O
que eu ando agora a ouvir? Sempre entre muitas coisas? Um puto de 29 anos que
me embala na rádio, que “diz” coisas naquilo que canta, que tem uma banda com o
seu nome porque… veio depois dele e… acha que é um nome giro. A letra já me
fascinava, mas quando pesquiso é descubro que é autobiográfica fico… quite all
right!
Descobri
que o Lukas Graham é uma personagem fascinante, com uma educação alternativa
que nasceu numa ocupação anarquista em Copenhaga, chamada Chistiania, lugar com
população menor que mil pessoas, onde moradores rejeitam governo e dinheiro,
aceitam tráfico de erva e vivem de forma mais precária que no resto do país. Em
entrevistas, o cantor compara o local às favelas do Brasil. Ele conta que a
maioria dos seus amigos de infância estão na prisão e os retrata como pessoas
que não tiveram sorte na vida mas que, se tivessem tido, seriam pessoas boas.
Toda
a gente o ouve com “Mama said”, mas creio eu que poucos perceberão o que está
por trás das linhas que canta. Dr. Sabi não é mais que os demais, apenas
diferente. Gosta de saber, tenta sempre conseguir saber o que está por detrás,
seja do que for.
E
assim… “Mamã disse”
Quando
a mamã dizia que estava bem,
A
mamã dizia que estava bastante bem,
A
nossa gente ia para a cama,
E
estava tudo bem.
A
mamã dizia-nos que éramos bons miúdos,
O
pai dizia-nos para não ouvirmos aqueles,
Que
apontavam dedos maldosos e gozavam,
Porque
éramos bons miúdos.
Lembro-me
de perguntar à mãe e ao pai,
Porque
nunca viajávamos para sítios exóticos,
Na
verdade só visitávamos amigos,
Nada
a contar quando o Verão acabava.
Na
verdade, nunca íamos comprar roupas,
Chegávam-nos
à mão em grandes quantidades,
Sapatitos
novos numa vez ao ano, e então,
Era
jogar à bola logo para rebentá-los.
Quando
a mamã dizia que estava bem,
A
mamã dizia que estava bastante bem,
A
nossa gente ia para a cama,
E
estava tudo bem.
A
mamã dizia-nos que éramos bons miúdos,
O
pai dizia-nos para não ouvirmos aqueles,
Que
apontavam dedos maldosos e gozavam,
Porque
éramos bons miúdos.
Não
me percebam mal, eu não passei mal,
Tive
amor suficiente da mãe e do pai,
Mas
acho que eles não perceberam,
Quando
lhes disse que a minha cena era Hollywood,
Disse-lhes
que poderia estar a cantar na televisão,
Os
outros miúdos diziam que era maniento,
Os
mais velhos começavam a gozar-me.
Mas
agora estão todos à minha frente (ha ha)
Quando
a mamã dizia que estava bem
A
mamã dizia que estava bastante bem
A
nossa gente ia para a cama
E
estava tudo bem
A
mamã dizia-nos que éramos bons miúdos
O
pai dizia-nos para não ouvirmos aqueles
Que
apontavam dedos maldosos e gozavam
Porque
éramos bons miúdos.
Porque
éramos bons miúdos,
Eu sei de onde sou,
Eu conheço a minha
casa,
Quando estou em
dúvidas e a lutar,
É para lá que vou,
Um velho amigo pode
dar-me um conselho,
Quando os novos
apenas sabem metade da história,
E é por isso que os
quero sempre junto a mim,
E é por isso que
estou feliz,
E estou bem,
E sabes o que a
minha mãe dizia?
Sabias
o que é que ela me dizia?
Quando
a mamã dizia que estava bem,
A
mamã dizia que estava bastante bem,
A
nossa gente ia para a cama,
E
estava tudo bem.
A
mamã dizia-nos que éramos bons miúdos,
O
pai dizia-nos para não ouvirmos aqueles,
Que
apontavam dedos maldosos e gozavam,
Porque
éramos bons miúdos.
Para
provar que não é um one hit wonder, um fogacho de sucesso que surge e estoura
como muitos outros, todos os dias, reouvi o seu primeiro hit “7 years”
Uma
vez, quando eu tinha 7 anos, a mãe disse-me,
Vai
arranjar amigos ou ficarás sozinho,
Uma
vez, quando eu tinha 7 anos.
Era
um mundo grande, grande; mas nós pensávamos que éramos maiores,
A
empurrar-nos uns aos outros para os limites, estávamos a aprender depressa,
Aos
onze, fumando erva e bebendo água ardente,
Nunca
ricos mas na rua para fazer figura grande,
Uma
vez, quando eu tinha 11 anos, o meu pai disse-me,
Arranja
uma mulher ou ficarás sozinho,
Uma
vez, quando eu tinha 11 anos.
Eu
sempre tive aquele sonho, como o meu pai antes de mim,
Então
comecei a escrever canções, comecei a escrever histórias,
Alguma
coisa sobre essa glória, parecia sempre aborrecer-me,
Porque
apenas aqueles que amava na realidade, poderiam conhecer-me de verdade.
Uma
vez, quando eu tinha 20 anos, a minha história foi contada,
Antes
do sol da manhã, quando a vida era solitária,
Uma
vez, quando eu tinha 20 anos.
Apenas
vejo os meus objetivos, não acredito no fracasso.
Porque
sei que as vozes pequenas, te podem fazer maior,
Tenho
os meus rapazes comigo, pelo menos com esses conto,
E
se não nos encontramos antes de eu sair, espero ver-vos mais tarde,
Uma
vez, quando eu tinha 20 anos, a minha história foi contada,
Escrevia
sobre tudo o que eu via à minha frente,
Uma
vez, quando eu tinha 20 anos,
Em
breve teremos 30, as nossas canções estarão vendidas,
Teremos
viajado pelo mundo e continuaremos a rodar,
Em
breve teremos 30 anos.
Ainda
estou a aprender acerca da vida,
A
minha mulher trouxe-me crianças,
Então
posso cantar todas as minhas canções para eles,
E
posso contar-lhes histórias,
Os
meus rapazes estão comigo,
Alguns
continuam a procurar a glória,
E
alguns tive de deixar para trás,
Meu
irmão, continuo a senti-lo.
Em
breve, terei 60 anos, o meu pai tinha 61,
Recorda
a vida e a tua será melhor,
Uma
vez fiz um homem tão feliz, quando escrevi uma carta,
Espero
que os meus filhos venham e me visitem, uma ou duas vezes por mês.
Em breve, terei 60,
irei pensar que o mundo é frio?
Ou terei um monte
de filhos para me aquecerem?
Em breve, terei 60.
Em breve, terei 60,
irei pensar que o mundo é frio?
Ou terei um monte
de filhos para me aquecerem?
Uma
vez, quando eu tinha 7 anos, a mãe disse-me,
Vai
arranjar amigos ou ficarás sozinho,
Uma
vez, quando eu tinha 7 anos.
E
não é sobre isto que é o sentido da vida? Quando formos velhinhos, teremos
filhos e netos que nos estimem e considerem? Que façam tudo ter valido a pena,
quando nós desaparecermos? Que façam a nossa vinda a este mundo ter deixado
marca?
Os
funerais… valem sempre muito menos do que o que as pessoas pensam que valem.
Poucos estão lá de verdade, com sentimento, lamentando verdeiramente a falta de
quem partiu. Muita gente “tem” de estar porque sim, porque fica bem. Muita
gente está solidária, mas a sofrer com a desgraça dos outros, a admirá-la como se estivesse dentro de um reality show. Há muitas conversas
cruzadas sobre tudo e nada. Cá fora então, no território macho, a distância do
defunto é chocante para quem está em homenagem, e há mas é que ir provar o vinho novo da taberna ali em baixo. O
meu e o teu não serão certamente diferentes.
Lukas
canta-nos sobre pessoas, sobre vidas e o que realmente importa. Já está nos favoritos. A
seguir.
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