Foi
uma semana de formação nos Mártires da Pátria, perto de S. José, para determinados
funcionários de Autoridade Tributária detentores de uma licenciatura não
específica, ou seja, não direcionada em concreto para a área (contabilidade,
fiscalidade, economia…); mas que têm a ambição de chegarem à categoria em que
deixam de ser adjuntos e chegam ao posto efetivo, principal. Mas foi também uma
semana para ajudar a minha filha Leonor a encaixar-se na grande capital; e
tomar eu, aquilo a que chamo, um banhinho de civilização.
Toda
a gente já sabe de ginjeira que o bicho Sabi não é animal que se dê em grandes
urbes. Se forem daquelas que tenham uma aldeia lá dentro, como o bairro onde a
minha pequena ficará, daqueles que dá para dizer bom dia a toda a gente, de
conhecermos o padeiro, o sapateiro, o homem do talho, a senhora da peixaria, e
o barbeiro, que também há lá! embora eu saiba, e ele também, que não era gajo
para o ajudar a enriquecer; ainda vá que não vá! Mas, quem me tira o cheiro a
campo, a vaquinhas nas estradas onde corro, a ovelhinhas na tapada aqui ao lado
da minha casa à noite, ao meu bar onde tomo a cerveja de glória ao final do dia,
aos meus 5 minutos para o trabalho sem trânsito, tira-me tudo!
Mas…
de quando, em quando… gosto muito de ir ver as montras, de ir andar de metro,
de viajar de pé nos autocarros, de ver gente e o que não vejo por aqui. Assim,
foram 5 dias, 5 noites, de concentração e estudo, mas também para laurear a
pevide.
Há
muitas fotos, muitos momentos lindos a dois, muita coisinha que fica nos nossos
telemóveis, nos nossos discos rígidos, até e sobretudo nos corações, mas há
aqui impressões que gostaria de trocar com os meus leitores, com vocês, a quem
sempre agradeço que me queiram ouvir. Quem é que gosta de estar a falar para
uma parede?
Esta
é uma publicação de muito entretém, que dá direito a muita hora de qualidade,
se forem aproveitados todos os brindes multimédia, séries e documentários.
A
primeira impressão daquela cidade e que gostaria mesmo de partilhar é que esta
Lisboa de hoje em dia, está a anos-luz daquela em que estudei e conheci no início
dos anos 90, quase há 30 anos atrás. Bem, desta vez, eu sai do cinema no
Amoreiras, era meia-noite, e, como não vinha nenhum autocarro… como me farto de
correr por aqui… e aquilo é tudo perto… desci a avenida para o Marquês, e deste
para o quarto que tinha ali por cima dos Restauradores, sem qualquer tipo de
insegurança, sem qualquer vacilação, sempre a cruzar-me com polícias,
municipais e dos outros, turistas nipónicos, americanos e ingleses com sacos
cheiros de compras, e por aí fora. Se fosse no meu tempo… o aqueduto das águas
livres é ali tão perchinho, o Casal Ventoso morava logo na encosta que dá para
a Avenida de Ceuta e… sabem como é que era… desciam para o “56” que me levava
para as Olaias como se fossem figurantes da série Walking Dead, com os braços
magrinhos todos furados, como se tivessem estado a fazer de tapete numa turma
da creche de pontilhado, cheios de caminhos para o tesouro do prazer. Ar
esgazeado, olhos baços, calças velhas cheias de linhas de sangue, totalmente
alienados, enfim…
Já
passou.
Depois,
os alfacinhas deixaram de ser como o namorado da minha antiga senhoria, o
senhor Rogério, o terceiro depois de dois que tinham morrido lá em casa, nas
Janelas Verdes, perto de Alcântara: cabelo curtinho às ondinhas penteadas para
trás, nariz bem vermelhinho e redondinho assim pró inchado, a deixar perceber
que sempre que ia à tasca da esquina não deixava de fazer gasto, e não era bem
em Laranjina C; calça vincada, camisinha de manga curta de malha, palito ao
canto da boca, não fosse estar para comer um petisco qualquer sem se estar à
espera.
Pois
de dia, deu sala de aula, voltámos ao tempo de estudantes, e sobretudo ouvimos.
Assim que deu ordem de largueza, da parte depois das 18h, cada um se moscou
para onde queria e eu, que fui ter com o piquena assim que pude, fiz com que o
banho de civilização fosse de imersão com bolhinhas coloridas e aproveitei para
tentar fazer, e ter acesso a tudo o que me está vedado, na simplicidade
bucólica do sítio onde tenho a graça de viver.
Na
segunda fui aos filmes, coisa que tanto adoro, e faria parte do meu serão tantas
vezes, se tivesse um por perto. Pois se o cinema é paixão, e o Burton, o Lynch,
o Kubrick, são dos maiores profetas; Tarantino é o Midas e se há um novo por
perto, a via encontrada para a sala tem de ser a mais rápida. Qualquer título
da sua obra é uma aula de cinema, e desde as câmaras à história, dos atores escolhidos
aos diálogos, da BANDA SONORA sempre suprema, tudo ali é perdição. Amo, adoro,
quero e espero. Desta vez, a fasquia subiu e já não conta apenas com os atores
de fim de catálogo como o esfuziante Steve Buscemi, ou o já infelizmente desaparecido
Chris Penn, como no início; mas dispõe de duas estrelas de 1ª água de Hollywood,
das mais altas que nenhuma outra desta vez, para encherem uma história que não
é rocambolescamente genial como em “Reservoir Dogs”, ”Pulp Fiction”, “Kill Bill”,
“Jackie Brown”, “Os oito odiados” e “Django libertado”, mas que é um mergulho
profundo na meca do cinema, e num dos episódios mais estranhos e macabros da
sua história, o assassinato da Sharon Tate, a coqueluche de luxo que estava
grávida de Polanski. Tarantino, vale sempre a pena! Nem que seja para ver um
belíssimo Di Caprio com ar lunático a queimar bacanos numa piscina com um lança
chamas industrial. Muito bom.
Isto em excelente companhia! Ai se eu os pudesse casar como fazem os meus primes ciganes... Os filhos haveriam de parecer bonequinhos da Benetton, de tão bonitinhos... Mas enfim... |
Olhem, H3O me gusta! É assim que se diz?!? |
Há
lá idas a Roma sem tentar ver sua santidade, o Papa?!?!?!? Pode um gajo ser
feliz a passar uns dias na capital sem ir assistir a uma “missa” do glorioso na
catedral?!?!? Impossible! Aqui tenho de agradecer ao meu mano João Carlos Anselmo,
o se ter recordado deste jogo nesse dia, e tudo ter conseguido fazer, o meu
amor, para com o meu santo sogro terem esticado a passadeira que nos levou aos
dois, ao piso 1, num lugar central, para uma noite de sonho. Dirão os más
línguas e inbajosos que perdemos, que foi um tropeção, uma cabeçada. Pois digo
eu que de cada vez que ali vou, nem sequer é só o resultado que não interessa,
como a própria exibição da equipa é o que menos conta. Opáh! Aquilo ali é
lindo, é sempre uma emoção, é sempre algo grandioso e uma noite enorme na minha
vida! Os alemãos (escrito mesmo assim) ganharam? Olha, que se Volskswagen pelo
rabo acima! Eu cá fui muita feliz. Chupem!!!
O
mais complicado da noite foi a piquena que nunca mais chegava ao pé de mim, e
eu já a salivar com as imperiais a jorrarem da rulote do Alto dos Moinhos;- e o
cheiro a belíssima sande de leitão de ficar jantado de uma assentada só, por 5
paus, a desorientarem-me (a melhor parte para um pré-jogo, meu querido Rui
Felino! Quem é que depois de conhecer aquilo pela tua mão, quer outra vez as
bancas debaixo do viaduto? Nunca!). Liguei, liguei e ela… nada. Até que me
atendeu e tinha-se enganado. Estava na Buraca, ou noutro sítio de desterro
qualquer e eu, enquanto a aconselhava para perguntar sempre ao condutor que não
custa nada e eles sabem sempre tudo, antes de embarcar, influenciei-a a meter-se
mas é num uber ou num drone qualquer que a trouxesse para ao pé de mim, e me
deixasse ver aquela coisa que queria tanto.
Olha,
entrámos a tempo, correu tudo bem e eu, claro, fiz merda ao tentar encontrar a
cadeira certa, e fui-me sentar junto ao relvado onde não se via nada bem, e…
era o lugar de outros que chegaram logo depois com ar sorumbático.
-
“Na, na”, disse-lhe eu, “olha aqui o número no meu bilhetinho, bébé!”!
-
“Ahhhh… esse é no piso de cima, amor”, disse o gajão. “AA, não é aqui”, ou o
contrário.
-
PARIU!!!! Ehhhhhh… Epá. A gente ajeita-se agora aqui, senão vou a estorvar essa
gente toda, estás a ver? Queres o meu colinho, ou fazes um jeitinho?”
Depois,
foi-se a ver, o nosso lugar era mesmo no sítio mais espetacular, ali ao meio, a
meia altura. 5 estrelas! Tão bom que só faltou… ganhar!
Perderamos... |
Os macacos dos meus amigos do Puorto... |
Dia sim, dia não. Depois de variarmos o peixinho para não comermos sempre carne, já pude ir descobrir se o tremendo hype que há à volta do filme Variações, é apenas o reflexo de uma paixão assolapada de um povo inteiro por um menino que vivia anos-luz à sua frente, que lhe foi roubado pela mais terrível doença do século XX; ou um filme, enquanto obra, que vale algo mais. E vale. Vale cada cêntimo pago em cada bilhete, porque tem um realizador apaixonado que tem a perspetiva certa de dar arte ao público, para que este a consuma e caso queira, admire, venere; e não se esgota na imagem de culto dele próprio como quase todos os portugueses da área sofrem, e por essa mesma razão, é que jamais sairá do casulo.
A
propósito deste cometa encantador, e no seguimento da conversa de hoje com o
meu amigo Dr. Vitoriano de Sanvimed, sai este documentário mágico que passou há
muito, mas estará como a sua música, sempre atual.
E
a homenagem a António Variações
A
banda a seguir, a que quis dar nova vida à alma das músicas que o génio tinha
depositado em cassete, é esta: “Os humanos”, uma superbanda com alguns dos mais
geniais dos jovens artistas da música portuguesa, com a grande Manuela Azevedo
dos Clã (a seguir, também), o grande Camané (gigante do fado em baixa
estatura), ou o querido David Fonseca (um multi-instrumentista multi-facetado).
Para
fechar a semana com chave de ouro, apesar de tanta insistência, fui só,
assistir ao deslumbrante espetáculo “A Severa”, que conta a história desta
icónica figura do fado. Após a magnífica francesinha na Tasca Pombalina do
Rossio, segui só, depois de a ter deixado no autocarro que a levaria até casa.
Enquanto admirava aquilo, só agradecia em silêncio, a sorte que temos de podermos
contar com este La Feria em vida. Que nível absolutamente “a la” Brodway, de
deixar qualquer um rendido.
Por tudo isto e muito mais, agradeço, peço, e agradeço outra vez.
Era
uma vez… uma bela viagem.
Graças a Deus...
Recordando... quando a fomos lá levar...
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