Esta é a banda sonora das minhas
noites. O trabalho de um doce artista que regressou com o calor primaveril, quando
o frio do Inverno, que o mandou emigrar, abalou. O seu é o canto doce, sempre
diferente e inebriante que parece não ter fim e enche as noites de poesia. Por
acaso, geralmente, quando o dia chega ao fim, estou cansado. Depois de um dia
de trabalho e de muito ter andado a bater desde as 7h a que sempre acordo sem
despertador, chego a esta hora e descanso. Por minha vontade, e é assim que
adormeço, faço força enquanto o ouço para que as pálpebras não se fechem. Só
mais um bocadinho, penso. Se de noite acordo para verter urinas, lá continua
ele, na sua extensa e encantatória lamúria poética, polvilhando a noite de pós de
fadas encantadas, dando vontade de o ficar a ouvir, nunca ficando cansado de
tanta beleza. Este canto é como o bailado das ondas do mar. É como as vistas de
Marvão, para a paisagem, para os campos, sempre diferente, nunca igual.
Pela manhã, quando acordo, venho
sempre ouvi-lo à varanda. Para ver se ainda está vivo. Ver se ainda cá está.
Este é o rouxinol dos Outeiros,
que nunca pode ser agrilhoado, nem viver numa gaiola.
Ouçam-no…
Lá continua ele…
Que lindo que é.
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