O
fogo, é uma boca do inferno, voraz, infinita, medonha. Este incêndio que lavrou
no coração de Portugal, que arrastou consigo vidas, tantas vidas, projetos, e
sonhos, teve também um impacto fundo em mim. Não resisto à moda das redes
sociais, e também eu não consigo não lamentar em público, o tanto que sofro
pelo seu pesar.
Este
homem da imagem, da minha idade, relatou às câmaras, com uma perturbante e
inquietante calma, a perda da mulher, da sua companheira de vida, e das suas
duas filhas, das suas extensões de si. Fiquei completamente de rastos. Não
consigo imaginar dor maior. Tudo porque seguiu num outro carro...
Rezo
por eles todos. Pelos que ficam, pelos que já regressaram à fonte...
Enquanto,
—
a época de incêndios não se adapte aos calores extremos já vividos em Junho
(há—de iniciar, mais tarde...);
—
os sistemas anti incêndios, de muitos milhões de euros, continuem a não darem
cabal resposta de defesa, imediata e instantânea, à 1° hora;
—
os interesses económicos continuarem a orientar a reflorestação, e a gestão das
áreas verdes (eucalipto e pinheiro a mais).
Aquela
que ficou conhecida como estrada da morte, tinha todos os ingredientes para se
transformar num cenário dantesco... Árvores gigantescas, sem corta—fogos entre
elas; coladas à estrada...
—
os bravos bombeiros, não sejam uma força remunerada, bem apetrechada, com todas
as condições e regalias de vida que premeiem o seu risco permanente; (e atenção
que com isto, não aponto nada de nada, ao seu notável comportamento. Apenas
defendo que merecem tudo)
Vamos
continuar a viver este clima terrível de guerra civil.
O que eu lamento... ver a forma de
vidas como a minha, cheias de brilho de família, e sonhos no olhar, que
sucumbiram perante a tragédia. Se não há tal coisa como mortes boas (nem quando
é um alívio, isso acontece), esta é terrivelmente perturbante, só de a
imaginar. Ser consumido pelas chamas, queimado vivo, num oceano de labaredas.
Tantos projetos, tantos planos, tantas visões e hipóteses...
abruptamente estancados.
O ver—me ali, a mim, e às minhas, faz—me estremecer.
Como é fortuita esta ilusão da vida, destas
férias que a morte nos dá. Como é rápida a passagem para a outra dimensão...
nada mais sendo preciso que o acaso.
Como lamento já não ser
capaz de chorar, de me conseguir emocionar às lágrimas, e assim poder
restabelecer—me cá dentro.
Mas por eles, por todos
eles, o meu coração chora e rezo, em silêncio, concentrado, pedindo paz entre o
esplendor da luz perpétua, para os que já partiram, e coragem para os que
ficaram.
O meu pensamento e
sentimentos vão por vós...
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