Por me ter sido solicitada pelo meu querido amigo Manuel Isaac, director do jornal, por via telefone, aqui procedo à publicação da minha crónica sobre este Natal conforme saiu no Alto Alentejo, colocada na internet apenas após de ter saído nas bancas, conforme mandam as leis jornalísticas!
Esperando que gostem, desejo a todos um Feliz Natal e um Santo Ano Novo! Mesmo!
Para um rapaz (inho) nascido e criando por estas paragens, o nosso Alentejo, o nosso interior tem um papel fulcral na concepção da personalidade por mais voltas que se possam dar cá dentro e no nosso planeta. Por mais longe que eu fosse, por mais distante que fosse a viagem, nunca acabei verdadeiramente por sair de cá. Fosse ao topo da Europa, fosse a um continente ao lado, por onde fosse mesmo que fosse apenas na imaginação, nunca se deixava verdadeiramente esta paragem, este sentir, este tanto que nos vai cá dentro. Um alentejano nunca deixa de ser isso mesmo, de ver o mundo sob essa perspectiva única, intrínseca, exclusiva! Um dia, uma senhora do meu concelho que muito estimo e pela qual tenho imensa consideração ensinou-me que desde que sejamos iguais a nós próprios, fiéis ao que acreditamos, nada temos de temer seja qual for a plateia e a importância dos que nos ouvem. O valor dessa autenticidade foi-me explicado com exemplos e de uma forma que me há-de acompanhar sempre, desde então!
Para um menino que foi crescido na freguesia da Beirã, bem coladinho a Espanha, houve valores desde essa tenra idade que foram inculcados e estão vivos ainda hoje! Nos anos 80, sem parabólicas, sem internet, sem comunicação e mass media, com muita dificuldade em aceder aos grandes centros divulgadores, existiam forças e valores que se faziam sentir e se faziam ouvir como nunca. Nesse Portugal rural de então, em que a democracia se encontrava a sedimentar, a força da Igreja era muito sentida, ouvida e seguida a todos os níveis desde muito cedo. As palavras, os ensinamentos que eram passados graciosamente na missa dominical eram por todos escutados e existia um esforço efectivo por torná-los realidade. Fazer bem era uma das missões que aprendíamos em crianças e nos esforçávamos por cumprir porque sabíamos que a recompensa, nem que fosse apenas um sorriso ou um gesto afável, era bem mais reconfortante do que ouvir ralhar ou mesmo um castigo! Eles cumpriam a sua missão de espalhar a boa nova e nós, criancinhas, aprendíamos ali coisas que valiam mesmo a pena e nos esforçávamo-nos para guardar dentro e para todo o sempre.
Mais do que qualquer outro mês, mas até do que Maio, Dezembro era o mês por todos aguardado e muito esperado como sendo um mês em festa: a festa de Jesus, a dos seus ensinamentos para a vida e a de Natal. Festa de todos, festa dos amigos, festa da família, festa de união, uma verdadeira festa em unidade! O Natal começava para nós bem cedo com a apanha do pinheiro, a recolha do musgo nos campos, a decoração geral e minuciosa da igreja… o Natal não era só a festa de um dia… durava um mês todo a preparar e a celebração não tinha comparação possível no ano inteiro. O ar que se respirava e cheirava na igreja nesses dias não tem nem tinha comparação com o do resto do ano. Era um ar de gala.
O Natal que se vivia nesse então era passado para as nossas casas numa escala adaptada ao espaço e ao número de pessoas mas o sentimento era o mesmo! Em casa esforçávamo-nos por ser tudo convenientemente adaptado e aprendemos a saber a lição natalícia na ponta da língua. Há coisa, muitas coisas que guardamos em pequeninos e duram para sempre. O Pedro que se colocava então a ver as faúlhas do lume do galo a subirem para o céu estrelado ainda cá está! É o mesmo! Essa assombração, essa magia tranquilizante ainda hoje se mantém!
Eu acredito no Natal e na sua magia. Sempre acreditei! Vejamos nós o Natal como uma fábula de que o amor é grandioso, que se pode ser rei sem ostentação e luxos, que se pode ser íntegro e verdadeiro, que se pode triunfar valendo só por si, que somos todos iguais, filhos de Deus e a crescer… Tomemos nós uma das versões bíblicas verídicas ou uma das muitas adaptações… o enriquecimento que se obtém é imenso e vale por tudo!
Este Natal, guardou-se e trouxe-me a maior das prendas: o regresso à vida, à minha família, aos meus, a casa, à minha terra depois de um trágico acidente de motorizada que me deixou 3 semanas em coma e me fez lutar (sem eu me aperceber disso mesmo) pela vida. Não pensem que por ser um acidente deste género, teve origem numa mota de uma grande dimensão (afinal era apenas uma Vespa antiga de 50cc.) nem foi muito aparatoso (foi apenas uma queda junto a um cruzamento perto de casa) mas as consequências e o movimento do cérebro dentro do capacete, essas sim, foram mais complicadas. Desde Julho estive sempre internado até agora, Dezembro. Mas graças a Deus e por ser Natal, a altura do regresso não podia ser melhor!
Ainda falta muito movimento, muito equilíbrio a este Pedro recuperado que tinha um score de 6 numa escala de 0 a 20 (vim depois eu a saber e a apanhar nas conversas entre os médicos em Lisboa) mas ele está a recuperar nessa imensa caminhada para voltar a estar bem e em forma, disposto a tudo para aproveitar esta oportunidade, este renascimento único, esta nova hipótese na vida. Por isso, para todos os leitores que me seguem com atenção, eu tenho uma lição de vida para vos passar: nunca desistam, acreditem sempre, nunca baixem os braços, puxem sempre por vocês por muito que vos custe e ainda que não saibam qual vai ser o desfecho porque uma coisa é certa: se não forem vocês a puxar… Há que ter força e começar do zero, do nada, reaprender tudo! Só com humildade, só com muita honestidade e espírito de sacrifício se conseguem as coisas grandes que valem mesmo a pena. Aproveitem a força da família, dos amigos, de quem vos ama e vos quer bem para conseguirem potenciá-la ao máximo!
Há viagens, há experiências que valem muito mais a pena se forem assim: conseguidas por todos! Já agora, se não nos virmos até lá: desejo-vos um feliz e santo Natal repleto de tudo o que mais desejam. Que seja um óptimo Natal! Pensem e sintam isso!
4 comentários:
Não nasci nem fui criada na aldeia, mas cresci com esses valores, com o verdadeiro espírito do Natal e orgulho-me de que todos os ensinamentos e valores recebidos dos meus pais terem sido transmitidos por mim e pelas minhas irmãs aos nossos filhos e é com esperança renovada na malta mais nova que vejo os meus sobrinhos-netos a receberem tão bem tamanho testemunho. Natal é Família.
Um Feliz Natal
Um abraço
Fantástico!
Keep Going!
abraço e Bom Ano
abraço e Bom Ano
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