Vocês já sabem que não gosto de
falar do que não sei. Por princípio, é sempre assim. É certo que por vezes sou
um bocado expansivo, destemperado, concedo, até talvez um pouco destrambelhado,
mas nunca falo (escrevendo) do que não conheço.
Posto isto, tenho de dizer que
fomos às “7 Quintas”. Quem tem facebook já sabe. Quem não tem, pode saber
agora.
O mano (emigrado em terras dos Al
Gharbs) estava cá, a Mãe convidou toda a família para jantar, e nós, fomos.
Já tenho acompanhado à distância,
o que por lá se foi passando. Certa vez, num passeio de bicicleta à volta de
Marvão, parei-me junto à placa de financiamento, colocada bem à entrada do
empreendimento, e por lá vi que rondava algo como os 2 mlhões de euros, tendo a
boa da Europa financiado cerca de 80 %, para recuperar uma série de casinhas de
campo nas redondezas, e o lagar junto à Fonte da Celorica, que sempre conheci
decrépito, abandonado, sem atividade; para ali instalar um restaurante de
referência da parte norte do concelho.
De facto, enquanto circulava pela
vila, e tomava café, por exemplo; fui acompanhando como um pequeno exército de
profissionais dos ramos elétrico, de refrigeração, de trabalhos de maçonaria, e
carpintaria, se ia cruzando, por lá. Mas nunca fiz ideia do que ali estaria de
facto.
O que eu sim fui vendo à
distância, e até apreciando, confesso, foi a notável campanha publicitária que
se foi corporizando na página oficial do projeto,
e na aplicação do facebook,
que a cada publicação, abria ainda mais o apetite, e a vontade de ver e
conhecer.
O povo, que é sábio, diz que os
olhos são os que comem primeiro, e neste caso, não só se confirma, como não
poderia ter melhor auspicio.
Tendo tido conhecimento da enorme
procura, sobretudo de comensais chegados do lado de lá da raia, liguei com
antecedência para marcar mesa. Procurei o número na net, e do lado de lá,
atendeu-me uma voz masculina, muito simpática e agradável, que quebrou o gelo
quando lhe disse o nome em que poderia ficar marcada.
- “Não estás a ver quem é que te
está a falar deste lado, não?”, perguntou.
- ?
- (risos baixos)
- Eh… Conheço? (voz, e a
delicadeza sobretudo, não me eram nada familiares)
- (mais risos) Quem está sempre
ligado a isto…?
- (Incrédulo!) Paulo?!?!?!?
- Ehehe… Podes vir à vontade que
eu guardo-te cá a mesa…
Mas estás a estranhar porque…
O Paulo Mena, filho de um dos
manos Mena, um irmão do Brito, do Dr. Mena Antunes, que foi atleta de corridas
do Benfica; é um individuo e uma figura que não se adequava, de todo, ao tom do
meu interlocutor nesse então. Um par de anos mais velho que eu, já dentro da
casa dos 50, é dono de uma pose e uma postura que não deixam ninguém
indiferente. Homenzarrão que aparenta metro e oitentas e muitos, com uma
gramagem, que aparenta passar dos 90, e rondar mesmo os 100, tem também mantido
uma forma de lidar com os demais ao longo dos anos, que fala por si. Esse ar de
lutador de Wrestling não se coadunava com quem estava do lado de lá da linha.
Mas era.
- Então?
- Epá, nada. É uma surpresa!,
confessei.
Depois a conversa fluiu para
caminhos que nos levaram, pelas muitas pressões que sofreu até ter conseguido
levar este barco a bom porto, pelas dificuldades que se lhe atravessaram no
caminho, pelo sítio onde trabalho e o relacionamento que tivemos entretanto,
mas… tudo está bem, quando acaba bem.
Nessa tarde, por volta das 19.30h
subimos a encosta, com vontade de chegar com calma e ir apreciando tudo com
tempo. Os acessos, o estacionamento, as entradas, as salas, as mesas, o sítio
onde iriamos ficar, e tudo à volta (que pode ser apreciado nas publicações que
fazem na intenet)…
Claro que a mesa pensada, na
esplanada visível da estrada, seria o local mais aprazível, apesar da
temperatura que refrescava com o entardecer. Ali sentados, todos nos
deslumbrámos com o que se desenhava à nossa frente: o cair da noite, não no
lado mais bonito de Marvão, mas naquele que me diz mais, e é mais “meu”.
Entradas diversas de grande
categoria e qualidade, e uma carta que depois de apreciada, revelava muito do
que se vai ali passar: uma listagem não muito extensa, mas recheada com pratos
muito típicos, nossos, com preços muito em conta, que independentemente de
ainda não se saber muito bem se será estratégia de entrada no mercado, ou ser
será política a seguir, irá certamente marcar posição no panorama da
restauração municipal, para que quem venha por aqui a comer, saiba que do lado
de cá do concelho, também se trabalha muito bem a este nível. É certo que
existem por aqui referências indiscutíveis de belíssima gastronomia, como o
restaurante “Pau de Canela”, o já extinto “Sabores de Marvão”, a inovadora “Mó”
ou até outros especializados na dita cozinha tradicional de Marvão como a Casa
“Saúl”, ou o café “Costa”, na Ramila; mas toda a gente sabe que o leque forte
da gastronomia de Marvão é do lado sul, da Portagem, com os clássicos “O Sever”
e a “Churrasqueira do Sever”, a “Casa Mil-Homens”, o “Calha”, e os mais
recentes, “J.J. Videira”, “O Tachinho”, “A Tapada do Poejo”, o “Café do Prado –
Petiscos da Olga”, “ A Adega” do Porto da Espada, entre outros que eu adoro-os
a todos e se me esqueci de algum não foi por intenção e peço desculpa.
O que eu digo é que estas “7
Quintas” vão fazer mossa.
E já estão a fazer! Entre o staff
comentava-se entre dentes, o enorme sucesso que o bacalao ha tenido ente nuestros
hermanos, que se han quedado de chuparse los dedos. Diz que esgotaram-se sei lá
quantas doses, ó valha-me Deus!
Pois a minha rapaziada foi para
espetadas, bitoques (a pequenada ainda está a aprender a comer…), e eu rolei de
cabeça para o coelhinho com castanhas e arroz com passas… absolutamente
maravilhoso (cuja dose rondava os 10 paus e dava perfeitamente para duas
pessoas comerem. Como só eu quis, e apesar de não gostar de comer muito à
noite, barbeei-o todo, o brrruto!)
A minha mãe reclamou com algum
desgosto, senti eu, “pois, só lá em casa é que não comias coelho.”
- O teu mãe… (pensei mas não
disse, para não ser indelicado.)
Este… estava magistral!
Os cozinheiros são a filha do
Jeremias Marques, o agricultor e produtor que é o meu homem da lenha; e o seu
companheiro. Não sei se é ela, se são os dois, mas curiosamente, encontrámo-los
fortuitamente no parque de estacionamento quando saíamos, após o Paulo ter tido
a delicadeza de nos mostrar os espaços lá dentro, e inclusivamente ajudado a
minha mãe a descer as escadas, dando-lhe a mão. As pessoas… com mudam… ou então
sou eu que sou ainda mais aparvalhado do que penso!
Pois já que falava com os
pequenos, parabenizei-os pela excelsa refeição e sobretudo o coelho que estava…
demais!
- Onde é que aprendeste?
(perguntei eu à pequena, na esperança de me dar uma resposta que tivesse a ver
com a sua estadia no estrangeiro, depois do estudo, ou emigrada…)
- Aprendi com a minha avó!, disse
ela, com ar infantil, de netinha que se comportou muito bem, porque caso ela o
tivesse provado, teria adorado.
Olhem, o que eu vos digo, é que
aconselho o restaurante, e a julgar o resto por esta parte, tudo deve ser
maravilhosos e 5 estrelas.
O Paulo disse-me muitas vezes que
isto fazia falta a ele que lhe corresse bem, mas que fazia falta a Marvão, e a
todos nós.
Eu respondi-lhe que o ter podido
jantar, com aquela qualidade, naquele local que toda a vida conheci abandonado,
era um bálsamo para o meu orgulho marvanense, e me deixava de peito cheio, como
se tivesse muitas ações no investimento!
É de facto deste Marvão que todos
precisamos: cuidado, requintado, virado para o futuro, a dar cartas largas e
passos de gigante no panorama da oferta turística. Até eu, quando passo por lá
de manhã antes de ir trabalhar, paro na Celorica para encher um garrafão de
água fresquinha que brota da nascente interna da serra de Ibn Maruan, olho para
lá, e regozijo.
Boa sorte, companheiro. Toda a
sorte do mundo. É todo um prazer poder ter-te assim.
E um prazer ter podido ter uma noite assim.
Convocados pela matriarca Alzira Sobreiro, (a parte possível) do núcleo duro dos Sobreiros, em 2019, somos isto. ♥️ Felizes. Muito felizes... (por estarmos juntos!) |
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