terça-feira, 2 de setembro de 2014

Quando eu fui daqui ao Crato ver os aviões (muito à custa da co-piloto)


É... aquilo já tinha aspeto de festival. Um asseio...

Leonoro, Il Capo, Miccolina 



Até deu para tirar uma fotografia com a equipa da Comercial. Como é que eles deixaram?!?






Um casamento que vale ouro

Marvão em represent. Se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé

As primeiras compras. Umas gomas. Belos 12 anos.





























As gerações Barradas a imitarem o rei Anselmo na Optivisão.
  
Pois que a minha onda é outra e pela minha vontade, a minha noite seria o sábado, ver aqueles suecos tresloucados que, segundo me garantiram amigos presentes, foi de arromba. Pois estes meninos que estão habituados a tocar em Reading e outros grandes festivais por essa Europa fora, chegaram ali e arrasaram. Diz que as pessoas, mesmo não gostando do som por aí-além, acabaram por ficar até ao fim. A dar razão ao que digo sempre: quando o artista tem categoria, puxa a atenção. Vê-se que há ali chama.





Mas a Leonor, por força que tinha de ir ver o Araújo e eu, como gosto bastante do trabalho de rapaz, fiz o sacrifício e ofereci-me para ir. As coisas que um pai faz por uma filha. Como é que é impossível?

Comprei os bilhetes dos CTT de Marvão (obrigado Maria!) quando estavam já a esgotar e ainda antes de me aperceber dessa loucura que o rapaz Anselmo provoca nas pessoas. È uma coisa inexplicável. Para mim, o Anselmo é só um, o meu amigo João. E o resto é conversa mas este dá uma converseta… bem, já lá vamos.

Saímos cedinho para fugir a filas e confusões e foi tudo tranquilo até lá, lá e para estacionar. Tanta volta demos aos comes e bebes para conseguirmos consolar a barriguinha antes da sessão começar que fomos cair nas mãozinhas do meu quintalhaço Hélder Pires que nos orientou logo um “reservado”. Foi tudo bem à maneira e fomo-nos chegando.

Eu fui lá para ver a coisa e queria mesmo ver tudo. Já tinha dado uma volta pelo artesanato exposto e cedo percebi que este tipo de feirinhas estão condenadas. Para já, não há papel. Depois os stands não devem ser nada baratos e para se fazer algum tem de se penar bem. A malta encolhe-se e quem se safa são, de certezinha, os das comidas. Para isso nunca pode faltar. Ninguém está para bibelots, lembranças e tirando uma cena para as criancinhas… viste-o. Os putos foram-se entretendo nas animações propositadamente montadas para eles e teve de chegar. De resto, havia um ou outro stand de qualidade mas muitas coisinhas locais, que não puxam e aparecem porque tem de ser mesmo.

Quanto aos artistas, abriram os cachopos chamados Capitão Fausto mas de graduação tinham apenas o nome. Quando muito soldadinhos. Fracos. Um som assim difícil de se caracterizar. Meio progressivo, meio a espreitar o olho ao alternativo, a cantarem em português mas num português… para dizer nada perceptível. No hit “Maneiras Más”:

“Quando o país rebentar,
Fico no meu próprio quarto.
Repito à exaustão até estar farto.
Defendo banalidades.
Interessam-me as caras e não idades
Pode ser que eu venha a controlar.

Se ainda me corrijo é porque tenho
Um bom conjunto de maneiras más,
Para chegar a boas conclusões.

Se ainda me corrijo é porque tenho
Um bom conjunto de maneiras más,
Para chegar a boas conclusões.

Nuvem que não sei deixar.
Sou a árvore do Outono
Que perde as folhas. Ganha mais um ano.
Perco as minhas diligências,
Mas vou acumulando referências.
Pode ser que eu venha a controlar.

Se ainda me corrijo é porque tenho
Um bom conjunto de maneiras más,
Para chegar a boas conclusões.


Comentário do tio Sabi:  “ó menino, pede para cagar e sai.”


Seguiu-se o prato forte do cardápio e impressionou. O Miguel surgiu algo eufórico, não porque tivesse bebido mas porque estava a tocar no Crato(????). Segundo ele um palco muito importante na carreira dos Azeitonas (provavelmente o pior nome de banda que me lembro, a seguir aos Kús de Judas), onde também toca, porque foi ali que sentiram o apoio fundamental para saltar para a fama. O Miguel chegou despretensioso, simples como ele é. Deve ser um bom rapaz, um gajo fixe para se ter como amigo. Com uma musicalidade bem moderna e audível, com um substrato muito rico, como se o Veloso (que só toca) e o Tê (que só escreve) se juntassem no corpo dum rapazola que faz tudo, afirmou-se ali um compositor verdadeiramente deslumbrante, capaz de escrever coisas assim de belas:

Reader’s Digest, fado que escreveu para o Zambujo.

Quero a vida pacata que acata o destino, sem desatino
Sem birra nem moça que só coça quando lhe da comichão
E á frente uma estrada não muito encurvada, atras a carroça
Grande e grossa que eu possa arrastar sem fazer pó no chão

E já agora a gravata com um nó que me ate, bem o pescoço
Para que o tremoço, almoço e o alvoroço demorem a entrar
Quero ter um sofá e no peito um crachá quero ser funcionário
Com um cargo honorário, carga de horário, conta picada

Vou dizer que sim ser assim a sim assinar a rir reader’s digest
Ágeis de sonho que desde rebento acalento em mim
Ter mulher fiel, filhos fado anel e lua de mel
Em frança abranda na dança
Descansado ate ao fim

Quero ter um T1 ter um cão e um gato e um fato escuro
Barbear o rosto pagar o imposto estou disposto a tanto
Quem sabe a miúde brindar a saúde com um copo de vinho
Saudar o vizinho acender uma vela, ao santo

Quero vida pacata, pataca gravada, sapato barato
Basta na boca uma sopa com pão, com cupão de desconto
Emprego sossego renego chamego e faço de conta
Fato janota gota na conta e nota de conta

Vou dizer que sim ser assim a sim assinar a rir reader’s digest
Ágeis de sonho que desde rebento acalento em mim
Ter mulher fiel filhos fado anel e lua de mel
Em frança abranda na dança
Descansado ate ao fim

Vou dizer que sim ser assim a sim assinar a rir reader’s digest
Ágeis de sonho que desde rebento acalento em mim
Ter mulher fiel filhos fado anel e lua de mel
Em frança abranda na dança
Descansado ate ao fim.

Reparem bem que na sua banda levou também um magnífico quarteto de metais que com arranjos fantásticos, vestiu o som de uma forma verdadeiramente impressionante, encheu o palco e deu um swing irresistível, assim:






Foi 1 hora e 10 m que justificaram e bem a deslocação. Para a companheira tínhamos ficado por ali. Mas, como eu é que manda, já que tínhamos pago o bilhete, tínhamos de descobrir o porquê e de onde é que vinha aquele cheiro de gatas ansiosas que se aproximavam do palco.


Já disse que para mim, Anselmo há só um, o meu amigo/irmão João e mais nenhum. Mas deixa lá ver o que é que o gajo tem para dizer. Então aquilo é assim: o bacano é o Júlio Inglésias do Kuduro. Uma música cachonda, melosa e típica de bar de alterne, sincopada e meio  miada que se cola ao ouvido. Efeito música de elevador, vá. O gajo nem sequer sabe falar bem. Mete assim uns “jjs” no final das palavras e aquilo nem é brasileiro, nem angolano, nem inglês. É uma coisa… estranha. A saber:




Depois tudo aos gritos por causa “daquilo” e uma mana que estava à minha frente a fazer um vídeo com o telemóvel que deve ter ficado um must. Ela dançava, abanava-se toda, levantava e baixava o braço, e deve ter ficado lindo. Se se atreve a levar os amigos lá a casa para verem aquilo, devem pensar que  o telemóvel ficou a filmar no bolso das calças de ganga dentro da máquina de lavar a roupa.

E eu pensava: “mas que raio de rádio anda esta gente a ouvir para saber isto tudo de cor?” Que cena…

E o bacano, de óculos escuros à Ray Charles… Será para o estilo? É que de noite… não deve dar jeito nenhum. O efeito Abrunhosa suplanta o meu grau de conhecimento.

Vi um bocadinho do sarau e… puta velha nestas andanças, bati de mansinho enquanto ainda se saia bem a larga.

Olha, foi bom. Foi muito bom. E isto do Crato… é capaz de não estar nada mal pensado.

Ainda antes das coisas começarem e os amigos chegarem, bem antes da hora de jantar, fiquei a olhar o recinto a sós encostado às grades e o meu amigo Hugo Teixeira, jornalista da praça, passou, riu-se e disse-me “eu sei o que estás a pensar”. Ri-me e disse-lhe (e acho que não estou a cometer nenhuma inconfidência): “epá, ó Hugo, não sabia que para além de seres um especialista em touros, também lês mentes…”
- “Tu estás a pensar no que seria uma coisa destas em Marvão”.
Eu deixei-me rir e disse-lhe que… sim. Era isso mesmo. Isto era aquilo que o Marvão Rockfest poderia ter sido se quem mandava e ainda manda não tivesse vistas curtas e não lhe tivesse cortado as pernas. O Rockfest tinha a grande diferença deste festival de ter um orçamento mixuruca mas que já primava pela diferença. Com o apoio da Zona B (alô amigo Nuno Madeiras) e bandas como os Bunnyranch, os Poppers e os Wraygunn procurava afirmar-se junto de um público mais ecléctico e específico, apanhar uma franja que se coadunasse às possibilidades diminutas do espaço. Também tínhamos ambiente, gastronomia, zonas de lazer e zonas de campismo. Mas porque queriam, deixaram-no secar. Isto apesar de os homens da Delta, nossos parceiros da Heineken, terem dito na noite do primeiro dia em que jantaram comigo no Zé Calha, que isto tinha tudo para andar. Descoberto o filão, só havia que investir. O contrário do que foi feito depois. Morreu. Deixaram-no morrer.

Castelo de Vide tem dado passos seguros e de gigante na promoção nacional. Jogada ganha com o Andanças e o casamento com uma organização vencedora que vai dar muitas alegrias e trazer milhares. Corre agora a Universidade de Verão que já não troca a vila apesar de o hotel ser mixuruca e haver bem unidades bem mais equipadas por esse país fora disponíveis a fazerem tudo para apanhar a oportunidade. O Crato aliou-se à Comercial e descobriu um joker. Saiu-lhe o euromilhões que garantiu cobertura nacional e animação nocturna gratuita com os djs da estação. Um casamento em que o município há-de ter sempre muito mais a ganhar por ter descoberto um padrinho rico e poderoso que achou graça a esta localidade no Alentejo. Quanto não vale ter os radialistas a dizerem no ar que querem ir para lá morar? E se fosse em Marvão?

Mas Marvão luz com muito orgulho uma feira de produtores locais que anima duas ou três barracas ali na zona junto à piscina no último domingo do mês. Uma coisa de dimensão e alta escala. Só temos aquilo que merecemos. Para quem manda, isto chega para dominar quem está. Como dizia o bom do velhinho Salazar, os portugueses querem-se com pouca escolaridade para não questionarem e sem a mente muito aberta para não entrarem em maluqueiras. E assim dominou quase 5 décadas do século XX.

Como eu digo, em Marvão, é o que há. E está para durar.

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