As
notícias terríveis, porque súbitas e sempre inesperadas, voam mais rápido que o
vento. Soube à porta do meu serviço assim que saí, pela Gracinha que passeava o
seu Bóris, que um terrível acidente tinha vitimado a D.ª Glória. “Eu não sei se
é verdade mas estavam a comentar e… quando é assim… não digas nada…“
A
Dona Glória era a menina Glória, uma figura de sempre de Santo António das
Areias. Sempre a conheci assim e sempre assim continuou ao longo dos anos em
que a vida tanto foi mudando para mim e para todos os que estavam à volta,
minha e sua. Sempre com o mesmo ar, a mesma forma de vestir, o mesmo comércio…
Nunca tivemos grande proximidade, apenas um tratamento circunstacial de quem vive na mesma terra e se conhece de sempre mas o acontecimento choca porque é o partir sem se estar à espera de alguém que não
estava doente para partir. Ainda era uma senhora jovem. Para a sociedade
moderna e a esperança média de vida ainda era expectável que tivesse mais vida
pela frente, que não fosse ainda agora a altura de ir, ainda por cima, num
trágico acidente.
É
um choque que se estende a toda a aldeia porque um safanão destes da vida, que
nos recorda a todos quanto tudo é súbito, assusta. Quando assim é, é natural
que sintamos a nossa condição de mortais e vendo o fim assim agigantar-se à
nossa frente, é provável que durmamos mais agarrados uns aos outros. É provável
que falemos mais com a Força que regula tudo isto. É natural que aspiremos às rápidas
melhoras dos familiares que seguiam no mesmo carro, seu marido e neta, que recuperam
de ferimentos, ao que sei e oxalá, ligeiros. É natural que peçamos por ela, que
partiu e rezemos por ela e por todos os que se viram assim, num terrível piscar
de olhos, privados da sua companhia para sempre. Um abraço extensivo a todos na
pessoa da filha mais velha Natália Batista.
Paz,
à sua alma. Que esteja em descanso.
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