A
música foi-me dada a conhecer pelas manhãs da Comercial com a melhor
apresentação que poderia ter tido. Disseram que o voltar “para os braços da
minha mãe” do Abrunhosa está para os portugueses que emigraram, como esta
música está para os que cá ficaram. Melhor introdução era impossível.
Arrebatou-me
à primeira vez. De um poder lírico brutal, tem uma melodia que fica, com palavras
que martelam mesmo depois de se deixarem de ouvir. Ficam aos gritos na cabeça.
Todas encaixadas no seu sítio, como se fossem um quebra-cabeça.
«Eu não quero
pagar por aquilo que eu não fiz, não me fazem ver que a luta é pelo meu país.
Eu não quero pagar depois de tudo o que dei, não me fazem ver que fui eu que
errei»
Tenho
uma relação muito próxima com o Tiago Bettencourt. Só que ele não sabe. Acompanho-o
desde os Toranja, segui-o com os Mantha e acompanho-o sempre a solo. Tem-me
falado imensas vezes ao ouvido e ao coração. Fá-lo pelos phones, mas tem-lo feito
com muita frequência. Consegue dizer as coisas como mais ninguém na sua
geração. Canta o hino do engate do Variações com muito mais sentimento que o
génio que o criou. O Tiago é especial e disse-lho numa das últimas vezes que
estive em Lisboa para uma consulta de rotina em São José. Há coisa de escassos
meses cruzei-me com ele no Vasco da Gama e abordei-o. Cheguei-me junto e
disse-lhe: “Tiago, tenho seguido o teu percurso e quero felicitar-te por este
trabalho a solo acústico que está portentoso. Fazes falta à música portuguesa.”
Ele sorriu e ficou assim sem jeito, por não dever ser muito habitual este tipo
de aproximação dos fãs. Como o seu público é mais maduro, não deve ser alvo de
gritos e histerias mas fotos e exposição facebookiana devem ser do mais usual.
Se ele ficou sem jeito, a minha filha Leonor que assistiu a tudo, ainda agora não
deve conseguir explicar bem o que se passou realmente.
Em
breves minutos, recordei-o da outra vez que tínhamos estado juntos, em Marvão
depois de um concerto fantástico dos Toranja. Lembrei-lhe dos copos que
tínhamos bebido juntos no bar do Manel Ventura e da conversa animada que meteu
noite dentro. Ele disse que sim, que tinha uma vaga ideia do sítio que era
lindo demais. Que se recorda de uma noite muito agradável.
Ainda
bem, disse-lhe eu. Ainda bem que não era só eu a ter essa sensação. E
despedi-me dele, pedindo-lhe que continuasse sempre a dar voz à nossa geração.
Ele cumpriu. Como fez agora. Obrigado, Tiago.
Eu
sabia que elas existiam. E sabia nos discos rígidos onde estavam. Procurei,
procurei e descobri que foi há 10 anos. Há 10 anos! Em 2004. Tempos incríveis e
memórias fantásticas. Um grupo de peso, com o Janeca que há tempos partiu desta
vida de vez. Fica a saudade. O fotógrafo de serviço explica o ar bem disposto dos
modelos. A máquina digital era uma novidade e o fotógrafo circunstancial estava
etilicamente assim para o bem disposto. Por mais que lhe dissesse que tinha o
dedo à frente do flash, o bom do Zé Pop insistia no ângulo. Daí estarmos todos
a rir tanto. A teimosia dele era o isco perfeito. Lembro-me disso
perfeitamente. Como me lembrava das fotos. Como me lembro daquele tempo. Que já
não volta mais.
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