A edição do Expresso desta semana vem acompanhada, a título de oferta, de um catálogo com a programação da Casa da Música para 2011. Trata-se de uma obra com mais de 320 páginas, sim, 320! páginas, nas quais são detalhadamente explicados os espectáculos que ali decorrerão no próximo ano.
Folheando o “objecto” em causa, analisando a qualidade do papel, o cuidado gráfico, a minúcia e o rigor, assalta-me de imediato a questão sobre quanto terá eventualmente custado este calhamaço a que muitos darão provavelmente o mesmo destino que eu: o caixote do lixo, ou melhor, o caixotinho azul da reciclagem, não vá eu ofender as puristas cá da casa. Direitinho para o lixo!
Ora para que é que eu, que vivo a centenas de quilómetros do Porto, preciso da coisa esta?
E ainda assim, perdoem-me a imodéstia, não me considero um indiferenciado. Sou um apaixonado pela cultura em geral. Adoro cinema; música; jornais, revistas e livros; adoro pintura, teatro, fotografia e dança, passo horas a ver televisão, adoro computadores, tecnologias e internet, adoro viajar e conhecer pessoas e até tenho hábito de ir a concertos, seja por aqui em Portalegre ou mesmo em Lisboa, quando alguma das minhas bandas favoritas me convence a fazer quase 500 quilómetros e a ter uma despesa extra. Eu até poderia ser um potencial leitor para este obsequio do meu semanário de eleição. Mas não sou.
Eu sei que a Casa da Música tem mecenas. Eu sei que conta com o BPI, com a Sonae, com a Fundação EDP, a Axa, a Fundação Galp Energia, a Unicer, o Grupo Amorim, a American Express… tem as costas quentes com toda esta malta endinheirada… mas convém não esquecer que o apoio institucional é do Ministério da Cultura (nós!) e o apoio à divulgação é da Câmara do Porto (nós!).
Eu sei que há ali co-financiamentos do QREN, do Programa Operacional Regional do Norte, enfim… de fundos europeus, mas a pergunta que me faço e que se impõe é só uma:
Num tempo destes… nestes tempos tão duros e escuros… fará sentido gastar rios de dinheiro numa programação tão vasta para uma minoria tão minoritária e sobretudo FARÁ SENTIDO ESTURRAR DINHEIRO A FAZER UMA “LISTA TELEFÓNICA DESTAS” destinada a ir direitinha pró caralho?!?!?
Quem quiser ir à Casa da Música há-de arranjar forma de saber quem por lá está. Não poderia este dinheiro ser empregue em coisas mais úteis, em ajudar quem verdadeiramente precisa?
E há tanta gente a precisar…
Os 300 da Groundforce de Faro, cobardemente despedidos por e-mail; os da água do Alardo… os tantos milhares por esse país fora que vivem com a corda no pescoço e engrossam, a cada dia que passa, a lista negra do desemprego não devem de achar muita piada a este tipo de excentricidades.
E se houver quem me chame demagogo… que experimente a passar aqui por baixo da minha janela que vão ver a pontaria que tenho mesmo com um livro de meio quilo…
Folheando o “objecto” em causa, analisando a qualidade do papel, o cuidado gráfico, a minúcia e o rigor, assalta-me de imediato a questão sobre quanto terá eventualmente custado este calhamaço a que muitos darão provavelmente o mesmo destino que eu: o caixote do lixo, ou melhor, o caixotinho azul da reciclagem, não vá eu ofender as puristas cá da casa. Direitinho para o lixo!
Ora para que é que eu, que vivo a centenas de quilómetros do Porto, preciso da coisa esta?
E ainda assim, perdoem-me a imodéstia, não me considero um indiferenciado. Sou um apaixonado pela cultura em geral. Adoro cinema; música; jornais, revistas e livros; adoro pintura, teatro, fotografia e dança, passo horas a ver televisão, adoro computadores, tecnologias e internet, adoro viajar e conhecer pessoas e até tenho hábito de ir a concertos, seja por aqui em Portalegre ou mesmo em Lisboa, quando alguma das minhas bandas favoritas me convence a fazer quase 500 quilómetros e a ter uma despesa extra. Eu até poderia ser um potencial leitor para este obsequio do meu semanário de eleição. Mas não sou.
Eu sei que a Casa da Música tem mecenas. Eu sei que conta com o BPI, com a Sonae, com a Fundação EDP, a Axa, a Fundação Galp Energia, a Unicer, o Grupo Amorim, a American Express… tem as costas quentes com toda esta malta endinheirada… mas convém não esquecer que o apoio institucional é do Ministério da Cultura (nós!) e o apoio à divulgação é da Câmara do Porto (nós!).
Eu sei que há ali co-financiamentos do QREN, do Programa Operacional Regional do Norte, enfim… de fundos europeus, mas a pergunta que me faço e que se impõe é só uma:
Num tempo destes… nestes tempos tão duros e escuros… fará sentido gastar rios de dinheiro numa programação tão vasta para uma minoria tão minoritária e sobretudo FARÁ SENTIDO ESTURRAR DINHEIRO A FAZER UMA “LISTA TELEFÓNICA DESTAS” destinada a ir direitinha pró caralho?!?!?
Quem quiser ir à Casa da Música há-de arranjar forma de saber quem por lá está. Não poderia este dinheiro ser empregue em coisas mais úteis, em ajudar quem verdadeiramente precisa?
E há tanta gente a precisar…
Os 300 da Groundforce de Faro, cobardemente despedidos por e-mail; os da água do Alardo… os tantos milhares por esse país fora que vivem com a corda no pescoço e engrossam, a cada dia que passa, a lista negra do desemprego não devem de achar muita piada a este tipo de excentricidades.
E se houver quem me chame demagogo… que experimente a passar aqui por baixo da minha janela que vão ver a pontaria que tenho mesmo com um livro de meio quilo…
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PS1: O Expresso teve uma tiragem média semanal no mês de Outubro de 33.750 exemplares.
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PS2: Na edição desta semana vem uma reportagem sobre uma família que decidiu abdicar da luz eléctrica, porque a água e o gás lhe são essenciais para fazer as refeições que alimentam os filhos.
2 comentários:
Apoiado. Mais umas quantas palavras completamente verdadeiras, sentidas e de sentido prático das coisas. É que somos sempre os mesmos a pagar, nós, os que pagamos impostos, taxas e tudo o mais que nos exigem, sem grandes reclamações, ainda por cima.
Um abraço
P.S.: gostava tanto de aí estar; gostava tanto de percorrer a Festa da Castanha e do Castanheiro. Mas lá está, como os pobres é que pagam a crise, não fui.
Mais lenha p'ra fogueira...
O mesmo catálogo também foi distribuído com o Público na Sexta-feira.
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