Um dia muito importante na minha religiosidade, na relação com o que me supera, com o que não controlo e na instituição que se gerou na terra à sua imagem.
Na minha Beirã natal, ia sempre à missa, como todos os miúdos da minha idade, muito pela influência materna e pela "pressão" social para que assim fosse. Mas a miudagem distraía-se com tudo e divertia-se com o nada que os levasse para longe dos ritos enfadonhos e sempre iguais. As missas eram todas iguais. Não promoviam grandes mudanças, apenas acertos. Mas esta, de quarta-feira de cinzas, que põe fim ao deboche carnal do carnaval e penintencia à entrada na quaresma, antecâmara da Páscoa, marcou-me para sempre. Quanto mais não fosse pelo inusitado do cenário: o sacerdote a fazer uma cruz na testa com cinzas, enquanto dizia em voz monocórdica: "lembra-te que és pó... e em pó te hás-de tornar.
Não mais me saiu da testa, por mais banhos que tome. Consciência do efémero disto tudo. Reforçada em muito há 4 anos atrás, quando mergulhei noite dentro no desconhecido.
Se todos pensassem nisso todos os dias, tanta vez quanto eu; ao acordar, durante o dia e ao deitar; o mundo seria certamente um lugar melhor para se viver. Sem invejas, sem ostentações, com mais respeito por nós e pelos próximos.
Quarta-feira de cinzas. Dia grande para mim.
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