domingo, 5 de fevereiro de 2017

Quando o passado nos assombra... (do nada, para nossa felicidade)


A vida tem destas coisas e a internet, é mesmo uma dimensão de uma proporção vertiginosa que vive aqui, no meu pc, no meu telefone, à mão de semear.

Há já, vai fazer, 6 anos, entrei num tambor como o das máquinas de lavar a roupa e fartei-me de dar voltas e voltas, torcer e retorcer. Saí de lá… enxuto. Nem sabia para onde me havia de virar. Também… não podia sair para muito longe da cama, onde estava preso com umas baias, para evitar cair ao chão. Nem para andar dava, catano!

Depois foi um trabalhão volt… epá…. que já contei isso aqui muitas vezes! Tantas que já me cansa… até a mim.

Mas ficam sempre pontas soltas, frases soltas, que se vão apanhando assim ao sabor dos tempos, sem andar à procura delas.

Como esta que reparei só hoje, e escrevi a 5 de Fevereiro de 2013!, quando estava a dar os primeiros passinhos de regresso à internet.  (Em Alcoitão, tínhamos computadores disponíveis para os utentes, e nem sequer me senti tentado. Desliguei.)


Se não os podes vencer, junta-te a eles. Este podia ser o título deste texto. Adequa-se na perfeição. Eu, que durante anos assinei com fervor o blogue “Vendo o mundo de binóculos do alto de Marvão” e ali plasmei a minha vida e paixões, criei o meu sítio no facebook… só por criar. Para saber como é, para que não me tomassem por info-excluso, para marcar presença.
Mas um grave (gravíssimo, diria eu) acidente de mota que me colocou às portas da morte, fez-me pensar tudo outra vez, repensar a vida e as minhas prioridades. Eu, que sempre gostei de escrever e achei que me exprimia melhor por palavras escritas, do que ditas, vi tudo mudar depois do que me aconteceu. O período do acidente deve ter sido terrível para todos os que me amam, porque durante meses viveram com a possibilidade de não me terem, de me poderem perder para sempre. E eu hei-de lamentar isso para o resto da minha vida, embora não me recorde de absolutamente nada, nem dessa noite, nem do acidente. Não faço a menor ideia do que me poderá ter sucedido. Nem vale a pena. O que interessa, não é o que ficou para trás, mas o está e o que há-de vir. E eu aqui, quero ser o melhor homem que for capaz, porque Deus deu-me uma oportunidade única de nascer outra vez, e de regressar à vida. Certamente, nenhum de vós se lembrará do início da vida, dos primeiros dias, das primeiras sensações, das primeiras palavras. Eu não sou diferente e também não me recordo.
As primeiras memórias que tenho são de quando já teria alguns anos de vida, e nem sei precisá-las. Isto da primeira vez que nasci. Porque esta oportunidade que Deus me deu de regressar à vida, permite-me saborear tudo de uma forma completamente diferente. Ser mais calmo, mais sereno, mais apreciador das pequenas coisas. Viver, tendo consciência da nossa finitude e das nossas limitações. Tudo isto me fez crescer como pessoa.

O acidente foi terrível para os que me amam, e para mim também, porque me ia colocando um fim a tudo, mas também foi uma revelação e uma aprendizagem profunda. Há um Pedro até ao dia em que aquilo aconteceu, e um Pedro depois. Muitas coisas se mantêm: a paixão pela minha mulher e pelas minhas filhas, o amor pela minha família e pelos meus amigos, a minha ordem de valores. Tudo isto continua igual, sem mexidas.

Se algumas coisas mudaram, creio que foi para melhor. Daquilo que vos interessa e diz respeito, fechei o blogue e passei a dar mais importância ao facebook porque não há como lhe resistir. Está todo o mundo ligado a isto, e eu não quero ser como aquele bacano, “o Salvador, o único português sem telemóvel” (nr: o grande Salvador Martinha, o humorista que eu agora sigo por esta via). Eu não quero ser o “Pedro, o único português sem facebook porque tem facebook mas não lhe liga peva”. Eu agora quero ser o “Pedro, o português renascido que na nova vida sim sabe dar valor ao facebook, porque é um grande instrumento que pode e deve ser utilizado nos tempos que correm”, ou “Pedro, o homem da comunicação social que não quer estar fora das novas tendências, e não quer ser velharasco”.

Falando em facebook e saber utilizá-lo, não resisto a contar-vos uma história, para quem tem vagar porque eu aprendi que no facebook não cabem só vaidades e cusquices. O facebook também pode ser bem utilizado, como tudo na vida, e dá para meter tudo o que se quer dentro.

Eu não sei como o acidente se desencadeou, qual a causa, nem como foi, mas…. foi muito mau. Eu sei que os dentes da frente, do maxilar inferior, são os meus mas… foram todos recolocados no sítio, um a um, porque estão ligeiramente deslocados. E são os meus porque Deus quis que no hospital de São José, em Lisboa, tivesse a oportunidade de encontrar um médico muito jovem, mas fabuloso, que bateu os pés por mim.

 Numa escala de Glasgow que classifica os estados de coma de “3 a 15”, o meu estado era apenas o de “6”. Muito baixo, sobretudo se tomarmos em linha de conta que no estado “3”, a taxa de mortalidade é de 85%. Só se safam 15 em 100. Pois apesar deste meu baixo ranking, este médico afirmou que eu me iria salvar. Em boa hora o encontrei. Uma coisa é trabalhar com papéis, como eu trabalho, onde os erros são facilmente e sempre solucionáveis; outra é trabalhar com vidas humanas e se ele não tivesse feito força por mim, ter-me-iam colocado uma placa dentária para o resto da vida. Isso lhe disse numa consulta, na qual me revelou que o queixo se mantem no sítio graças a duas placas de platina que o suportam. Mostrou-mas num raio x que o provou. (Tenho de passar a ter cuidado nos detetores de metais dos aeroportos…). Nessa mesma consulta, o homem cujo brilhantismo não é apenas clínico, com muita piada e inteligência, chamou-me Lázaro. Ao ver a minha cara e reação, perguntou-me a razão porque tinha revelado tanta admiração. E eu respondi-lhe que “sou cristão e sei bem quem foi Lázaro”.
Ele, respondeu-me com finesse: - “Ai sim? Então, diga-me lá quem foi Lázaro?”.
- “Oh Dr… Lázaro é o nome da figura bíblica que regressou do mundo dos mortos quando Cristo o mandou caminhar e sair da cripta”.
- “Ai sim? Regressou do mundo dos mortos? Então… foi o que você fez!”
E com esta me calou, me deixou boquiaberto, e com um sorriso de parvo.
Nunca mais me hei-de esquecer o episódio.
Pedro dixit in Facebook.

Este foi o texto que publiquei no mural de facebook de Pedro Sobreiro, “o nome artístico do verdadeiro Tio Sabi”, local que passei a chamar uma lanchonete no calçadão de Copacabana, um sítio menos oficial do que a taberna do blogue, o local onde servia uns chopes e umas sandes frugais.

Agastado, à toa, sem ânimo para mais, sem forças nas pernas (nesse então, nem 50 metros, para grande infelicidade minha, era capaz de correr), fechei o tasco numa quarta-feira, a 30 de maio de 2012. Triste e desolado.



No facebook, a vida era mais light. Ali, qualquer um escreve, partilha ou replica. Ali a vida era boa, boa ia ela, mas… as saudades mandavam muito. Um blogue, por muito louco e alucinado que seja, como o meu, tem às suas costas a responsabilidade de ser apelativo, de poder continuar, de chamar as pessoas por terem um motivo para regressarem. “Mas a gente vai ali àquele canto ouvir o maluco porquê? Diz alguma coisa que nos intrigue? Comova? Toque? Surpreenda? Reconforte? Esclareça? Incomode? No fundo e só… faça pensar… sentir vivo?

Então, comprei uma vassoura, chamei meia dúzia de amigos e clientes especiais, varri as teias de aranha, pintei as paredes, voltei a ligar ao fornecedor de vinho (e mandei vir grades de cerveja preta, sem álcool, para consumo interno), comprei um fogão em segunda mão para o petisco e numa terça-feira, dia 19 de fevereiro de 2013, voltei oficialmente a esta minha velha casa.

A mágica reabertura das portas:




Vida tão feliz na vossa companhia, meus amigos e amiguinhas. Tão boa. Eu vos agradeço voltarem sempre porque este espaço… é vosso também! Se o Tio Sabi falasse sozinho, era tam-tam e o mais certo era ir de canoa. O que eu gosto de ver as estatísticas e perceber que estão cá, que estão aqui!

A homenagem que fiz ao amigo Adriano após ter partido, já foi visualizada por mais de 1.500 pessoas. 1.500! Se no concelho há menos de 4000… Ele certamente ficaria tão feliz, como eu fico. Bem hajam, muito obrigado e desculpem se alguma vez magoei alguém… sem querer. Se foi por querer… ai têm de desculpar mas isto aqui é mesmo no duro. Se gosta, gosta. Se não gosta… é a doer que aqui não há concessões.

Só li hoje, os comentários que fizeram no facebook, em 2013. Hão-de estar a receber as notificações de volta, agora. Passados 4 anos. Desculpem o atraso. E obrigado a cada um, a cada uma, a vossa força. O sorriso que eu fiz ao lê-las. Diferente e pessoal para cada um de vós. Como se estivesse a falar contigo. Sim, contigo… querido, querida.

Vejam comigo os rostos… Alguns já desapareceram, entretanto, deste mundo. Como um, logo dos primeiros a interagir comigo, com o qual tinha a melhor relação nesse então, mas que depois de uma fricção no meu serviço, perdi a ligação, embora eu tenha a consciência tranquila de ter sido assertivo, e prestado o melhor serviço.

Quanto à força que recebi pelas vossas palavras, pelo vosso carinho, por incrível que pareça: senti-a. Agora e… quando estava lá.

Humildemente digo: Bem hajam. Teve de ser muita força positiva a puxar pelo Drocas de volta.

Nestes tempos, retomei a publicação em pleno de cartazes novos que afixo no “lugar de estilo” da tasca (4 publicações na última semana), e vou fazendo uns pipis para vender na lanchonete do calçadão (facebook), alguns de tão boa qualidade, que depois sobem à vitrina de petiscos da taberna.

Digo o mesmo de sempre: Sirvam-se.

E muito merci.

Do vosso sempre,

Tio Sabi


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