terça-feira, 1 de agosto de 2017

Saber agradecer (porque para mim, nunca é demais falar nisto…)

Epá… desculpem lá outra vez o mesmo assunto mas… o blogue é meu, que porra! Se não falo aqui… Falo onde? Obrigado.


Sempre que falo no meu acidente, recordo-me do Pedro Reis, que foi o meu anjo da guarda. Antes dos incansáveis e valorosos bombeiros de Marvão; antes da prestimosa Guarda Nacional Republicana (que foi dar a notícia a casa… obrigado, Rui!); antes do fundamental INEM; antes de todos os profissionais de saúde, que me ajudaram a conseguir recuperar do nível 6 da escala de traumatismos cranianos de Glasgow (de 3 a 15, em que com menos 3 pontos que eu, já não voltam 85, em 100), foi ele quem me deu a mão.


O meu agradecimento será para sempre, enquanto eu viva. Se não tivesse sido ele, eu já não estava aqui a fazer o que mais gosto: viver. E amar, vivendo.


Nas trocas de mensagens e agradecimentos da minha mãe, nestes dias, para ele, apercebi-me mais dos momentos que sucederam aquele instante terrível. Depois de tantas curvas, tão difíceis, com escarpas junto a elas (Ponte Velha), fui contra um muro ali, a escassos metros de casa, numa reta. Não acredito em animais que se atravessaram à frente, nem em “qualquer coisa” que me deu, mas que foi estranho… foi.


Passado este tempo todo, o assunto ainda continua a ser tabu.


Porque a memória me falha, porque o cérebro varreu tudo o que se passou nos momentos e dias antes, não procuro muitas respostas. Tento encontrar um caminho assim, olhando para a frente, sem olhar muito para trás. Sei que não ganharei nada e… prefiro assim.


Mas um dia, quando calhe, falarei melhor com o Pedro, que está a viver no estrangeiro, não conhece muito as pessoas e a realidade daqui. Não quero saber quem foram as pessoas que fizeram isto que conta, nem os dos carros que conseguiram passar por um acidente, ver que uma pessoa poderia estar a necessitar de ajuda para poder viver e… não só passarem ao lado, como, ainda por cima, lançarem impropérios e bocas.



A natureza geral da pessoa humana é má, invejosa, egoísta, ruim. Um homem tem de conseguir lutar todos os dias, contra estes elementos, para conseguir ser bom. Somos tentados a ser assim. É preciso orar, refletir, ter os pés bem assentes no chão, para conseguir fugir a isto.


A vida, os ensinamentos, deveriam ser muito mudados para se conseguir isto. Como? Olhem, por exemplo, todos deveriam aprender nas escolas, onde se ensinam tantas coisas que de nada valem; suportes básicos para se salvar uma vida humana (como evitar o engasgamento de uma criança, ou um adulto, que são diferentes; como ser o primeiro a auxiliar a vítima de um choque elétrico, que não pode ser tocada diretamente na descarga, senão fica-se lá também agarrado), e sobretudo, toda a gente deveria ser habituada a olhar, para a cova de um cemitério, onde se enterram os defuntos. Ensinar aos nossos pares, desde pequenos, que é ali onde tudo vai acabar. “Lembra-te que és pó, e em pó te vais tornar”, deveria ser um chavão sempre pendente sobre a nossa existência, como se de uma espada de Dâmocles se tratasse. 


Talvez assim se fosse ganhando consciência de quão efémero é tudo isto. Quão vago. Quão fugaz.


Poderia ser tentado, e sou, a perguntar ao Pedro, se se recorda de quem passou por ele, me viu a morrer, e assobiou para o lado.


Mas esse não é o meu caminho. Não sei bem por onde vou, irei por onde Deus quer, mas sei que não vou por aí.


Eu nunca, nunca, nunca, fiz nada que quisesse prejudicar ninguém. Posso, admito, ter estado menos bem nalguns casos. Mas peço que me digam onde, para que eu possa pedir desculpa, se entenda que o devo fazer. Asseguro é que não foi intencionalmente.


Que mal poderei ter então feito, para que fosse possível, para alguns seres vivos, verem-me em tamanha agonia, e assobiarem para o lado? Desenrasca-te? E a sua consciência? Não têm?


Tive quem passasse ali, quem não me deixasse, e tive essa luz que me iluminou. Graças a Deus.


Esses que agiram de má fé para comigo, esses que me negaram o apoio, hão-de ser julgados por esses gestos. Nesta vida ou noutra. Mas haverão de um dia, prestar contas.


Só me custa é que nesta sociedade em que vivemos, haja tanta mentira, tanta falsidade, tanta ralé. O ter-me envolvido no movimento político Marvão para Todos, junto de Homens e Mulheres minhas amigas, de Bem, já me granjeou alguns afastamentos súbitos de pessoas, que eu só lamento tê-las considerado amigas. E a vontade de lhe cuspir na cara, de cada vez que me estendem a mão, quando não tenho coragem para lha negar?


O tempo tudo traz.


No meu coração só quero que haja paz, e amor.


O resto, eu deito fora.


O meu agradecimento vai para todos os que me ajudaram, os que rezaram, os que pediram por mim. A minha gratidão é imensurável.


Oxalá, Deus queira que vos continue a maçar com esta lamechice durante muitos anos.


Obrigado. Fiquem bem.


Nem aos que me querem mal, eu consigo querer mal.


Amanheço a agradecer. Agradecer é a minha última ação do dia.



Eu sou um bem haja.

Sem comentários: