sexta-feira, 11 de setembro de 2015

O meu 8 de Setembro (ou como eu o vi)

  
O pessoal do Centro Cultural de Marvão que recusou receber a medalha das mãos de quem se absteve em bloco e com uma declaração de voto inenarrável, foi de negro. De luto. Toda a triste história esta disponível na página do facebook do meu primo Jorge Rosado, clicando aqui.
Eu, solidário com eles, porque me contataram, aderi ao protesto porque defendo que foi notável o trabalho que fizeram para que o nosso castelo fosse um sítio com vida, e tornaram em realidade o que sempre defendi de a jóia de Marvão ser cobrada nem que seja para manutenção do espaço e algumas atividades lúdicas; para que mereça ser ainda mais visitada. Custa ir de negro num dia de festa mas enquanto se mantiverem estas pessoas aos comandos do nosso concelho, é a cor que se adequa e acreditem que mitiga a dor.

Há quanto não vinha aqui… Lamento e peço desculpa por isso aos frequentadores desta taberna virtual mas os tempos mudaram e vão surgindo novas formas de comunicar com o mundo, para mim tão importante como respirar, e vamos evoluindo, por ser de mais fácil e cómodo acesso. Tem prós e contras mas o tempo, que é a nossa maior riqueza (a par com a saúde e o amor), obriga-me a ser mais ágil. Escreverei em breve aqui sobre isso.

Mas o que me trouxe hoje aqui até vós foi opinar sobre o 8 de Setembro, o feriado municipal, um dia sempre vivido com tanta intensidade e tão importante para mim. Eu sei que sou nada, nem ninguém mas também sei que há pessoas que me seguem, umas de forma mais aberta, outras no segredo e querendo menos bem mas, das que gostam de ouvir a minha forma de ver o mundo, de várias idades, extratos sociais e graus de relacionamento, comentaram comigo no dia 8: “a gente vai ver o que é que o Pedro escreve na crónica…”

Então… cá vai!

Como nesta minha nova encarnação detesto chegar atrasado, (dantes era muito difícil chegar à hora em ponto, sempre uns minutinhos de delay…), rumei a Marvão bem cedinho, muito antes das 9 horas da manhã. Como queria assistira a tudo, e sabia que antes das 9h não haveria nada a perder, não me guiei pelos diversos cartazes alusivos à data que tinham sido espalhados pela câmara municipal em que nuns, estava à hora certa e nos outros, na hora a seguir. No Sr. João do Bento estava à hora X e na Pastelaria Caldeira, à hora Y. Mostraram-me os cartazes, quando comentaram comigo e percebi. O desnorte lá da casa alta chega a esse ponto e por isso, não facilitando, avancei convicto a uma hora que me garantia que não perderia nada.

Quando cheguei ao lajeado em frente do município, já a cena estava bem composta com muitos homenageados presentes. As cadeiras de madeira montadas e tudo muito bem mas… mal pensado. Como toda a gente podia avançar para onde e quando quisesse, deu-se o inusitado que o hastear da bandeira fosse visto pela larga maioria presente com os eleitos locais... de costas viradas para eles (nós). Sintomático. Até nesse dia.

Ainda assim as cadeiras chegaram e as poucas e mal colocadas sombras, sempre resguardaram algo do sol. Do mal, o menos. Foi uma boa medida. Veem que não digo só mal? Consegui!

A autarquia decidiu neste ano medalhar as instituições que estão ligadas ao apoio social todas em barda. Não é que não façam um trabalho que não mereça esta distinção, antes pelo contrário!, a ver se me faço entender. Têm uma importância estratégica e muitas vezes, quase sempre, estão na primeira linha, não só da ajuda ao próximo, mas gerando “vida” nas aldeias onde se integram, criando emprego e bem estar. A questão não vai por aí. Estas medalhas, (às quais estou muito ligado porque fui eu que estudei regulamentos de exemplos de diversos municípios do país e as propus à gestão da câmara para aprovação), foram criadas para distinguir por um ou outro facto ou uma carreira que justificasse a atribuição, e não para serem dadas assim ao monte, sem critério, tratando todas por igual, o que sendo muitas, gerou aquilo que acabou por se tornar para quem, como eu, quis assistir à cerimónia. Se aquilo foram uns óscares! cuja cerimónia derrapou no tempo e o pior é que porque sendo muitos, nenhum poderia brilhar convenientemente. Cada um que subia ao pedestal queria dar uma apresentação da sua instituição, o que é mais do que legítimo, mas nem todos tinham o mesmo desembaraço a falar e eram capazes de transmitir de forma eloquente e não maçadora, o seu historial e feitos.

Medalharam-se a Santa Casa, o Lar de São Salvador, o do Porto da Espada, a Anta da Beirã, a Casa do Povo de Santo António… and so on, and so on. Todos porque sim e também porque 2017 está quase aí e quem semeia bonança, espera sempre colher o melhor. Eu dou-te a ti, para te lembrares de mim. Elementar, meu caro Sabi.



Por falar em discursos... houve melhorias sim. Porque já lê e porque sendo assim, nunca mais teremos a reedição daqueles monólogos à Fidel Castro que se fossem editados em vinil, dava para aí um disco triplo. Já são escritos, o que augura bons prenúncios, mas o tom de voz… a entoação com que mal se percebe o que manuscreveu… fez tudo parecer um embaraço. Uma aulas de representação do teatro (que começou comigo, gerou diversos potenciais atores (grande Eduardo!), desenvolveu imenso a nossa Dulce, teve inclusivamente uma aluna que seguiu a carreira da representação!) e acabou quando eu saí! Isso sim, seria aconselhável! Colocação de voz e, já agora, do olhar; capacidade de tornar inteligível o que se pretende transmitir… depois não digam que não dou dicas. A professora Susaninha que meteu a marchar daqui para fora é que é capaz de andar em trabalhos e não ter tempo. L


O melhor discurso, como sempre, foi o do representante dos membros da Assembleia Municipal, um enfermeiro que costumo ver ali por cima da Fonte da Celorica. Parafraseou Camões e fez um apanhado/resenha histórica da génese do nosso 8 de Setembro que, ficou. O que é sempre o melhor discursador, vai em representação do presidente da Assembleia que foi saudado num dos discursos mas que não compareceu, como sempre. No 25 de Abril não se estranha porque dizem que é contra, que eu não conheço o senhor; mas nos outros também… não costuma ver-se.

Neste ano, com proposta do Partido Socialista, foram homenageados homens que desempenharam o cargo de presidente de câmara: o Sr. João Dinis Carita (a título póstumo), o Sr. Manuel Pedro da Paz (idem) e o Sr. António Moura Andrade. Neste último caso foi uma ideia bonita e atempada porque esta homenagens, de quem tanto deu para todos nós, devem ser sempre que possível, realizadas em vida, como foi no último caso. O meu caríssimo João Bugalhão levantou a lebre aqui, de se terem esquecido do Dr. Bugalho mas o PS, em comentário, justificou o porquê. E bem. Bem aqui e bem na proposta. Mas o João também respondeu muito bem: é que o Dr. Bugalho já não é propriamente um rapazola em idade para tirar o cartão jovem e não sabendo nós nunca o dia de amanhã, se há um potencial homenageado ainda vivo, não seria de menosprezar. 

Se tivesse havido o nível que todos sabemos que não há, teria havido um convite formal ao Partido Socialista para que a entrega dessas medalhas em conjunto, numa perspectiva unitária do concelho. Se foram os senhores que propuseram e nós somos quem está em cargo, partilhemos a entrega que será realizada sob a vossa proposta. Chegou-se assim ao caricato do presidente eleito pelo PSD, entregar ao homem que fez toda a sua vasta e reconhecida carreira autárquica pelo PSD, a entregar uma medalha de mérito... proposta pelo PS! O sr. Andrade chamou a isto de ironia e levou a leitura deste fenómeno pelo lado cavalheiresco. Ridículo também rimava.

A filha do Sr. Paz, muito emocionada pelo gesto e como não deve estar muito habituada a falar em público, agradeceu muito e teceu algumas breves palavras sobre a figura do homem que foi seu pai.

A neta do Sr. Carita, a minha prima Ana Isabel, fez um discurso tão certeiro que para quem é de Matemáticas, que até foi de estranhar. Ao parabeniza-la pela belíssimas palavras, confidenciou-me que foram escritas com a supervisão e em co-autoria com a mana, essa sim jornalista com carteira. Esteve muito bem na sua leitura e mais que justificou o galardão, mesmo para quem não conhecesse a tão vasta e importante obra do seu avô em Marvão, antes do 25 de Abril.


A homenagem do Sr. Andrade foi a que mais me tocou por diversos motivos. Porque tenho a graça de poder contar com a sua amizade, porque foi o “meu” presidente de Câmara e porque sempre acompanhei o seu percurso, sendo ele uma pessoa por quem tenho uma enorme estima e admiração. A sua apresentação, em que foi realçado também o seu papel de funcionário no serviço de finanças onde trabalho hoje, foi realizada pelo amigo António Silvério, hoje provedor da Santa Casa da Misericórdia e também colega aposentado do mesmo serviço. Uma apresentação de grande categoria e bastante emotiva que embalou para o momento seguinte e para as palavras sempre certeiras do grande, permitam-me, Sr. Andrade que agradeceu ao Partido Socialista o facto de se ter lembrado dele e ter realizado a proposta. Como homem de grande nível que é, justificou essa posição com a abertura que sempre teve no relacionamento com os outros partidos e pela deferência com que a todos sempre tratou. Dedicou o prémio à D.ª Deolinda, sua querida esposa, num discurso muito emotivo também, em que recordou os tempos (que já parecem tão longínquos!) em que não existiam telemóveis, muito tinha de viajar pelo país fora e a sua companheira nunca o deixou e nunca descansou enquanto não o tivesse junto a si. Pessoas de uma tal veracidade e um nível que acho que nos meus tempos já não se fabricam.


Foi também homenageado o Sr. João Maria Mena Antunes, um craque do desporto nado no nosso concelho com um nível que eu lamento nunca ter conhecido. Grande figura nacional do atletismo e grande benfiquista, clube ao qual continua ligado, foi por diversas vezes e anos campeão dos 400 metros barreiras e provavelmente, das maiores figuras do nosso concelho no mundo do desporto. Um medalha justificada e muito bem entregue.

Neste enorme rol de nomeados, não faltou a justa homenagem a D.ª Elvira da Silva (cujas referências e feitos procurei na página oficial do município mas nada encontrei... Só esta foto abaixo); à Fundação Cidade da Ammaia (tão merecida e injustiçada) e a Pablo Carrilho, ex-alcaide de Valência de Alcântara e um homem de trato fantástico, tão humilde e boa gente que pelos laços que sempre tentou estreitar ainda mais com Marvão, mais que merece este galardão.

Foto de família retirada do site do município com todos os homenageados e... um extra que se colou. Não ficaria melhor o presidente aqui? Ou o vice?

Seguiu-se o convívio aberto a todos os marvanenses e foi tempo para um aperitivo e um copo antes da missa de Nossa Senhora da Estrela que, para quem é devoto como eu, é sempre um marco no ano e uma prova de agradecimento, por tudo o vivido.





Termino a minha abordagem dizendo a todos, porque sei que vêm ler, que há pessoas que quando passam por mim e fingem que não me veem, virando a cara, é como se me estivessem a bater palmas, ou melhor, a baixar a cabeça quando passo. A grande vantagem e proeza de se viver em democracia é que somos livres de dizer o que nos vai na alma, sem termos medo que nos afrontem. Desde que haja respeito (de não achincalhar) e lisura de procedimentos, não sou capaz de não dizer que não gosto. E não gosto mesmo!

Também respeito que não gostem de mim. Jesus que foi quem foi e tinha a cunha do Pai, que era quem era, com menos 9 anos que eu já estava cravado no barrote. O mundo nunca vai cair para o lado porque há sempre quem puxe de um lado e quem pressione do outro.

Eu, que sou filho da esperança, nunca a perco que o nosso concelho volte a ter um dia na sua condução, um homem ou uma equipa de homens que pratiquem e façam o bem, às claras, abnegadamente, em prol do bem comum.

Tenho dito!

Ass: Pedro Alexandre, 42 (já?!?) anos


As fantásticas manas Garcia, a quem eu pedi licença para captar esta imagem que ficou muito bem!
Bem hajam. É o momento revista Caras do blogue! Belíssimas! Muito merci!


3 comentários:

João, disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João, disse...

Não sou, por feitio, de andar constantemente a elogiar (apenas por elogiar), apenas para agradar. Os que me conhecem sabem disso. Mas este Post merece o meu reparo e, sinceramente, o meu elogio. Pela forma e pelo conteúdo (substância): parabéns meu caro Pedro.

Sigo-te há muitos anos, no que dizes e no que escreves. Nem sempre de acordo, como sabes. Quando acho que devo não concordar faço-o. Difícil, difícil é eu elogiar. Sou assim, tenho que me aceitar, e, quem gosta, gosta. Quem não gosta paciência. O que não falta por aí são pessoas de quem se goste ou deva gostar!

Mas a ti, e pela segunda vez consecutiva, tenho que elogiar. Sobretudo depois da pancada que levaste. A física, porque das outras ainda tens muitas para levar...

Estás quase lá (ou cá) camarada, e eu congratulo-me com isso. De facto não és perfeito, como tu gostarias, mas és gente! Gente com emoções e sentimentos. E não precisas de ser mais nada. Para mim basta!

Obrigado por seres meu amigo. Eu tentarei retribuir. Entretanto não pares, "o mundo" precisa de ti...

Helena Barreta disse...

Seja bem aparecido. Sobre as homenagens e o critério das escolhas não posso falar, não conheço ninguém.

Um abraço