Foto tirada há minutos, a cavalo na sua prateleira. Está de volta! :) |
Folhetim
que para ser compreendido,
deve
ser lido a começar pelo fim.
A reclamação
Movido
pelos comentários de todos vocês, e muito em particular pelo meu amigo e antigo
colega de Rádio São Mamede, Ilídio Pinto Cardoso, cuja abordagem do assunto me
foi contada pela minha Cristina à hora de almoço enquanto bebíamos café… lá concedi
e esbocei uma reclamação que me dei ao trabalho de ir a Castelo de Vide escrever
no livro amarelo. Como cheguei faltavam já 10 minutos para as 19 h, o espaço para
a redacção era diminuto e as senhoras da receção não tinham culpa de nada, tive
de abreviar e mesmo assim terminei quando já passavam 10 minutos das 19h. Outra
vez, as minhas desculpas para elas e para o Dr. Vitoriano que, coitado, me deve
ter visto com um ar tão compenetrado e sorumbático que deve ter estranhado.
Realmente, o Pedro é mais alegre mas doutor… a missão era séria. J Te invitaré a una cerveja para
encerrarmos la question. Amigos como dantes. Vale?
E
dizia assim na íntegra, antes das amputações que fui obrigado a fazer no
momento:
Pedro
Alexandre Ereio Lopes Sobreiro, cidadão português nº 1------3 com o número de
identificação fiscal 2------5 vem reclamar da seguinte situação:
Ontem,
dia 19 de Agosto de 2014, pelas 18.45h deu entrada no Centro de Saúde de
Castelo de Vide, o mais próximo da sua residência em Santo António das Areias -
Marvão, para que a sua filha Alice Lança Sobreiro de 4 anos de idade pudesse
ser consultada. A criança tinha temperaturas muito altas, que se manifestavam
desde a noite anterior, e a garganta muito inflamada com pontos brancos, apesar
da medicação que lhe estava a ser administrada desde os primeiros sintomas. Não
tendo melhoras e supondo que necessitaria de um fármaco mais potente (antibiótico),
deslocou-se ao sítio que pensava certo para obter o receituário credenciado que
lhe permitisse a aquisição de um apropriado numa farmácia.
O
médico de serviço em Castelo de Vide, Dr. Rui Alves segundo a informação do
pessoal administrativo de serviço, negou-se liminarmente a ver a criança,
apesar da tenra idade desta, por ainda ter dois ou três pacientes na sala para consultar.
Tal
intransigência obrigou à deslocação ao Hospital Distrital de Portalegre, o que
nos obrigou a percorrer mais de 50 quilómetros e a obter o receituário apenas
por volta das 9 horas da noite. Chegámos a casa depois das 22h, quando tudo
poderia ter sido muito mais célere. Nem o facto de termos entrado ainda bem durante
a hora de serviço, com o centro com a porta aberta, fez com que fossemos
atendidos.
Reclamo
superiormente no primeiro dia em que tive oportunidade para que haja sanções
disciplinares e para que esta situação não se repita.
Eu
sei que há e conheço muitos médicos altamente profissionais e extremamente
competentes, dos quais sou ou passei a ficar amigo pessoal durante a vida. O
meu médico de família é o Dr. José Silva, oriundo de Espanha, um homem e um
profissional exemplar. O seu colega Dr. Vitoriano é outro profissional de exceção
vindo do país vizinho. Sei que não são os únicos médicos de categoria a
trabalhar entre nós. Mas são médicos como este que não quis atender a minha
filha que revoltam as populações e as colocam contra a classe médica.
A
última reclamação que foi feita pela minha esposa há anos atrás, não surtiu
qualquer efeito, o que gera um sentimento de impunidade na classe; e um outro de
revolta na plebe, de onde sou e onde me incluo, com muito orgulho. Não tenho
grandes posses mas tenho a riqueza da escolaridade, sou recto e honesto.
Faço
esta reclamação para que os justos não paguem pelos pecadores.
Faço
esta reclamação em nome daqueles que têm voz mas não sabem falar.
Tenho
dito.
E
obviamente aguardo resposta.
Respeitosamente,
sem mais,
a sentir-se determinado.
Ontem por volta da meia-noite
Amigos e Amigas: muito obrigado pela força de todos. Quando comentei a situação no Hospital de Portalegre, só me apetecia desabafar. Agora, já em casa, depois de muito bem atendido por uma médica de meia idade (um pouco mais que a minha, só um pouquinho…), sinto-me reconfortado. Sinto-me bem.
A jornada terminou já bem depois das 8 e meia e ainda teve uma nuance maravilhosa. Depois do antibiótico e do Ben-u-ron da praxe para a garganta muito inflamada, (sendo os supositórios, por vontade dela, só prá reserva e em ultimíssimo caso), perguntei à senhora do guichet quanto havia a pagar (não fosse o diabo tecê-las) e qual era a farmácia de serviço na cidade, capital de distrito.
- Alegrete.
- ALEGRETE?!?!? (por Deus! Estarei bom da pinha?). A senhora disse…
- Alegrete. Ouviu bem.
Ainda olhei à volta para ver se havia alguma câmara para os apanhados mas aquilo foi mesmo de verdade.
Parei a realidade e fiquei um minuto a pensar em câmara lenta. Em Castelo de Vide fazem-me aquilo, aqui fazem-me isto… começo já aos gritos e sou internado no hospital dos malucos ou meto já uma pastilha debaixo da língua?
Ligámos a amigos que são muito amigos da dona de uma farmácia amiga de há muitos anos e fomos à vila desenrascar-nos. E que bem desenrascados fomos. Como é bom ter amigos e poder contar com eles quando fazem falta. Obrigado Dona Cinda. Obrigado Nandinha e Nani.
A Alice já dorme. Em paz, medicada e longe disto tudo.
Tudo está bem quando acaba bem.
a sentir-se reconhecido.
Ontem, quando faltavam 10 m. para as 19h, ou quando se deu o caso.
O dia de trabalho estava a minutos de terminar e um telefonema de casa deitou por terra o descanso que previa. Afinal a Alice estava pior da febre que a atormentou toda a noite e até levou a um duche frio durante a madrugada para a temperatura baixar. Pontos brancos na garganta remeteram de imediato para Castelo de Vide e o Centro de Saúde mais próximo.
Là chegados, a funcionária torceu logo o nariz. Ainda havia 3 ou 4 pacientes por atender e faltavam 15 minutos para as 19 horas. "Vou ver, mas...", como que encolhendo os ombros. Eu sei e a mãe sabe que a culpa não era sua nem dos seus colegas.
Ainda assim aguardámos alguns minutos até que pouco tempo depois chegou o veredicto de sua eminência chamada (doutor?) Rui Alves que nos mandou encostar à box. Nem por ser uma criança, nem por ser antes das 7h, nem por ser um diagnóstico fácil de fazer e uma prescrição ainda mais óbvia se moveu. Um NÃO e está feito. É mais fácil assim.
A Cris ainda pensou em reclamar, porque tínhamos entrado durante o horário de abertura mas bastou recordar-se da última que fez e não deu em nada para se demover.
É esta, alguma da classe médica que temos, que se julga dona e senhora de tudo, que faz o povo revoltar-se. Por uns minutos...
Eu podia ter-lhe feito uma espera, uma decoração no carro ou noutro sítio qualquer onde libertá-se o meu desagrado. Mas eu não sou dessa estirpe. Apenas grito aqui e sinto-me mais aliviado com isso.
O que assusta neste país cada vez mais bomba-relógio é que os médicos pecadores pelos quais pagam os justos são cada vez mais; e os portugueses capazes da minha reação são cada vez menos.
— a sentir-se embasbacado com o país que temos.
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