Epá…
desculpem lá outra vez o mesmo assunto mas… o blogue é meu, que porra! Se não
falo aqui… Falo onde? Obrigado.
Sempre
que falo no meu acidente, recordo-me do Pedro Reis, que foi o meu anjo da
guarda. Antes dos incansáveis e valorosos bombeiros de Marvão; antes da prestimosa
Guarda Nacional Republicana (que foi dar a notícia a casa… obrigado, Rui!);
antes do fundamental INEM; antes de todos os profissionais de saúde, que me
ajudaram a conseguir recuperar do nível 6 da escala de traumatismos cranianos
de Glasgow (de 3 a 15, em que com menos 3 pontos que eu, já não voltam 85, em
100), foi ele quem me deu a mão.
O
meu agradecimento será para sempre, enquanto eu viva. Se não tivesse sido ele,
eu já não estava aqui a fazer o que mais gosto: viver. E amar, vivendo.
Nas
trocas de mensagens e agradecimentos da minha mãe, nestes dias, para ele,
apercebi-me mais dos momentos que sucederam aquele instante terrível. Depois de
tantas curvas, tão difíceis, com escarpas junto a elas (Ponte Velha), fui
contra um muro ali, a escassos metros de casa, numa reta. Não acredito em
animais que se atravessaram à frente, nem em “qualquer coisa” que me deu, mas
que foi estranho… foi.
Passado
este tempo todo, o assunto ainda continua a ser tabu.
Porque
a memória me falha, porque o cérebro varreu tudo o que se passou nos momentos e
dias antes, não procuro muitas respostas. Tento encontrar um caminho assim,
olhando para a frente, sem olhar muito para trás. Sei que não ganharei nada e…
prefiro assim.
Mas
um dia, quando calhe, falarei melhor com o Pedro, que está a viver no
estrangeiro, não conhece muito as pessoas e a realidade daqui. Não quero saber
quem foram as pessoas que fizeram isto que conta, nem os dos carros que
conseguiram passar por um acidente, ver que uma pessoa poderia estar a
necessitar de ajuda para poder viver e… não só passarem ao lado, como, ainda
por cima, lançarem impropérios e bocas.
A
natureza geral da pessoa humana é má, invejosa, egoísta, ruim. Um homem tem de
conseguir lutar todos os dias, contra estes elementos, para conseguir ser bom.
Somos tentados a ser assim. É preciso orar, refletir, ter os pés bem assentes
no chão, para conseguir fugir a isto.
A
vida, os ensinamentos, deveriam ser muito mudados para se conseguir isto. Como?
Olhem, por exemplo, todos deveriam aprender nas escolas, onde se ensinam tantas
coisas que de nada valem; suportes básicos para se salvar uma vida humana (como
evitar o engasgamento de uma criança, ou um adulto, que são diferentes; como
ser o primeiro a auxiliar a vítima de um choque elétrico, que não pode ser
tocada diretamente na descarga, senão fica-se lá também agarrado), e sobretudo,
toda a gente deveria ser habituada a olhar, para a cova de um cemitério, onde
se enterram os defuntos. Ensinar aos nossos pares, desde pequenos, que é ali onde
tudo vai acabar. “Lembra-te que és pó, e em pó te vais tornar”, deveria ser um
chavão sempre pendente sobre a nossa existência, como se de uma espada de Dâmocles
se tratasse.
Talvez
assim se fosse ganhando consciência de quão efémero é tudo isto. Quão vago.
Quão fugaz.
Poderia
ser tentado, e sou, a perguntar ao Pedro, se se recorda de quem passou por ele,
me viu a morrer, e assobiou para o lado.
Mas
esse não é o meu caminho. Não sei bem por onde vou, irei por onde Deus quer,
mas sei que não vou por aí.
Eu
nunca, nunca, nunca, fiz nada que quisesse prejudicar ninguém. Posso, admito,
ter estado menos bem nalguns casos. Mas peço que me digam onde, para que eu
possa pedir desculpa, se entenda que o devo fazer. Asseguro é que não foi intencionalmente.
Que
mal poderei ter então feito, para que fosse possível, para alguns seres vivos,
verem-me em tamanha agonia, e assobiarem para o lado? Desenrasca-te? E a sua
consciência? Não têm?
Tive
quem passasse ali, quem não me deixasse, e tive essa luz que me iluminou.
Graças a Deus.
Esses
que agiram de má fé para comigo, esses que me negaram o apoio, hão-de ser
julgados por esses gestos. Nesta vida ou noutra. Mas haverão de um dia, prestar
contas.
Só
me custa é que nesta sociedade em que vivemos, haja tanta mentira, tanta
falsidade, tanta ralé. O ter-me envolvido no movimento político Marvão para
Todos, junto de Homens e Mulheres minhas amigas, de Bem, já me granjeou alguns
afastamentos súbitos de pessoas, que eu só lamento tê-las considerado amigas. E
a vontade de lhe cuspir na cara, de cada vez que me estendem a mão, quando não
tenho coragem para lha negar?
O
tempo tudo traz.
No
meu coração só quero que haja paz, e amor.
O
resto, eu deito fora.
O
meu agradecimento vai para todos os que me ajudaram, os que rezaram, os que
pediram por mim. A minha gratidão é imensurável.
Oxalá,
Deus queira que vos continue a maçar com esta lamechice durante muitos anos.
Obrigado.
Fiquem bem.
Nem
aos que me querem mal, eu consigo querer mal.
Amanheço
a agradecer. Agradecer é a minha última ação do dia.
Eu
sou um bem haja.
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