Os filhos do J. R. Ewing à entrada do Dallas |
Reportagem
na prensa há vários dias (trabalhosa, de grande produção textual, gráfica e de pesquisa. As hiperligações garantem a leitura e ócio por muitas horas. Se calhar, é uma das maiores produções desde que tenho o blogue, há já 8 anos. O meu Ben-Hur.) mas ultimamente os
acontecimentos, sempre tantos e tão fortes, foram deixando as rotativas em
stand by sem mandarem nada cá para fora.
Isto
não é para meter inveja a ninguém, nem para armações. Isto é amor e entrega. Vai
por ti, Leonor. Para que quando leias no futuro te recordes do tempo fantástico que passamos juntos. O
cota sempre foi fixe, não foi? Vai por ti.
Eu
estava lá com ela na estreia, quando a levei ao Rock in Rio a ver a Hannah Montana,
há meia dúzia de anos atrás (aqui), antes desta se transformar em Miley Cyrus ea Leonor a passar a detestar por andar a lamber picaretas, alfaias agrícolas e
a dar barraca nos Video Music Awards cheia de coca, álcool, ou outra cena marada qualquer. Já que tinha que ir ao festival e queria tanto… que fosse
comigo e em grande nível.
Então
fomos os dois.
Há tempos incentivei-a a traduzir as músicas de que gostava (aqui) querendo com
isto incutir-lhe que compreender a língua inglesa nos permite descobrir um
universo de palavras sempre presente na música que nos envolve na rádio, na
televisão, nos filmes.
Há
meses, numa viagem a Idanha-a-Nova para visitar a minha avó materna (entretanto
desaparecida), ouvi regalado e em silêncio como cantava every single word de um
tema de uma das minhas bandas favoritas: os Arctic Monkeys (aqui). Que gostava deles,
que gostava muito. Até chegar ao “que vinham cá”. Daí para me pedir para os ir
ver ao Optimus Alive foi um passinho. E eu tenho de confessar para quem não
imagine já que se há sacrifícios que um pai tem de fazer por uma filha, este
não foi um dos que mais me custou.
Se
não comprei os ingressos na net no dia em que foram postos à venda, foi no
segundo ou terceiro que eu sou puta velha nestas andanças, e já bem rodado. É óbvio
que tive algumas pressões internas porque faltava muito tempo, porque não
sabíamos o que iria acontecer até lá (sempre aquilo do acidente…), porque não
era barato… enfim. Quando soube que estava esgotadíssimo por ter conseguido
reunir o melhor cartaz de sempre que o colocou de vez na grande rota dos
festivais alternativos da Europa (ao lado de Glastonbury, Reading - GB; e
Benicássim – SP) fiquei radiante e ao saber que a “conquista” estava feita tive
de dizer a plenos pulmões chez moi: “Filha: O DIA EM QUE VAMOS ESTÁ ES – GO – TA
- DO! (Areops: LOLITA!)
A
miúda andava em pulgas e de cada vez que passava por mim em casa dizia-me:
“faltam X dias… Weeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee…”
Mais uma foto, pai?!?!? Que bom.... É pra guardar, filha... |
Era
uma jornada importante em que EU próprio me iria por à prova. Ir a conduzir
para Lisboa com a responsabilidade de a levar a ela, um dos elos mais preciosos
que tenho nesta vida; conduzir numa cidade onde apenas aprendi a andar de
autocarro e metro (o dinheiro não esticava), onde os carros e as buzinadelas (e
as pancadas?) podem vir de todo o lado confiando a árdua missão de co-piloto
num telefone??? (Meo Drive…); arriscar-me a entrar num festival onde o único
bilhete que tinha era um código de barras da impressão de um bilhete
electrónico?!?!
Conseguir
dar com o estacionamento dos autocarros gratuitos para evitar engarrafamentos;
conseguir descobrir o Alegro em Alfragide de onde partiam; conseguir dar com a
fila (fomos dos primeiros J),
conseguir fazer tudo isto apenas confiando em mim, no meu cartão multibanco e
sem levar a mãe Cristina (que o tem sido sempre depois do acidente) é obra.
Antes
de partir, falei comigo e disse: “Abre a pestana rapaz! Tu já passas dos 40,
que porra! Tens de ser capaz!!!”
Cada
quilómetro era uma meta. Cada meta conseguida era uma proeza. E um alívio.
Chegámos
a Lisboa, demos com o Alegro, almoçamos com o tio Mac, apanhámos o BUS,
conseguimos entrar sem nos revistarem e nos bloquearem e não é que o raio do
papel deu para entrar?!?!?!? Ele há coisas… Isto já não é do meu tempo.
Como
fomos dos primeiros a chegar ao festival também vieram logo umas cachopinhas muito
bonitas o oferecerem um chapeuzinho branco à maneira e uma fita com o programa
do festival para meter ao pescocinho! J Nice! A malta que viesse a seguir que fechasse a
porta:
-
“Eina man, que chapéu tão fixe… onde q’arranjaste?”
-
“Sou rico.”
Fim
de papo.
Pois
o sol estava quentinho e ainda faltavam umas horinhas. Demos uma volta a descobrir
o recinto e ela bufava, soprando baixinho.
“Filha,
um festival é mesmo assim, bebé. Isto não é um concerto e tudo faz parte.
Aprende a olhar à tua volta e a curtir.”
Eu
olhei à volta e custou-me. Tempo de desabafo: quando eu ia a festivais, como
aqui,
ia sempre em grande companhia e estava sempre em vinha d’alho, se é que me faço
entender. Festival é festival e a malta é jovem e é pra curtir. As diferenças
começam logo aqui e eram… imensas, vá. Para já eu ia com a minha filha,
com-ple-ta-men-te sóbrio. O que por si só já é um transtorno porque um gajo
custa a adaptar-se a esta nova condição. Depois, olhar à volta com olhos
lúcidos é muito mais acutilante, frio, lancinante. Como é que eu podia olhar,
apenas olhar! (Fernanda Cristina porque a mulher é um ser tão bonito de se
ver…) SE TINHAM TODAS IDADE PARA SEREM MINHAS FILHAS?!?!? Um gajo esmorece… E
não pode beber uma fresquinha para atenuar é triste.
Vamos passar ao lado, filha. Estas porcarias de stands que arranjam para aqui... Falta de gosto... |
Isto sim! |
Ou isto. Saudades... |
Não tirava de lá os olhos... a ver se via algum herói... |
Falha ENORME na organização: SOMBRAS |
O Mijódromo. Os homens pareciam cavalos, a mijar para a vereda. |
2 destas pra Marvão! |
Passaram
lá à minha volta aqueles bacanos com uma lata gigante de mochila que serviam
imperiais por um tubo à malta que estava abancada, aqueles que eu dantes queria
era dar uma pancada para roubar o saco e só nunca o fiz porque meus amigos mo
impediam.
Um
gajo cheiinho de sede, com a boca a colar, desertinho de um líquido a
escorregar pela goela, impossibilitado de o alcançar pelas filas… com uma ali
geladinha mesmo à mão de semear…
“Tens
sem álcool?”
“Epá,
sem álcool não, man. Só tenho com.”
“Vai
à merda!”
“Desculpe?”
“Nada.
Palerma!
(entre dentes)”
O
Ben Howard abriu as hostilidades. Um cantautor que me pareceu honesto, com
alguns fãs a cantarem em coro lá à frente mas um gajinho fixe para curtir num
barzinho. Nunca num festival. Esforçou-se mas valeu de nada. Aos primeiros
acordes teria dito: “próximo!”
Os
Lumineers eram muito aguardados por mim. Têm uma atitude fantástica que adoro e
agora (novos tempos! J)
o brilhante disco de estreia que juntou Jeremiah Fraites e o melhor amigo do
irmão que a droga levou para sempre está todo aqui . Uma extraordinária forma de
superar o luto que está aqui na íntegra e eu percebo assim quando vou a
Portalegre porque é que a Woodstock onde emprenhei tanto do meu dinheirinho
está agora fechada. E eu com caixas cheias no sótão. L
Banda
folk com atitude completamente rock. Para mim, este primeiro concerto foi o segundo
melhor concerto da noite antes dos Dragões Imaginados. Dois candelabros
suspensos sob o palco, um piano, um violoncelo e muita garra. Momentos altos da
atuação:1 - Quando o vocalista mandou
desligar os telemóveis dos miúdos obcecados em captarem tudo quando as televisões
o fazem muito melhor e com outro detalhe. “Put your cell phones down.
You’re in a live concert. Let´s celebrate!” Que por sorte captei aqui.
2
– Uma versão de stage dive que desconhecia por completo: chair dive. O gajo
montou-se numa cadeira e foi deslizando sob as pessoas com a locomoção ser
feita pelas mãos da audiência. Deslumbrante.
Os
Elbow seguiram-se e podem ser muito bons rapazes, pode ser malta muita fixe lá
do bairro mas espera aí que eu vou comprar uma bifana ou dar uma mijinha. Para
mim, música que nem aquece nem arrefece. Nunca o fez. Têm músicas boas? Estão
muito à frente, eu é que não estou a ver? Pois. Eu também achava que os Cocteau
Twins eram “o rei vai nú com uma gaja que tinha uma voz de anjo” quando toda a
gente os idolatrava. Cá para o Tio Sabi é assim: ou bate ou não bate! Se bate,
quero e como e devoro. Sinto e penso e fico com aquilo.
Estava
eu a falar dos Elbow? E que dizer dos Interpol senão que foram mais um erro
tremendo no line up. Mas o que é aquilo? Mas quem é que no público cantou
aquilo? Quem é que caiu na asneira de lhes dar dinheiro para virem cá? A malta
quase se esqueceu de lhes bater palmas. “Thank You”, dizia ele. Uma trupe de
gajos com ar de mafioso, todos de preto e risco ao lado, fios de prata ao
pescoço por cima da camisa, sempre a mesma voz, sempre as mesmas músicas,
sempre o mesmo tom. Estes gajos precisavam do mesmo tratamento do gajo da
laranja mecânica do mestre Kubrik e ficarem com as pestanas sempre abertas a
verem concertos dos Clash, dos Sex Pistols e dos Pogues para saberem o que é
música ao vivo. Uma festa c******! Posso estar a ser cruel mas de cada vez que
dizia thank you, eu respondia entre dentes: “pede para cagar e sai.”
Eu e os meus primos e os meus irmões sermos muita maus. E estemos fartos desta merda toda! |
Os
Imagine Dragons são outra loiça, feitos de outro material. Formados há 6 anos,
para além de vários EPs, têm no seu disco “Night Visions” um trabalho aclamado
em todo o mundo pela sua capacidade melódica e lírica. Servem muitas vezes de
banda sonora quando corro e cantam-me aos ouvidos. Temas como “Top of the
world”, "radioactive" e “Demons” parece que foram escritos para mim, para ti e todos aqueles
que os sintam como seus. Aperfilhar aqui dá muito prazer.
Cantaram
o “Song 2” do blur e apresentaram-no como um tema de uma banda que os tinha
influenciado muito e ouviram ao crescer. Eu aí meti travão!!!!!
Os
blur? que eu ouvi já homem quando rebentou a britpop, que eu vi ao vivo na
primeira edição da Zambujeira do Mar e levei um selo de uma gaja alemã que quis
disputar comigo a toalha atirada pelo baterista? (Santo murro mesmo em cheio
que acabou logo ali a quezília. Nada fiz para responder e arreou.) Esses blur?
Gosh! Estou a ficar velho.
Para
fechar, os cabeças de cartaz (quem diria quando apareceram imberbes com 15 anos)
que desfilaram estilo. Estão no nível muito alto de quem sabe que é muito bom,
toca o que tem que tocar e a atitude punk já deu lugar à de crooner. Alex Turner
personifica o Johnny Guitar.
Cabelo com muito gel penteado para trás e ajeitado com um pente que trazia no
casaco preto de cabedal. Muito estilo. O puto já foi. A competência toda está na íntegra aqui(até que os gajos não a descubram e a levem). Como são maravilhosos estes
tempos. É desfrutar enquanto dá. NÓS desfrutámos e muito.
Mas
eu somei tudo: o cansaço, o já nunca mais poder beber, as horas de pé que já se
parecem mais com uma obrigação que um prazer, a diferença de idades dos
públicos e disse-lhe: “filha, o pai adorou ter podido vir contigo e tu sabes o
quanto investi (não só mas também em termos materiais) para que isto fosse
possível mas isto já não é para mim. Um festival, mesmo que seja só por um dia,
é pesado. Tu podes vir com as tuas amigas e amigos e o teu pessoal mas… pra mim
já custa. É a altura certa para passar o testemunho. Nunca digas nunca mas…
há-de ser difícil.
Gostaste?
Adorei!
Eu
também. Desta valeu!
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