sexta-feira, 3 de maio de 2019

A vez do Bailinho…




Da sessão fotográfica preparatória que fizemos para o Jantar dos Casados de 2005


Quando ouvi tocar os sinos, perguntei a Cris se sabia quem tinha sido. Ela disse que não, mas que tinha visto junto à casa mortuária, familiares do Rui, que há-de sempre ser conhecido como Bailaradas.


Eu pensei sim… mas não! Não era possível.
Sabia que estava muito doente, dos pulmões, que tinha um cancro, e já tinha visto algures, o sobrinho Vítor Hugo falar numa neoplasia, que deve ser uma forma nova ou mais técnica de se nomear o mal, mas… ainda assim, era cedo.


Perguntas aqui, ali, e tinha sido mesmo ele. Porra! O Bailaradas…
É assim aquela sensação estranhíssima, em que vemos desaparecer atores deste nosso teatro de vida, e nos sentimos assim em suspenso. Mais um… que já foi.


O Rui Manuel Dias da Silva, o Bailaradas, era de uma geração à frente da minha. Sete anos mais velho (é de 66, cumpriria neste ano, em Novembro, 53), andou sempre à minha frente. Não que fossemos amigos-amigos, mas éramos muito mais que meros conhecidos.


Conheci-o quando ele era guarda-redes do Arenense, um desvairado defensor das nossas redes, que não tinha medo de nada, nem ninguém, e se atirava a cada bola como se fosse a derradeira no último partido da vida. O gajo era um temerário, um duro!


Nada estudante, sempre certo na vida dura das obras onde começou bem novo, marcou desde logo a sua posição na vida que lhe fez ganhar a alcunha que sempre foi a sua, a do tal das lendas das jornadas agressivas de vida dura da borga, que dormia em pleno largo Vaz Monteiro para não perder o autocarro para os jogos de futebol. Isto contado pelos seus companheiros de então, que eu nessa altura, eu ainda não andava por cá.


Excessos. Muitos e naturais nessa estirpe de malta que sempre se moveu nesse universo das obras por falta de estudos, mais por remédio, que por opção. A tal do mata-bicho logo pela manhã, para temperar o café tomado em jejum; a da “mil-nove-vinte” (brandy-aguardente 1920) sempre depois das refeições; a das muitas minis ao largar a jorna, a dos maços e maços de cigarros fumados quase em catadupa, de forma obsessiva, sem retirar o prazer do fumo, se é que tal coisa existe.


Para reforçar o desgaste, uma alimentação feita muitas vezes à pressa, baseada no porco que se matava em família, quase sem vegetais, peixe, ou variedade. Pouco variada e escassa, que não havia tempo para isso, e muito menos para o exercício físico, tão fundamental para uma boa saúde. Digo eu. Mas os que têm todos os cuidados e mais alguns, também marcham! Também morrem, também não fica cá para semente!
O que eu acho, é que um gajo tem de usar a cabeça, e perceber que ele há coisas que, basta pensar nelas, para se conseguir vislumbrar o que poderá vir logo a seguir.


E é uma pena, porque o Rui era uma personagem fantástica, que tinha um coração enorme, e desde que ele tivesse, os amigos também haveriam seguramente de ter. Dono de uma gargalhada fácil, aberta, genuína, bem disposta, parecia sempre estar bem com a vida, corresse ela bem ou mal. Sempre se meteu comigo, fosse pelo nosso Benfica, ou por saber que também eu faço por olhar sempre para o lado bem disposto da vida.


Conheci-o mais de perto já quando eu andava a estudar em Portalegre, no 12º, e costumava ir namorar para o muro junto ao tarro, quando o Centro Comercial Fontedeira, estava a ser construído. Nessa altura, ele andava por lá nas obras, e lembro-me bem do tempo em que  também começou por namorar a sua mulher, a D. Judite, a quem apresento aqui as minhas condolências. A ela e aos seus restantes familiares, à querida mãe, que coitadinha, estava tão pesarosa, e tanto agradeceu os sentimentos; ao sobrinho Vitor Hugo de quem sabia que era muito próximo, aos tios, primos, restante família, e ao filho Rui, que perdeu uma peça na sua vida que só quem já não a tem, é que percebe a falta que lhe faz, e irá fazer. 


Sempre que nos víamos, brincávamos; e sempre que nos encontrávamos, era fixe. Na memória ficam alguns episódios muita bem passados como quando fizemos parte da comissão organizadora do Jantar dos Casados, que foi há… (querias, mas se não fosse o Doutor José Manuel Pontífice Baltazar, não ias lá era nunca mais)… 14 anos atrás!!!! O tempo… esse cavalo! Parece que foi ontem, e agora que olho para elas… vejo como tudo passou tanto: O meu Barradinhas estava por metade, eu estava ao dobro (sem fazer desporto, só a enfardar), o Shotôr Baltazar (vestimo-nos de médicos, para a paródia, e alcunha ficou desde então), bem mais encabelado e gordinho, e ele… sempre igual, a ontem.


Andei às voltas nos meus aquivos fotográficos e encontrei estas pérolas, que sabem tão bem de rever.




Hoje, quando publico estas linhas que comecei a desenhar quando o corpo ainda estava em câmara ardente (num caixão sempre fechado… e o mal terrível que o tabaco faz, ou a estupidez que é fumar…); já passou o funeral a que eu fiz questão de vir porque choveu tanto nesse então que temi que houvessem poucos presentes (o que tive a felicidade de reparar que não era assim); já passou o São Marcos, já passou a missa do 7º dia, ontem, e eu estive sempre presente não para que me agradecessem, não para parecer bem, não por pensar que ele me visse, mas porque a minha consciência me disse que assim me sentiria melhor. E assim foi.


À medida que o tempo passa, o passado vai ganhando terreno, e apenas a figura e a lenda vão ficando, porque nem toda a gente será recordada desta forma. Enquanto uns forem lembrados pelas obras, outros pelos feitos, outros pelos filhos que geraram, outros passarão apenas, e haverá alguns que deixaram marca pela forma peculiar como souberam cavalgar a vida que vivia dentro do seu corpo.


O Rui era um desses.


Ainda não houve um vez que tivesse passado em frente, ou ao lado da casinha da camioneta em frente ao Tapas, que os meus olhos, estúpidos, não tivessem passado por lá a ver dele, de perna cruzada, sempre fumando, à espera de uma boca sobre o nosso Benfica.


Fica bem, companheiro. Muitos anos sem nós…
































































































































1 comentário:

luis miguel disse...

Saudades desses amigos todos ,grandes maquinas jamais os esquecerei. Grande jantar dos casados que nos fizemos ,grande bailaradas sem ele nao tinha sido a mesma coisa.

Esteja onde estiver estara sempre no meu pensamento ,passei muitos momentos bons na companhia dele trabalhámos juntos bebemos muitos copos juntos lenbro me uma vez quando eu tinha para ai 15 anos vi a boleia com ele da festa da escusa na famosa mota xf21 azul,chegamos as 5 da manha a s ant e dormimos num ford cortina do joao manuel (batata)só ideias daquela cabeça enfim só mesmo o bailaradas.

Até um dia amigo.