A
morte, enquanto passo inexorável da vida de cada ser vivo pode ser assim tão
bela, quando consciente e lúcida. Assumi-la desta forma não a isenta da dor
imensa da perda, mas dá-lhe uma dignidade transbordante. Neste caso, tanto
amor, tanto entrega, tanta comunhão. Uma vida começada a ser construída, com o
sonho de filhos, de muitos projetos a dois e vem um dos mais letais dos cancros
no cérebro e tudo arrasa, demolindo os alicerces desta casa que estava apenas
nas suas fundações. Uma vida tão jovem, tão bela, com tanto ainda pela frente
vê-se assim obrigada a ceder. Não a baixar os braços numa derrota, mas antes a
celebrar o largar dos laços numa vitória comovente do que é estar vivo. E o amor tão grande de querer ver amar outra vez quem amamos e não podemos mais?
Foi
mais um episódio nas notícias destes últimos dias mas não foi apenas mais uma
notícia. Esta deve ser uma que nos faz pensar. Deve ser A notícia que nos faz
pensar. Que nos tem mesmo de fazer pensar.
E
morrer assim, num sítio escolhido, rodeado das pessoas que mais se teve o
prazer de amar nesta vida, a ouvir a música de que se gosta deveria ser, nas
sociedades que se dizem civilizadas, a forma certa para o fazer sempre que por
ela se pode optar. E esta é mesmo a grande questão de fundo. Para quê prolongar
a dor, sem qualidade nenhuma de vida? Para quê os hospitais, as baterias de
químicos, os fios, as máquinas, os conta gotas, o isolamento, o sofrimento de
todas as partes quando pode ser assim, com DIGNIDADE. (escrito em maiúsculas de
propósito). DIGNIDADE. É tão mais compreensível que seja assim…
Os
Estados Unidos, que tanto são criticados e tanto têm de criticável, também devem ser louvados por englobarem alguns estados onde este tipo de assistência é permitida. Assim e uma
vez que o estado natal da Califórnia, sua primeira escolha, não o permitia,
optou por se mudar para uma pequena casinha amarela em Portland, a cidade das
rosas, para tomar uma mistura letal de água, sedativos e depressores do sistema
respiratório que lhe permitiram fugir às fases finais do cancro no cérebro, às
febres altíssimas e às dores de cabeça excruciantes.
Pois eu, encosto-me
no sofá e penso que não odeio ninguém. Como penso que ninguém me odiará a mim.
Pode haver pessoas das quais não gosto. Não muitas, mas algumas. Como certamente
haverá muitas que não gostam de mim. Não muitas, mas algumas. Mas essas
diferentes perspectivas podem ser limadas e limpas de naturais confrontos
passados. Contudo, o nosso tempo de vivos já é tão pouco, na melhor das
hipóteses, e há tanta gente e tanto sítio para amar que é capaz de não valer a
pena chorar sobre o leite derramado e reatar o que nunca foi fértil. E… o
orgulho também conta muito. Quem estica a mão? E merecerá a resposta? Até
quando? E para quê? (se a coabitação no planeta não é nada pacífica). Há gente
que não presta. Almas que estão num processo de evolução num estágio muito
embrionário, com tanto a aprender…
Nestes
impressionantes relatos, a lição que a Brittany nos quis deixar quando soube do
veredicto ditado pelo mais agressivo dos tumores cerebrais foi… CARPE DIEM. SEIZE
THE DAY. Aproveitem o dia! A mesma máxima que o recentemente, tragicamente
desaparecido Robin Williams nos quis ensinar nesse filme mágico que é o “Clube
dos Poetas Mortos”. Aproveitem cada dia como se fosse o último, antes de serem
alimento para os vermes que na natureza, nada se perde, tudo se transforma,
como ensinou o sábio Lavoisier. Sejam felizes, façam quem amam e vos ama ser
feliz porque a vida são umas férias que a morte nos dá. Passa tudo muito
rápido.
Lembremo-nos
da Brittany todas as noites e todas as manhãs. Para que saibamos saborear
melhor a graça de estar vivos.
Tudo
e sempre assim o farei.
Obrigado
pelo teu contributo, minha querida. Tocaste. Vai em paz.
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