Post dedicado à Dona Maria do Céu Roque (e companheiras, sem as quais ainda estaria tudo desarrumado), jardineira do
Município de Marvão que me perguntou mais que uma vez pelo blogue. Se já estava
pronto… Hoje fica, miga.
"Ah... até que enfim! Estava a ver que não... Nunca mais acabavas isso, Pedro" |
Constatação de uma realidade e reconhecimento para
deixar na mesa do editor: este texto está atrasado. Ponto. Noutra altura (na
era A.A.- antes do acidente) estaria pronto na noite seguinte à feira porque o
material (fotos e notas cerebrais) já estava todo na redação. Apesar do
ordenado ser parco, o brio profissional mandaria, ainda que em regime de
voluntariado, ser profissional e mesmo que dormisse apenas 4 ou 5 horas,
estaria pronto para entrar nas rotativas, a tempo de sair no dia seguinte.
Mas vivemos na era D.P. (depois do acidente) na
qual o cansaço acumulado ao final do dia faz com que as pálpebras pesem quilos
e a sonolência ganhe terreno à consciência. Este repórter do quotidiano
sente-se agora assim, naquela hora sempre esperada, quando as damas recolhem
aos aposentos e fica com a noite toda para ele, (entre as 10.30h e as 2h/3h); infeliz
e sem capacidade de a aproveitar. Mudam-se os tempos… limitam-se as vontades.
Sinto-me muita vez e cada vez mais como um
super-herói que começa os dias com a carga de energia sempre no máximo para
depois, à medida que o dia se aproxima do fim, vai-se esgotando. Mas deixemo-nos de lamúrias e avancemos, que há
muito para contar
Pois a mim pareceu-me naquela conversa de família
pós um almoço convívio qualquer que estavam a colocar a minha pouca vontade em
colaborar com preguiça e isso não me pareceu bem. De todo. Não gostei, prontos.
E como tenho um feitio difícil (um mau feitio por demais conhecido por todos),
amuei. Prendi o burrinho porque nunca foi esse o caso, de todo. Baldas não sou
e nunca fui. Acontece (e a verdade é) que um gajo é uma autoridade que anda sem
pistola e sem cacetete mas pertence à Autoridade Tributária e Aduaneira e por
isso é uma. Maneiras que o que dizia eu é que não podia habitualmente andar a
trabalhar para servir o fisco, o Estado e as pessoas de bem; mas depois
meter-me atrás de um balcão a vender porque não joga. Não fica bem.
Mas… fiquei a pensar na coisa uns dias, com a pulga
atrás da orelha. A verdade é que a ir, eu iria apenas ajudar. Não mexeria no
dinheiro que esse estava guardado ao caixa / co-sócio gerente, santo sogro,
João Manuel Lança que estava incumbido das massas, das senhas na registadora e
da escrita que sempre foi a vida dele. Eu seria apenas um amanuense, uma garota
de balcão da lanchonete, uma carinha laroca incumbida de bem servir para a
satisfação da clientela o que não é crime nem vai contra código algum. A
aventura seria desenvolvida sob a égide da actividade independente das
“Delícias da Avózinha” (santa sogra), a bem saber fabricar sabores de
antigamente (doces, escaldados, licores e muitos afins) na avenida 25 de Abril
em Santo António das Areias, desde 2004, devidamente coletada e em dia. Nesta
investida castanheira seria destacada num espaço pré concedido e acordado na
feira. Onde contaria com o prestimoso apoio do grande carteiro/padeiro meu
santo vizinho Mário Guedelha, que bem conheci quando era miúdo e ele desempenhava
essas funções na padaria do Sr. Maridalho, na Beirã, quando ele ainda tinha os
dez dedos na mão, antes de ter inventado os cachorros quentes quando se
esqueceu de um dedo indicador dentro de um.
Foto de família de 2014 dos empresários com os artistas |
Pois eu cá enchi-me de coragem e deitei-me às
brasas. Como descaramento nunca tive, foi só um passinho e em menos de nada,
estava no filme. Entrei logo no turno da manhã que durou todo o sábado e se
prolongou por todo o domingo com cerca de 8 horas a pé por dia. 16h no total do
fim de semana num tratamento verdadeiramente aconselhável para um bacano que
foi duas vezes à faca pelas hérnias discais. Fez-se. Sem dor, muito movimento e
boa disposição que tristezas não pagam dívidas e era preciso chamar a clientela
com animação.
O espaço era verdadeiramente simpático, num sítio
de passagem embora eu tenha a opinião que desde que o produto tenha qualidade,
como o nosso, e haja simpatia no atendimento (por demais evidente), resultaria
em qualquer lugar desta feira. Desta e em qualquer outra se a gente se metesse
a jeito de fazer vida disto. Mais trabalhosa mas de certeza que seria mais
rentável e mais feliz.
Se me ia meter na empreitada, teria de meter o meu
toque na coisa. Toque controlado pelos patrões mas um toque a la Sabi. A parte
gráfica seria extraordinariamente importante, como é sempre, e nisto aqui, como
em tudo, quando nós não sabemos, temos de nos rodear de quem sabe. Contatei
assim o meu amigo Miguel Patrocínio de Nisa, um camba que vem já dos tempos de
liceu e é artista na arte. Nesta e em muitas outras. Animador, agitador e
músico, é um companheirão da melhor estirpe nisorra e onde ele está, está-se
sempre bem. Pois o Miguel e eu trocámos mails, fizemos provas pela net e
ajustamentos por telefone até que resultaram duas lonas que chamavam e davam um
ar de sofisticação ao trabalho e um preçário que acabou por ser um importante
chamariz, também.
Sendo
uma especialista em doces (e eu acho é em tudo o que faz mas como sou
suspeito…), a sogra optou neste ano depois da experiência feliz do ano passado, por ter
dois espaços abertos: um destinado à doçaria e aos licores, e um outro onde se
lançou em força às pizzas de castanha que não eram mais que pizzas comuns mas
feitas com ingredientes diversos (quadrado grande com seções vegetariana /
chouriço / fiambre e cogumelos) mas cuja massa era realizada com farinha de
castanha e pequenos pedaços das mesmas para lhe dar o típico sabor, numa massa
de criação exclusiva. Antes dos espanhóis terem trazido a batata da américa
latina para a dieta europeia no século XVI, a castanha, um fruto local, era
utilizada com esse propósito e de acompanhamento. Foi um regresso ao passado e
às origens que marca um ano de lançamento e onde o segredo primou como sendo a
alma o negócio. Podem vir outras atrás mas nós fomos os primeiros e isso marca.
Se os doces metiam vista... as assistentes de venda Célia e Paula Lança, não destoavam na envolvência e convidavam a um docinho |
Bolsinhas de cheiros por carinhas lindas: Matilde Costa, Leonor Sobreiro e Maria Dias |
Com os mestres atrás do bonito armário antigo que
estabelecia a divisória para o público, fiz parelha de balcão com meu
cunhado Bonito e formámos uma dupla que parecia talhada para o sucesso. Até
parece que Deus nos junto como cunhados por causa disto. Correu muito bem mesmo
e a Dona Rosa provou que sabe muito mais que dedicar-se aos cabelos e se a
coisa continuasse, as bifanas de Vendas Novas que se preparassem porque eram
capazes de ter os dias contados que as dela eram demais.
Os genros garçons |
Ó Dona, olhó pão de castanha com chouriço. Acabadinho de sair e vai esgotar... |
No sábado o tempo esteve terrível e foi um dos
piores anos de que me lembro. Muito frio, muita chuva e muita gente de guarda
chuva em punho e malinhas às costas, que não havia dinheiro, nem vontade de
comprar. Ainda assim e apesar de tudo, muita gente que as excursões estavam previamente
marcadas e pode faltar dinheirinho para tudo mas a barriga não tem culpa e está
habituada a comer de 4h em 4h. Ou menos.
A hora de ponta começava bem cedo, pouco passava do
meio dia e ia até depois das 3h / 4h. Incrivel como os hábitos dos humanos os
faz sempre mover em carneirada e bastaria uma antecipação ou um atraso para
fugir às filas que chegaram a ser no nosso caso de muitos metros. Filas muito
grandes mesmo mas que não intimidaram e antes se desfizeram à medida que os
clientes iam saindo satisfeitos. Já queriam um Mc drive de pizas no pelourinho
mas as obras começam só para o ano.
Pelourinho que esteve visivelmente desaproveitado e
foi vítima da má gestão autárquica de quem distribui as animações pelo espaço.
Um espaço nobre e central da vila onde o artesanato/animação deixou muito a
desejar. Vivemos em democracia: manda quem pode, critica quem quer. Eu nunca
deixei nada assim à balda quando comandavas operações e custa-me o desleixo
mas…
Um dos herdeiros do império pizzeiro está bem entregue em termos de fervor clubístico, como todos os outros. Assim até dá gosto. |
No domingo, o sol rompeu para reinar e a alteração climatérica do mau tempo de sábado para o reerguer das esperanças no domingo fez-me até pensar que poderia ser/ter uma alusão política, de um fim de ciclo que se está a fechar e de uma novo amanhã que nos pode devolver as esperanças a todos os que acreditam na nossa terra. De resto, sabem como sou muito místico e um gajo que vai muito nesta do acreditar. E o domingo foi muito trabalhinho e apenas alguma animação quando
pude ir visitar a tenda e me apercebi da extraordinária performance dos Voodo
Marmelade que me conquistaram à primeira audição de uma cover do “Ring of Fire”
do Johnny Cash, arrematada pelo “Dirty Old Town” dos Pogues (Um beijo
Franciscus Serôdius). Muito bom. Parabéns Hernâni.
Foi um fim de semana daqueles à antiga portuguesa,
quando andava em alta rotação nas lides artísticas, em que chegamos à porta do
serviço na segunda de manhã e suspiramos por termos a certeza que vamos
encontrar um ambiente calmo onde podemos estar sentados e a trabalhar sem filas
e sem ouvir barulho.
Foi bom. Ajudei e senti-me bem. Venha o próximo!
E para fechar este post de elaboração muito trabalhosa mas que vale a pena para ficar registada para a posteridade, quatro apontamentos musicais com duas bandas residentes deste espaço de venda de produtos locais que se destacava de todos os outros criados propositadamente para a feira por ter bandas ao vivo: os Mimo´s Dixieland Band de Águeda e os grande Domingos e Dias Santos, da vila de Nisa, o centro do mundo (qual fronteira, qual quê!
Malta, para o ano vai haver fundos europeus para um dvd ao vivo e o mesmo deste ano: comida e bubida pra todos!
Tocando o clássico "When the saints go marchin' in"
Tremenda jam session das duas bandas residentes nas Delícias d'Avózinha em total delírio, união sentimental e musical
Eu vou, eu vou, lá prás Delícias d' Avózinha...
Muito boas noites, senhoras, senhores... ( e até à próxima!)
1 comentário:
Tenho saudades de quando ia à Feira da Castanha acompanhada pelos homens da minha vida, o meu pai e o meu marido. Há muito que aí não vou.
As pizas têm um ar espectacular.
Um abraço
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