quarta-feira, 21 de junho de 2017

Quando o inferno nos assola, assombra e devasta


O fogo, é uma boca do inferno, voraz, infinita, medonha. Este incêndio que lavrou no coração de Portugal, que arrastou consigo vidas, tantas vidas, projetos, e sonhos, teve também um impacto fundo em mim. Não resisto à moda das redes sociais, e também eu não consigo não lamentar em público, o tanto que sofro pelo seu pesar.



Este homem da imagem, da minha idade, relatou às câmaras, com uma perturbante e inquietante calma, a perda da mulher, da sua companheira de vida, e das suas duas filhas, das suas extensões de si. Fiquei completamente de rastos. Não consigo imaginar dor maior. Tudo porque seguiu num outro carro...

Rezo por eles todos. Pelos que ficam, pelos que já regressaram à fonte...

Enquanto,

— a época de incêndios não se adapte aos calores extremos já vividos em Junho (há—de iniciar, mais tarde...);


— os sistemas anti incêndios, de muitos milhões de euros, continuem a não darem cabal resposta de defesa, imediata e instantânea, à 1° hora;

— os interesses económicos continuarem a orientar a reflorestação, e a gestão das áreas verdes (eucalipto e pinheiro a mais).

Aquela que ficou conhecida como estrada da morte, tinha todos os ingredientes para se transformar num cenário dantesco... Árvores gigantescas, sem corta—fogos entre elas; coladas à estrada...


— os bravos bombeiros, não sejam uma força remunerada, bem apetrechada, com todas as condições e regalias de vida que premeiem o seu risco permanente; (e atenção que com isto, não aponto nada de nada, ao seu notável comportamento. Apenas defendo que merecem tudo)


Vamos continuar a viver este clima terrível de guerra civil.



O que eu lamento... ver a forma de vidas como a minha, cheias de brilho de família, e sonhos no olhar, que sucumbiram perante a tragédia. Se não há tal coisa como mortes boas (nem quando é um alívio, isso acontece), esta é terrivelmente perturbante, só de a imaginar. Ser consumido pelas chamas, queimado vivo, num oceano de labaredas.

Tantos projetos, tantos planos, tantas visões e hipóteses... abruptamente estancados.

O ver—me ali, a mim, e às minhas, faz—me estremecer.

Como é fortuita esta ilusão da vida, destas férias que a morte nos dá. Como é rápida a passagem para a outra dimensão... nada mais sendo preciso que o acaso.

Como lamento já não ser capaz de chorar, de me conseguir emocionar às lágrimas, e assim poder restabelecer—me cá dentro.

Mas por eles, por todos eles, o meu coração chora e rezo, em silêncio, concentrado, pedindo paz entre o esplendor da luz perpétua, para os que já partiram, e coragem para os que ficaram.

O meu pensamento e sentimentos vão por vós...

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