Agora que os sinos tocam a rebate, já ninguém duvida que a crise é de verdade e veio para ficar. Com o fundo deste abismo financeiro bem longe de estar à vista, todos concordam que os tempos são de austeridade e até os que têm de pagar a maior parte da factura (leia-se classe média / função pública) aceitam as privações como sendo o mal necessário para evitar uma catástrofe maior.
Pois eu defendo uma opinião contrária à corrente instituída e acho que o governo deveria poupar… gastando, isto é, criando um prémio para a entidade ou organismo público que conseguisse ser mais radical nos cortes efectuados e assim melhor sucedida na gestão dos seus cada vez mais parcos recursos.
Como devem imaginar, a ideia surgiu-me no duche enquanto ouvia no transístor a ordem de serviço emanada da direcção nacional da Polícia de Segurança Pública com o intuito de conter a despesa e ajudar a equilibrar as contas do erário público.
É bem feita que é para não andarem na Praça do Comércio feitos palermas a perder tempo com modernices tipo as greves e essas coisas de agora.
Das medidas apresentadas, destaco obviamente a do aproveitamento das águas das chuvas para lavagem dos carros, que me parece uma proposta verdadeiramente genial. Sempre achei uma tonteria que os agentes passassem as tardes nas esquadras em camisa de braceletes a puxar o brilho às viaturas em vez de andarem por essas ruas e vielas atrás dos meliantes, pelo que a iniciativa me pareceu do mais acertado possível. Concordo! Os carros das patrulhas são como os tractores agrícolas: querem-se sujos e a cheirar a cavalo. De resto, quem habitualmente os utiliza também não pode reclamar muito. Detidos já estão, pelo que pior é impossível.
Agora é preciso que se compreenda que as medidas só funcionam com a ajuda e a compreensão de todos. Nada de começarem a barafustar por algerozes e outras gerigonças por forma a captarem maior caudal porque senão… não morremos do mal, morremos da cura e não passamos da cepa torta.
Experimentem, por exemplo, quando o patrulhamento for realizado num motociclo e o agente se encontrar na berma da estrada ou junto a uma rotunda, a colocar o capacete sempre virado para cima por forma a poder realizar a colheita no local, caso comece a chover. O percurso até à esquadra para depositar a água num bidão deve ser realizado a pé, em passo curto e linear para gastar menos sola dos sapatos.
E por favor, não se esqueçam de estacionar as viaturas sempre ao ar livre, quer de dia, quer de noite, sobretudo quando o clima estiver instável. As razões são óbvias. As garagens devem preferencialmente ser alugadas aos chineses e à Igreja Universal do Reino de Deus que pagam a tempo, com bons modos e em dinheiro vivo. Pode ser lavagem de capitais? Se sim, ainda melhor. Sempre se poupa a chuvinha que cada vez é, também ela, menos.
A proibição de ver televisão é do mais certeiro que pode haver. Agora que vem aí o tempo frio, era natural que os bares das esquadras se enchessem com rapaziada sentadinha à braseira, a beber chocolate quente e a ver o Gouxa de manhã e o Baião à tarde. O crime dispara sempre nesta altura. Não acho bem é deixarem ver as notícias. Hoje em dia são uma perda de tempo e não se aprende nada. Se fosse eu que mandasse, só deixava ver a “Fé dos Homens”, a meteorologia, o “Euromilhões” com a boazona da Marisa Cruz (quanto mais velha melhor…) e o “Domingo desportivo”, porra, vamos lá, que os homens não são de ferro. Também deixava ver o “TV Rural” (há muitos polícias donos de pequenas hortas, mesmo em Lisboa), mas era se o Engenheiro Sousa Veloso ainda fosse vivo, Deus o tenha em descanso, muitos aninhos sem nós, entre as alfaces e as beterrabas celestiais.
Mas eu também gostava de avançar com algumas propostas de poupança alternativas, todas elas da minha lavra. A saber:
a) Retirar a parte de baixo da carcaça das viaturas e fazer os agentes dar ao pé para a mesma se deslocar. Eu sei que a técnica é antiga e que os Flinstones têm a patente mas não deixa de ser super-adequado para estes tempos de crise. É uma forma de locomoção particularmente interessante para pequenos trajectos citadinos e para zonas planas como a do Calvário, Belém, e por aí. Também tem a vantagem de manter os agentes em forma, evitando assim excessos calóricos.
b) Trocar os apitos por assobios “à pastor”, ou seja, com a boca. Também funciona bem, permite um reaproveitamento do metal dos apitos para, por exemplo, fundir e fazer balas mais económicas.
c) Derreter as algemas e passar a usar cordas, de preferência das que ficam espalhadas pelo chão depois de qualquer mercado cigano, para aprisionar a canalha. Fazer um laço tipo cowboy e levar os malfeitores para a prisa puxados pelo pescoço é um gesto que para além de ser altamente recomendável por tão ecológico, dá uma pinta de xerife tremenda, logo, de estatuto.
d) Trocar as armas por fisgas. Um pau, um elástico e um pedaço de cabedal podem fazer milagres, desde que haja pontaria e algum treino. Se queremos uma polícia sustentável, teremos de trilhar caminhos alternativos e mais ecológicos.
e) Desmantelar os refeitórios, barbearias, oficinas e demais serviços acessórios. A polícia foi feita para prender e proteger os cidadãos e não para fazer “Bacalhau à Braz”, aparar bigodes ou mudar o óleo do chaço. Os agentes podem e devem começar a cravar sandes aos petizes à porta das escolas e infantários, a cortar o cabelo em casa com máquinas dos marroquinos (não custa nada! Eu próprio o faço!) e a pedir fiado na oficina da esquina. Ninguém diz que não a um polícia. Uma farda, quer queiramos, quer não, mete sempre respeito.
f) Os agentes devem deixar de usar as fardas que são caríssimas e estão fora de moda e devem passar a usar a roupinha que têm em casa. Esta medida tem a enorme vantagem de fazer com que possam estar permanentemente à paisana e consigam assim confundir os larápios. Imaginem a cena, numa ruela qualquer às 3 da manhã:
- “Man, passa para cá a carteira ou levas c’o chino!”.
Pois eu defendo uma opinião contrária à corrente instituída e acho que o governo deveria poupar… gastando, isto é, criando um prémio para a entidade ou organismo público que conseguisse ser mais radical nos cortes efectuados e assim melhor sucedida na gestão dos seus cada vez mais parcos recursos.
Como devem imaginar, a ideia surgiu-me no duche enquanto ouvia no transístor a ordem de serviço emanada da direcção nacional da Polícia de Segurança Pública com o intuito de conter a despesa e ajudar a equilibrar as contas do erário público.
É bem feita que é para não andarem na Praça do Comércio feitos palermas a perder tempo com modernices tipo as greves e essas coisas de agora.
Das medidas apresentadas, destaco obviamente a do aproveitamento das águas das chuvas para lavagem dos carros, que me parece uma proposta verdadeiramente genial. Sempre achei uma tonteria que os agentes passassem as tardes nas esquadras em camisa de braceletes a puxar o brilho às viaturas em vez de andarem por essas ruas e vielas atrás dos meliantes, pelo que a iniciativa me pareceu do mais acertado possível. Concordo! Os carros das patrulhas são como os tractores agrícolas: querem-se sujos e a cheirar a cavalo. De resto, quem habitualmente os utiliza também não pode reclamar muito. Detidos já estão, pelo que pior é impossível.
Agora é preciso que se compreenda que as medidas só funcionam com a ajuda e a compreensão de todos. Nada de começarem a barafustar por algerozes e outras gerigonças por forma a captarem maior caudal porque senão… não morremos do mal, morremos da cura e não passamos da cepa torta.
Experimentem, por exemplo, quando o patrulhamento for realizado num motociclo e o agente se encontrar na berma da estrada ou junto a uma rotunda, a colocar o capacete sempre virado para cima por forma a poder realizar a colheita no local, caso comece a chover. O percurso até à esquadra para depositar a água num bidão deve ser realizado a pé, em passo curto e linear para gastar menos sola dos sapatos.
E por favor, não se esqueçam de estacionar as viaturas sempre ao ar livre, quer de dia, quer de noite, sobretudo quando o clima estiver instável. As razões são óbvias. As garagens devem preferencialmente ser alugadas aos chineses e à Igreja Universal do Reino de Deus que pagam a tempo, com bons modos e em dinheiro vivo. Pode ser lavagem de capitais? Se sim, ainda melhor. Sempre se poupa a chuvinha que cada vez é, também ela, menos.
A proibição de ver televisão é do mais certeiro que pode haver. Agora que vem aí o tempo frio, era natural que os bares das esquadras se enchessem com rapaziada sentadinha à braseira, a beber chocolate quente e a ver o Gouxa de manhã e o Baião à tarde. O crime dispara sempre nesta altura. Não acho bem é deixarem ver as notícias. Hoje em dia são uma perda de tempo e não se aprende nada. Se fosse eu que mandasse, só deixava ver a “Fé dos Homens”, a meteorologia, o “Euromilhões” com a boazona da Marisa Cruz (quanto mais velha melhor…) e o “Domingo desportivo”, porra, vamos lá, que os homens não são de ferro. Também deixava ver o “TV Rural” (há muitos polícias donos de pequenas hortas, mesmo em Lisboa), mas era se o Engenheiro Sousa Veloso ainda fosse vivo, Deus o tenha em descanso, muitos aninhos sem nós, entre as alfaces e as beterrabas celestiais.
Mas eu também gostava de avançar com algumas propostas de poupança alternativas, todas elas da minha lavra. A saber:
a) Retirar a parte de baixo da carcaça das viaturas e fazer os agentes dar ao pé para a mesma se deslocar. Eu sei que a técnica é antiga e que os Flinstones têm a patente mas não deixa de ser super-adequado para estes tempos de crise. É uma forma de locomoção particularmente interessante para pequenos trajectos citadinos e para zonas planas como a do Calvário, Belém, e por aí. Também tem a vantagem de manter os agentes em forma, evitando assim excessos calóricos.
b) Trocar os apitos por assobios “à pastor”, ou seja, com a boca. Também funciona bem, permite um reaproveitamento do metal dos apitos para, por exemplo, fundir e fazer balas mais económicas.
c) Derreter as algemas e passar a usar cordas, de preferência das que ficam espalhadas pelo chão depois de qualquer mercado cigano, para aprisionar a canalha. Fazer um laço tipo cowboy e levar os malfeitores para a prisa puxados pelo pescoço é um gesto que para além de ser altamente recomendável por tão ecológico, dá uma pinta de xerife tremenda, logo, de estatuto.
d) Trocar as armas por fisgas. Um pau, um elástico e um pedaço de cabedal podem fazer milagres, desde que haja pontaria e algum treino. Se queremos uma polícia sustentável, teremos de trilhar caminhos alternativos e mais ecológicos.
e) Desmantelar os refeitórios, barbearias, oficinas e demais serviços acessórios. A polícia foi feita para prender e proteger os cidadãos e não para fazer “Bacalhau à Braz”, aparar bigodes ou mudar o óleo do chaço. Os agentes podem e devem começar a cravar sandes aos petizes à porta das escolas e infantários, a cortar o cabelo em casa com máquinas dos marroquinos (não custa nada! Eu próprio o faço!) e a pedir fiado na oficina da esquina. Ninguém diz que não a um polícia. Uma farda, quer queiramos, quer não, mete sempre respeito.
f) Os agentes devem deixar de usar as fardas que são caríssimas e estão fora de moda e devem passar a usar a roupinha que têm em casa. Esta medida tem a enorme vantagem de fazer com que possam estar permanentemente à paisana e consigam assim confundir os larápios. Imaginem a cena, numa ruela qualquer às 3 da manhã:
- “Man, passa para cá a carteira ou levas c’o chino!”.
- “Ó rapaz, mas tu estás fora de ti? Não vês que sou o agente Salvador de Cinfães, destacado nesta esquadra?”
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- “Ó diacho! Sem a farda não o conheci”!
- “Ó diacho! Sem a farda não o conheci”!
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-“É bem feita, meu malandro! Ora levanta lá as mãozitas que mesmo agora te levo para o calabouço onde irás ressacar de tanta ruindade!”
-“É bem feita, meu malandro! Ora levanta lá as mãozitas que mesmo agora te levo para o calabouço onde irás ressacar de tanta ruindade!”
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- “Bolas, pá! Nunca mais meto daquela erva marada! Eu sabia...”
E tenho muitas outras mas só conto mesmo ao ministro porque senão vocês vão logo feitos invejosas a contar primeiro e dizer que são vossas.
- “Bolas, pá! Nunca mais meto daquela erva marada! Eu sabia...”
E tenho muitas outras mas só conto mesmo ao ministro porque senão vocês vão logo feitos invejosas a contar primeiro e dizer que são vossas.
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Convém lembrar, neste contexto, que o nosso Governo deu hoje à Holanda, 200 milhões de euros por 5 aviões em 2ª mão. Muito bom!
Eu só gostava de dizer mais uma coisa: ADORO este país! Se tivesse nascido noutro sítio qualquer, mesmo que tivesse sido na Mongólia, tudo faria e empenharia para emigrar para cá.
Eu só gostava de dizer mais uma coisa: ADORO este país! Se tivesse nascido noutro sítio qualquer, mesmo que tivesse sido na Mongólia, tudo faria e empenharia para emigrar para cá.
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Ah! E lembrei-me de outra coisa! Também concordo que tenham mandado cortar na correspondência da polícia. Se quiserem deixar de me escrever... NÃO ME IMPORTO NADA!
3 comentários:
Fiquei bastante elucidada... gostaria de sublinhar os cortes na emissão do correio.
Eu penso que com tantos cortes, e mais cortes, ainda acabamos todos em picadilho.
o Durão Baroso dizia na altura, que o Guterres nos tinha deixado de tanga, agora ficamos mesmo sem cuecas... Ser portugues e mesmo uma aventura.
A condição social dos portugueses esta cada dia mais afectada, a capacidade de produzirmos riqueza, num pais de tao fracos recursos e quase nula, delinear uma politica que nos faça avançar e uma prioridade.
Esperamos por um milagre.
Nesta manhã tão cinzenta, nada melhor do que ler este seu texto, muito bom, mesmo.
Bom fim de semana
Tareco a próxima vez que fores para os lados de Lisboa tás feito ao bife com o amigo Zé Leon!Abraço e saudações Portistas!!
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