Que
me desculpe quem me desafiou mas eu não sou muito bom rapaz para entrar assim em ondas,
sejam elas de solidariedade, de cultura ou de outra coisa qualquer. Por estranho que pareça a alguns menos
bem intencionados, não sou de me exibir. Não sou introvertido, é certo que sou vaidoso, reconheço,
mas quem não o é? Quem não gosta de estar no melhor de si? Mas isto não quer
dizer que gosto de me exibir. Tento passear na passerelle que é a vida e
desfruto daquilo de bom que Deus me dá. Só. E não é pouco.
Tenho
maior respeito pel os bombeiros voluntários de marvão. Ninguém me tira da cabeça
que é graças a eles e aos seu pronto socorro naquela noite terrível que ainda
respiro e estou vivo. Sou sócio e pago religiosamente as quotas. Em sinal da minha gratidão,
darei tudo de mim para que à instituição nada falte. Não terei a disponibilidade
e o altruísmo corajoso de quem é um soldado naquela armada da paz, mas
colaborarei em tudo o que me for pedido. Mas esses donativos não serão públicos.
Serão. Apenas serão. Quando puder e achar que tem de ser.
Dos
livros também não vou em ondas. Peço desculpa por ser o “desmancha o prazer de
quem quer saber o que me mudou lendo”. Para já, nunca fui muito de leituras. De ler
livros. Criado numa casa onde os havia às centenas, onde fui muito convidado a
gostar pela paixão materna, enjoei sem lhe agarrar o gosto. Esse, tinha-o pela
minha praia que desde miúdo foi a imagem, o cinema que desde sempre devorei.
Agora, desde que li a placa da farmácia Romba em Portalegre (a primeira vez na
vida que juntei a sonoridade dos caracteres e ainda bem me lembro) leio de
tudo. Jornais, revistas, nets e blogues; nada há que me escape.
Mas,
posto isto e depois de muito ter pensado, acho que nem 10 livros li na vida,
quanto mais. Agora... quanto a aprender com alguns aprendi, lá isso sim, acho que aprendi. “O principezinho” de Saint Exupéry e o mágico “Peter Pan” do escocês J. M. Barrie certamente me influenciaram
porque conseguiram plasmar em folhas de papel todo o imaginário infantil,
aquilo que é ver o mundo pelos olhos puros de uma criança. Vou lá sempre que me
quero recordar desse tempo. Partindo dali comecei a aprender a ser homem seguindo
as coisas dos crescidos com o “Manual do
Lobito” anotado por Lord Baden-Powell que poderia também ser identificado
como o “Manual do Homenzinho” porque os faz nascer.
“O Estrangeiro” de Camus impressionou-me anos
depois pelo absurdo e pela forma cruel de ver o quotidiano e o mundo. Frio e poético.
Passado
isto, Steinbeck trouxe-me poesia, um lento e belo bailado na narrativa de
descrever o mundo à nossa volta. “A Pérola”
de tão bela, tão delicada marcou por ser tão singela e poderosa; mas foi “A um Deus desconhecido” que bateu
fundo e marcou mesmo, pela busca da centelha de espiritualidade que há em cada
um de nós.
Numa
idade já mais crescida mas mais ou menos na mesma altura veio o romance “Siddaharta” de Herman Hesse que conta a
história de Buda e os diferentes estágios e passos para se conseguir a plenitude
espiritual.
Toda
essa espiritualidade era sempre contraposta com o outro lado do vórtice, muito marcado
pela beaten generation com “On the road”de
Jack Kerouac e “Uma Oração Americana” daquele
homem por muitos conhecido como uma rockstar mas que para mim, para além disso,
foi talvez aquele que melhor conseguiu escrever poesia sobre o que é estar
vivo: Jim Morrison.
Termino
com um livro que estou a ler, há meses (“Ser
Espiritual” de Luís Portela, o homem forte da Bial, um médico empresário
dedicado à psicologia e às neurociências), a ler lentamente entre todos os
outros compromissos que já assumi e aos quais não quero falhar.
Ser marido e
ser pai de duas vidas consome imenso tempo. Digo imeeeeeennnnssssooo tempo. Os
espaços entre ver filmes, que apenas têm duas horas de duração, demoram meses.
Quanto a livros… é melhor pensar nisso para depois. Sentar-me num sítio
descansado com tempo para mim e um bom livro por companhia, é um luxo… inalcançável.
Mas
não posso dizer que estou mal ou que queria que passasse depressa. Se este
tempo assim depressa passar… é capaz de passar a vida também.
Sabem
como dizia o outro? Deixem-me estar assim que também sou capaz de não estar
mal.
E
já foram 10?… agora que pensava que nunca lá chegaria…
Para
encher poderia meter um Eça que sempre me assombra pela facilidade com que
trabalha a língua, um Esteves Cardoso que corta sempre a direito e desarma pelo
repentismo ou um Sousa Tavares que realmente escreve muito bem.
O
Livro das Páginas Amarelas ou o de São Cipriano seriam também hipóteses a conjecturar.
1 comentário:
Gostei muito da reflexão sobre aquelas "coisinhas mágicas" que nos levam para outros mundos - os livros!
Muito do que sou, escrevo, penso, atribuo 70 por cento aos livros que li - já tive também mais tempo para o fazer. Eu também sou avessa a essa coisa dos desafios públicos, mas como se tratava de livros...
Obrigada por responder à solicitação e fê-lo de forma intensa - como sempre faz.
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