Eu
queria ter escrito sobre o dia de ontem. Queria mesmo porque foi muito especial.
A minha Alice celebrou 6 anos desde o dia em que chegou a este mundo, como
relatei aqui, neste blogue.
Mas
ontem estava tão cansado de ter dado tanto de mim; de me ter entregue tanto a ela
e às suas alegrias e brincadeiras que cai na cama esgotado, sem ter forças para
mais.
Tirei
o dia de férias, que elas existem para isso mesmo, para vivermos os dias
importantes perto de quem mais queremos também. Eu e a mãe, não trabalhámos
para podermos ter o dia todo para ela.
A
Alice queria ser a princesa Elsa do Frozen. A avó Jacinta, mãe da mãe, a
esmerada avó Jacinta, criou-lhe um fato igual ao dá princesa e a vizinha Rosa
Guedelha fez questão de lhe fazer a trança para que ficasse mesmo igual. E
ficou. Mas ela queria o cabelo branco como a original e a mãe Cristina não foi
nessa. Eu, pai louco, tinha assinado de cruz. Só se faz 6 anos uma vez. Mas eu…
homem… tenho de me dar feliz por poder estar a ver e a viver isto. E chega…
A dada altura, de manhã, em casa, quando a mãe
saiu para a ajudar a avó a confecionar o lanchinho para tanta criançada, quando
fossemos apanhar os coleguinhas na escola, disse-me “estava a ver que este dia
nunca mais ia chegar… (suspirando), eu nem acredito!”
Passeamos
o Sizzle que parece que estava louco também a cheirar a alegria no ar. Comemos
um almocinho rápido, a preparar para o que haveria de vir a seguir, e às 3
horas em ponto lá estávamos, para irmos à sala e chamarmos a turminha. A festa
Frozen seria na garagem dos avós, a poucos metros da escola, que estava livre e
decorada como se fosse uma unidade sempre em festa à espera da criançada. O
reino gelado tinha ali chegado. Não foi um espaço preparado com muito dinheiro,
algum pouco dinheiro, mas decorado com algo que muitas crianças infelizmente
não têm: AMOR. Muito amor. UM amor terno, verdadeiro, empedernido, comovente
até para quem está no meio.
Dei
por mim a pensar nisto tudo e a pensar se faremos bem, se o caminho será por
aqui. Se a Alice será daqui a amanhã, uma criança que sabe estar e ajudar,
justa, solidária, amiga. E acalmei-me a pensar que nós temos de dar o melhor
que temos, que estimar e acalentar esta semente que tanto queremos desde a primeira
hora, e esperar que dê frutos, que sejamos recompensados com uma criança que
será merecedora e nos fará sentir recompensados por tudo o que lhe demos.
Eu
lembro-me que aos 6 anos, os meus pais me ofereceram uma bicicleta Janota (de sua
marca), cuja foto está para aí guardada num dos meus arquivos digitais. Eu de
pijama, desdentado, a sorrir com ao volante da Janota no corredor da minha
casa.
À
Alice vejo-a mais madura, mais senhora de si do que eu acho que era na altura.
A
mãe defende-se sempre das quezílias generation gap que tenho com a mais velha,
a que era a minha Leonor (que agora vive lá na estratosfera e está inalcançável),
dizendo “tu estás sempre a defender a mais pequena”.
“E
como não?, se é o elo mais fraco da rede? Tenho mesmo de a defender! Esta era
aquela que custou a chegar. A que tivemos de pedir e acreditar muito para que
viesse. E que Alice (chamada como a nossa vizinha de Marvão então) é esta… A
Alice é um poço de força e vivacidade. A Alice é como os seus caracóis, fortes,
ternurentos, rebeldes. A Alice é uma mãe Cristina em ponto pequeno; mas também
louca e brincalhona como o pai. A Alice adora andar de patins em linha em casa,
jogar no tablet e no computador da mana. A Alice domina e brinca com as gravações
automáticas. O comando do MEO nas mãos dela é… um domínio como eu nunca vi. Tem
personalidade para dar e vender. Tem o seu tempo e o seu espaço. Que criança é
esta em que lhe vou dar um beijinho à cama de manhã a desejar-lhe bom dia e me
responde: “ó pai, já?!?!? Estou a acordar!”
É
capaz de ir do melhor ao pior numa fração de segundo. É capaz de me enxotar agora
e depois me dizer agarradinha ao meu pescoço: “és o meu melhor pai de sempre!”
(frase chavão nela)
Nunca
vai para a cama sem mim, sem as cambalhotas no colchão; sem o trapézio em que lhe
seguro os pés e fica com a cabeça a centímetros do chão. A mãe, incrédula de
cada vez que vê, diz: “MAS QUE GRAÇA É
QUE TEM ISSO?!?!?”
E
eu digo-lhe baixinho: “toda, Alice! É ver o mundo ao contrário! Ela é que já
não se lembra! Já cresceu! É adulta!” Mas eu não e a Alice sabe. Ela sabe que
vivo num mundo dentro de um corpo de 42 anos mas a minha cabeça diz que o herói
de sempre é o Peter Pan. Eu já tenho quase 1 metro e 80 (falta apenas 1
centímetro), trabalho no mundo dos grandes, pago as contas, tento fazer aquilo
que os grandes fazem mas nunca por nunca conseguirei olhar para o mundo sem ser
com estes olhos de criança. Há quem diga que isso aborrece, mas também há quem
diga que o meu fascínio é mesmo esse: ver o mundo pelos olhos deles. Que ele
assim é muito mais divertido e engraçado.
A
Alice levou-me há dias ao cinema. A mãe, que trabalhava nesse sábado, disse que
tinha visto que haveria matinée baseada na obra o Principezinho em Castelo de
Vide, e nós, fomos os dois. Tenho uma paixão assolapada por cinema e não ia há
muito tempo. Ir pela mão dela e para ver aquele filme, teve um fascínio
adicional.
Conta
a história do principezinho de uma forma adaptada, através de uma menina cuja
mãe quer calendarizar e cronometrar tudo para que um dia seja alguém, mas se
esquece que o grande fascínio da vida é poder viver cada dia de sua maneira,
sem limites e com liberdade. O filme é lindíssimo e no final só não me coreu um
a lágrima porque o acidente me tirou essa capacidade de deixar sair a emoção. A
grande lição que lhe recordei no carro enquanto lhe ia perguntando o que tinha
achado, para ver se tinha apanhado bem a coisa, foi que o mal não é crescer (que
tem de ser). O mal é esquecer (como tudo era bom).
E
por isso lhe disse que o pai faz um esfoço todos os dias por se lembrar daquilo
que é mesmo bom e importante. É por isso que o pai nunca há-de crescer, há-de continuar
a dizer sempre aquilo que lhe parece engraçado e divertido. Disse-lhe que o meu
pai também era assim.
Fomos buscar os amiguinhos à escolinha e tivemos a ajuda do chapeleiro louco da Alice no País das Maravilhas, também chamado Vera Barroqueiro, que nos encontrou nessa altura e foi um achado e o segredo para domesticar esta cambada doida por doces e maluqueiras. Com pinturas e balões, com muitas brincadeiras e boa disposição, conseguiu manter o povo feliz e calmo. A
festa prolongou-se pela noite dentro e ficou recheada com amigos que também têm
meninos da mesma idade e nos convidam para os anos deles e divertimo-nos. Fomos
felizes.
Pensei
duas vezes se haveria de escrever este texto. Vive-se agora aqui em casa uma
fobia à internet provocada pelo facebook, que come os meninos e as perseguições
e blá, lá, lá - blá, lá, lá. (Não sei onde é que foram ver desta!)
Duas
certezas me deram luz verde para continuar.
1
- Sempre escrevi sobre a minha vida no meu blogue. Escrevi sobre as mulheres e
as crianças da minha vida e nunca me as
roubaram, ou raptaram, que diacho! O meu blogue sempre me deu muito mais alegrias
e… agora que penso nisso, acho que nunca me deu nenhuma tristeza. Eu sei que
este desabafo virtual (já com quase 10 anos, mais de 500 mil visitas) é um
património de que se orgulha um jornalista que nunca exerceu, e se vendeu à
causa fiscal.
http://vendoomundodebinoculosdoaltodemarvao.blogspot.pt/2007/12/ai-o-natal-esse-malandro.html
2
– Tenho muito poucas certezas. Mas tenho por certo que as minhas filhas terão
um dia orgulho, quando lerem aquilo que escrevi sobre elas e se regalarem ao
saber a força do meu Amor por elas. Que é incomensurável!
Amo-te
ALICE!
1 comentário:
Muitos parabéns, Alice.
Desejo-vos muitas alegrias, saúde, amor e que continuem a ser felizes.
Um abraço
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