quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Offshores? Off the record? Of course!




Como é que hei-de conseguir explicar isto como eu quero, sem ferir suscetibilidades, ser mal entendido, e, ainda assim, fazer-me compreender?

Se há coisas que me envergonham, que me deixam triste, e derrotado, é ser bombardeado nas notícias ao almoço, com bombas como esta: “Fisco deixou fugir 10.000 milhões em…”, e aqui... parou!

Toda a gente sabe que aqui o vosso Tio Sabi, tanto é capaz de escrever um tratado sobre um cabelo que cai num banco do jardim (a prosa nunca se me acaba), como assume que não é um crânio a matemática. Epá… sempre foi à procura das letras porque esse era o seu mundo, mas… também é bem verdade que sempre fugiu das contas, porque… maçam. A vida contada, é muito mais bonita que somada.

Mas o Tio Sabi, não sendo um state of the art, até trabalha com números durante todo o seu dia. Cumpre, não compromete e… considera-se um indivíduo “não parvo”, de bom senso, estruturado e alinhavado.

Toda a gente que veja notícias sabe que o nosso buraco nas contas é de 5.000 milhões de euros. O défice, a diferença entre o que se mama do pote e o que se consegue ganhar, dá nisto e tem esta fossa abissal onde cabem rios de dinheiro.

Ora esta notícia de hoje vem dizer que o fisco, onde eu trabalho e para o qual trabalho, deixou fugir 2 vezes esse montante em transferências para offshores. Deixou fugir porque, como se pode ler aqui, não controlou as transferências entre 2011 e 2014, que foram comunicadas pelos bancos e estavam omissas das estatísticas.


Este não é o mesmo mundo. Vivemos em realidades paralelas. Eu não sou deste país.

O meu país, é o das pessoas que se chegam ao balcão e se zangam, comentam e aborrecem quando o “selo do carro” (Imposto Único de Circulação) aumenta uns cêntimos em relação ao ano passado; já não vão a tempo de validar as faturas (coisa que tiveram todo o ano para fazer); ou têm de pagar 25 euros por 1 hora de atraso, só por terem deixado passar para o mês a seguir.


Eu gostava de trabalhar numa casa que fosse impecável, sob qualquer suspeita, acima de todas as suspeições, e sobretudo… intocável.


Porque não foi feito esse controle, perguntam as pessoas? Porquê há tanto conluio com a classe política, quando as águas não se deveriam misturar?


Perguntam as pessoas e… pergunto eu.

Já me estou a preparar para as bocas de um ou outro mais atrevido e bem informado.

O “encolher de ombros” é um cartão de visita e um desbloqueador de conversa, que funciona e vale de muleta, garanto.

Assim seja.

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