sábado, 22 de fevereiro de 2020

Olha, quero morrer. Deixas-me?



Estes portugueses, são capazes do pior, e do melhor também. Este povo nascido da mistura dos nativos com os invasores celtas, que tem habitado esta zona da península desde o Neolítico, tem dando provas ao mundo, que não é um ajuntamento qualquer.

Povo de descobridores, navegadores, escritores e artistas, conseguiu sempre defender o seu território, e aguentar a força deste gigante que dormia a seu lado, enquanto nunca se coibiu de mergulhar nas ondas do desconhecido, dando novos mundos ao mundo que chegou a dividir com os vizinhos espanhóis em Tordesilhas. Globo noqual descobriu países e deu a primeira volta integral. Nele nasceram prémios nobel da ciência e da literatura, e antes deles existirem ainda, deu à luz a génios que conceberam obras quase perfeitas, se é que ao homem é permitida tal coisa,que chegaram até a arriscar a sua própria vida para salvar.

(N.R.: atenção às hiperligações :) )

Por vezes, muitas vezes, tantas vezes, quando vejo, leio, ou ouço notícias sobre as suas aventuras e desventuras, mais me apetece fazer como o gordo Obélix quando se queria referir aos romanos, bater no capacete e gritar: MAS ESTES PORTUGUESES SÃO LOUCOS?!?!?!?!?


No entanto, e como dizia, eles também são capazes de me surpreender, ainda. Como defendo que a matriz salazarista ainda está muito presente na nossa maneira de pensar enquanto povo; como a religião católica, que é também a minha (mas a minha não é igual à deles) é ainda muito castigadora e castradora de pensamentos; como a escolaridade é ainda muito baixa (e há tanta gente que nós vemos que sobe mas… quando esprememos… dá pouco ou nada!), eu nunca pensei que o resultado fosse este mas… durante esta semana, mais concretamente no dia 20 de Fevereiro de 2020, o parlamento foi palco para a discussão potencialmente mais fraturante da legislatura, por se ter discutido a eutanásia.


Como disse Catarina Martins, coordenadora nacional do Bloco de Esquerda, também eu acho que se viveu “um dia histórico para a democracia portuguesa”, com “alta elevação” e dedicação ao assunto, como o descreveu Rui Rio, líder do PSD.


Os cinco projectos de lei que despenalizam a eutanásia, e prevêm a legalização da morte medicamente assistida (do BE, PAN, PS, PEV e IL) foram aprovados na generalidade, tendo o projeto de lei do PS sido o mais votado ao ter recebido 128 votos a favor, tendo o do Bloco, 126; o do PAN, 122; e os do PEV e IL, tido 115 cada um.
Adivinhando-se um fino trabalho de corte e costura na especialidade, prevê-se que a intenção tenha ainda um longo caminho a percorrer até Belém, e os deputados poderão em breve ser confrontados com a proposta de referendo.

Mas sobre que falamos realmente que falamos quando falamos em eutanásia? A palavra eu·ta·ná·si·a,do grego euthanasía, -as, significa morte fácil, morte feliz.

Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, é um substantivo feminino,
1. Morte sem dor nem sofrimento. ≠ CACOTANÁSIA
2. Direito a uma morte sem dor nem sofrimento para doentes incuráveis, praticada  com o seu consentimento, de forma digna e medicamente assistida.
3. Acção que põe em prática esse direito.


Eutanásia é o ato intencional de proporcionar a alguém uma morte indolor para aliviar o sofrimento causado por uma doença incurável ou dolorosa. Geralmente a eutanásia é realizada por um profissional de saúde mediante pedido expresso da pessoa doente. A eutanásia é diferente do suicídio assistido, que é o ato de disponibilizar ao paciente meios para que ele próprio cometa suicídio. Entre os motivos mais comuns para que levam os doentes terminais a pedir uma eutanásia estão a dor intensa e insuportável e a diminuição permanente da qualidade de vida por condições físicas como paralisia, incontinência, falta de ar, dificuldade em engolir, náuseas e vómitos. Entre os fatores psicológicos estão a depressão e o medo de perder o controlo do corpo, a dignidade e independência.

A eutanásia pode ser classificada em voluntária e involuntária. Na eutanásia voluntária é a própria pessoa doente que, de forma consciente, expressa o desejo de morrer e pede ajuda para realizar o procedimento. Na eutanásia involuntária a pessoa encontra-se incapaz de dar consentimento para determinado tratamento e essa decisão é tomada por outra pessoa, geralmente cumprindo o desejo anteriormente expresso pelo próprio doente nesse sentido. A eutanásia pode também ser classificada em ativa e passiva. A eutanásia ativa é o ato de intervir de forma deliberada para terminar a vida da pessoa (por exemplo, injetando uma dose excessiva de sedativos). A eutanásia passiva consiste em não realizar ou interromper o tratamento necessário à sobrevivência do doente.


Os projectos de lei que propõem a despenalização da morte assistida foram aprovados esta quinta-feira, mas isto, no entanto, não é o fim do processo legislativo. Depois desta aprovação na generalidade, os projetos de lei seguem agora para o debate na especialidade, onde os diferentes projetos aprovados serão ajustados entre si até chegarem a um texto comum. Esse novo texto deverá depois ser novamente submetido a uma votação na especialidade e só depois a uma votação final global. Caso seja aprovada, a lei segue para Palácio de Belém. Lá, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, poderá vetar, promulgar ou enviar para o Tribunal Constitucional.

Caso Marcelo Rebelo de Sousa decida usar o veto político, a lei é reenviada para São Bento, para que a Assembleia da República decida alterá-la (ou não). Se for alterada, o Presidente da República pode voltar a vetá-la. No entanto, se o texto for aprovado novamente pelo Parlamento sem que tenha sido feita qualquer alteração, então o Presidente é obrigado a promulgar.

Se o Tribunal Constitucional considerar que a lei é inconstitucional, o Parlamento terá de alterar a lei, respondendo às observações e recomendações feitas ao diploma.

Agora, há ainda muito caminho a percorrer porque ainda faltam semanas para a votação final global.

Uma coisa muito boa de se ter um blogue, e sobretudo de se conseguir ter leitores assíduos ao fim de todos estes anos, o que eu sempre agradeço; é o podermos ter um espaço onde podemos dar a nossa opinião, livremente, sem ninguém nos calar, interromper, passar à frente, deixar para trás (que são coisas distintas). Este blogue já me tem dado inúmeras alegrias, também algumas, muitas chatices, claro! (quando opinas o que pensas, não podes ter a ambição de ser consensual ou sequer, ser sempre aceite, e claro que meia-volta, volta e meia, já estás a levar no tótiço!)
Mas como eu digo sempre: desde que haja elevação e educação, e se tiver o cuidado de não se ofender ninguém, tudo pode ser veiculado. São muitas centenas de mensagens e comentários (agora aqui e no facebook também), muitos milhares, e milhares de palavras; horas e horas a viver sozinho frente ao teclado.
Essa opinião fica, e ficará muito mais tempo que nós, o que é sempre apaziguador.

A eutanásia é um assunto sensível, forte, muito pesado e poderoso, sobre aquele tema que todos tentamos sempre evitar, mas é aquele derradeiro a quem ninguém se pode escusar: a morte terrena (porque existem aqueles outros que acreditam que pode nem tudo terminar aqui, e seguem um exemplo que ilumina as suas vidas, graças a Deus).

Aqui, como em tudo, penso pela minha cabeça e não por aquilo que são orientações sejam elas de que organização for, e tenho de dizer bem claro que não posso ser mais a favor desse terrivelmente triste fim. O querer que uma vida, uma alma, fique presa ao sofrimento de um corpo até não se conseguir mais, é, no meu entender, absurdo e cruel.

Eu sei que Deus tem um plano para todos, e sei que todos o teremos de cumprir, mesmo quando não queiramos. Só saímos de cena quando Ele quer (porque também só entramos quando ele quer). Mas como homens, temos fraquezas, erramos e somos falíveis. Quando o sofrimento e a dor é tanta que até o respirar corta, quando o corpo não tem mais escape senão o túnel de dor, a eutanásia é uma fraqueza, que pedimos que nos seja aceite.
Cuidados paliativos? Sim, sim. Onde, quando, com que condições e a que preço. Como se poderá sentir uma pessoa quando é colocada nessa escola? Que tipo de apoios terá? Até me escuso de pensar (para não sofrer).

Um amigo falava-me há dias no sofrimento de uma mãe, e de uma filha que estava tão doente, que as fezes lhe vinham à boca, por um interior tão devastado que causava torpor só de olhar. Os meus colegas católicos, salvo seja, que se manifestam assim contra, pelos outros, nunca pararam para pensar… e se fossem eles, em vez dos outros, não?
Holanda, Bélgica, Suíça, Luxemburgo),

Agora, também coloco sérias reservas a que em alguns países da Europa onde este tipo de morte já é lega (Holanda, Bélgica, Suíça, Luxembrugo) seja cada vez mais utilizada sem uma razão muito forte para que tal, aconteça. Penso que cada caso, será um caso, e terá de ser analisado com cabeça, tronco e membros.

Oxalá os nossos deputados estejam à altura de criar uma lei que seja digna, como a morte que querem defender. (e já agora, que o senhor Presidente da República, e os portugueses, também)

BBBBBUUUUUUUUUUUUUU!!!!!!! JÁ FOSTE!

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