Recordou-me
a minha “lanchonete no calçadão”, também chamada de “Kioske do Tio Sabi no
Facebuque”, que já faz 1 ano que a minha Alice e os coleguinhas da pré andaram
a apanhar azeitona. Na altura, retratei-me por ali e prometi que nunca mais lhe
falharia, ao prestar-lhe apoio nestas andanças. Entretanto, saiu da pré. A
história ficou de quiosque e nunca chegou a estar num quadro envidraçado numa
parede da minha taberna. Até hoje.
O
facebook recorda mas é volátil, não esquematiza e organiza o passado. Tem de
vir aqui ao livro grande. Assim se fará justiça, para memória futura delas.
Agora as coisas já estão devidamente sincronizadas e oportunamente integradas (tinhas razão, Nuno Frade...)
O
dia era para ser feliz e de festa. Aperaltada a jeito, com uma saia do rancho
folclórico do tempo da mãe, a Alice deveria estar contente mas o seu choro
supreendeu-me quando saí do banho.
Estava
profundamente desgostosa porque nenhum dos pais (nem eu de serviço às financas,
a arrecadar receita para o Estado; nem a mãe atarefada com a organização da
feira da castanha), iríamos estar presentes na apanha da azeitona da Escola de
Santo António, organizada pelo Pré-Escolar de Marvão.
A
mãe tentava justificar-se, justificando-nos, que tínhamos de ganhar o
dinheirinho, que nos faz tanta falta para vivermos. De nada a consolava. Tentei
por duas ou três vezes chegar a ela com um "Alice, tu és inteligente, tu
percebes que...", mas à mínima tentativa de diálogo, nada mais conseguia
que um lamento rosnativo, que só fazia lembrar as birras do Sizzle, o cão.
Desisti. Fui levá-la à escola, em profundo lamento por nada ter feito para
evitar que assim acontecesse e... tive de a deixar ao portão "para que os
meus amigos não me conheçam assim vestida".
Subi
para Marvão castigando-me severamente pelo meu descuido e assim quis iniciar
funções. Tão em baixo estava que o meu amigo Nuno de Brito, que é também o meu
chefe, o grande chefe (e homem!) do serviço onde trabalho me tivesse
"tirado o retrato" e dito: "Pedro, os filhos são prioritários.
Não deixes a pequena a sofrer e vai lá colher uma pouca de azeitona e vem,
descansado."
Desci
tão feliz que nem me lembro do caminho. Liguei à avó Alzira, com quem tinha
falado nesse entretanto e pedido que a pudesse apoiar, quando todos os pais e
avós estão a trabalhar para a castanha, que eu também iria estar presente.
A
cara de alegria da Alice quando me viu, é algo que não conseguirei nunca
descrever. O abraço que me deu, que na verdade foi um "Pai, afinal sempre
vieste", nunca o irei esquecer.
Nunca
fui um grande craque nas agrárias (apesar das boas notas que sempre tive nos
testes do prof. José Regala; apoiadas nas grandes performances no terreno muito
conseguidas, não pelos meus então frágeis bracinhos, mas pela colaboração do
grande João Henrique Batista, que cavava os terenos das vinhas de Castelo de
Vide, pago por saquinhos de Maltesers que lhe oferecia), mas ajudei no que
pude.
Com
fato de escritório e sapatinho sempre engraxado, de cócoras (em vez de joelhos,
como gostaria) mas ajudei. O grande Filipe Ferreira deu cartas a colhe-las e eu
ainda lhe dei aí uns bons 45-50 minutos que se traduziram em três ou quatro
baldes cheios.
Regressei
ao serviço cheio de orgulho e do bem que lhe fiz a ela. E a mim.
Não
podendo estar no almoço comunitário em que cada pai e mãe teriam de levar o seu
contributo, ainda passei pela avó Jacinta para apanhar a nossa oferta e, não
podendo ela e o marido estarem também presentes, pedi e deixei a avó Alzira a
representar toda a família. Não foi o Jackpot, mas uma soborosíssima
terminação.
Fico
muito grato ao meu chefe, à minha mãe, à minha sogra, por me terem ajudado; e à
Alice por me ter perdoado.
Só
os burros é que tropeçam duas vezes na mesma pedra. Tampouco esperava que fosse
uma iniciativa assim tão linda, porque nela nunca tinha participado mas isso
não é desculpa para ninguém e muito menos para mim. Para o ano, se Deus quiser
e a oportunidade se repita, o dia de férias está garantido! :) Iremos todos
juntos ajudar a fazer um dia inesquecível para a nossa menina. Ela merece. ♥
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