consigam atingi-la com um rumo tão certeiro como o da Fénix que os trouxe de volta à vida.


Regressando aos abraços e aos encontros, com tudo isto lembrei-me do… vá… arrebatador início de uma das minhas comédias românticas de eleição: o extraordinário “Love Happens”, que há filmes que valem para o fim para que foram feitos. Sim, sim… podem vir com as lérias que é filme de gaja e mais não sei quê que eu não me importo nada. Foi com ele que aprendi que há pessoas que de tão sós nas cidades, se sentam nas chegadas dos aeroportos, nas estações de comboios, nos terminais de autocarros só para poderem “beber” da emoção de um reencontro.

Está tudo aqui.

Na altura, pensar que isto era possível deixou-me um nó na garganta. Hoje, com os bravos mineiros chilenos, percebi porque acontece.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Movimento Tio Sabi: Tira-me a porra da máquina daqui!

Acho que já ando com saudades da vida política. Sempre gostei de desafios e hoje não tenho muitas causas pelas quais lutar, o que para um gajo que sempre gostou de uma boa discussão, não daquelas de gritos e cair para o lado mas daquelas que nos fazem crescer e aprender algumas coisas, é terrível.

De forma que hoje estive cá a pensar e lembrei-me de fundar uma causa, uma liga, uma associação, uma cena ideológica pela qual lutar e nesse instante nasceu a Fundação (não porque tenha estatutos mas porque foi de facto uma cena fundada) “Tio Sabi… Tira-me a porra da máquina daqui!”
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E qual é o objectivo da coisa? Perguntam vocês, em coro.

Bem, o objectivo é criar um movimento contra as máquinas mas não todas as máquinas porque máquinas há que são úteis e dão alegria às nossas vidas.

A ideia bateu-me quando me lembrei, num flash… dos sinaleiros. Os sinaleiros…

Os sinaleiros eram homens de nível. Para começar, tinham um bom gosto tremendo. Andar de capacete e luvas brancas, mesmo no pino do Verão, não é para todo o boneco que quer. É preciso ter nível.

O sinaleiro mantinha a calma mesmo no meio da maior confusão. Nunca perdia o gesto e a atitude, a sinalética de comando e o rigor, o que é absolutamente notável! O poder destes homens… em pleno coração de uma cidade qualquer… manadas de viaturas à sua frente a entupirem os cruzamentos nevrálgicos e eles… impávidos e serenos… a comandarem os carros como se fossem bestas, encaminhando-os ao seu destino, desanuviando as artérias e restabelecendo a normalidade. Que saudades dos sinaleiros. Se tivessem bigodes, então, eram dignos de serem beatificados, quanto mais…

Quando era pequenote, via o sinaleiro em Portalegre e Castelo Branco e sonhava, do banco de trás do Renault 5, no dia em que eu próprio envergaria a farda. O sonho de infância foi brutalmente trucidado por quê? Pelo semáforo… essa máquina diabólica que com recurso a luzinhas irritantes, 3 apenas, nos roubou de uma assentada essa figura mítica do nosso imaginário infantil. Foram-se os sinaleiros e nasceu assim um grito de revolta que agora ganhou vida neste novo movimento: “Movimento Tio Sabi… Tira-me a porra da máquina daqui!”

Nem todas as máquinas serão visadas. As máquinas que são nossas amigas, poderão e deverão continuar a coabitar pacificamente com os membros do movimento, sem qualquer espécie de divisão.

E que máquinas são essas? Todas as máquinas que proporcionam prazer e não enviam seres humanos para o desemprego. Exemplos:

- a televisão,


- o computador,


- a máquina de imperial,


- a calculadora (até à tabuada do 5 toda a gente chega…),


- a máquina do café,


- a torradeira,


- o frigorífico


- o microondas… bem… na cozinha é quase tudo!


- o telemóvel,


- o automóvel,


- o relógio,


- os comandos electrónicos (tv, portões),


- a máquina zero,


- as depiladoras,


- o rádio,


- a máquina de projectar filmes,


- a Monica Belucci (granda máquina!),


- as flippers,


- as máquinas de enrolar cigarros,


- o gira-discos…

Há milhares e milhares de máquinas amigas. Essas estão de fora… Nada contra!

Já os vibradores são verdadeiros alvos a abater e não vamos entrar aqui em miudezas… Acho que todo o homem percebe…

Outras máquinas que serão alvo da ira deste movimento são as máquinas de cobrança das portagens. Só de uma assentada desempregaram 900 homens e mulheres. É uma pena e eu odeio a maquineta aquela. A gente chega, olha para nós, abre a boca metálica, engole o cartão, cospe o recibo… e prontos. Nem ai, nem ui. Bem diferente de quando era gente de verdade:


Portageiro - “Então Sr. Sobreiro… Outro joguinho do Benfica na Luz na companhia de seu santo sogro, cunhado e demais amigos?”,


Pedro - “É verdade, meu caro. Tristezas não pagam dívidas, só se vive uma vez e há que saber desfrutar destes momentos bons que a vida nos proporciona.”


- “E o Sr. a conduzir outra vez? Realmente… tem um coração de ouro… enganam-no sempre! Eu acho que o Sr. é tão bom que se deixa enganar de propósito só para os ver felizes.”


- “Eh, eh… você… já me conhece bem…”


-“Mas a estas horas… de almoço… passarão certamente em Setúbal para bater o peixinho fresco grelhado junto ao Sado, na esplanada do Âncora Azul, sob aquele sol dourado, com Tróia ao fundo… Ele há gente com sorte…”


- “Só isso vale a jornada, meu amigo… Sabe como é… Quando dali saímos… já temos o dia e o jogo ganho!”


-“Umas branquinhas geladas, um licorzinho de lagarto para desmoer oferecido pelo dono… Qualidade! E ao chegar ao viaduto… Rulotes com eles! O coirato e as fresquinhas tamanho Z que se cuidem… Eh, eh!”


- “Você… sabe-a toda. Lá por casa, tudo em ordem? Olhe, dê um abraço a todos.”


- “Obrigado, Sr. Sobreiro… homem bom! Façam uma boa viagem e que Deus vos acompanhe. E… não levantem muito o som do rádio que me parece que o paizinho já vai a dormitar…”


Nisto… é de arrancar que a fila a apitar atrás de nós já chegava quase a Estremoz….


Estão a ver a diferença?

Não tem nada a ver! Certo?

Acções futuras da Causa “Movimento Tio Sabi… Tira-me a porra da máquina daqui!”:

1) Angariar sócios. Para se ser, os leitores devem apenas imprimir o símbolo da causa em duplicado e colar um na lapela do casaco e outro no para-brisas do carro;


2) Promover acções de guerrilha destinadas a exterminar as máquinas más do tipo pintar as luzes dos semáforos todas de vermelho para que ninguém possa circular. Pintar todas de verde não porque isso dá barraca;


3) Fazer uma causa no Facebook;


4) Montar uma quermesse na rotunda da Portagem nos domingos de feira de antiguidades;


5) Fazer bolos caseiros tipo cavacas;


6) Vender rosas artificiais nos dias de tourada em Santo António;


7) Organizar noites de fados em que sou o único a cantar e canto sempre os dois fados que sei mais ou menos (o do Drógado e o do Sobreiro);


8) Fazer uma rifa em que sai um galo que adivinha o tempo (outra máquina boa!);


9) Sensibilizar as juntas para fazerem matanças de cangurus em vez de matanças de porcos porque estas já estão muito vistas;


10) Passar tardes a conversar nos ferros em frente à Pastelaria São Marcos porque as pessoas hoje não convivem.


Tenho dito

O fundador

Sabi

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

P S Pobre?

Conta o despesismo... marchar, marchar! -


Agora que os sinos tocam a rebate, já ninguém duvida que a crise é de verdade e veio para ficar. Com o fundo deste abismo financeiro bem longe de estar à vista, todos concordam que os tempos são de austeridade e até os que têm de pagar a maior parte da factura (leia-se classe média / função pública) aceitam as privações como sendo o mal necessário para evitar uma catástrofe maior.

Pois eu defendo uma opinião contrária à corrente instituída e acho que o governo deveria poupar… gastando, isto é, criando um prémio para a entidade ou organismo público que conseguisse ser mais radical nos cortes efectuados e assim melhor sucedida na gestão dos seus cada vez mais parcos recursos.

Como devem imaginar, a ideia surgiu-me no duche enquanto ouvia no transístor a ordem de serviço emanada da direcção nacional da Polícia de Segurança Pública com o intuito de conter a despesa e ajudar a equilibrar as contas do erário público.

É bem feita que é para não andarem na Praça do Comércio feitos palermas a perder tempo com modernices tipo as greves e essas coisas de agora.

Das medidas apresentadas, destaco obviamente a do aproveitamento das águas das chuvas para lavagem dos carros, que me parece uma proposta verdadeiramente genial. Sempre achei uma tonteria que os agentes passassem as tardes nas esquadras em camisa de braceletes a puxar o brilho às viaturas em vez de andarem por essas ruas e vielas atrás dos meliantes, pelo que a iniciativa me pareceu do mais acertado possível. Concordo! Os carros das patrulhas são como os tractores agrícolas: querem-se sujos e a cheirar a cavalo. De resto, quem habitualmente os utiliza também não pode reclamar muito. Detidos já estão, pelo que pior é impossível.

Agora é preciso que se compreenda que as medidas só funcionam com a ajuda e a compreensão de todos. Nada de começarem a barafustar por algerozes e outras gerigonças por forma a captarem maior caudal porque senão… não morremos do mal, morremos da cura e não passamos da cepa torta.

Experimentem, por exemplo, quando o patrulhamento for realizado num motociclo e o agente se encontrar na berma da estrada ou junto a uma rotunda, a colocar o capacete sempre virado para cima por forma a poder realizar a colheita no local, caso comece a chover. O percurso até à esquadra para depositar a água num bidão deve ser realizado a pé, em passo curto e linear para gastar menos sola dos sapatos.

E por favor, não se esqueçam de estacionar as viaturas sempre ao ar livre, quer de dia, quer de noite, sobretudo quando o clima estiver instável. As razões são óbvias. As garagens devem preferencialmente ser alugadas aos chineses e à Igreja Universal do Reino de Deus que pagam a tempo, com bons modos e em dinheiro vivo. Pode ser lavagem de capitais? Se sim, ainda melhor. Sempre se poupa a chuvinha que cada vez é, também ela, menos.

A proibição de ver televisão é do mais certeiro que pode haver. Agora que vem aí o tempo frio, era natural que os bares das esquadras se enchessem com rapaziada sentadinha à braseira, a beber chocolate quente e a ver o Gouxa de manhã e o Baião à tarde. O crime dispara sempre nesta altura. Não acho bem é deixarem ver as notícias. Hoje em dia são uma perda de tempo e não se aprende nada. Se fosse eu que mandasse, só deixava ver a “Fé dos Homens”, a meteorologia, o “Euromilhões” com a boazona da Marisa Cruz (quanto mais velha melhor…) e o “Domingo desportivo”, porra, vamos lá, que os homens não são de ferro. Também deixava ver o “TV Rural” (há muitos polícias donos de pequenas hortas, mesmo em Lisboa), mas era se o Engenheiro Sousa Veloso ainda fosse vivo, Deus o tenha em descanso, muitos aninhos sem nós, entre as alfaces e as beterrabas celestiais.

Mas eu também gostava de avançar com algumas propostas de poupança alternativas, todas elas da minha lavra. A saber:

a) Retirar a parte de baixo da carcaça das viaturas e fazer os agentes dar ao pé para a mesma se deslocar. Eu sei que a técnica é antiga e que os Flinstones têm a patente mas não deixa de ser super-adequado para estes tempos de crise. É uma forma de locomoção particularmente interessante para pequenos trajectos citadinos e para zonas planas como a do Calvário, Belém, e por aí. Também tem a vantagem de manter os agentes em forma, evitando assim excessos calóricos.

b) Trocar os apitos por assobios “à pastor”, ou seja, com a boca. Também funciona bem, permite um reaproveitamento do metal dos apitos para, por exemplo, fundir e fazer balas mais económicas.

c) Derreter as algemas e passar a usar cordas, de preferência das que ficam espalhadas pelo chão depois de qualquer mercado cigano, para aprisionar a canalha. Fazer um laço tipo cowboy e levar os malfeitores para a prisa puxados pelo pescoço é um gesto que para além de ser altamente recomendável por tão ecológico, dá uma pinta de xerife tremenda, logo, de estatuto.

d) Trocar as armas por fisgas. Um pau, um elástico e um pedaço de cabedal podem fazer milagres, desde que haja pontaria e algum treino. Se queremos uma polícia sustentável, teremos de trilhar caminhos alternativos e mais ecológicos.

e) Desmantelar os refeitórios, barbearias, oficinas e demais serviços acessórios. A polícia foi feita para prender e proteger os cidadãos e não para fazer “Bacalhau à Braz”, aparar bigodes ou mudar o óleo do chaço. Os agentes podem e devem começar a cravar sandes aos petizes à porta das escolas e infantários, a cortar o cabelo em casa com máquinas dos marroquinos (não custa nada! Eu próprio o faço!) e a pedir fiado na oficina da esquina. Ninguém diz que não a um polícia. Uma farda, quer queiramos, quer não, mete sempre respeito.

f) Os agentes devem deixar de usar as fardas que são caríssimas e estão fora de moda e devem passar a usar a roupinha que têm em casa. Esta medida tem a enorme vantagem de fazer com que possam estar permanentemente à paisana e consigam assim confundir os larápios. Imaginem a cena, numa ruela qualquer às 3 da manhã:

- “Man, passa para cá a carteira ou levas c’o chino!”.

- “Ó rapaz, mas tu estás fora de ti? Não vês que sou o agente Salvador de Cinfães, destacado nesta esquadra?”
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- “Ó diacho! Sem a farda não o conheci”!
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-“É bem feita, meu malandro! Ora levanta lá as mãozitas que mesmo agora te levo para o calabouço onde irás ressacar de tanta ruindade!”
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- “Bolas, pá! Nunca mais meto daquela erva marada! Eu sabia...”

E tenho muitas outras mas só conto mesmo ao ministro porque senão vocês vão logo feitos invejosas a contar primeiro e dizer que são vossas.
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Convém lembrar, neste contexto, que o nosso Governo deu hoje à Holanda, 200 milhões de euros por 5 aviões em 2ª mão. Muito bom!

Eu só gostava de dizer mais uma coisa: ADORO este país! Se tivesse nascido noutro sítio qualquer, mesmo que tivesse sido na Mongólia, tudo faria e empenharia para emigrar para cá.
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Ah! E lembrei-me de outra coisa! Também concordo que tenham mandado cortar na correspondência da polícia. Se quiserem deixar de me escrever... NÃO ME IMPORTO NADA!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Passerelle XL

Morrer e ir para o céu deve ser coisa do género...

Dizem-me, leio, vejo em todo o lado que as modelos XL estão na berra.

Perguntem-me lá o que é que eu acho disso?

O que é que eu acho disso? Porra! Acho o MÁXIMO! O Máximo e não é o poeta popular que reside aqui connosco na aldeia. É o Máximo, máximo, por ser bom demais!

Eu nunca compreendi de onde é que surgiu aquela ideia das manequins terem de ser estupidamente escanzeladas. Costumava ver as imagens dos desfiles e ficava pasmado com a cena… Parecia um freak show! As grandes griffes faziam gala em escolher como ideal de mulher, umas cachopinhas subnutridas com carinhas de bonecas mas sem mamas, sem ancas, sem fibra, sem alma, sem vida! Como se fossem marionetes! Ai c’a nervos!

Vê-las jingar pelo catwalk, todas desengonçadas, em trote ébrio, a tentar dar passo firme… era confrangedor. Mas quem é que quereria ser assim? Namorar, casar, viver com alguém assim? Nunca percebi… Era demais para mim…

Rei morto, rei posto et voilá! Uma nova era se abre aos nossos olhos e eu estou gajo para encomendar já uns bilhetitos para a próxima ModaLisboa.

Substância, meus queridos e minhas queridas amigas. É tudo uma questão de substância! De matéria, vamos lá!

Nomes como Crystal Renn, Ashley Graham ou Tara Lynn vão brilhar nos tempos mais próximos.

Não tenhamos dúvidas: o futuro é das mulheres roliças, charmosas, curvilíneas, conscientes do seu poder, e… isso sim, sempre bonitas! que só a essas são permitidas cargas e quilos em excesso.

Agora também é preciso que se diga: cheínhas mas nada de bombardeiros, porta-aviões e blindados do género. Depende da altura, como é óbvio, mas tudo o que passe das 6 arrobas já é de arrear e as Vénus primitivas deixaram de ser usar… na pré-história! Cheias mas não a transbordar que no meio… continua a estar a virtude. Essa não muda de lugar!

Digam-me cá os valentões que me lêem… sejamos sinceros… o que é que nos parece mais apelativo? Uma beldade de 30 quilos com as pernocas a tilintar, daquelas que passam por entre as gotinhas de chuva, das que parece que estão sempre esfomeadas e cheias de frio ou um mulherão assim como estes da foto, todas elas sadias, encaloradas, tesudas, cheínhas de espaço e conforto e curvas e refegos para um macho se aconchegar? Ah… elementar, meus caros…

Não brinquem comigo! É outra loiça!

Foi quase preciso chegar aos 40 para o mundo me dar razão. Tarde mas ainda a tempo! E mais vale tarde… isso mesmo! do que nunca!

A moda está de parabéns porque percebeu que nestes tempos de crise mundial, quem mostra as coxas rechonchudas por baixo da mini-saia só revela bonança. Que a vida imite a moda e as deixe passar…

É um regalo… (um doce e lânguido regalo…)

Vou ali assinar a Vogue e já venho!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O canudo





Eu sei que isto é do mais presunçoso que pode haver. Compreendo que critiquem e até sou gajo para assinar por baixo mas já está! Que se amole! Quero lá saber!

E olhem que quem fez isto é um menino que quando terminou a licenciatura, no ido ano da graça do Senhor de mil novecentos e noventa e cinco, pagou quase 15 contos por um diploma, (caso contrário não me passariam a certidão de notas que fazia falta à minha vida para trabalhar e ganhar o meu) que até hoje ainda não foi levantar! Deve lá estar encafuado para uma prateleira bolorenta da reitoria, à espera que eu o chame para os meus braços.

Quer isto dizer que não sou, de todo, do tipo que tem o canudo emoldurado por cima da televisão para impressionar as visitas… mas desta vez apeteceu-me fazer isto. E já está!

De forma que fui hoje à Câmara de Portalegre levantar o certificado da Pós-Graduação em Gestão Autárquica que concluí no ano passado e quando olhei para os documentos, não me contive e sorri…

Recordei uma aprendizagem interessante, uma empreitada que valeu a pena. É certo que o nível lectivo nem sempre foi o esperado (os professores variaram entre o notável e o soporífero e banal); é certo que a organização deixou, por vezes, muito a desejar; é certo que poderíamos todos ter ido mais longe mas o balanço final é certamente muito positivo, e isso é que conta.

Ao ver o certificado, lembrei-me sobretudo dos colegas que conheci, das amizades que fiz para a vida e do quanto aprendemos juntos, até uns com os outros. Um abraço para todos! Recordo-me que na altura combinámos uns jantares mensais para que nunca nos afastássemos mas a vida, sempre ela, e o tempo (ou a falta dele) encarregaram-se de nos apartar, deixando cada um virado para o seu lado. Ainda assim, ficou o afecto, o respeito, a saudade, o que por si já é tesouro suficiente.

Nem imaginam a quantidade de vezes que eu me lembro das massas fritas com café preto no mercado municipal na hora do intervalo, aos sábados de manhã… O que a gente se riu…

Vamos ter que nos juntar todos outra vez, e não há-de faltar muito!

E prontos, assim se plasma o momento para a posteridade e minha memória futura, sim, porque este blogue é cada vez mais o repositório da minha existência, como se fosse um diário vivo que vai crescendo comigo.

Pode parecer mal… mas que sabe bem... ui! Lá isso sabe!