terça-feira, 26 de janeiro de 2021

O último grande Show Americano



Assim que me apercebi que isto tinha acontecido, claro que fiz tudo para ver, e como é óbvio, não descansei enquanto não lhe meti a vista em cima.

 

Ainda pensei que um qualquer canal nacional, daqueles que se dedicam à informação 24h sobre 24h (à exceção da inenarrável CMTV, claro!, digo os que se prezem, pelo menos, dos 3 grandes), contemplassem os telespectadores nacionais, pelos menos com o espetáculo que coroou a entronização deste quase octogenário, como presidente dos States, mas não. Nada!

 

O que vale é que vivemos neste maravilhoso mundo novo da internet, e essa maravilha assombrosa, na sua encarnação “youtube”, garantiu a transmissão para todo o mundo e arredores mais próximos, leia-se galáxias vizinhas, sem qualquer publicidade que a pagasse, e portanto, de forma absolutamente gratuita.

Se me tivessem dito a mim, que isto seria possível, há mais ou menos 30 anos atrás, quando estudava comunicação social em Lisboa, e a própria internet era ainda assim algo do domínio futurologista… confesso que mesmo sempre tido sido algo imaginativo, não teria mesmo sido nada capaz.

 

A tomada de posse do presidente Joe Biden, o vice-presidente de Obama por dois mandatos (entre 2009 e 2017), depois de ter sido senador do Delawere entre 1973 e 2019; aconteceu no dia 20 de janeiro de 2021, e foi uma epifania não só para os Estados Unidos, mas também para todo o mundo civilizado.

 

Bem se sabe que um homem quando está a dois de entrar na casa dos 80, sabe que nas melhores hipóteses, não poderá passar muitos mais com qualidade neste mundo, e o que é comum para a grande maioria dos que se encontram em tal estágio… é desfrutar com qualidade dos seus entes mais queridos, e dos prazeres da vida, o que não é bem o mesmo que ter pela frente o assumir das rédeas da nação mais poderosa do mundo, que ainda o é, em termos económicos, militares e de projeção para o mundo, porque por mais força que tenha o gigante chinês, ainda não a consegue ultrapassar.

 

Mas o valente Biden e todos os democratas que o apoiaram, perceberam que este momento era de urgência, e teriam de jogar para o tudo ou nada. A popularidade que granjeava em todo o país, ainda muito devida ao sucesso que teve quando desempenhou funções de liderança com Obama, potenciadas com a novidade de levar como braço direito, pela primeira vez, uma mulher, Kamala Harris, advogada de 56 anos e cor diferente, origem indiana e afro-americana, foram trunfos que certamente o catapultaram.

 

Os 4 anos de Trump no poder, para onde conseguiu subir certamente graças a alguma patifaria informática (até porque ninguém me consegue tirar da cabeça que não houve mão russa, mesmo apesar do nível de ignorância reinante por aquelas pradarias que nele votaram), em que o ridículo culminou com a invasão do Capitólio, a 6 de janeiro, constituíram um período de trevas, para o qual só consigo encontrar comparação histórica na Idade Média, que foi agora derrotado com um espírito da Renascença.

 

A sensação que me deu após a consagração de Biden nas urnas, foi que a América que eu aprendi a amar desde sempre, desde que era criança e vi pela primeira vez o Rato Mickey como “Steamboat Willie”, a que me deu mundos e sonhos maiores que a vida, na banda desenhada, na música, sobretudo no cinema e em todo o mundo do espetáculo, abriu os pulmões após 4 anos de sufoco em que não respirou e gritou bem alto: FREE AGAIN!!!!!

 

E como eu preciso de uns States saudáveis, apesar todos o seus excessos e incongruências, para me sentir num mundo respirável, outra vez. Essa nação que resgatou a Europa e o mundo do jugo nazi, quando desembarcou na praia de Omaha da Normandia, numa operação maravilhosamente recriada por Spielberg no “Resgate do Soldado Ryan” de 1998, (lá está! O cinema, outra vez, que sempre acompanhou e mudou aminha vida) sempre nos fez falta, ao mundo civilizado.


Daquela vez que foi em socorro do Kuwait, quando foi invadido pelo gigante Iraque, e mesmo que esqueçamos que a questão do petróleo foi fundamental; quando combateu a AlQaeda, organização terrorista chefiada por Osama Bin Laden; ou quando foi atrás do auto-proclamado Estado Islâmico; todos nós dormimos melhor por sabermos que eles estão lá, vigilantes, e não só não me importo, como até confesso que gosto que eles, com todo o seu poderio militar, velem por nós.


Agora, urgia o bom senso, e a racionalidade… que não existiam naquela cabeça louca, com um rabo de raposa morta em cima do escalpe.

Os Hillbillies, os rednecks, os cabeças quadradas que o apoiavam, que queriam erguer muros para afugentar os mexicanos, que eram a favor da proibição de entrada das descendentes das nações africanas, foram os mesmos que exterminaram os nativos norte americanos, que foram muito provavelmente das sociedades mais esclarecidas e fascinantes que o planeta terra alguma vez viu nascer.

Agora, estes, que defendiam uma espécie de raça ariana americana, esqueciam-se que são o produto de uma mistura de sangues dos colonos europeus, e que não podem querer fazer aquilo que não lhes fizeram a eles, porque arrasaram quem lá estava.

 

O clima depois da tomada de posse, neste maravilhoso espetáculo noturno oportunamente chamado “Comemorando a América, Celebrando a América, com Biden e Harris”, era de festa e liberdade. Depois de tempos de reclusão, de contestação entre dentes (com medo de perseguições futuras) nas cerimónias públicas (Óscar, Grammys), era como disse, de liberdade.

 

As cerimónias formais e protocolares, são enfadonhas, como é hábito, e extendem-se por quase 7 horas, aqui, mas que certamente ninguém quererá ver, mas que quero aqui deixar como testemunho público, elogiando (até porque é essa vertente de espetáculo, e festa que quero enaltecer):

A tocante interpretação de Jenniffer lopez, da sua “This land is your land” (Esta terra é a tua terra também), com direito em dizer bem alto na sua língua natal, no final: “Una nacion, bajo Diós, indivisible, com liberdad y justicia para todos!!!”



e a absolutamente arrasadora interpretação do hino nacional “Star Spangled Banner” por Lady Gaga, que surgiu numa versão completamente composta, formal, e bem distinta daquele “bicho raro” que era quando apareceu.


No que diz respeito à real thing, ao espetáculo noturno que ocorreu em frente da Casa Branca, apresentado pelo nosso querido Tom “Forrest Gump” Hanks, que se chegou a emocionar por diversas vezes com o espírito ali patente.

Foi em frente ao Lincoln Memorial, monumento localizado em Washington D.C., em homenagem ao 16º presidente Abraham Lincoln (que ficou célebre pelo seu papel na história, por ter sido uma força unitária na sangrenta guerra civil) que Bruce Springsteen sozinho, com a sua guitarra acústica, abriu o espetáculo e aqueceu a noite gelada quando interpretou a sua versão do que é, e deverá ser a América, “Land of Hope and Dreams”, um tema já com 20 anos, que tocava habitualmente nos seus espetáculos ao vivo, e foi publicada em “Wrecking Ball" de 2012.

 

O poder da música, de uma lenda com a sua guitarra em punho, a cantar para a noite e o mundo inteiro, despido de produção e artifícios, só com a sua arte e o poder das suas palavras, é assim algo de avassalador.

 

O espetáculo, apesar ter sido sóbrio, em grande parte devido a estes tempos absolutamente devastadores que esta terrível pandemia está a obrigar o mundo inteiro a viver, foi uma linda e enorme produção à americana, a tal terra de sonhos e esperanças.

 

Em cerca de hora e meia que aqui disponibilizo para os meus leitores com muito amor e carinho, assistimos a um desfile em que os cidadãos que têm ajudado a manter a América viva e a funcionar (desde os tão importantes recoletores de lixo, aos da distribuição de produtos, passando pelos voluntários que alimentam quem sofre com a fome, até aos militares, aos que fabricam máscaras, aos que continuam a fazer desporto, aos astronautas em órbita, à resiliência das futebolistas femininas, a todo o pessoal médico e de enfermagem); se vão intercalando com comentários e manifestações políticas, de onde se tem de destacar o memorável encontro de três presidentes, os dois democratas Obama e Bill Clinton (este muito envelhecido e desgastado), com o republicano George W. Bush, dando as mãos e protagonizando a salutar transição de poder, desejando as maiores felicidades ao atual detentor do cargo; algo que o imbecil do Trump se recusou a fazer.



Este foi um momento em que até o Tom ficou visivelmente emocionado.

 

Entre os americanos comuns, surgiu uma verdadeira paradas de estrelas musicais espalhada pelo país, por aquela manta de retalhos de estados, que é enorme!

1 hora e meia de espetáculo de pura magia e libertação
com estes artistas todos...
Conselho: cliquem no ecrã inteiro, ao fundo do ecrã direito; metam os phones e... :)


Depois do Boss, tivemos:

-  de Miami, o John, descendente da família italiana Bon Jovi, cantando o belíssimo “Here comes the sun”, do disco AbbeyRoad, dos Beatles; estando este já com muitas rugas e pouca voz (o pobre), mas abrindo as portadas para esta nova era;

- de Los Angekes C.A., o versátil Justin Timberlake, que nasceu para o mundo do espetáculo ao lado de Britney Spears e Christina Aguilera, no Clube do Rato Mickey;

- de Austin, no Texas, os assombrosos Black Pumas com o seu belíssimo “Colours”, numa versão absolutamente extraordinária;

- de Seattle, o precioso Dave Grohl, que recordou a sua mãe, uma professora que marcou gerações, e começou por interpretar apenas ao piano “Times like this”, para terminar em crescendo com a sua banda, os Foo Fighters;

- uma versão de Halllujah, do mestre Cohen, interpretada magistralmente a capella, de forma arrepiante por Yolanda Adams, estrela gospel;

- de volta ao Lincoln Memorial, onde John Legend interpretou o “Feeling God”, de Nina Simone;

- E ainda de Los Angeles, Dj Cassidy com Ozuna e Luis Fonzi, com em “Pass the mic”;

- Para irmos depois a Nashville, Tenesse, para ouvirmos a estrela country Tim McGraw;

- para por fim termos a Demi Lovato em "Lovely Day" com o presidente, a esposa e um neto a dançarem dentro da casa, ao som do vídeo.

 

A celebração teve um final apoteótico sob um espetacular fogo de artifício, ao som do apropriado “Fire Works” de Kate Perry.

 


A emissão fechou com palavras incríveis do recém empossado presidente, aos pés de Lincon, recordando o assassinado Martin Luther King Jr, apontando o rumo com “Hope, Integrity and Respect”, apelando a americanos normais para seguirem o exemplo daqueles iguais a eles, que fazem coisas extraordinárias dizendo que: não é uma vitória minha e da vice. É vossa!!!

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