Quando andava no Liceu havia por lá um professor, um tal de Filomeno, que era o terror da rapaziada da área das matemáticas, coisa que a mim, menino das letras, pouco me afligia. Pelo que me consigo recordar dos relatos assustados nos intervalos, o homem tinha o prazer macabro de tornar ininteligível o que já por si era complicado. Coisa com requintes de malvadez. De aspecto era um sujeito estranho: roupa de há 2 décadas atrás, óculos pretos de massa em forma de dois televisores acoplados, cabelo às ondinhas, tudo isto composto num andar apressado e de esguelha que lhe davam um ar ainda mais “fora”. Tinha a fama de dizimar as expectativas das turmas em relação à disciplina. À excepção de dois ou três carolas que de tanto perceberem, brincavam com a coisa, toda a restante turma dali saia com a viola no saco e o chumbo certo cravado no centro do rabo. O Sr. Filomeno este seria portanto a antítese do que deveria ser. Complicava onde deveria clarificar e nessa medida, mesmo sem o conhecer, a ele ou à sua arte, arrisco-me a dizer que poderia ser muita coisa boa na vida mas professor não, certamente.
Serve esta longa introdução para dizer que me recordo muitas vezes do Filomeno quando ouço na televisão os especialistas em economia a explicarem a actual situação para a enorme massa encarneirada de espectadores na qual obviamente me incluo (embora numa ala moderadamente esclarecida). Para a grande generalidade dos portugueses, a lógica financeira é incompreensível. Os défices, os pibs, os spreads, a inflacção, os ratings são jargões que não passam disso mesmo, palavrões sem expressão concreta na sua vida real. O que eles querem saber é se a garrafinha de Ucal morninha, aquecida na máquina do café e acompanhada por meia torrada comida à pressa no caminho para o serviço paga mais ou menos IVA.
Eu posso não perceber a economia mas esforço-me. Mesmo que me custe entrar, eu quero saber e para isso tenho uma estratégia que defini para a minha vida há muitos anos, baseada no jogo do Mikado: se a coisa é complexa, tento simplificá-la, passo a passo, desmontá-la, puxá-la para a realidade, subtraindo-lhe a abstracção e fazendo-a real. Foi assim que aprendi as fracções que hoje tanta falta me fazem no meu dia-a-dia nas Finanças.
Tudo isto a propósito da visita a Portugal daquele que a revista Forbes cataloga como o homem mais poderoso do mundo: Hu Jintao, o presidente chinês. Sabem porventura o que é que o senhor este veio fazer ao solo luso? Veio acordar a compra de parte da dívida pública portuguesa.
Como?
Isso!
O Zé deve na taberna da esquina as paletes de minis que emborca durante o dia para esquecer o desemprego, a fome e a falta de tudo e mais alguma coisa. O China decidiu chegar-se à frente e comprou esse calote. O que é que significa isto? Em primeira instância, que passou a ser ele o credor. Numa análise mais profunda, significa que de alguma forma, se “assenhoriou”, no mais feudalista sentido do termo, do outro. A técnica é antiga e comum em esquemas mafiosos. Quem conhece o modus operandi deste tipo de organizações sabe do que falo.
É claro que a grande maioria dos nossos políticos e dos nossos governantes, que não passam de uma corja de ignorantes e interesseiros que só pensam em safar-se a eles e aos amigos, viram isto com os melhores olhos: “o que é que nós achamos disto? Que é belíssimo! Se os chineses compram a dívida é porque acreditam em nós, é porque nos vêem como cumpridores e acham que um dia vamos pagar. Para Portugal é uma segurança!”
Pois é… Está bem, abelha.... Mas… e quando chegar a hora de cobrar? E se porventura não conseguirmos pagar? Se a dívida é galopante e cresce de dia para dia, se o governo continua refém dos mega-projectos que favorecem quem lá o meteu… como é que vai ser quando forem horas de fazer contas? Responderão os nossos recursos endógenos, o nosso próprio país por estes erros irreparáveis?
Acontece que a China não é propriamente a Suíça ou a Bélgica e os tibetanos sabem-no bem, coitadinhos, tão fartinhos que estão de apanhar naqueles totiços carecas. Direitos humanos e diplomacia não são bem o forte dos chineses. Para além desta maquiavélica manobra financeira, há outras frentes de ataque que convém não descurar. Não sei se já repararam (a menos que andem por aí a circular de olhos vendados) mas eles estão em todo o lado. Não há lugarejo onde não tenham uma venda. Compram tudo o que vaga, quase sempre em dinheiro vivo (claro!) e esticam-se até não poderem mais. A sua extraordinária capacidade de trabalho (24h/7 dias por semana… se eles vivem na barraca, por Deus!) e a velocidade a que se multiplicam vão-se encarregar de fazer o resto. Chama-se isto uma invasão silenciosa.
Há umas décadas atrás, os franceses, embuídos daquele espírito altruísta da revolução, decidiram abrir os bracinhos e deixaram ir a eles as criancinhas, sobretudo das ex-colónias africanas. Hoje, barricados e atacados nas suas próprias entranhas, sufocam nos erros do passado. Há dias, a Sra. Merkel, lá teve de bater o pé e dizer que o multiculturalismo era muito bonito mas era melhor mudar o baile: quem quer estar tem de se adaptar e respeitar a ordem estabelecida.
Lá vem mais uma vez o “método de simplificação sabística” (ou seja, o meu): cá em casa somos 4. Eu já vou mandando pouco (com 3 mulheres… não é fácil) mas a coisa leva-se. Se alugarmos um quarto a um casal de ucranianos com dois filhos, o sótão a um casal de russos e a garagem a duas lésbicas finlandesas… quem é que manda à noite no comando da televisão quando nos sentarmos na sala a fazer serão?
Tudo isto é muito bonito. Só tenho medo é que possa complicar…
Serve esta longa introdução para dizer que me recordo muitas vezes do Filomeno quando ouço na televisão os especialistas em economia a explicarem a actual situação para a enorme massa encarneirada de espectadores na qual obviamente me incluo (embora numa ala moderadamente esclarecida). Para a grande generalidade dos portugueses, a lógica financeira é incompreensível. Os défices, os pibs, os spreads, a inflacção, os ratings são jargões que não passam disso mesmo, palavrões sem expressão concreta na sua vida real. O que eles querem saber é se a garrafinha de Ucal morninha, aquecida na máquina do café e acompanhada por meia torrada comida à pressa no caminho para o serviço paga mais ou menos IVA.
Eu posso não perceber a economia mas esforço-me. Mesmo que me custe entrar, eu quero saber e para isso tenho uma estratégia que defini para a minha vida há muitos anos, baseada no jogo do Mikado: se a coisa é complexa, tento simplificá-la, passo a passo, desmontá-la, puxá-la para a realidade, subtraindo-lhe a abstracção e fazendo-a real. Foi assim que aprendi as fracções que hoje tanta falta me fazem no meu dia-a-dia nas Finanças.
Tudo isto a propósito da visita a Portugal daquele que a revista Forbes cataloga como o homem mais poderoso do mundo: Hu Jintao, o presidente chinês. Sabem porventura o que é que o senhor este veio fazer ao solo luso? Veio acordar a compra de parte da dívida pública portuguesa.
Como?
Isso!
O Zé deve na taberna da esquina as paletes de minis que emborca durante o dia para esquecer o desemprego, a fome e a falta de tudo e mais alguma coisa. O China decidiu chegar-se à frente e comprou esse calote. O que é que significa isto? Em primeira instância, que passou a ser ele o credor. Numa análise mais profunda, significa que de alguma forma, se “assenhoriou”, no mais feudalista sentido do termo, do outro. A técnica é antiga e comum em esquemas mafiosos. Quem conhece o modus operandi deste tipo de organizações sabe do que falo.
É claro que a grande maioria dos nossos políticos e dos nossos governantes, que não passam de uma corja de ignorantes e interesseiros que só pensam em safar-se a eles e aos amigos, viram isto com os melhores olhos: “o que é que nós achamos disto? Que é belíssimo! Se os chineses compram a dívida é porque acreditam em nós, é porque nos vêem como cumpridores e acham que um dia vamos pagar. Para Portugal é uma segurança!”
Pois é… Está bem, abelha.... Mas… e quando chegar a hora de cobrar? E se porventura não conseguirmos pagar? Se a dívida é galopante e cresce de dia para dia, se o governo continua refém dos mega-projectos que favorecem quem lá o meteu… como é que vai ser quando forem horas de fazer contas? Responderão os nossos recursos endógenos, o nosso próprio país por estes erros irreparáveis?
Acontece que a China não é propriamente a Suíça ou a Bélgica e os tibetanos sabem-no bem, coitadinhos, tão fartinhos que estão de apanhar naqueles totiços carecas. Direitos humanos e diplomacia não são bem o forte dos chineses. Para além desta maquiavélica manobra financeira, há outras frentes de ataque que convém não descurar. Não sei se já repararam (a menos que andem por aí a circular de olhos vendados) mas eles estão em todo o lado. Não há lugarejo onde não tenham uma venda. Compram tudo o que vaga, quase sempre em dinheiro vivo (claro!) e esticam-se até não poderem mais. A sua extraordinária capacidade de trabalho (24h/7 dias por semana… se eles vivem na barraca, por Deus!) e a velocidade a que se multiplicam vão-se encarregar de fazer o resto. Chama-se isto uma invasão silenciosa.
Há umas décadas atrás, os franceses, embuídos daquele espírito altruísta da revolução, decidiram abrir os bracinhos e deixaram ir a eles as criancinhas, sobretudo das ex-colónias africanas. Hoje, barricados e atacados nas suas próprias entranhas, sufocam nos erros do passado. Há dias, a Sra. Merkel, lá teve de bater o pé e dizer que o multiculturalismo era muito bonito mas era melhor mudar o baile: quem quer estar tem de se adaptar e respeitar a ordem estabelecida.
Lá vem mais uma vez o “método de simplificação sabística” (ou seja, o meu): cá em casa somos 4. Eu já vou mandando pouco (com 3 mulheres… não é fácil) mas a coisa leva-se. Se alugarmos um quarto a um casal de ucranianos com dois filhos, o sótão a um casal de russos e a garagem a duas lésbicas finlandesas… quem é que manda à noite no comando da televisão quando nos sentarmos na sala a fazer serão?
Tudo isto é muito bonito. Só tenho medo é que possa complicar…
PS1: Um apontamento final para o obsceno jantar organizado em nome do nosso ilustre convidado chinês. Obsceno. Obsceno é o termo. Eu sei que a diplomacia não pode parar mas uma gala daquelas, com tanto luxo, tanta faiança, tanta cagança, tanto salamaleque, tanto esbanjamento, tanto desperdício quando TANTOS passam sem ter nada para comer… é VERGONHOSO!
Bem o podiam ter levado ao restaurante chinês da esquina. Acho que a sopa de algas está em promoção.
Ps2: Tinha eu acabado de escrever isto quando dou com este genial cartoon do sempre genial Henrique Monteiro cujo blogue aconselho vivamente. Está tudo aqui, em 3 vinhetas apenas. Um mestre!
2 comentários:
Só mesmo o Pedro para se lembrar dessa figura impar, o prof Filomeno.Eu que passei pelas agruras das suas aulas não o poderia descrever melhor. No que diz respeito á economia são tantos os Filomenos que mais vale encomendar a nossa sepultura aos chineses.Eu ja ouvi algures que o mundo era deles, cada dia acredito mais nessa possibilidade.
ola Pedro, espero que estejas a recuperar bem. Concordo plenamente com o que escreveste sobre a vinda do Presidente chinês a portugal. Eu,também sinto desconfiança e insegurança no que diz respeito a esta visita. Vamos esperar para ver as surpresas que nos esperam no futuro.
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