Todos nós que vivemos,
temos a ideia que a nossa morte há-de ser assim algo de diferente,
cinematográfico, épico. Ninguém espera morrer de uma miudeza, um azar, uma
distração, um acaso. Todos nós, mesmo que não o digamos, acalentamos, em
segredo e em suspenso, a ideia de que a nossa morte há-de ser algo de
contornos especiais, assim num cenário… digno. Descartando ingenuamente a
hipótese de tal fim suceder por motivos inesperados, sem sentido, todos achamos
que merecemos um final apoteótico.
Em contraste com a entrada para o lado de lá (o reino dos céus, para os católicos; o Jannah, para os muçulmanos; ou o Tian, para o chineses tradicionais); a ideia de que pode tudo acabar aqui, torna, na minha opinião, a nossa existência na coisa mais redutora que consigo imaginar.
Em contraste com a entrada para o lado de lá (o reino dos céus, para os católicos; o Jannah, para os muçulmanos; ou o Tian, para o chineses tradicionais); a ideia de que pode tudo acabar aqui, torna, na minha opinião, a nossa existência na coisa mais redutora que consigo imaginar.
Posto isto, tenho de vos dizer que há momentos que se vivem na vida, dos quais já temos as maiores expetativas, mas que ainda assim, tudo superam; e acabam por se repetir sempre com a mesma intensidade (6ª, já!), que por muitas palavras, muita retórica que se tenha, não se conseguem explicar.
Ainda assim, tenho de tentar.
Se há alguns momentos de transcendência que se
podem viver nesta nossa passagem terrena; a missa desta manhã, no Convento de
Nossa Senhora da Estrela, no largo do Cubelo em Marvão, integrada na 6a edição
do F.I.M.M.(Festival Internacional de Música de Marvão), foi qualquer coisa
de... qualquer coisa.
A missa de Mozart, interpretada pela Orquestra de Câmara de Colónia, e pelo coro Ricercare, encheram a igreja, a alma e os corações de todos os presentes que acorreram em número suficiente para encher a nave central.
Aqui, tenho de fazer um
agradecimento muito especial à minha mãe Alzira Sobreiro, que foi bastante
cedo, ainda antes de encerrarem as portas para a posterior entrada geral, bem
como às suas colegas de banco (amiga Gina e querida Sandra...), que se
apertaram para me deixarem lá caber.
Foi uma posição absolutamente privilegiada para
assistir a algo único!
A oração dos fiéis,
proferida em diversas línguas foi um momento marcante, de como a música pode
unir tantas visões do mundo.
A certo ponto, dei a mão à minha mãe e disse-lhe baixinho: fecha os olhos, como eu.
Ela respondeu: já estava com eles fechados.
Na verdade, quando conseguimos
resistir à natural tentação de abrirmos os olhos e contemplarmos o bailado da
batuta do maestro, a brilhante execução dos intérpretes, as expressões do rosto
dos sopranos, do tenor e demais cantores… fechávamos os olhos, sentíamo-nos
levitar, e entrar naquilo que nós achamos que deve ser o Céu.
Notável e impagável!
Muitos parabéns!!! A
todos os que tornaram isto possível!!! Todos!!!!
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