Abdelhamid Abaaoud, 27 anos. O cérebro dos atentados |
Enquanto
o mundo tenta reagir, atordoado, ao choque profundo dos recentes trágicos atentados
em Paris; enquanto as fotos de perfil do facebook se pintam com as cores da
bandeira francesa e os muitos murais se pintam com posts alusivos a essa cidade
grandiosa, pela história e pelos muitos milhões de habitantes (tantos quanto em
Portugal); enquanto as polícias se volvem loucas, revirando o mundo à procura
do cabecilha dos atentados, um miúdo quase imberbe de sorriso palerma; enquanto
muitos se envolvem em teorias da conspiração sobre quem financiou, e armou, e o
que é o Estado Islâmico… eu penso. Reconhecendo a importância de todos estes
comportamentos, como forma de acusar (os terríveis atos) e motivar para a erradicação
deste tipo de comportamentos, eu limito-me a lamentar, em silêncio, as mais de
120 vidas que se perderam.
Ouço,
leio e penso.
O
Sheick David Mounir, líder islâmico no
nosso país, deu uma entrevista que muito me elucidou e ajudou a tomar posição perante
o que nos choca a todos. Claro, frio e muito cerebral, desmistificou e tornou
óbvio o que pode parecer complexo.
Duas
ideias que convém reter do muito que disse:
1
– Estes homens e os seus princípios nada têm a ver com a essência do Islão, que
é um espaço de bem. São danos colaterais. Ruído.
2-
Os refugiados não são terroristas. Também fogem desta realidade que está na sua
terra.
É
importante que todos compreendam que estamos perante não uma força, não uma
ideologia, não uma religião, mas perante o mal. Algo tão antigo como o homem. O
mal que se apodera de corpos jovens, franzinos, de passados dúbios e os
conquista para o seu lado.
Que
força é essa?
Que
força é essa?
Que
força é aquela?
Que
força é a que faz um homem explodir no meio de inocentes, matar como quem
respira, deitar tudo a perder, pensando que tudo tem a ganhar? Que coisas
espera depois da morte? Que feitos se vê alcançar assim?
Cresci
num mundo que teve duas grandes guerras mundiais. Duas conflitos que envolveram
países de todo planeta, em que morreram muitos milhões de inocentes. Mas eram
guerras com tanques, como homens. Depois veio a guerra do Iraque e mexeu-se com
a região e os homens mais perigosos do mundo, por nada terem a perder e tudo a
ganhar. Esta guerra que nestes dias temos vivido é mais letal porque é
silenciosa e dorme ao nosso lado. No bairro ao lado. No nosso bairro.
A
união entre os povos, mesmo os que sempre viveram de costas voltadas, numa guerra
sem tréguas, com bombardeamentos massivos nos campos de treinos identificados,
será o caminho certo para a humanidade se proteger contra a barbárie. Mas as
quebras e desconfiança irão começar a minar a cooperação e as indústrias (do
petróleo, gás natural e armamento) vão acabar por rasgar aquilo que o tempo
recente ainda não permitiu sedimentar.
O
mundo das minhas filhas jamais irá ser tão tranquilo como o meu.
E eu lamento.
Rezo.
Todo o dia a ecoar dentro da minha cabeça
E
penso.
Que
força é aquela? Como combatê-la?
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