Que
nos regala todos os dias com a sua grande sabedoria. Saber que defende ser
inato, ao responder ao nosso espanto perante o que diz e faz sempre com grande
naturalidade, argumentando que aprendeu tudo… sozinha.
“Alice…
que fantástico! Quem é que te ensinou?”.
De
seco e sisudo do alto dos seus 4 anos: “Eu”! (com a mesma certeza de Jesus em
tenra idade quando encantou os sábios no templo.)
I
A
relva gastava muita água, criava muitas raízes que eram incómodas e dava
imeeeenso trabalho a tratar e a cortar mas eu disso nem me queixei que o da
faxina aí era eu. Mas vieram as ordens, não da Troika, mas da directora de
espaços verdes (só?) cá do rancho que a relva era para substituir e fora com
ela! À frente do portão ia passar a ser uma língua de cactos e pedras de
granito. Os cactos têm sido alimentados em pousio em vasos diversos e vindo a
ser há muito estimados e preparados para a grande transferência. A pedra foi
recolhida numa regressão nómada a restos de calçada na mãe velha. Com a mais
velha a estudar, saiu o Twingo em caravana com os Sobreiros e a chaparrita mai
nova. Sacos do Pingo Doce na mala e um brilharete logo à saída.
-
“Pai, eu gostava muito de ter um animal de estimação novo”.
-
“Sério, filha? E qual era?” (depois dos recentes peixe Guilli Lala e da canária
Kika).
-
“Um camelo!”
-
“Gostavas de ter o quê, Alice?”
-
“Ah… uma Girafa. UMA GIRAFA É O MEU
ANIMAL PREFERIDO!”
-
“Filha, acho fantástico e assim que vir uma a vender ali no mercado vou-ta logo
comprar. Depois podemos ir passear todos com ela”- respondendo com ar moderado
para ver se conseguia acalmar os ânimos que ficaram logo exaltadíssimos só de
se imaginar de mão dada com o bicho pelo bairro dos Outeiros fora.
II
A
caminho do local de recolha das pedras, falando em animais oriundos de paragens
exóticas, de uma tirada só: “quando se
faz cá de noite o dia vai para a Austrálica dos cangurus.”
-
“Sério Alice?!?!?”
A
A-u-s-t-r-á-l-i-c-a é muito bom. Dos cangurus ainda melhor. Já nem caí no erro
de lhe perguntar quem é que lhe tinha ensinado isso mas a interjeição foi uma
forma de conseguir ganhar ar para respirar, mantendo um ar composto. É que ela
reage muito mal ao nosso riso quando acha que “não dá graça a mim”. Da última
vez que isso aconteceu foi ao tirar-lhe esta fotografia no sótão com uma
máscara que por lá encontrou. Ela de ar desconfiado e carrancudo com a
mascarilha. Eu, a pedir-lhe para fazer um ar simpático e a sorrir, sorria
também sem querer por trás do telefone. “Não te rias!”, mandou ela. Eu reajo da
pior forma a estes seus ultimatos: rio-me ainda mais. Afiambrou-me cada chapadão
com ar zangado e vingador que quanto mais me doíam, mais eu me ria. Nem ralhar
consegui. Belo pai. Até fiquei com a tromba dormente.
III
Fez
da mala do carro uma suite presidencial, uma piscina, um trampolim e a dada
altura, quando tive que deixar descair o carro meia dúzia de metros para não
andarmos com os calhaus às costas, deixei-a estar apenas sentada no banco de
trás.
(Com
ar MUITO satisfeito e convencido) “Isto é mesmo divertido. Ainda nunca tinha
andado assim no carro sem ser na cadeira! É bom…”
Os arranjos decorativos foram esmerados e meteram muita mão de obra. O arranjo ainda está em andamento. Coisa de arte não é para se fazer. É para se ir fazendo. Aposto que vai demorar menos tempo que a Sagrada Família do Gaudí em Barcelona.
A reforma agrária era extensiva à vizinhança. Gente trabalhadora.Até o meu primo Sami andou com uma mini charrua a puxar a erva. |
IV
Sábado
à noite e o seu programa de televisão preferido. O show que gosta mais de ver. Não é o Big Show SIC mas deste gosta ainda mais que o “44” (Disney Channel), o “Jake e os Piratas da Terra do
Nunca” ou a “Drª Brinquedos”: o sorteio do Totoloto. Adora ver as bolas a
rodopiar e não admite que mais ninguém se meta à frente ou interrompa.
Leonor:
- Ó Alice, mas tu não jogaste! Não te pode sair nada…
- Ai pode, pode. Hoje saiu-me a mim. (porque conseguiu ver o sorteio.)
V
Cris:
- Estás com soninho, Alice? Queres que vá para a cama contigo? Estás
cansadinha?
-
Não! Estou só a bocejar.
Bocejar!
4 anos.
VI
Como
se o dia não tivesse sido tão cheio, para terminar quis brincar às escondidas.
Da primeira vez não me conseguiu encontrar e ficou zangada.
- Ó Alice, mais não que já brincámos muito hoje. Eu também já estou cansado.
- Ó pai… só mais uma vez. (com uma energia estonteante e esgotante)
- Tá bem. Mas só mais uma vez. Contas até 10 e vais procurar-me.
- Ó pai, qual é o número depois do 10?
- 11.
- Ah…
VII
Pra
fechar?
-
Agora eu sou a mãe e mando em vocês todos! Batam todos 3 palmadas!
-
?
-
Assim, “um, dois, três”.
Dicionário
Alicês - Palmadas=Palmas. Tá bom.