segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Na fega da azitona (que já passou 1 ano)




Recordou-me a minha “lanchonete no calçadão”, também chamada de “Kioske do Tio Sabi no Facebuque”, que já faz 1 ano que a minha Alice e os coleguinhas da pré andaram a apanhar azeitona. Na altura, retratei-me por ali e prometi que nunca mais lhe falharia, ao prestar-lhe apoio nestas andanças. Entretanto, saiu da pré. A história ficou de quiosque e nunca chegou a estar num quadro envidraçado numa parede da minha taberna. Até hoje.


O facebook recorda mas é volátil, não esquematiza e organiza o passado. Tem de vir aqui ao livro grande. Assim se fará justiça, para memória futura delas.

Agora as coisas já estão devidamente sincronizadas e oportunamente integradas (tinhas razão, Nuno Frade...)


O dia era para ser feliz e de festa. Aperaltada a jeito, com uma saia do rancho folclórico do tempo da mãe, a Alice deveria estar contente mas o seu choro supreendeu-me quando saí do banho.

Estava profundamente desgostosa porque nenhum dos pais (nem eu de serviço às financas, a arrecadar receita para o Estado; nem a mãe atarefada com a organização da feira da castanha), iríamos estar presentes na apanha da azeitona da Escola de Santo António, organizada pelo Pré-Escolar de Marvão.

A mãe tentava justificar-se, justificando-nos, que tínhamos de ganhar o dinheirinho, que nos faz tanta falta para vivermos. De nada a consolava. Tentei por duas ou três vezes chegar a ela com um "Alice, tu és inteligente, tu percebes que...", mas à mínima tentativa de diálogo, nada mais conseguia que um lamento rosnativo, que só fazia lembrar as birras do Sizzle, o cão. Desisti. Fui levá-la à escola, em profundo lamento por nada ter feito para evitar que assim acontecesse e... tive de a deixar ao portão "para que os meus amigos não me conheçam assim vestida".

  
Subi para Marvão castigando-me severamente pelo meu descuido e assim quis iniciar funções. Tão em baixo estava que o meu amigo Nuno de Brito, que é também o meu chefe, o grande chefe (e homem!) do serviço onde trabalho me tivesse "tirado o retrato" e dito: "Pedro, os filhos são prioritários. Não deixes a pequena a sofrer e vai lá colher uma pouca de azeitona e vem, descansado."

Desci tão feliz que nem me lembro do caminho. Liguei à avó Alzira, com quem tinha falado nesse entretanto e pedido que a pudesse apoiar, quando todos os pais e avós estão a trabalhar para a castanha, que eu também iria estar presente.


A cara de alegria da Alice quando me viu, é algo que não conseguirei nunca descrever. O abraço que me deu, que na verdade foi um "Pai, afinal sempre vieste", nunca o irei esquecer.








Nunca fui um grande craque nas agrárias (apesar das boas notas que sempre tive nos testes do prof. José Regala; apoiadas nas grandes performances no terreno muito conseguidas, não pelos meus então frágeis bracinhos, mas pela colaboração do grande João Henrique Batista, que cavava os terenos das vinhas de Castelo de Vide, pago por saquinhos de Maltesers que lhe oferecia), mas ajudei no que pude.

Com fato de escritório e sapatinho sempre engraxado, de cócoras (em vez de joelhos, como gostaria) mas ajudei. O grande Filipe Ferreira deu cartas a colhe-las e eu ainda lhe dei aí uns bons 45-50 minutos que se traduziram em três ou quatro baldes cheios.

Regressei ao serviço cheio de orgulho e do bem que lhe fiz a ela. E a mim.

Não podendo estar no almoço comunitário em que cada pai e mãe teriam de levar o seu contributo, ainda passei pela avó Jacinta para apanhar a nossa oferta e, não podendo ela e o marido estarem também presentes, pedi e deixei a avó Alzira a representar toda a família. Não foi o Jackpot, mas uma soborosíssima terminação.





Fico muito grato ao meu chefe, à minha mãe, à minha sogra, por me terem ajudado; e à Alice por me ter perdoado.


Só os burros é que tropeçam duas vezes na mesma pedra. Tampouco esperava que fosse uma iniciativa assim tão linda, porque nela nunca tinha participado mas isso não é desculpa para ninguém e muito menos para mim. Para o ano, se Deus quiser e a oportunidade se repita, o dia de férias está garantido! :) Iremos todos juntos ajudar a fazer um dia inesquecível para a nossa menina. Ela merece.





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