Se
há coisas que me envergonham, que me deixam triste, e derrotado, é ser
bombardeado nas notícias ao almoço, com bombas como esta: “Fisco deixou fugir
10.000 milhões em…”, e aqui... parou!
Toda
a gente sabe que aqui o vosso Tio Sabi, tanto é capaz de escrever um tratado
sobre um cabelo que cai num banco do jardim (a prosa nunca se me acaba), como
assume que não é um crânio a matemática. Epá… sempre foi à procura das letras
porque esse era o seu mundo, mas… também é bem verdade que sempre fugiu das contas, porque… maçam. A
vida contada, é muito mais bonita que somada.
Mas
o Tio Sabi, não sendo um state of the art, até trabalha com números durante todo o seu dia.
Cumpre, não compromete e… considera-se um indivíduo “não parvo”, de bom senso,
estruturado e alinhavado.
Toda
a gente que veja notícias sabe que o nosso buraco nas contas é de 5.000 milhões
de euros. O défice, a diferença entre o que se mama do pote e o que se consegue
ganhar, dá nisto e tem esta fossa abissal onde cabem rios de dinheiro.
Ora
esta notícia de hoje vem dizer que o fisco, onde eu trabalho e para o qual trabalho,
deixou fugir 2 vezes esse montante em transferências para offshores. Deixou
fugir porque, como se pode ler aqui, não controlou as transferências entre 2011
e 2014, que foram comunicadas pelos bancos e estavam omissas das estatísticas.
Este
não é o mesmo mundo. Vivemos em realidades paralelas. Eu não sou deste país.
O
meu país, é o das pessoas que se chegam ao balcão e se zangam, comentam e aborrecem
quando o “selo do carro” (Imposto Único de Circulação) aumenta uns cêntimos em
relação ao ano passado; já não vão a tempo de validar as faturas (coisa que
tiveram todo o ano para fazer); ou têm de pagar 25 euros por 1 hora de atraso, só por terem deixado passar para o mês a seguir.
Eu
gostava de trabalhar numa casa que fosse impecável, sob qualquer suspeita,
acima de todas as suspeições, e sobretudo… intocável.
Porque
não foi feito esse controle, perguntam as pessoas? Porquê há tanto conluio com
a classe política, quando as águas não se deveriam misturar?
Perguntam
as pessoas e… pergunto eu.
Já
me estou a preparar para as bocas de um ou outro mais atrevido e bem informado.
O
“encolher de ombros” é um cartão de visita e um desbloqueador de conversa, que
funciona e vale de muleta, garanto.
Assim
seja.
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