Esta
é A música. A mais significativa, a mais profunda. O tema emblemático de um
artista que desapareceu, embora tenha nascido para viver da imagem. Um vídeo de palavras. Em
que não aparece. Em que… diz tudo e toca na questão. Rezando por tempo. Por
aquilo que é mais precioso nas nossas vidas e do qual apenas nos apercebemos da
real importância quando ele afunila por uma doença que o vai reduzir a zero. A
nossa maior riqueza: o tempo que temos. Porque desde que nascemos… é sempre a
perder. E esta experiência
de vida, de aproveitar tudo ao máximo, é a nossa maior valia do tempo em que estamos vivos.
de vida, de aproveitar tudo ao máximo, é a nossa maior valia do tempo em que estamos vivos.
O
George Michael representava tudo aquilo que detestava na música, quando apareceu.
Era uma carinha laroca, de uma banda que despejava hits orelhudos, para deitar
fora logo a seguir. As miúdas ficavam todas malucas, a colecionarem posters
para colarem nos quartos. Tudo era o que eu não queria sequer ouvir.
Abominava o gajo, as poses, os trejeitos, os tiques, os sorrisos e a forma de
dançar. A bem dizer, nada se aproveitava ali.
Mas
os Wham acabaram e o artista foi dando provas de querer mudar. No seu disco de
estreia a solo, em 87, ainda agarrado à pele de artista sexual disposto a
partir corações femininos…
Já ia dando sinais de querer mudar de tom, ainda com o mesmo visual,
E
ao quarto single, lança este portento escrito, composto e interpretado de forma
a, nunca mais deixar nada como dantes.
Tudo
apontava para um caminho que haveria de chegar e em 90 o gajo trocou-me as
voltas. A mim e à Sony, contra a qual travou uma gigantesca batalha judicial,
que perdeu. O menino bonito, lançou um vídeo de uma música composta por si em
que, em vez dele a brilhar no ecrã, dava o palco a todas as supermodelos da
altura que eu admirava todos os dias onde quer que as visse (Linda Evangelista,
Naomi Campbell, Christy Turlington, Cindy Crawford) num clip brilhante em que
surgem elas a cantar, num vídeo mágico e histórico do David Fincher (7 pecados
mortais). Vi aquilo e lembro-me de ter pensado: "e esta agora?!?!"
Não
era um caso isolado. O fascínio continuava à medida que o seu talento de
escritor de canções e compositor de melodias se estendia. Sempre com o mesmo
nível, sempre com as mesmas (boas) companhias.
Nos
finais de 90, a sua conduta nada ortodoxa, os seus ímpetos sexuais e consumos alternativos
colocaram-no nos tablóides de todo o mundo.
Mas
era sempre capaz do melhor, para além do pior,
Fazendo
a fusão com Adamski (nova geração)/ com os clássicos (Temptations) em 93
Sempre
que me voltava a sentir mais distante dele outra vez, surpreendia-me. A 1 de
Dezembro de 98, lança “Ladies & Gentlemen: The Best of George
Michael”, com dois discos: um "para o coração" e outro "para os pés". Claro
que foi o primeiro que me bateu mais, e foi a minha banda sonora numa altura
muito concreta da minha vida: casei-me, fui viver com a minha mulher para Marvão,
deixei de ser professor de Inglês na GNR, em Portalegre (após 3 anos e centenas de alunos); e fui trabalhar para a
Amatoscar para Castelo Branco, como chefe de vendas da Opel.
Em
muitas noites que depois de um dia inteiro de trabalho, depois de muito papel,
muito contato, muita responsabilidade, rodar pela cidade e terras vizinhas,
metia-me no carro de regresso a casa e ali tinha a minha cápsula de regeneração,
o meu momento zen. Com este disco quase sempre por companhia, pensava,
programava e refletia. O George Michael passou a ser dos meus, também. De
odiado, a revelado, foi todo um percurso que tardou anos, mas fez-se.
Estive
lá apenas uns meses e depois, saiu a nota do concurso para liquidadores tributários
estagiários, que tinha feito nesse ano, em que a minha mãe teve a queda e foi
pela primeira vez operada. Saiu a nota e, não fui chamado na primeira fase, mas
sim, na 2ª, com o nº 2 053 dos mais de 80 000 que participaram nesse que foi um
dos maiores concursos a nível nacional para a função pública. A partir daí, a
história mudou. Veio Nisa, veio a Leonor, veio a casinha em Santo António, veio
a colocação em Marvão. Nesse entretanto, sempre recorrente, o George ficou. Até
hoje. Até sempre. Até que me lembre dele. Não sairá.
Pelas veredas de Marvão... em repeat... parece que corro sob veludo...
Sem comentários:
Enviar um comentário