Hoje
escolhe-se quem são os homens e as mulheres que nos representam no parlamento
europeu e a coisa tem extrema importância.
Ontem
perguntei à Alice se queria ir votar comigo e a mãe depois de almoço (quando já
não corrêssemos o risco de ser apanhados pelas câmaras de Televisão à espera do
Passos e do Seguro).
A
resposta era esperada e foi inevitável: “o que é isso de votar?”
“Alice,
votar é escolher quem queremos que mande nas coisas. Votamos para escolher quem
queremos na Junta de Freguesia, na Câmara Municipal, para mandar nas coisas
importantes do país e na Europa também. Para a Europa é a votação amanhã. Votar
é escolher. É muito importante
Diz-me
lá tu agora o que é votar? (apenas segundos depois)”
“Não
sei, já não me lembro”
Hoje
antes de sairmos para o café e o gelado prometido, sentei-a no muro e voltei à
carga: “Ó menina, ainda te lembras do que vamos fazer agora?”
Um
óbvio claro que não.
“Vamos
votar para as eleições europeias. Se a Europa fosse um bairro, Portugal era uma
casinha muito pequenina numa ponta, num bairro onde há casas muito grandes e
poderosas como a Alemanha, a Finlândia, a Itália ou a Suécia. Nessa casa
pequenina acabou-se o dinheiro porque se gastava mais do que se produzia e teve
de se pedir emprestado a esses ricos. (Podia dizer-lhe que um homem que mandava
muito no governo em Portugal quando entrámos para a CEE, ajudou a destruir a
agricultura e as pescas, porque defendia que a Europa produzia e nós tínhamos de
deitar fora, mas se dissesse isso à Alice tinha de lhe dizer que esse homem é o
que hoje manda mais no país mas… se isso me faz confusão a mim que tenho 40, a
ela também não deveria fazer nada bem pelo que me calei.
E
disse-lhe mais, com calma, “vamos votar que é uma coisa muito importante que
podemos fazer no
nosso país. Sabes que há países onde as pessoas não podem escolher quem manda.
Quem manda, manda à força e obriga as pessoas a fazerem aquilo que ela quer.
Aqui em Portugal durante muitos anos mandou um homem muito mau que obrigava os
jovens a irem para a guerra; a dizerem, a lerem e a ouvirem só aquilo que ele
deixava; permitia que as pessoas passassem fome e não aprendessem…”. Durante esse
tempo não se podia votar e escolher quem se queria para mandar.”
-
“E quem é que matou esse velho?”
(Entra
a Mana mais velha que começou a ouvir a conversa) “Ninguém o matou. Ele morreu
porque caiu da cadeira. Na altura quem mandava era o Marcello Caetano!”
-
“Não foi preciso morrer, Alice", disse eu. Os militares juntaram-se, zangaram-se e fizeram
que começasse a democracia na revolução do 25 de Abril, deixando que as pessoas
escolhessem quem manda. É assim até hoje.”
Para
saber como é isto também poderíamos fazer uma votação cá em casa para saber
quem queríamos que mandasse. Em quem é que tu votavas?”
-
(Não sei se foi para ser politicamente correta) Na mana!
(Eu
votava na mãe, Cristina Merkel que é quem realente veste as calças cá no burgo.
E bem. Quando está bem, não se muda.)
É bom de perceber que a criança compreendeu tão bem a solenidade do acto que
passando pelos baloiços depois do gelado, se desmarcou logo com o Zeca e a
Carla para ir ver o gatinho da Matilde.
Episódio
1 do Diário de Alice de 24.05.2014 (ontem) narrado hoje de manhã pela mãe
Quando
saí com amigos para ver a final da Liga dos Campeões, a mãe foi entregar e
trocar alguns cactos com a vizinha Rosa, mesmo na casa frente. A embaixatriz
Alice, assim que viu a porta aberta, entrou
por ali adentro como
sempre e como se fosse tudo dela. Conversa puxa conversa e um pouco de tempo
entre duas mulheres parece sempre uma eternidade quando se tem 4 anos e isso dá
tempo para quase tudo. Até para uma dor de barriga! Como a cachopa não se
acanha por nada (não faço ideia a quem sairá), ainda chamou pela mãe diversas vezes.
- “Rosa,
olha que ela está a chamar", disse a Cris.
- “Deixa-a
à vontade, Cristina. Deve querer mexer nalguma coisa. Deixa-a à vontade.”. Mas
ela não parava de chamar porque limpar o rabo sempre é mais difícil que subir
para uma sanita. Mandam as boas maneiras que esse tipo de necessidades se façam
em casa e não numa casa que se visita por 5 minutos, mas o que são as boas
maneiras para uma rebelde com tantas causas quanto as que arranjar chamada
Alice Lança Sobreiro? É que esta cachopa não é como o James Dean que era “Rebel
without a cause” e causas arranjam-se sempre. Assim o pensou, melhor o fez.
Episódio
2 do Diário de Alice de 24.05.2014
A
mãe entreteve-se a jardinar lá atrás e deixou-a sozinha na sala. Erro crasso.
Quando se deixa uma criança destas, com 4 anos cheios de personalidade a deitar
fora pelos ouvidos sozinha em casa é como se se desse a chave de um bar aberto
a um alcoólico. Uma sala e tudo à disposição! A menina Alice sabe que os
peixinhos são dela e até gosta bastante deles. Quando sozinha, pensou e achou
que a cozinha não é sítio para ter o aquário, que ideia a dos pais!!!
Estes são sobreviventes como eu e safaram-se antes da autópsia. Uma casa de resistentes... |
Ligeirinha,
foi-se a ele cheia de vontade de imitar os pais que estiveram toda a manhã a
lavar e a aspirar a casa. O aquário até era levezinho e levava-se bem nos
bracinhos tão pequenitos mas e a porra do armário da televisão que era mesmo
onde eles ficavam vistosos e luzidios e dariam tanto prazer a olhar que é alto
como o catano?
E
não é que aquela porcaria é frágil como o raio e escavacou-se logo à primeira,
assim que caiu no chão feito pieguinhas? Chatice!
E
depois não dava para solucionar só por ela mesmo que quisesse e queria, porque
o raio dos peixes não paravam quietos e basta não terem a água para ficarem logo
difíceis de apanhar como o raio!
Bem
lá teve que ser: “Mãe!” (tranquila), mãe!, aconteceu um problema.”
Imagino
o espanto da narradora quando viu a sala como se o Titanic tivesse batido contra a
arrecadação. O que vale é que as gargalhadas que deu hoje de manhã ao contar quando
me acordou fizeram tudo valer a pena.
Alice,
o escriba postou. Quando cresceres vais gostar de ler. J
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