A cara dela diz tudo... |
Porque
há quem pense que pensa, e por isso ousa pensar que imagina, que o mistério de
Fátima, é muito maior do que o que os outros pensam que é, o dia de hoje foi
vivido em plenitude, ao comemorar-se em Marvão, o encerramento do centenário
das aparições. Para isso, o nosso (extraordinário) dinamizador padre Marcelino,
conseguiu reunir padroeiros de 14 comunidades, do nosso concelho (Alvarrões,
Barretos, Beirã, Cabeçudos, Escusa, Galegos, Marvão, Portagem, Porto da Espada,
Santo António das Areias, São Salvador da Aramenha), e ainda de Castelo de
Vide, Póvoa e Meadas, e São Julião; numa ambiência, verdadeiramente singular,
presidida pelo Sr. Bispo da diocese, D. Antonino Dias.
Há
quem pense que Fátima não foi (só, e apenas) uma invenção de Salazar, para animar
o espírito dos portugueses analfabetos, subnutridos, sequiosos de algo a que se
agarrar. A ideia de que a religião… é o ópio do povo, nascida de um filósofo (Karl
Marx) que sempre se movimentou, numa área diametralmente oposta à do velho
ditador, foi comum aos dois.
Pois
eu acho que Fátima… é um mistério. Como a vida, como a religião, como a lógica
de tudo isto. Tanto pode tudo ter sido inventado, como tudo pode ter sido mesmo
assim. Será que Fátima teria acontecido num mundo, como o nosso de hoje em dia?
Será que a virgem estaria disposta a ser sujeita, vista, revista e aumentada,
ao ser captada por um dos milhares de smartphones que por lá estariam? Daria
Youtube instantâneo? Publicação em quantos murais de facebook? Instagram para
os mais outsiders/gráficos?
Provavelmente…
todos sabem a resposta que eu imagino. Mas se calhar, até é por isso que nunca
mais houve manifestações tão óbvias.
A
palavra no meu vocabulário é… respeito. Silêncio, respeito, e fé. Acreditar que
possível. E respeitar.
Também
já eu fui até Fátima, a pé. Fui, como eu acho que essa caminhada deve ser feita:
como o nascimento, como a morte… a sós. Fui cumprindo a promessa do regresso do
ultramar com vida, a quem nunca me pediu para o fazer, e já cá não estava a entre
nós, já nesse então, para me agradecer. Fui. Sem estar à espera de nada. Sem
aparelhos tecnológicos, sem telemóveis, sem gadgets para minorarem o passar do
tempo, fui sempre a pensar. Já não sei explicar o quê, mas a verdade é que
nunca me senti só.
Não
quero com isto tratar com desdém, a moda das peregrinações até Fátima, que se
tornou tão popular entre nós, com a rapaziada toda a aderir. Nada disso! É um
convívio saudável, tem a benesse da nossa estrutura clerical, e enquanto estão
ali, as pessoas não andam afastadas umas das ouras, ou em más vidas. (Dizem
que) Dançam, cantam, batem palmas, são felizes, e ao serem assim, louvam
Cristo, nosso irmão, que espalhou a mensagem do pai.
O
mistério de Fátima, para mim, é o mistério da vida. Tal e qual. Ou se pensa que
somos assim, apenas porque sim, apenas porque um espermatozoide mais cabeçudo,
tanta marrada deu naquele óvulo tão fofinho, que as estava mesmo a pedir, que
cresceu até ser gente; ou se acredita que isto é um quadro muito mais amplo,
muito maior, e nesta praia da vida, onde somos apenas um grão de areia; há muitas
variáveis que nós não vemos/dominamos.
Mas
há duas Fátimas, que são dissociáveis, A interior, de que falo aqui, a que é a
minha, também; e a outra, que é a que se afasta da essência da fé, e por conseguinte,
de mim. Essa Fátima onde se queimam velas e dinheiro, onde as pessoas se
sacrificam e sofrem, autoinfligindo-se penas duras, de joelhos; a fim de terem
aquilo que não pode ser obtido assim, por troca direta; afasta-me.
Essa
fé, a que é levada ao osso, a que fica em carne viva, é a que me faz pensar no
mandamento “Não farás para ti Ídolo de escultura, nem alguma semelhança do que há
em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra”.
Porque não vale a pena. Não é por aí.
Ter
fé não é fácil. Tem que se ser inteligente. Precisamente o inverso daquilo que pensam,
os que pensam que são inteligentes. Há que haver observação, constatação,
recolhimento, muito pensar, humildade, boa fé, comunhão. Nunca mais se está só.
Deixa de se dançar sem rede no circo da vida. Passa-se a compreender e
sobretudo, aceitar.
Cheios
de fé estiveram os que hoje encheram o largo do Terreiro de Marvão, com todas
as imagens, engalanadas por populares devotos, para brilharem neste efeito; e
depois a romaria em procissão, até à igreja mãe, de Nossa Senhora da Estrela.
A fotogenia da minha mais pequena assombra-me. Vira a carinha de propósito. Olha o Tiago... tão bom! ;) |
Ali,
numa cerimónia plena de simbolismo e ilusão, as crianças da catequese do
concelho, enviaram para os céus, terços de balões, com cruzes onde escreveram
os seus desejos para o mundo.
Bonito! Atenção Alice que: "peÇo", não se escreve "pesso" -TÁ BEM! Pai, eu sei! Vai no volta, escreveu TOLDOS, em vez de Todos. Já deve de estar a pensar na praia. Será que Deus não descobre que estar artista era a filha do catequista? |
-
É para chegar a Deus, Alice… Estas cruzes têm inscritos os vossos desejos para
chegarem aos céus…
-
Aonde?!?!?
-
A Deus…”
-(Fazendo uma grande careta) –XXXXXXXXXXXxxxxxxiiiiiii… é tão longe…
Hoje,
quando se lançaram os balões e ficaram presos, nos fios frente à Santa Casa,
disse-me: “Eu não te disse que não chegavam lá?!?!?”
Enfim, foram... |
Seguiu-se
a celebração eucarística ministrada pelo senhor bispo e… que homem. Que calma,
que clareza, que clarividência, que simplicidade e que riqueza. Como explicou
os evangelhos, como traduziu e tornou tão inteligível, aqueles textos ancestrais.
Foi
mágico.
Para
terminar, com a melhor chave de ouro, um concerto com o grupo Vox Angelis,
alusivo a este mesmo assunto, dos avistamentos perto de Ourém, há 100 anos
atrás. Pedro Miguel Nunes, o barítono diretor do coletivo Vox Angelis (2 vozes,
2 violinos, uma guitarra clássica e um violoncelo) apresentou um reportório
riquíssimo, que se estendeu por cerca de hora e meia; onde interpretou excertos
de obras clássicas, e diversos cânticos sacros.
Em
silêncio, por vezes, de olhos fechados,
interiorizei, senti, e… envergonhei-me com o enorme ruído das conversas que ecoavam
na nave central. A coisa chegou ao ponte
de, o próprio artista, ter pedido silêncio aos presentes, o que é absolutamente
inenarrável.
COMÉQUÉIMPOSSÍVEL?!?!?!?
Perguntava-me eu.
É
que para além de brutos(as) e estúpidos(as), os(as) fazedores de barulho, foram
completamente insensíveis. Por acaso não perceberam que ali estava a ocorrer
uma manifestação de arte?!?!? Aquilo, para além de ter custado dinheiro (fosse
a quem fosse), exigia esforço, concentração, dedicação, entrega, por parte dos
artistas.
Sinceramente…
Certamente,
nenhum dos prevaricadores será meu leitor, mas se for, tem o correio institucional na barra de lado, para
poder teclar-me, e dizer de sua justiça. Mas, se me permite, creio que não a
tem.
Uma
frase não parava de me martelar a cabeça: isto é pérolas a porcos. Salvo seja.
Ah!
E outra nota: não fui criado em meios eruditos. Os meus pais sempre pertenceram
à classe média… média. Nunca fui um cliente habitual da ópera com eles a
levarem-me pela mão, mas já aprendi, na vida; que nestas manifestações
culturais de nível mais erudito, não se bate palmas no final de cada trecho. Aquilo
não é um baile pimba!
Bate-se
no final, de tudo… tudo, ou… quando eles se meterem a jeito. A gente vê logo.
De
resto, em jeito de balanço, foi uma tarde/princípio de noite muito bem passado.
Adorei tudo e muito obrigado à Filipa Bicho, mãe do meu catequizando Tiago, que
foi tomando conta dele, e da indomável fera Alice , enquanto eu fui ajudar no
andor.
Se
tudo correr como espero (e se assim não for, garanto-vos que estarei certamente
contrariado), daqui a 100 anos cá estaremos, outra vez, para a comemoração dos
200 anos de Fátima!
Até
lá!
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