Os finalistas pediram à Leonor
para ir cantar na sua noite de fados. E ela acedeu. Sempre amiga de ajudar,
desde que me lembro, nem pestanejou e disse logo que… sim. Sem pedir cachet
(também, era o que mais faltava), ou qualquer outro tipo de mordomia. Deu um
sim, sem pedir, pois, qualquer coisa em troca. Quando a causa o justifica, tem
a quem sair, digo eu, com evidente imodéstia.
Alguém soube que cantava bem,
outros insistiram, ao concordarem, e lá foi ela. Nós, pais, fomos também numa
terrível noite de Inverno, com a televisão do Inácio a dar um bestial (o
resultado seria sempre bom. Um, ou ambos, teriam de perder pontos para nós) dérbi
de futebol, em que os tripas recebiam a lagartagem, em casa.
O recinto estava muito bem
composto, que estes eventos que mexam com as famílias do intervenientes,
resultam sempre num sucesso. Muita, muita gente para um menú que era apelativo
mas… não mais do que isso. A sala estava cheia e a política já se sentia no ar.
Não havia candidato com pretensões, que não estivesse por lá. Os dados estão
mais que lançados e a rolar.
Fiquei sentado num sítio do qual
sempre fujo: junto à parede, de frente para ela, e de costas para a sala. Não
gosto porque quem fica assim, perde sempre tudo o que se passa no recinto onde
se encontra. Ora foi essa mesmo a razão porque me procurei alocar ali. Eu fui mesmo
foi para assistir à atuação da Leonor e da minha afilhada Maria, para poder
desfrutar do talento das demais participantes, para conviver com os meus
familiares que estavam entre os comensais e admirar os artistas mais velhos
convidados.
O que demais se passava na sala,
eram manifestações capazes de me causarem uma certa repulsa. Ou muita repulsa.
Desconfio da verdade da palavra que os move, uns mais que outros e… não quero
nem assistir. Levei o espetáculo de costas, a ouvir o empolgante relato com um
ouvido, e a conviver com o outro.
De vez em quando via-os passar no
espelho à minha frente e deixava-me rir, cá dentro. O que move as pessoas… pode
ser o poder, a influência, o dinheiro, a consideração dos outos… mas nada é
dado com despojo, sem querer algo em troca. Nos antípodas da minha Leonor, nessa
noite.
Quanto aos intervenientes: os
guitarristas estiveram ao mais alto nível. Epá, para quem não tem conhecimentos
suficientes para analisar o nível de execução, aquilo foi bom demais! Sem
abébias, sem falhanços, com pinta, com gosto, com qualidade. Gostei muito. E
disse-o ao amigo José Roberto que fez o favor de ensaiar a Leonor, já para a
atuação de Marvão: “quando se faz com amor… salta cá para fora!, ó mestre.”
Dos consagrados, já mais velhos,
é um prazer poder admirar quem canta o fado com tanto prazer. Artistas que já
vou conhecendo destas andanças, o Sr. José Claudino é um homem que canta o fado
com devoção. Carrega de emoção cada palavra que diz e enche a sala de
sentimento e paixão.
Tal qual como a da Dona Júlia
Ferreira que diz sempre sim e nunca se nega a ajudar a quem lhe pede para dar largas
ao seu talento. Por mim, parecia-me que poderíamos ficar ali o resto da noite a
ouvi-la.
Uma novidade foi o Sr. Alfaia (do qual não consegui tirar uma foto boa. Peço, por isso, desculpa),
que eu creio que ainda não conhecia e foi toda uma revelação. Um tipo de fado
mais clássico, bem dito, cantado de olhos cerrados, para sentir cada sílaba.
Levei-lhe um recado do seu primo que mantém aberta a Piscina Museu-Arqueológico
ali no Tragasal, e creio que entreguei bem a carta a Garcia. Missão cumprida!
Será que vamos ter fadistagem cá pela aldeia?
Passemos agora então, para as
verdadeiras estrelas do evento, sem contar com todos os finalistas que
estiveram muito bem na apresentação do evento, no serviço de mesa, na
organização geral.
A fantástica Marisa Garção é um
docinho. Não sei bem se aquilo de cantar o fado foi um dom natural que nasceu
com ela, ou então foi algo que herdou por via de um pai que ama tanto a música,
que lhe foi dando uma forcinha para a frente, até que não descansou senão
enquanto não a viu lá cair. Um pouco como a história do filho do caçador, que
quase que tem de dar um caçador também. A Marisa impressiona não por ter uma
voz cristalina e poderosa, mas por ser aquele projetinho de mulher tão bonita
(não sairá às pedras da calçada…, seguramente) que toda ela é força, querer,
vivacidade e ímpeto. Desejo que cresça sempre com esta graça e esta paixão.
Impressiona.
Por falar em artistas com alma,
com garra, com querer e com talento, falarei na minha afilhada Maria. Esta
mulher (dói dizer isto… tou velho…) nasceu para estar à frente de um holofote,
ou atrás de um micro, como preferirem. Desde sempre pá! Havia qualquer coisa e…
a Maria estava lá. Pois a Maria tem voz, tem pose, tem à vontade e saber estar.
Ela ajeita os cabelos, ela dedica um fado ao avô, a quem agradece por ter esta
paixão por este tipo de música; ela tem, como os americanos dizem: what it
takes! É sempre um prazer poder admirar quem faz tão bem o que está a fazer, e
é tão feliz a fazê-lo. Parabéns, minha querida. Tudo bom! O pior disto tudo É
QUE COM ESTAS MERDAS ME SINTO HORRIVELMENTE VELHO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
que neura! Se elas estão assim… Ai vais de canoa, vais!
E chegamos à Leonor, peça central
da minha existência, já há 15 anos, quando descobri que um gajo tão tonto e tão
palerma (hipocondríaco, também), era capaz de gerar uma vida. Pois assim, nada
de mal formações congénitas nos testículos, ou incompatibilidade entre os cromossomas
entre mim e a Cristina, nada! UUUUUUUUUUUFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFAAAAAAAAAAAAAAA…
Já tinha contado que a Leonor
disse que sim, que ia. Comecei por isso. Mas a Leonor… é o ser mais parecido no
mundo que há comigo. Se a dona Alice é a mãe escarradinha, esta, como lhe
costumo dizer, “os livros que anda a ler… fui eu que os escrevi.”
Disse que sim mas… o clima de
guerrilha que se instalou depois, em minha casa, é coisa para eu pedir de
joelhos quando for a próxima vez: ou dizes logo que não, ou pensas duas vezes.
Compromisso, é compromisso.
- Se és crescida e tens palavra,
tens de a assumir, senão passam a não te dar crédito. Pensa lá nisso.
Para ela não havia nada a
ensaiar, não lhe metia medo se não acertava com os guitarristas, e a mãe,
claro, apertava. Uma apertava, a outra fugia com o rabo à seringa e o Drocas
impava.
Foi muita pressão, muita pressão.
Mas essa noite, como de resto aconteceu em Marvão e em São Salvador, as coisas
não correram nada mal.
Eu sei que ninguém me leva mal de
dizer isto. Quando muito podem achar-me presunçoso e maniento mas eu quero lá
saber disso! Este blogue é meu. Faço o que quiser. Não tenho de dar
justificações a ninguém. Se não gostarem, podem deixar de cá vir, olhem! Ou
criem um vocês. Mas eu… se não digo aqui o que penso… então é que não digo
mesmo em lado nenhum. A Leonor é muito bonita. É a única mulher que acho mais
bonita que a mãe. Tem os brilho dos teenagers e a minha, já algumas rugas nas
covinhas. Está a ficar um pouco larga nos quadris mas… a porra dos chocolates e
dos doces são tão bons… e o pai é tão careta com aquela seca da importância de
fazer desporto e correr que… que se amole!
Depois, tem presença, tem muita
piada e sabe estar… no seu jeito. Muito descontraída, muito show off, muito
outside. Brincou com a colega Liliana quando a chamou ao palco por… Bruno
Sobreiro. Ao ver todos a rirem, disse que… “na boa… Bruno também dá.”
Tão “fora” é que quando a
chamaram, tive de lhe ir segredar ao ouvido que não se esquecesse de agradecer
a quem a convidou. Ela: “claro! Faço sempre isso, pai!”.
Fui lá porque nem em Marvão, nem
no Porto da Espada aconteceu tal atenção.
A Leonor tem uma voz muito
bonita, muito diferente de cantar o fado e nada é ali forçado. Sai tudo com as
maiores naturalidades e caso estivesse treinada, poderia ampliar os sons que
consegue atingir e quem sabe, dar uma boa fadista.
(Aqui com a extraordinária prestação da Alice, nos backing vocals. Ouviu-a tanto a aprender a letra... que a aprendeu também. A minha pequenina, que eu digo sempre que é a minha favorita cá de casa, mesmo à frente das outras. A diferença de idades (9 para a mana) permitem-me estas alarvidades. Ela merece, coitadinha. É tão pequenna... E eu noto o grau de satisfação do seu sorriso quando me ouve dizer isto... Pisca-me o olho! A mãe não consegue...
Mas para isso, como para tudo na
vida, tem de haver trabalho. Muito trabalho, humildade, abnegação, capacidade
de acreditar. E eu creio que… as prioridades da menina são outras. Como pai,
não me resta outra coisa que aceitar, como as coisas são.
Se ela fosse uma Joana, uma
Maria, alguém que quisesse muito, eu teria todo o gosto em apoiá-la, em ser um
como os Fernandos (Vieira e Dias). Faria-o com gosto. Ela sabe, que eu o sei.
Assim, há que apenas conseguir transmitir-lhe que… estarei sempre aqui.
Aconteça o que acontecer. Mas a vida… essa… será sempre a dela. E é a coisa
mais preciosa que tem. Só se vive uma vez e há passos que se dão, que não
permitem volta atrás.
Eu, aqui estarei. Sempre!
Se for para cantar, para cantar
será.
Amo-te, como tu sabes. Mais do
que a vida minha.
Sê feliz, Leonor. Eu tou cá para
ajudar
Com o bigode que eu adorava e tu odiavas. E tudo o vento levou... |
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