O resgate dos mineiros chilenos parou e encantou o mundo. Não deve ter havido ponto no globo onde a emocionante operação não fosse o assunto do dia. De olhos colados aos ecrãs da televisão, a humanidade acompanhou em directo o salvamento destes verdadeiros heróis com renovado suspense de cada vez que a cápsula metálica extraía mais uma vida das entranhas da terra.
De facto, esta aventura que felizmente terminou da melhor forma teve todos os ingredientes para nos tocar bem fundo. Teve a desgraça inicial que tudo despoletou, teve sofrimento e incerteza, teve esperança e abnegação, teve tenacidade e sacrifício, teve resistência e heroicidade, teve solidariedade e compaixão, teve redenção e vitória. Não há quem resista a tanto. Até o mais duro e insensível vacila.
Agora imaginem o que foi isto para mim (e vou fazer uma confissão que embaraça qualquer um…) que me devo ter emocionado em 90% das comédias românticas que vi. O que é que querem? Não dá, pá! Já atingi uma fase em que filmes em que o Hugh Grant entre (é o grande canastrão do género, para quem não saiba), já só os vejo sozinho. Serei menos macho por isso? Cá para mim acho que não.
Não quero com isto dizer que alaguei a cozinha de lágrimas ao almoço quando vi as primeiras imagens do salvamento no noticiário da 1 hora. Nada disso, nem de nada que se pareça. A esfregona nem sequer serviu mas que estremeci… lá isso estremeci. E fi-lo porque a cada um daqueles seres pálidos e empoeirados que regressava à superfície, regressávamos nós também. Cada sorriso, cada abraço, cada beijo eram uma vitória da vida e do engenho do homem sobre a morte e contra ela, estamos infelizmente mais habituados a perder do que a ganhar.
Eu senti que também lá estava, que também eu os abraçava, a eles e aos familiares porque apesar de não os conhecer pessoalmente, acompanhei tão de perto a sua luta pela sobrevivência que me achei no direito de, pelo menos mentalmente, também desfrutar do momento.
Dos 69 dias em que estoicamente resistiram enterrados vivos, 17 foram passados na penumbra e na incerteza se seriam alguma vez encontrados. Alimentados por duas garfadas diárias de atum, bebendo a pouca água armazenada na maquinaria que jazia ao seu lado, agarraram-se a essa fé profunda que é tão característica das gentes sul-americanas e sonharam certamente muitas vezes com este momento enternecedor que nos pode e deve servir como modelo a todos.
Num mundo em crise e violento como só o nosso, uma epopeia desta dimensão é coisa para levantar o ego e o astral a níveis nunca esperados. Bem precisamos…
Agora é também hora de voltar à realidade. Livraram-se de um inferno húmido onde reinava a escuridão mas irão necessitar de muito engenho para não se deixarem levar pelas muitas tentações que os esperam. O mediatismo excessivo, a exploração consumista para, por exemplo, campanhas publicitárias, o dinheiro fácil, são alguns dos hábeis demónios terrenos que tão cedo não os deixarão descansar. Mais tarde, quando os holofotes se apagarem (dos 3.000 presentes no resgate, 2.000 eram jornalistas), será a dura volta ao quotidiano e aos problemas que o caracterizam que não raras vezes empurram estes heróis efémeros para o trilho do álcool e das dependências. Longo será o caminho para a felicidade que tanto desejam e merecem. Oxalá consigam atingi-la com um rumo tão certeiro como o da Fénix que os trouxe de volta à vida.
Regressando aos abraços e aos encontros, com tudo isto lembrei-me do… vá… arrebatador início de uma das minhas comédias românticas de eleição: o extraordinário “Love Happens”, que há filmes que valem para o fim para que foram feitos. Sim, sim… podem vir com as lérias que é filme de gaja e mais não sei quê que eu não me importo nada. Foi com ele que aprendi que há pessoas que de tão sós nas cidades, se sentam nas chegadas dos aeroportos, nas estações de comboios, nos terminais de autocarros só para poderem “beber” da emoção de um reencontro.
Está tudo aqui.
Na altura, pensar que isto era possível deixou-me um nó na garganta. Hoje, com os bravos mineiros chilenos, percebi porque acontece.
De facto, esta aventura que felizmente terminou da melhor forma teve todos os ingredientes para nos tocar bem fundo. Teve a desgraça inicial que tudo despoletou, teve sofrimento e incerteza, teve esperança e abnegação, teve tenacidade e sacrifício, teve resistência e heroicidade, teve solidariedade e compaixão, teve redenção e vitória. Não há quem resista a tanto. Até o mais duro e insensível vacila.
Agora imaginem o que foi isto para mim (e vou fazer uma confissão que embaraça qualquer um…) que me devo ter emocionado em 90% das comédias românticas que vi. O que é que querem? Não dá, pá! Já atingi uma fase em que filmes em que o Hugh Grant entre (é o grande canastrão do género, para quem não saiba), já só os vejo sozinho. Serei menos macho por isso? Cá para mim acho que não.
Não quero com isto dizer que alaguei a cozinha de lágrimas ao almoço quando vi as primeiras imagens do salvamento no noticiário da 1 hora. Nada disso, nem de nada que se pareça. A esfregona nem sequer serviu mas que estremeci… lá isso estremeci. E fi-lo porque a cada um daqueles seres pálidos e empoeirados que regressava à superfície, regressávamos nós também. Cada sorriso, cada abraço, cada beijo eram uma vitória da vida e do engenho do homem sobre a morte e contra ela, estamos infelizmente mais habituados a perder do que a ganhar.
Eu senti que também lá estava, que também eu os abraçava, a eles e aos familiares porque apesar de não os conhecer pessoalmente, acompanhei tão de perto a sua luta pela sobrevivência que me achei no direito de, pelo menos mentalmente, também desfrutar do momento.
Dos 69 dias em que estoicamente resistiram enterrados vivos, 17 foram passados na penumbra e na incerteza se seriam alguma vez encontrados. Alimentados por duas garfadas diárias de atum, bebendo a pouca água armazenada na maquinaria que jazia ao seu lado, agarraram-se a essa fé profunda que é tão característica das gentes sul-americanas e sonharam certamente muitas vezes com este momento enternecedor que nos pode e deve servir como modelo a todos.
Num mundo em crise e violento como só o nosso, uma epopeia desta dimensão é coisa para levantar o ego e o astral a níveis nunca esperados. Bem precisamos…
Agora é também hora de voltar à realidade. Livraram-se de um inferno húmido onde reinava a escuridão mas irão necessitar de muito engenho para não se deixarem levar pelas muitas tentações que os esperam. O mediatismo excessivo, a exploração consumista para, por exemplo, campanhas publicitárias, o dinheiro fácil, são alguns dos hábeis demónios terrenos que tão cedo não os deixarão descansar. Mais tarde, quando os holofotes se apagarem (dos 3.000 presentes no resgate, 2.000 eram jornalistas), será a dura volta ao quotidiano e aos problemas que o caracterizam que não raras vezes empurram estes heróis efémeros para o trilho do álcool e das dependências. Longo será o caminho para a felicidade que tanto desejam e merecem. Oxalá consigam atingi-la com um rumo tão certeiro como o da Fénix que os trouxe de volta à vida.
Regressando aos abraços e aos encontros, com tudo isto lembrei-me do… vá… arrebatador início de uma das minhas comédias românticas de eleição: o extraordinário “Love Happens”, que há filmes que valem para o fim para que foram feitos. Sim, sim… podem vir com as lérias que é filme de gaja e mais não sei quê que eu não me importo nada. Foi com ele que aprendi que há pessoas que de tão sós nas cidades, se sentam nas chegadas dos aeroportos, nas estações de comboios, nos terminais de autocarros só para poderem “beber” da emoção de um reencontro.
Está tudo aqui.
Na altura, pensar que isto era possível deixou-me um nó na garganta. Hoje, com os bravos mineiros chilenos, percebi porque acontece.
1 comentário:
Eu defendo que a emoção, com lágrimas e tudo, que se apodera de nós quando assistimos a acontecimentos como o de ontem, no Chile, não tem sexo, não é, de todo, exclusivo das mulheres.
Os homens choram, sim, de tristeza mas também de alegria, aprendi isto com o meu pai.
Um abraço
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