Para
a grande maioria das pessoas, a política é uma coisa má, uma coisa ruim, de
mal, de se fugir dela. Seja mais ou menos instruído, a opinião é… geral. Os
políticos pagam assim por serem todos… farinha do mesmo saco. Corruptos, sem
escrúpulos, disfarçudos, mentirosos, interesseiros… esbanjadores. A maior parte
das pessoas desliga, e abstrai-se deste mundo. E é por aqui se explicam também,
os assustadores níveis de abstenção.
Mas
para mim, que vejo a política como uma atitude necessária, que todos temos de
realizar ao longo da nossa vida, no dia a dia (a escolha de um, entre vários
caminhos; a escolha do melhor, para nós), tenho a política, pelo menos a nível
local, que é a que conheço melhor, como um fenómeno necessário. Estar perto da
fonte, do voto; dar cara a cara com aqueles a quem podemos melhorar a vida, é
profundamente inspirador, e recompensador também. Para quem veste o cargo de
alma e coração, como eu o fiz, quando ganhei a vice-presidência do meu
concelho, entre 2005 e 2009, deve ser assim. Apesar das tantas limitações e
desconfianças, que me afunilaram o caminho para o bem, para o que eu queria
fazer na realidade, foram tempos, por momentos, muitos felizes, da minha vida.
Mas
a política, para além desta sua essência elementar, é também, para mim,
profundamente reveladora, da real natureza das pessoas, que nela se envolvem. Essa
é talvez, numa perspetiva muito pessoal, a maior revelação e benesse da
política. Claro que isto numa visão muito minha, muito íntima, muito centrado
nos meus olhos. Voltemos ao meu ponto local, ao universo onde me movo, Marvão, que
tinha a veleidade de pensar conhecer bem.
A
quantidade de pessoas que eu considerava amigas, ou pelo menos próximas, com
quem me dei bem durante toda a minha vida, há décadas, e agora, pura e
simplesmente, de sua livre e espontânea iniciativa, deixaram de me considerar
enquanto Pedro Sobreiro...
Como
não é uma, nem duas, é claro que já meditei sobre isso. É claro que já me
interroguei, já retrospetivei, já tentei encontrar um porquê e… não o
encontrei. Porque não existe! Tenho a minha consciência tranquila. Nunca quis
na minha vida, prejudicar deliberadamente ninguém. Haja a primeira pessoa que
mo diga, cara a cara, olhos nos olhos, como adultos, e eu, aí, caso tenha
falhado, não terei qualquer dificuldade em pedir perdão. Em pedir perdão, e em
prometer que tudo farei para que não se repita.
Agora…
o que tem acontecido, e irá sempre acontecer até ao meu último suspiro, é que o
Pedro dirá sempre em público e seja onde for, aquilo em que acredita. Um homem
que preza a liberdade como o maior dos direitos, a maior das grandezas da vida
humana, jamais poderá ser emudecido, seja por que poder for. O que eu apenas
faço, em público, e aqui nesta minha taberna virtual, é dizer o que penso.
Comigo não há jogos de bastidores, não há nabos em sacos, não há manobras por
trás. Para mim é tudo às claras, pela frente, de peito aberto e coração nas
mãos. Os meus amigos e amigas sabem que os quero e amo, como os irmãos que escolhi
nesta caminhada da vida. Os meus amigos têm tudo. Sei que sabem que por eles,
tudo farei. Como eu sei que eles o farão por mim.
Analisemos
o conceito que eu tenho de amizade. Amigo que é amigo, mesmo, de verdade,
aceita, perdoa, e compreende. Tomemos o caso, em abstrato, de dois amigos que
querem comprar a mesma casa. Vão falar com o vendedor, e esgrimem os seus
motivos. Cada um alega os seus argumentos, e chegam a um determinado ponto em
que os dois, amigos, percebem que só um deles consegue suplantar a oferta
monetária do outro. O derrotado, se é mesmo amigo, lamenta, compreende, e vai à
procura de outra casa, quem sabe, se ainda melhor que a primeira.
O
mesmo se poderá passar, com uma mulher. Imaginemos que ambos gostam da mesma,
ambos se esforçam para lhe agradar. Ela, depois de muito pensar, decide-se por
um deles. Ora o outro, se é verdadeiramente amigo do eleito, se não o quer
perder, decide não ter uma atitude revanchista, vingadora, e opta por partir para
outra mulher. Quem sabe se será essa a companheira da sua vida com que sempre
sonhou.
Ora
eu sou sempre o mesmo. O Pedro. Aquele que à primeira vista, quando se olha ao
espelho, vê o puto da Beirã, com as oportunidades todas da vida pela frente. Não
me vejo com quarenta e tal anos, não me vejo como um homem, vejo-me assim.
Depois de alguns momentos a fitar-me ao espelho, vem a minha vida, as minhas
filhas, a minha mulher, os meus trabalhos, aquilo que tenho conseguido
contruir. Eu sou sempre o mesmo. E serei sempre assim.
Não
sei, de verdade que não sei, o que é que estas pessoas, que se tornaram neste
últimos meses “políticas” comigo, pensam da vida, ou pensavam que eu era. Não
que fossemos amigos do peito, mas certamente também não éramos desconhecidos.
Haveria ali uma familiaridade, uma empatia, uma proximidade que… com esta sua
atitude, se esvaiu. E nisso aí, sou muito cruel, como as crianças. Meto dentro
quem amo, mas a quem vejo o cú, nunca mais me ganha. Está morto/morta. E nem um
pedido de desculpas, o poderá remediar. Ardeu.
Da
minha parte, não houve uma ofensa, um ato mau, deliberado, com a intenção de
ferir. Disse o que eu penso, como sempre, sem nunca ofender ninguém, e se por
acaso fossem meus amigos, como eu pensava ser deles, viriam ter comigo,
pessoalmente, não por conversas de putos, mensagens privadas de merda, nas
redes sociais. Chegar-se-iam ao pé de mim, e perguntariam: Pedro, qual é?
E
o Pedro explicaria, como sempre, qual a sua cena.
Mas
qual foi o mal?
Assim
não foi, assim não quiseram, preferiram deitar para trás das costas, tantos
anos de contato, até profissional, e amuaram. Pois a mim, de mim, garanto que
já não me verão o branco dos dentes outra vez. Amigo da família, que continuo;
próximo de familiares, como antes estava deles, não misturarei as águas, saberei
separar o trigo do joio. Eles fora. Continuará tudo igual, exceto na relação
que tenho com eles, que se perdeu irremediavelmente. Agora té podem vir
carregados de ouros e oportunidades, que para mim, não valem mais que nada. Somos adultos ou quê?
Não
sei, de verdade, o que é que esta gente pensa desta vida. Não sei que raio de
ideia farão das outras pessoas, dos valores que devem existir, para deitarem
tudo abaixo, a um simples virar de cara.
Será
isto por eu fazer, de há dois anos até agora, parte de um movimento cívico com
amigos, pessoas de bem, do concelho, preocupados com a forma como a câmara tem sido
conduzida, que sempre sonharam com uma alternativa sólida, democrática, e agora
propõe uma hipótese? Será por agora andarem vestidos com as opas políticas, e
já eles, a exemplo daquilo que lá está em cima, defenderem que quem não
concorda com eles, está contra si?
Tão
engraçados… Eu gostava era de os ver escrever um texto, fazer um discurso em
público (já que até ler é tão difícil…), ser naturais.
E
até eles sabem, que não estou a ser mau.
Estou, como sempre, a dizer a verdade.
“Ai
mas essas pessoas, preocuparam-se muito contigo, quando tu estavas no hospital,
Pedro. Pensa bem…”, aconselham-me.
Eu
agradeço os conselhos, porque nunca ninguém sabe tudo, e eu serei dono apenas
da minha opinião. Mas… essa preocupação, para mim, é algo em que não consigo
acreditar. Não bate a bota com a perdigota. Então era assim… e… por nada… isto?
O
que as pessoas, a grande maioria das pessoas gosta é… de ter pena. Fazer o
filme para fora, dar a impressão de que. Chamar coitadinho. Mas se há coisa que
a Dona Alzira Sobreiro me ensinou, entre muitas, quase todas, é que os
coitadinhos, pedem a Deus que os levem.
Azares
na vida, todos temos. Como eu sempre defendo, grande homem não é aquele a quem
tudo correu sempre bem. Grande, é o que cai, se levanta por si, não esquece por
onde passou, e tenta ser melhor, a cada dia que passa.
Eu
agradeço sempre a Deus, todos os dias, todas as noites, esta nova oportunidade
que me deu de viver. Como agradeço a todos e todas os que me apoiaram,
visitaram, ajudaram, porque sem eles não conseguiria chegar onde estou, e da
forma que estou hoje.
Mas
no meio deste rebanho de almas caridosas, é bem fácil de ver, os lobos disfarçados
com peles de cordeiro que, poderiam querer muita coisa, mas não estavam verdadeiramente
preocupados com o Pedro.
Eu
imagino, se o desfecho tivesse sido outro, o enorme folclore de flores, coroas,
de lágrimas e gritos… não por mim, pela minha companheira, pelas minhas filhas,
pela minha família, pelos meus amigos que, pela minha insensatez, quase se viram
privados da minha presença, mas… para o espetáculo, que tanto comove e tem tanta
gente a chorar.
Eu
sou uma pessoa de bem. Eu sou um homem de bem. Eu sou um seguidor de Jesus
Cristo, o meu exemplo enquanto homem, mas eu sou humano. Eu erro. E não perdoo.
E
não estou minimamente preocupado com as pessoas que possam ir ao meu funeral,
quando Deus entender que devo partir. Já cá não estarei, nesse então, mas
gostaria de ter nesse adeus terreno, as pessoas que me amaram durante a vida, as
pessoas que eu amei, familiares e amigos próximos. Dispenso, como é óbvio, o
ter que se ir porque… para depois se dar um enorme burburinho de conversas
cruzadas, e os homens cá fora a falarem de tudo e de nada, menos de quem, a partir
desse dia faltou.
Respeito.
É o que peço, e exijo. Depois destas eleições, em que concorrerei a membro da
assembleia municipal, e em que pretendo nesse órgão, caso seja eleito, defender
a minha terra e as suas gentes; nada ficará como dantes. Espero que em termos
políticos, mas sobretudo pessoais.
Quem
comigo reagiu assim, irá sentir o mal que esteve. Nem sequer me devolver as
boas noites, quando passo no café de bairro? Virar a cara num aniversário de um
amigo comum?
Passa
muito bem.
Para
mim não serves. Cresce.
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