segunda-feira, 31 de março de 2014

O mundo (mágico) da Alice



Que nos regala todos os dias com a sua grande sabedoria. Saber que defende ser inato, ao responder ao nosso espanto perante o que diz e faz sempre com grande naturalidade, argumentando que aprendeu tudo… sozinha.
“Alice… que fantástico! Quem é que te ensinou?”.
De seco e sisudo do alto dos seus 4 anos: “Eu”! (com a mesma certeza de Jesus em tenra idade quando encantou os sábios no templo.)

I
A relva gastava muita água, criava muitas raízes que eram incómodas e dava imeeeenso trabalho a tratar e a cortar mas eu disso nem me queixei que o da faxina aí era eu. Mas vieram as ordens, não da Troika, mas da directora de espaços verdes (só?) cá do rancho que a relva era para substituir e fora com ela! À frente do portão ia passar a ser uma língua de cactos e pedras de granito. Os cactos têm sido alimentados em pousio em vasos diversos e vindo a ser há muito estimados e preparados para a grande transferência. A pedra foi recolhida numa regressão nómada a restos de calçada na mãe velha. Com a mais velha a estudar, saiu o Twingo em caravana com os Sobreiros e a chaparrita mai nova. Sacos do Pingo Doce na mala e um brilharete logo à saída.
- “Pai, eu gostava muito de ter um animal de estimação novo”.
- “Sério, filha? E qual era?” (depois dos recentes peixe Guilli Lala e da canária Kika).
- “Um camelo!”
- “Gostavas de ter o quê, Alice?”
- “Ah… uma Girafa. UMA GIRAFA É O MEU ANIMAL PREFERIDO!
- “Filha, acho fantástico e assim que vir uma a vender ali no mercado vou-ta logo comprar. Depois podemos ir passear todos com ela”- respondendo com ar moderado para ver se conseguia acalmar os ânimos que ficaram logo exaltadíssimos só de se imaginar de mão dada com o bicho pelo bairro dos Outeiros fora.



II
A caminho do local de recolha das pedras, falando em animais oriundos de paragens exóticas, de uma tirada só: “quando se faz cá de noite o dia vai para a Austrálica dos cangurus.”
- “Sério Alice?!?!?”

A A-u-s-t-r-á-l-i-c-a é muito bom. Dos cangurus ainda melhor. Já nem caí no erro de lhe perguntar quem é que lhe tinha ensinado isso mas a interjeição foi uma forma de conseguir ganhar ar para respirar, mantendo um ar composto. É que ela reage muito mal ao nosso riso quando acha que “não dá graça a mim”. Da última vez que isso aconteceu foi ao tirar-lhe esta fotografia no sótão com uma máscara que por lá encontrou. Ela de ar desconfiado e carrancudo com a mascarilha. Eu, a pedir-lhe para fazer um ar simpático e a sorrir, sorria também sem querer por trás do telefone. “Não te rias!”, mandou ela. Eu reajo da pior forma a estes seus ultimatos: rio-me ainda mais. Afiambrou-me cada chapadão com ar zangado e vingador que quanto mais me doíam, mais eu me ria. Nem ralhar consegui. Belo pai. Até fiquei com a tromba dormente.












III
Fez da mala do carro uma suite presidencial, uma piscina, um trampolim e a dada altura, quando tive que deixar descair o carro meia dúzia de metros para não andarmos com os calhaus às costas, deixei-a estar apenas sentada no banco de trás.
(Com ar MUITO satisfeito e convencido) “Isto é mesmo divertido. Ainda nunca tinha andado assim no carro sem ser na cadeira! É bom…”




Os arranjos decorativos foram esmerados e meteram muita mão de obra. O arranjo ainda está em andamento. Coisa de arte não é para se fazer. É para se ir fazendo. Aposto que vai demorar menos tempo que a Sagrada Família do Gaudí em Barcelona.







A reforma agrária era extensiva à vizinhança. Gente trabalhadora.Até o meu primo Sami andou com uma mini charrua a puxar a erva. 

IV 
Sábado à noite e o seu programa de televisão preferido. O show que gosta mais de ver. Não é o Big Show SIC mas deste gosta ainda mais que o “44” (Disney Channel), o “Jake e os Piratas da Terra do Nunca” ou a “Drª Brinquedos”: o sorteio do Totoloto. Adora ver as bolas a rodopiar e não admite que mais ninguém se meta à frente ou interrompa.

Leonor: - Ó Alice, mas tu não jogaste! Não te pode sair nada…
- Ai pode, pode. Hoje saiu-me a mim. (porque conseguiu ver o sorteio.)


V
Cris: - Estás com soninho, Alice? Queres que vá para a cama contigo? Estás cansadinha?
- Não! Estou só a bocejar.

Bocejar! 4 anos.


VI
Como se o dia não tivesse sido tão cheio, para terminar quis brincar às escondidas. Da primeira vez não me conseguiu encontrar e ficou zangada.
- Ó Alice, mais não que já brincámos muito hoje. Eu também já estou cansado.
- Ó pai… só mais uma vez. (com uma energia estonteante e esgotante)
- Tá bem. Mas só mais uma vez. Contas até 10 e vais procurar-me.
- Ó pai, qual é o número depois do 10?
- 11.
- Ah…


VII
Pra fechar?
- Agora eu sou a mãe e mando em vocês todos! Batam todos 3 palmadas!
- ?
- Assim, “um, dois, três”.
Dicionário Alicês - Palmadas=Palmas. Tá bom. 

1 comentário:

Helena Barreta disse...

Muito bom, grandes pensamentos.

Um abraço