Morreste-me… (também tu, Zé Pedro?)
1956-2017
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Escrito a ouvir as
cassetes dos Xutos online. Já não lhes metia os ouvidos em cima há… pelo menos,
30 anos. As maravilhas da tecnologia… A net, hoje, é tudo. Ainda bem que a
temos.
Descia
a encosta de Marvão, ao final da tarde, com aquela glória estranha, um pouco
impercetível, e inexplicável também, de ter fechado bem mais uma semana de
trabalho. Sem stress, sem problemas, agigantada porque estava à beira de um fim
de semana grande.
Na
rádio, na minha rádio, o Diogo Beja lamentava a alteração da habitual orientação
do programa, por uma notícia triste.
Morreu
alguém, pensei. Para tanta consternação que passava nas ondas hertzianas, teria
de ser alguém importante.
Ouvi
mais um pouco e… o Zé Pedro, o Zé dos Xutos.
Porra…
61 anos.
Eu,
como acompanhante destas andanças do rock, conhecia bem a sua debilidade
física, da sua luta tremenda com a hepatite C, que contraiu numa fase em que
dava duro no cavalo. Sabia, e tinha acompanhado o seu transplante hepático, mas…
não estava nada à espera desta.
Sabia
que ele continuava a tocar, que continuava a manter acesa a chama, a meter o
povão a delirar, e a delirar ele também. O Zé Pedro era um amante do rock. Mais
que um rocker, ele era um fã que… também tocava. Fazia programas de rádio, era
DJ, não falhava a concertos cá, e ia lá fora, ver o que adorava.
T-shirts e memorabilia a lembrar... ídolos seus, e meus |
O Zé não era um grande músico. Não era o virtuoso (solos, eram mais com o Cabeleira), não era o criador (sobretudo o Tim a escrever), mas era, sem dúvida absolutamente nenhuma, o corpo onde vivia o espírito dos Xutos e Pontapés (que não sei como é que resistirão sem ele). Sempre bem disposto (pudera! Fazia o que amava, onde amava!), boa onda, simpático, cortez, irradiava alegria e nisso aí, sim era um ser adorável. Passar a vida ao pé dele, deveria ser o máximo. Lembro-me, e lembrar-me-ei sempre, do Zé a rir. E a fazer aquele riff de guitarra, com a bichinha de lado.
Vi-o
da primeira vez nas Carreiras, em 88. Quando os Xutos eram o Rock Português, e
se vivia o boom dos “Contentores”, o vosso tio Sabi, com 15 anos, lá foi
caminho das Carreiras, ver O concerto. Não guardo grande memória, a não ser um
cheiro do catano a resmenga, que aquela malta das filas da frente acendia uns,
nos outros. Foi fixe, foi bem, foi bem fixe.
Depois,
fui acompanhando. Fui tendo outras bandas de eleição, outras ondas mais
britânicas, mas as cassetes do “Cerco”, do “78-82”, e da “Aventura homossexual com
o General Custer” (nome bizarro), nunca me deixaram. (links para os discos na
íntegra)
Os
Xutos foram crescendo, foram evoluindo, eu também, mas nunca os perdi de vista.
Estavam sempre cá. Uma vez Xutos, os braços ficam sempre a fazer o X. Da última
vez que os vi… (no CAEP, acústicos, em Portalegre)
Onde encontrei esta prenda... (da qual sou tão fã...) |
O
Zé foi-se, e caiu mais uma estátua da galeria dos ídolos de sempre, desde que
me lembro de existir. Foi o Bowie, foi o Lou, foi o Cohen, vai o Zé, vão indo
todos e, pela lógica da batata, ao vê-los ir, também nós somos levados a
pensar, mesmo que não queiramos, que não ficaremos cá para semente.
Olha,
não faço nada ideia onde é que isto tudo irá ter. Tenho fé que não acabe. Tenha
esperança que isto continue, não sei onde e sob que forma, mas hoje gosto de
imaginar que o Zé Pedro estará algures a conhecer todos aqueles que toda a vida
adorou. Imagino-o num bar bem cool, a falar de riffs e acordes com o Jimmy
Hendrix, de pose e atitude com o Kurt Cobain, de poesia e forma de viver com o
nosso rei Morrisson. A rir, a curtir, como sempre fez em vida.
É
bem melhor que o imaginar acabado, a ser comido pelo bicho, num buraco escuro,
sem luz.
Até
sempre, homem do leme! Fica bem.
Fica em paz…
Insubmisso!
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