É... aquilo já tinha aspeto de festival. Um asseio... |
Leonoro, Il Capo, Miccolina |
Até deu para tirar uma fotografia com a equipa da Comercial. Como é que eles deixaram?!? |
Um casamento que vale ouro |
Marvão em represent. Se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé |
As primeiras compras. Umas gomas. Belos 12 anos. |
As gerações Barradas a imitarem o rei Anselmo na Optivisão. |
Pois
que a minha onda é outra e pela minha vontade, a minha noite seria o sábado,
ver aqueles suecos tresloucados que, segundo me garantiram amigos presentes,
foi de arromba. Pois estes meninos que estão habituados a tocar em Reading e
outros grandes festivais por essa Europa fora, chegaram ali e arrasaram. Diz
que as pessoas, mesmo não gostando do som por aí-além, acabaram por ficar até
ao fim. A dar razão ao que digo sempre: quando o artista tem categoria, puxa a
atenção. Vê-se que há ali chama.
Mas
a Leonor, por força que tinha de ir ver o Araújo e eu, como gosto bastante do
trabalho de rapaz, fiz o sacrifício e ofereci-me para ir. As coisas que um pai
faz por uma filha. Como é que é impossível?
Comprei
os bilhetes dos CTT de Marvão (obrigado Maria!) quando estavam já a esgotar e
ainda antes de me aperceber dessa loucura que o rapaz Anselmo provoca nas
pessoas. È uma coisa inexplicável. Para mim, o Anselmo é só um, o meu amigo
João. E o resto é conversa mas este dá uma converseta… bem, já lá vamos.
Saímos
cedinho para fugir a filas e confusões e foi tudo tranquilo até lá, lá e para
estacionar. Tanta volta demos aos comes e bebes para conseguirmos consolar a
barriguinha antes da sessão começar que fomos cair nas mãozinhas do meu
quintalhaço Hélder Pires que nos orientou logo um “reservado”. Foi tudo bem à
maneira e fomo-nos chegando.
Eu
fui lá para ver a coisa e queria mesmo ver tudo. Já tinha dado uma volta pelo
artesanato exposto e cedo percebi que este tipo de feirinhas estão condenadas.
Para já, não há papel. Depois os stands não devem ser nada baratos e para se
fazer algum tem de se penar bem. A malta encolhe-se e quem se safa são, de
certezinha, os das comidas. Para isso nunca pode faltar. Ninguém está para
bibelots, lembranças e tirando uma cena para as criancinhas… viste-o. Os putos
foram-se entretendo nas animações propositadamente montadas para eles e teve de
chegar. De resto, havia um ou outro stand de qualidade mas muitas coisinhas
locais, que não puxam e aparecem porque tem de ser mesmo.
Quanto
aos artistas, abriram os cachopos chamados Capitão Fausto mas de graduação
tinham apenas o nome. Quando muito soldadinhos. Fracos. Um som assim difícil de
se caracterizar. Meio progressivo, meio a espreitar o olho ao alternativo, a
cantarem em português mas num português… para dizer nada perceptível. No hit “Maneiras
Más”:
“Quando o país rebentar,
Fico no meu próprio quarto.
Repito à exaustão até estar
farto.
Defendo banalidades.
Interessam-me as caras e não
idades
Pode ser que eu venha a
controlar.
Se ainda me corrijo é porque
tenho
Um bom conjunto de maneiras
más,
Para chegar a boas conclusões.
Se ainda me corrijo é porque
tenho
Um bom conjunto de maneiras
más,
Para chegar a boas conclusões.
Nuvem que não sei deixar.
Sou a árvore do Outono
Que perde as folhas. Ganha mais
um ano.
Perco as minhas diligências,
Mas vou acumulando referências.
Pode ser que eu venha a
controlar.
Se ainda me corrijo é porque
tenho
Um bom conjunto de maneiras
más,
Para chegar a boas conclusões.
Comentário do tio Sabi: “ó menino, pede para cagar e sai.”
Seguiu-se o prato forte do
cardápio e impressionou. O Miguel surgiu algo eufórico, não porque tivesse
bebido mas porque estava a tocar no Crato(????). Segundo ele um palco muito
importante na carreira dos Azeitonas (provavelmente o pior nome de banda que me
lembro, a seguir aos Kús de Judas), onde também toca, porque foi ali que
sentiram o apoio fundamental para saltar para a fama. O Miguel chegou despretensioso,
simples como ele é. Deve ser um bom rapaz, um gajo fixe para se ter como amigo.
Com uma musicalidade bem moderna e audível, com um substrato muito rico, como
se o Veloso (que só toca) e o Tê (que só escreve) se juntassem no corpo dum
rapazola que faz tudo, afirmou-se ali um compositor verdadeiramente
deslumbrante, capaz de escrever coisas assim de belas:
Reader’s Digest, fado que
escreveu para o Zambujo.
Quero a vida pacata que acata o
destino, sem desatino
Sem birra nem moça que só coça
quando lhe da comichão
E á frente uma estrada não
muito encurvada, atras a carroça
Grande e grossa que eu possa
arrastar sem fazer pó no chão
E já agora a gravata com um nó
que me ate, bem o pescoço
Para que o tremoço, almoço e o
alvoroço demorem a entrar
Quero ter um sofá e no peito um
crachá quero ser funcionário
Com um cargo honorário, carga
de horário, conta picada
Vou dizer que sim ser assim a
sim assinar a rir reader’s digest
Ágeis de sonho que desde
rebento acalento em mim
Ter mulher fiel, filhos fado
anel e lua de mel
Em frança abranda na dança
Descansado ate ao fim
Quero ter um T1 ter um cão e um
gato e um fato escuro
Barbear o rosto pagar o imposto
estou disposto a tanto
Quem sabe a miúde brindar a
saúde com um copo de vinho
Saudar o vizinho acender uma
vela, ao santo
Quero vida pacata, pataca
gravada, sapato barato
Basta na boca uma sopa com pão,
com cupão de desconto
Emprego sossego renego chamego
e faço de conta
Fato janota gota na conta e
nota de conta
Vou dizer que sim ser assim a
sim assinar a rir reader’s digest
Ágeis de sonho que desde
rebento acalento em mim
Ter mulher fiel filhos fado
anel e lua de mel
Em frança abranda na dança
Descansado ate ao fim
Vou dizer que sim ser assim a
sim assinar a rir reader’s digest
Ágeis de sonho que desde
rebento acalento em mim
Ter mulher fiel filhos fado
anel e lua de mel
Em frança abranda na dança
Descansado ate ao fim.
Reparem
bem que na sua banda levou também um magnífico quarteto de metais que com
arranjos fantásticos, vestiu o som de uma forma verdadeiramente impressionante,
encheu o palco e deu um swing irresistível, assim:
Foi
1 hora e 10 m que justificaram e bem a deslocação. Para a companheira tínhamos
ficado por ali. Mas, como eu é que manda, já que tínhamos pago o bilhete, tínhamos
de descobrir o porquê e de onde é que vinha aquele cheiro de gatas ansiosas que
se aproximavam do palco.
Já
disse que para mim, Anselmo há só um, o meu amigo/irmão João e mais nenhum. Mas
deixa lá ver o que é que o gajo tem para dizer. Então aquilo é assim: o bacano é o Júlio Inglésias do
Kuduro. Uma música cachonda, melosa e típica de bar de alterne, sincopada e meio
miada que se cola ao ouvido. Efeito
música de elevador, vá. O gajo nem sequer sabe falar bem. Mete assim uns “jjs”
no final das palavras e aquilo nem é brasileiro, nem angolano, nem inglês. É
uma coisa… estranha. A saber:
Depois
tudo aos gritos por causa “daquilo” e uma mana que estava à minha frente a
fazer um vídeo com o telemóvel que deve ter ficado um must. Ela dançava,
abanava-se toda, levantava e baixava o braço, e deve ter ficado lindo. Se se
atreve a levar os amigos lá a casa para verem aquilo, devem pensar que o telemóvel ficou a filmar no bolso das calças
de ganga dentro da máquina de lavar a roupa.
E
eu pensava: “mas que raio de rádio anda esta
gente a ouvir para saber isto
tudo de cor?” Que cena…
E
o bacano, de óculos escuros à Ray Charles… Será para o estilo? É que de noite…
não deve dar jeito nenhum. O efeito Abrunhosa suplanta o meu grau de conhecimento.
Vi
um bocadinho do sarau e… puta velha nestas andanças, bati de mansinho enquanto
ainda se saia bem a larga.
Olha,
foi bom. Foi muito bom. E isto do Crato… é capaz de não estar nada mal pensado.
Ainda
antes das coisas começarem e os amigos chegarem, bem antes da hora de jantar,
fiquei a olhar o recinto a sós encostado às grades e o meu amigo Hugo Teixeira,
jornalista da praça, passou, riu-se e disse-me “eu sei o que estás a pensar”. Ri-me
e disse-lhe (e acho que não estou a cometer nenhuma inconfidência): “epá, ó
Hugo, não sabia que para além de seres um especialista em touros, também lês mentes…”
-
“Tu estás a pensar no que seria uma coisa destas em Marvão”.
Eu
deixei-me rir e disse-lhe que… sim. Era isso mesmo. Isto era aquilo que o
Marvão Rockfest poderia ter sido se quem mandava e ainda manda não tivesse vistas
curtas e não lhe tivesse cortado as pernas. O Rockfest tinha a grande diferença
deste festival de ter um orçamento mixuruca mas que já primava pela diferença.
Com o apoio da Zona B (alô amigo Nuno Madeiras) e bandas como os Bunnyranch, os
Poppers e os Wraygunn procurava afirmar-se junto de um público mais ecléctico e
específico, apanhar uma franja que se coadunasse às possibilidades diminutas do
espaço. Também tínhamos ambiente, gastronomia, zonas de lazer e zonas de
campismo. Mas porque queriam, deixaram-no secar. Isto apesar de os homens da
Delta, nossos parceiros da Heineken, terem dito na noite do primeiro dia em que
jantaram comigo no Zé Calha, que isto tinha tudo para andar. Descoberto o
filão, só havia que investir. O contrário do que foi feito depois. Morreu.
Deixaram-no morrer.
Castelo
de Vide tem dado passos seguros e de gigante na promoção nacional. Jogada ganha
com o Andanças e o casamento com uma organização vencedora que vai dar muitas
alegrias e trazer milhares. Corre agora a Universidade de Verão que já não
troca a vila apesar de o hotel ser mixuruca e haver bem unidades bem mais
equipadas por esse país fora disponíveis a fazerem tudo para apanhar a
oportunidade. O Crato aliou-se à Comercial e descobriu um joker. Saiu-lhe o
euromilhões que garantiu cobertura nacional e animação nocturna gratuita com os
djs da estação. Um casamento em que o município há-de ter sempre muito mais a
ganhar por ter descoberto um padrinho rico e poderoso que achou graça a esta
localidade no Alentejo. Quanto não vale ter os radialistas a dizerem no ar que
querem ir para lá morar? E se fosse em Marvão?
Mas
Marvão luz com muito orgulho uma feira de produtores locais que anima duas ou
três barracas ali na zona junto à piscina no último domingo do mês. Uma coisa
de dimensão e alta escala. Só temos aquilo que merecemos. Para quem manda, isto
chega para dominar quem está. Como dizia o bom do velhinho Salazar, os
portugueses querem-se com pouca escolaridade para não questionarem e sem a
mente muito aberta para não entrarem em maluqueiras. E assim dominou quase 5 décadas
do século XX.
Como
eu digo, em Marvão, é o que há. E está para durar.
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