No
Verão quente de 2011, num corredor frio, inóspito e distante de casa, enquanto
aguardava a equipa médica por notícias minhas, a Cristina esperava e pensava. O
que pensaria… só ela sabe. Mas poderia ser que estava em risco de perder o
companheiro que um dia pensou ser para toda a vida, vítima de um estúpido
acidente que lhe provocou um grave traumatismo craniano (7 numa escala 3/15);
que caso isso acontecesse iria ser muito difícil criar duas filhas pequenas
(uma com 10, outra com apenas 1) e motivá-las para a vida; que iria ser muito
duro ficar viúva com apenas 36 anos, na flor da vida; que um lar assim
desfeito, com apenas uma fonte de rendimentos ficaria muito difícil de
governar… Estas seriam certamente ideias que a assolavam e lhe assombravam os
dias nesse então.
Enquanto
se esforçava por aguentar a ansiedade e o desgosto, recorreu e fez uma
promessa. Pediu a Deus e à senhora de Fátima que caso eu regressasse à vida, saído
daquele estado (quase) vegetativo em condições de a ajudar a educar as nossas
filhas e a trabalhar no meu serviço outra vez,(algo que parecia impossível)
iria a pé a Fátima. Se eu saísse com vida daquele coma pesado que me tornava
morto de cada vez que os seus olhos me fitavam, iria a pé a Fátima. Por mim,
pela minha recuperação, faria esse esforço.
Em
conversa, dias depois, confessou essa vontade à sua irmã Paula, dias mais velha
que eu e minha colega de escola de toda a vida. Curiosamente, ela disse-lhe que
tinha feito o mesmo pedido. Por mim.
Quando
estava longe de casa, longe das filhas, longe de todos os apoios mais próximos,
a viver num apartamento pequeno da minha tia Maria na Amadora, a dormir no chão
e a dividir esse espaço com os meus entes queridos que deixaram tudo para estar
próximos de mim, sempre se agarrou a essa fé. A essa ideia que uma força divina
superior iria puxar por mim.
Eu
também já fui a pé a Fátima, para cumprir a vontade do meu pai e sei como é
difícil. O João Sobreiro prometeu que se viesse com vida de África iria a pé a
Fátima. Assim que cá se apanhou, foi deixando andar. Era para o ano, no outro é
que era e nunca foi. Só quem não o conhecesse. O João Sobreiro era assim. Eu
acho que ela até pensava que quanto mais tempo cá andasse para cumprir, mais
anos de vida teria. Como partiu cedo demais para cumprir e eu tenho fé, parti
da campa dele para sozinho, sozinho… ir a pé a Fátima. Foi uma experiência
inolvidável. Com uma faca de mato na mochila para me defender e algum dinheiro
na carteira fui dormindo por aí. “Walking the earth, like
Caine in Kung Fu” como a tirada do Pulp Fiction, nunca me senti só. Sem rádio, sem smartphones, sem
computador, sem documentos (estúpido!:(), nunca me senti só. Todo o dia a
andar, todo o dia com a cabeça a trabalhar. Sempre acompanhado. Comigo. Com
ele. Com ela. Com todos!
Há
dias vi uma entrevista muito interessante da Helena Sacadura Cabral, a mãe dos
Portas (Paulo, Miguel e Catarina) a dizer, dentro da sua inteligência e porte
de grande mulher que rezava para ter fé. Nunca tinha rezado para ser bonita,
alta, gorda, magra ou rica mas rezava para ter fé. Invejava as pessoas que
acreditavam. Acreditar em algo. Acreditar numa força, numa entidade, numa
pessoa. Ela pedia por isso. Por ser capaz de fazer isso.
É
certo que ter fé não está nas mãos de qualquer um. É preciso ter uma força
mental que não está ao acesso de todos.
Podemos
ser alvo de troça, de riso, de chacota por parte dos outros que se acham
intelectualmente superiores, que têm problemas e os ultrapassam na mesma. Que a
Sra. de Fátima foi obra do Salazar e do cardeal Cerejeira, que a Sra. da
Estrela foi forjada pela incultura popular, que a Sra. do Carmo é padroeira da
Beirã porque esposa do Sr. Vivas também se
chamava Carmem e a capela foi erigida na sua propriedade e era privada.
Pois
eu acredito nas três. Agradeço-lhe todos os dias e peço-lhes proteção todas as
manhãs. Para mim, os meus e os meus amigos.
Nestes
dias tenho feito as orações muito direcionadas a quem pediu e vai pedir por mim.
Cristina e Paula Lança. As manas Lança.
São
provas de amor que não se pagam. Amor de mulher e amor de cunhada, ambos
intensos como só eu sei viver e expliquei no facebook, agradecendo a foto do
meu amigo Manuel Isaac, postada na minha página pela minha mãe.
Só
falta um dia minhas queridas. Ânimo que só falta um dia. Se Deus quiser amanhã
vou-vos dar um abraço do tamanho do mundo, na casa em Portugal da nossa mãe do
céu.
Até
lá. Que nos proteja. A nós e a quem acredita.
Banda
sonora: “Dead sea” - The Lumineers – “The Lumineers” 2012
Banda
que irei ver ao vivo no Optimus alive com a Leonor no dia 10 de Julho.
A
banda Sonora que me acompanhou nesse dia em que ajudei a Cris a ir de Castelo
de Vide, aonde já tinha ido sozinha num dia, até Gáfete, de onde partiu na
sexta de madrugada com uma equipa de caminheiros de Portalegre. Depois de ter
ficado para trás para tirar fotos a uma cegonha, passei por ela a correr numa
subida e disse-lhe: “Nem nos teus melhores sonhos, Cristina, sonhaste que um
dia haverias de me ver a passar por ti a correr assim, para te ajudar a
caminhar até Fátima.”
Ela
sorriu.
“Deus
é grande!”, disse eu.
2 comentários:
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A minha mulher também foi. Pela segunda vez. E não sei porquê. Nem sei se ela sabe. Mas foi de certeza por ela, por mim, pelos nossos filhos, pelos nossos pais, pelo nossos amigo, e por ti também, e pela graça da tua segunda vida.
... da Cristina tenho mais algumas fotos. Um destas foi feita pela janela do carro na ponte de Abrantes. A outra na fonte da Abrançalha.
Que Nossa Senhora do Rosário que abençoe, como já o fez, a ti e à tua Família, que tu mereces e que te merece.
Já fui algumas vezes a Fátima a pé, sem promessa.
De todas as vezes que fui sempre há alguém que diz a sua piada do porquê, e da credibilidade do fenómeno que é Fátima.
Não se explica. É maior que nós.
Acredita-se!
Que a luz de Fátima sempre te ilumine e aos teus!
Que não vos falte a Fé para continuarem a Acreditar e a Ser Felizes!
Abraço!
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