Morfeu (em grego: Μορφεύς, transl.: Morphéus, lit "moldador; a forma") é o deus do sonho na mitologia grega.
Dionísio do lado esquerdo, com o Sr. Casa Nova à direita, segurando com orgulho a bandeira da Associação de Caçadores da Fonte da Viola, à qual pertence, na sede, num a festa por ela organizada |
Quando o tempo estava bom, e
estava calor, costumávamos ter aberta a janela do serviço onde trabalho,
sobretudo da parte da manhã, para entrar o fresquinho. Quando o sol rodava,
começava a apertar e dava de frente na casa do brasão, antes de almoço,
costumava vir fechá-la e nesse momento, tinha por hábito olhar a rua. Ali tinha
por hábito inspirar e dar graças a Deus. Agradecer por ter por ter trabalho
fixo (nestes tempos tão difíceis e conturbados), ainda por cima num lugar tão
bonito, que também é o meu; por ter família que amo tanto, pelos amigos, por estar vivo.
Não sei se foi o meu passado
recente (30.07.2011) que me fez ser assim, mas a verdade, é que é assim que é.
Nessa altura, tantas vezes, lá
vinha ele, sempre à mesma hora, de lancheira aviada, todo satisfeito para tomar
a sua refeição, na cantina que os trabalhadores da câmara criaram na antiga
escola.
Com a redução de horários da
Troika, e o aperto de todas as carteiras, os hábitos mudaram e aqueles
trabalhadores que costumavam vir a casa na hora de almoço, como era o meu caso
(hora e meia, e 12 quilómetros davam para essa mordomia); ou almoçar num dos
restaurantes de Marvão a preço simbólico, passaram a levar o conduto numa
lancheira, e compraram micro-ondas para o aquecer e conseguir reduzir ainda
mais, os gastos fixos.
Ele também passou a ser um
desses.
Nunca tive o prazer de comer
junto a ele, mas a verdade é que consigo imaginar aquela lancheira por dentro,
como ele certamente a teria e gostaria.
Sempre muito bem arranjado, bem
barbeado, impecavelmente vestido com os vincos e as dobras todas no lugar, sapatos
engraxados, metia cobiça. Era um primor de Homem.
Nunca se lhe conheceram excessos.
É certo que numa vez ou outra, nesta ou naquela patuscada, embalado pela companhia
e pelos amigos, pode ter-se esticado um pouco mais, mas quem não?!?!? Quem
possa dizer: desta água nunca bebi, ou beberei, que atire a primeira pedra.
Impressionava-me porque apesar de
nunca ter fumado muito, era daqueles que se via que apreciavam mesmo o
cigarrinho (como eu, que agora tenho fumado apenas um/dia), mas apesar disso,
deixou o hábito. Tenho ideia que teria a ver com a tensão arterial alta, ou
qualquer problema do género. Custou mas para seu bem… deixou.
Conheci-o sempre a trabalhar no
município, quando ainda era câmara municipal. Primeiro nas águas, fazendo a
contagem porta-a-porta, durante muitos anos, de bolsinha das moedas às costas;
depois já lá em cima, na tesouraria, logo junto à entrada.
Não sei se por iniciativa sua, se
por proposta superior, mudou-se para a seção das obras, onde trabalhava
recentemente, não sei especificamente bem a fazer o quê. Algo dentro dessa
matéria, onde se sentia visivelmente confortável.
Tenho por filosofia de vida aperfilhar
toda a gente de bem, todos os bons corações que certamente me farão bem, e aos
quais eu posso dar de mim também. É por isso que os familiares da minha mulher
passam a ser meus, e ele, não sei se não seria bem família, mas a verdade é que
a sua tem uma proximidade tão antiga, que recua aos tempos do talho do avô da
minha Cristina, que os faz serem família também. A mãe, a mana, o cunhado, os
sobrinhos são gente da nossa.
Apesar de não ser assim tão mais
velho que eu, a verdade é que nunca lhe conheci uma namorada, e casou já
tardiamente com a companheira Manuela, de quem tem um filho muito adorado, o
Miguel, que estuda por estes dias o já superior em Lisboa.
Enorme benfiquista, de vez em
quando, assim que o glorioso jogava na tv, lá nos encontrávamos no Choca (a.k.a
Pastelaria Caldeira) para nos recriarmos de volta de uma babosinha gostosa,
enquanto nos recriávamos com o nosso clube do coração.
Quem visitar o seu mural do facebook,
facilmente ser aperceberá dos seus gostos, e daquilo que mais gosta de fazer.
Gostava...
Certo dia, deitou-se para
descansar, para dormir, e… não mais abriu os olhos. As dúvidas e a incerteza assombraram
todos os que o amavam, lhe queriam e querem bem.
Mas não abre como? Não
acorda?!?!?!??
Acordou mas uma embolia, um derrame
interno, um problema qualquer desses graves, afetou-lhe a visão, e as
pálpebras.
Já andou a correr de especialista
em especialista, mas os ânimos e as melhoras são poucas. Agora encontra-se numa
unidade de reabilitação onde, há dias, quando a ela me desloquei para levar as
roupas da minha mãe, que também ali se está em recuperação, encontrámo-nos.
A ambulância dos Bombeiros de Marvão
tinha acabadinho de chegar com ele, depois de consultas exploratórias em
Lisboa, e eu, consegui furar a linha de segurança e chamei-o…
“Dionísio!!!! Dionísio!!!!! Sou o
primo Pedro!!!! FORÇA CAMPEÃO!!!!!! FORÇA!!!!!!!!!!!! Tu vais conseguir!!!!!!”
Ele esboçou um sorriso, e rodeado
pela escuridão e negridão de que são feitos os seus dias, de há uns meses a
esta parte, levantou o braço na maca, na esperança que uma mão que lhe servisse
de âncora e o puxasse para a vida. Encaixei nele e não larguei mais, durante
uns breves minutos mas que serviram para mim, para lhe passar a mensagem:
"Tenho pedido tanto por ti, Amigo…
Sinto tanto o que te aconteceu… Quero tanto que fiques bem e passe tudo…"
E ele esboçava um sorriso
enigmático, quase que a querer deixar transparecer… que sabe o que vai
acontecer.
Agora, fazendo aquilo que é
sempre melhor para tentar conseguir avaliar as situações: mete-te tu no lugar
dele, e já falamos...
Deita-te para dormir e… não
conseguirás mais abrir as pálpebras (o problema não é mecânico. Segundo me
apercebi já, as lesões, serão mais internas e profundas), e ficarás condenado a
viver numa “cegueira” sem fim à vista, que chegou para virar de pantanas não só
a tua própria vida, mas também a de todos os que te rodeiam. Incrível não é?
E ainda há pessoas que defendem a
“morte santa”, na versão mais dura em que se deitam para descansar e não só não
abrirão mais os olhos, como não acordarão mais!
Pois se vêm isto como uma forma suave de passar de estágio, sem dor, nem chatices; eu vejo isto como o ainda pior dos cenários, em que o o indivíduo não se pode deitar descansado e tem de estar sempre à guarda. MEDO!
A vida... é belíssima, lindíssima, cheia de coisas fantásticas, mas... tão maravilhosa, quanto fugaz. Ninguém pode respirar fundo e dizer que está bem, porque de um momento para o outro, num ápice, tudo de desmorona e esvai.
O Dionísio está… como se pode
imaginar nestas situações: apesar de muito bem cuidado, porque ali todos estão,
muito mais magro, envelhecido, diminuído…
Nunca o esquecerei nas minhas
orações, e tenho sempre a luz bem acesa que a Deus, nada é impossível. E sei-o
por mim. Por aquela vez que disseram à minha Cris que o seu Pedro… nunca mais
haveria de ser o mesmo; e ao meu irmão (um daqueles médicos menos escrupuloso)
que esquecesse o irmão porque a voltar, e se não na forma de vegetal, nunca
seria o mesmo (ao ponto de o ter feito andar às biqueiradas nas máquinas de
vendas que apanhou pelo caminho! Lol!!!!!!!
Pois se de um traumatismo craniano
do grau 6 (escala de Glasgow em que 3 (80% mortalidade, ou seja, com 3, 8 em 10 já
não voltam) a 15) Deus ajudou-me a voltar a estar assim (e só a ele se deve),
nada é impossível!
Rezemos quantas vezes pudermos, ou se não acreditamos, que peçamos em pensamentos por ele. Acreditemos que ele voltará, e ele… há-de voltar, se Deus quiser.
Para toda a família, Manuela, Miguel, Benvinda, João Pereira, David, João Pedro, um beijo enorme e toda a força do mundo para suportar esta barra tão pesada... Força!!!!
FÉ!
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