sexta-feira, 26 de maio de 2017

O principal que a política tem para nos dar


Para a grande maioria das pessoas, a política é uma coisa má, uma coisa ruim, de mal, de se fugir dela. Seja mais ou menos instruído, a opinião é… geral. Os políticos pagam assim por serem todos… farinha do mesmo saco. Corruptos, sem escrúpulos, disfarçudos, mentirosos, interesseiros… esbanjadores. A maior parte das pessoas desliga, e abstrai-se deste mundo. E é por aqui se explicam também, os assustadores níveis de abstenção.

Mas para mim, que vejo a política como uma atitude necessária, que todos temos de realizar ao longo da nossa vida, no dia a dia (a escolha de um, entre vários caminhos; a escolha do melhor, para nós), tenho a política, pelo menos a nível local, que é a que conheço melhor, como um fenómeno necessário. Estar perto da fonte, do voto; dar cara a cara com aqueles a quem podemos melhorar a vida, é profundamente inspirador, e recompensador também. Para quem veste o cargo de alma e coração, como eu o fiz, quando ganhei a vice-presidência do meu concelho, entre 2005 e 2009, deve ser assim. Apesar das tantas limitações e desconfianças, que me afunilaram o caminho para o bem, para o que eu queria fazer na realidade, foram tempos, por momentos, muitos felizes, da minha vida.

Mas a política, para além desta sua essência elementar, é também, para mim, profundamente reveladora, da real natureza das pessoas, que nela se envolvem. Essa é talvez, numa perspetiva muito pessoal, a maior revelação e benesse da política. Claro que isto numa visão muito minha, muito íntima, muito centrado nos meus olhos. Voltemos ao meu ponto local, ao universo onde me movo, Marvão, que tinha a veleidade de pensar conhecer bem.

A quantidade de pessoas que eu considerava amigas, ou pelo menos próximas, com quem me dei bem durante toda a minha vida, há décadas, e agora, pura e simplesmente, de sua livre e espontânea iniciativa, deixaram de me considerar enquanto Pedro Sobreiro...
Como não é uma, nem duas, é claro que já meditei sobre isso. É claro que já me interroguei, já retrospetivei, já tentei encontrar um porquê e… não o encontrei. Porque não existe! Tenho a minha consciência tranquila. Nunca quis na minha vida, prejudicar deliberadamente ninguém. Haja a primeira pessoa que mo diga, cara a cara, olhos nos olhos, como adultos, e eu, aí, caso tenha falhado, não terei qualquer dificuldade em pedir perdão. Em pedir perdão, e em prometer que tudo farei para que não se repita.

Agora… o que tem acontecido, e irá sempre acontecer até ao meu último suspiro, é que o Pedro dirá sempre em público e seja onde for, aquilo em que acredita. Um homem que preza a liberdade como o maior dos direitos, a maior das grandezas da vida humana, jamais poderá ser emudecido, seja por que poder for. O que eu apenas faço, em público, e aqui nesta minha taberna virtual, é dizer o que penso. Comigo não há jogos de bastidores, não há nabos em sacos, não há manobras por trás. Para mim é tudo às claras, pela frente, de peito aberto e coração nas mãos. Os meus amigos e amigas sabem que os quero e amo, como os irmãos que escolhi nesta caminhada da vida. Os meus amigos têm tudo. Sei que sabem que por eles, tudo farei. Como eu sei que eles o farão por mim.

Analisemos o conceito que eu tenho de amizade. Amigo que é amigo, mesmo, de verdade, aceita, perdoa, e compreende. Tomemos o caso, em abstrato, de dois amigos que querem comprar a mesma casa. Vão falar com o vendedor, e esgrimem os seus motivos. Cada um alega os seus argumentos, e chegam a um determinado ponto em que os dois, amigos, percebem que só um deles consegue suplantar a oferta monetária do outro. O derrotado, se é mesmo amigo, lamenta, compreende, e vai à procura de outra casa, quem sabe, se ainda melhor que a primeira.

O mesmo se poderá passar, com uma mulher. Imaginemos que ambos gostam da mesma, ambos se esforçam para lhe agradar. Ela, depois de muito pensar, decide-se por um deles. Ora o outro, se é verdadeiramente amigo do eleito, se não o quer perder, decide não ter uma atitude revanchista, vingadora, e opta por partir para outra mulher. Quem sabe se será essa a companheira da sua vida com que sempre sonhou.

Ora eu sou sempre o mesmo. O Pedro. Aquele que à primeira vista, quando se olha ao espelho, vê o puto da Beirã, com as oportunidades todas da vida pela frente. Não me vejo com quarenta e tal anos, não me vejo como um homem, vejo-me assim. Depois de alguns momentos a fitar-me ao espelho, vem a minha vida, as minhas filhas, a minha mulher, os meus trabalhos, aquilo que tenho conseguido contruir. Eu sou sempre o mesmo. E serei sempre assim.

Não sei, de verdade que não sei, o que é que estas pessoas, que se tornaram neste últimos meses “políticas” comigo, pensam da vida, ou pensavam que eu era. Não que fossemos amigos do peito, mas certamente também não éramos desconhecidos. Haveria ali uma familiaridade, uma empatia, uma proximidade que… com esta sua atitude, se esvaiu. E nisso aí, sou muito cruel, como as crianças. Meto dentro quem amo, mas a quem vejo o cú, nunca mais me ganha. Está morto/morta. E nem um pedido de desculpas, o poderá remediar. Ardeu.

Da minha parte, não houve uma ofensa, um ato mau, deliberado, com a intenção de ferir. Disse o que eu penso, como sempre, sem nunca ofender ninguém, e se por acaso fossem meus amigos, como eu pensava ser deles, viriam ter comigo, pessoalmente, não por conversas de putos, mensagens privadas de merda, nas redes sociais. Chegar-se-iam ao pé de mim, e perguntariam: Pedro, qual é?
E o Pedro explicaria, como sempre, qual a sua cena.
Mas qual foi o mal?

Assim não foi, assim não quiseram, preferiram deitar para trás das costas, tantos anos de contato, até profissional, e amuaram. Pois a mim, de mim, garanto que já não me verão o branco dos dentes outra vez. Amigo da família, que continuo; próximo de familiares, como antes estava deles, não misturarei as águas, saberei separar o trigo do joio. Eles fora. Continuará tudo igual, exceto na relação que tenho com eles, que se perdeu irremediavelmente. Agora té podem vir carregados de ouros e oportunidades, que para mim, não valem mais que nada. Somos adultos ou quê?

Não sei, de verdade, o que é que esta gente pensa desta vida. Não sei que raio de ideia farão das outras pessoas, dos valores que devem existir, para deitarem tudo abaixo, a um simples virar de cara.

Será isto por eu fazer, de há dois anos até agora, parte de um movimento cívico com amigos, pessoas de bem, do concelho, preocupados com a forma como a câmara tem sido conduzida, que sempre sonharam com uma alternativa sólida, democrática, e agora propõe uma hipótese? Será por agora andarem vestidos com as opas políticas, e já eles, a exemplo daquilo que lá está em cima, defenderem que quem não concorda com eles, está contra si?

Tão engraçados… Eu gostava era de os ver escrever um texto, fazer um discurso em público (já que até ler é tão difícil…), ser naturais.

E até eles sabem, que  não estou a ser mau. Estou, como sempre, a dizer a verdade.

“Ai mas essas pessoas, preocuparam-se muito contigo, quando tu estavas no hospital, Pedro. Pensa bem…”, aconselham-me.
Eu agradeço os conselhos, porque nunca ninguém sabe tudo, e eu serei dono apenas da minha opinião. Mas… essa preocupação, para mim, é algo em que não consigo acreditar. Não bate a bota com a perdigota. Então era assim… e… por nada… isto?

O que as pessoas, a grande maioria das pessoas gosta é… de ter pena. Fazer o filme para fora, dar a impressão de que. Chamar coitadinho. Mas se há coisa que a Dona Alzira Sobreiro me ensinou, entre muitas, quase todas, é que os coitadinhos, pedem a Deus que os levem.

Azares na vida, todos temos. Como eu sempre defendo, grande homem não é aquele a quem tudo correu sempre bem. Grande, é o que cai, se levanta por si, não esquece por onde passou, e tenta ser melhor, a cada dia que passa.

Eu agradeço sempre a Deus, todos os dias, todas as noites, esta nova oportunidade que me deu de viver. Como agradeço a todos e todas os que me apoiaram, visitaram, ajudaram, porque sem eles não conseguiria chegar onde estou, e da forma que estou hoje.

Mas no meio deste rebanho de almas caridosas, é bem fácil de ver, os lobos disfarçados com peles de cordeiro que, poderiam querer muita coisa, mas não estavam verdadeiramente preocupados com o Pedro.

Eu imagino, se o desfecho tivesse sido outro, o enorme folclore de flores, coroas, de lágrimas e gritos… não por mim, pela minha companheira, pelas minhas filhas, pela minha família, pelos meus amigos que, pela minha insensatez, quase se viram privados da minha presença, mas… para o espetáculo, que tanto comove e tem tanta gente a chorar.

Eu sou uma pessoa de bem. Eu sou um homem de bem. Eu sou um seguidor de Jesus Cristo, o meu exemplo enquanto homem, mas eu sou humano. Eu erro. E não perdoo.   

E não estou minimamente preocupado com as pessoas que possam ir ao meu funeral, quando Deus entender que devo partir. Já cá não estarei, nesse então, mas gostaria de ter nesse adeus terreno, as pessoas que me amaram durante a vida, as pessoas que eu amei, familiares e amigos próximos. Dispenso, como é óbvio, o ter que se ir porque… para depois se dar um enorme burburinho de conversas cruzadas, e os homens cá fora a falarem de tudo e de nada, menos de quem, a partir desse dia faltou.

Respeito. É o que peço, e exijo. Depois destas eleições, em que concorrerei a membro da assembleia municipal, e em que pretendo nesse órgão, caso seja eleito, defender a minha terra e as suas gentes; nada ficará como dantes. Espero que em termos políticos, mas sobretudo pessoais.

Quem comigo reagiu assim, irá sentir o mal que esteve. Nem sequer me devolver as boas noites, quando passo no café de bairro? Virar a cara num aniversário de um amigo comum?
Passa muito bem.

Para mim não serves. Cresce.

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