Assim
que me apercebi que isto tinha acontecido, claro que fiz tudo para ver, e como
é óbvio, não descansei enquanto não lhe meti a vista em cima.
Ainda
pensei que um qualquer canal nacional, daqueles que se dedicam à informação 24h
sobre 24h (à exceção da inenarrável CMTV, claro!, digo os que se prezem, pelo
menos, dos 3 grandes), contemplassem os telespectadores nacionais, pelos menos
com o espetáculo que coroou a entronização deste quase octogenário, como
presidente dos States, mas não. Nada!
O
que vale é que vivemos neste maravilhoso mundo novo da internet, e essa
maravilha assombrosa, na sua encarnação “youtube”, garantiu a transmissão para
todo o mundo e arredores mais próximos, leia-se galáxias vizinhas, sem qualquer
publicidade que a pagasse, e portanto, de forma absolutamente gratuita.
Se
me tivessem dito a mim, que isto seria possível, há mais ou menos 30 anos
atrás, quando estudava comunicação social em Lisboa, e a própria internet era
ainda assim algo do domínio futurologista… confesso que mesmo sempre tido sido
algo imaginativo, não teria mesmo sido nada capaz.
A
tomada de posse do presidente Joe Biden, o vice-presidente de Obama por dois
mandatos (entre 2009 e 2017), depois de ter sido senador do Delawere entre 1973
e 2019; aconteceu no dia 20 de janeiro de 2021, e foi uma epifania não só para
os Estados Unidos, mas também para todo o mundo civilizado.
Bem
se sabe que um homem quando está a dois de entrar na casa dos 80, sabe que nas
melhores hipóteses, não poderá passar muitos mais com qualidade neste mundo, e
o que é comum para a grande maioria dos que se encontram em tal estágio… é
desfrutar com qualidade dos seus entes mais queridos, e dos prazeres da vida, o
que não é bem o mesmo que ter pela frente o assumir das rédeas da nação mais
poderosa do mundo, que ainda o é, em termos económicos, militares e de projeção
para o mundo, porque por mais força que tenha o gigante chinês, ainda não a
consegue ultrapassar.
Mas
o valente Biden e todos os democratas que o apoiaram, perceberam que este
momento era de urgência, e teriam de jogar para o tudo ou nada. A popularidade
que granjeava em todo o país, ainda muito devida ao sucesso que teve quando
desempenhou funções de liderança com Obama, potenciadas com a novidade de levar
como braço direito, pela primeira vez, uma mulher, Kamala Harris, advogada de
56 anos e cor diferente, origem indiana e
afro-americana, foram trunfos que certamente o catapultaram.
Os 4 anos de Trump
no poder, para onde conseguiu subir certamente graças a alguma patifaria
informática (até porque ninguém me consegue tirar da cabeça que não houve mão
russa, mesmo apesar do nível de ignorância reinante por aquelas pradarias que
nele votaram), em que o ridículo culminou com a invasão do Capitólio, a 6 de janeiro,
constituíram um período de trevas, para o qual só consigo encontrar comparação
histórica na Idade Média, que foi agora derrotado com um espírito da
Renascença.
A sensação que me
deu após a consagração de Biden nas urnas, foi que a América que eu aprendi a
amar desde sempre, desde que era criança e vi pela primeira vez o Rato Mickey
como “Steamboat Willie”, a que me deu mundos e sonhos maiores que a vida, na
banda desenhada, na música, sobretudo no cinema e em todo o mundo do
espetáculo, abriu os pulmões após 4 anos de sufoco em que não respirou e gritou
bem alto: FREE AGAIN!!!!!
E como eu preciso de
uns States saudáveis, apesar todos o seus excessos e incongruências, para me
sentir num mundo respirável, outra vez. Essa nação que resgatou a Europa e o
mundo do jugo nazi, quando desembarcou na praia de Omaha da Normandia, numa
operação maravilhosamente recriada por Spielberg no “Resgate do Soldado Ryan”
de 1998, (lá está! O cinema, outra vez, que sempre acompanhou e mudou aminha
vida) sempre nos fez falta, ao mundo civilizado.
Daquela vez que foi em socorro do Kuwait, quando foi invadido pelo gigante Iraque, e mesmo que esqueçamos que a questão do petróleo foi fundamental; quando combateu a AlQaeda, organização terrorista chefiada por Osama Bin Laden; ou quando foi atrás do auto-proclamado Estado Islâmico; todos nós dormimos melhor por sabermos que eles estão lá, vigilantes, e não só não me importo, como até confesso que gosto que eles, com todo o seu poderio militar, velem por nós.
Agora, urgia o bom
senso, e a racionalidade… que não existiam naquela cabeça louca, com um rabo de
raposa morta em cima do escalpe.
Os Hillbillies, os
rednecks, os cabeças quadradas que o apoiavam, que queriam erguer muros para
afugentar os mexicanos, que eram a favor da proibição de entrada das
descendentes das nações africanas, foram os mesmos que exterminaram os nativos
norte americanos, que foram muito provavelmente das sociedades mais
esclarecidas e fascinantes que o planeta terra alguma vez viu nascer.
Agora, estes, que
defendiam uma espécie de raça ariana americana, esqueciam-se que são o produto
de uma mistura de sangues dos colonos europeus, e que não podem querer fazer
aquilo que não lhes fizeram a eles, porque arrasaram quem lá estava.
O clima depois da
tomada de posse, neste maravilhoso espetáculo noturno oportunamente chamado
“Comemorando a América, Celebrando a América, com Biden e Harris”, era de festa
e liberdade. Depois de tempos de reclusão, de contestação entre dentes (com
medo de perseguições futuras) nas cerimónias públicas (Óscar, Grammys), era
como disse, de liberdade.
As
cerimónias formais e protocolares, são enfadonhas, como é hábito, e extendem-se
por quase 7 horas, aqui, mas que certamente ninguém
quererá ver, mas que quero aqui deixar como testemunho público, elogiando (até
porque é essa vertente de espetáculo, e festa que quero enaltecer):
A
tocante interpretação de Jenniffer lopez, da sua “This land is your land” (Esta
terra é a tua terra também), com direito em dizer bem alto na sua língua natal,
no final: “Una nacion, bajo Diós, indivisible, com liberdad y justicia para
todos!!!”
e
a absolutamente arrasadora interpretação do hino nacional “Star Spangled
Banner” por Lady Gaga, que surgiu numa versão completamente composta, formal, e
bem distinta daquele “bicho raro” que era quando apareceu.
No
que diz respeito à real thing, ao espetáculo noturno que ocorreu em frente da Casa Branca, apresentado pelo nosso querido
Tom “Forrest Gump” Hanks, que se chegou a emocionar por diversas vezes com o
espírito ali patente.
Foi
em frente ao Lincoln Memorial, monumento
localizado em Washington D.C., em homenagem ao 16º presidente Abraham Lincoln
(que ficou célebre pelo seu papel na história, por ter sido uma força unitária
na sangrenta guerra civil) que Bruce Springsteen sozinho, com a sua guitarra
acústica, abriu o espetáculo e aqueceu a noite gelada quando interpretou a sua
versão do que é, e deverá ser a América, “Land of Hope and Dreams”, um tema já
com 20 anos, que tocava habitualmente nos seus espetáculos ao vivo, e foi
publicada em “Wrecking Ball" de 2012.
O
poder da música, de uma lenda com a sua guitarra em punho, a cantar para a
noite e o mundo inteiro, despido de produção e artifícios, só com a sua arte e
o poder das suas palavras, é assim algo de avassalador.
O
espetáculo, apesar ter sido sóbrio, em grande parte devido a estes tempos
absolutamente devastadores que esta terrível pandemia está a obrigar o mundo
inteiro a viver, foi uma linda e enorme produção à americana, a tal terra de
sonhos e esperanças.
Em
cerca de hora e meia que aqui disponibilizo para os meus leitores com muito
amor e carinho, assistimos a um desfile em que os cidadãos que têm ajudado a
manter a América viva e a funcionar (desde
os tão importantes recoletores de lixo, aos da distribuição de produtos,
passando pelos voluntários que alimentam quem sofre com a fome, até aos
militares, aos que fabricam máscaras, aos que continuam a fazer desporto, aos
astronautas em órbita, à resiliência das futebolistas femininas, a todo o
pessoal médico e de enfermagem); se vão intercalando com comentários e
manifestações políticas, de onde se tem de destacar o memorável encontro de
três presidentes, os dois democratas Obama e Bill Clinton (este muito
envelhecido e desgastado), com o republicano George W. Bush, dando as mãos e
protagonizando a salutar transição de poder, desejando as maiores felicidades
ao atual detentor do cargo; algo que o imbecil do Trump se recusou a fazer.
Este
foi um momento em que até o Tom ficou visivelmente emocionado.
Entre os americanos comuns, surgiu uma verdadeira paradas de estrelas musicais espalhada pelo país, por aquela manta de retalhos de estados, que é enorme!
Depois do Boss, tivemos:
- de Miami, o John, descendente da família
italiana Bon Jovi, cantando o belíssimo “Here comes the sun”, do disco AbbeyRoad, dos Beatles; estando este já com muitas rugas e pouca voz (o pobre), mas
abrindo as portadas para esta nova era;
-
de Los Angekes C.A., o versátil Justin Timberlake, que nasceu para o mundo do
espetáculo ao lado de Britney Spears e Christina Aguilera, no Clube do Rato
Mickey;
-
de Austin, no Texas, os assombrosos Black Pumas com o seu belíssimo “Colours”,
numa versão absolutamente extraordinária;
-
de Seattle, o precioso Dave Grohl, que recordou a sua mãe, uma professora que
marcou gerações, e começou por interpretar apenas ao piano “Times like this”,
para terminar em crescendo com a sua banda, os Foo Fighters;
-
uma versão de Halllujah, do mestre Cohen, interpretada magistralmente a
capella, de forma arrepiante por Yolanda Adams, estrela gospel;
-
de volta ao Lincoln Memorial, onde John Legend interpretou o “Feeling God”, de
Nina Simone;
-
E ainda de Los Angeles, Dj Cassidy com Ozuna e Luis Fonzi, com em “Pass the
mic”;
-
Para irmos depois a Nashville, Tenesse, para ouvirmos a estrela country Tim
McGraw;
-
para por fim termos a Demi Lovato em "Lovely Day" com o presidente, a
esposa e um neto a dançarem dentro da casa, ao som do vídeo.
A celebração teve um final apoteótico sob um espetacular fogo de artifício, ao som do apropriado “Fire Works” de Kate Perry.
A emissão fechou com palavras incríveis do recém empossado presidente, aos pés de Lincon, recordando o assassinado Martin Luther King Jr, apontando o rumo com “Hope, Integrity and Respect”, apelando a americanos normais para seguirem o exemplo daqueles iguais a eles, que fazem coisas extraordinárias dizendo que: não é uma vitória minha e da vice. É vossa!!!
Sem comentários:
Enviar um comentário