sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Black Swan



Vi o “Cisne Negro” e fiquei assombrado.

Eu não estava à espera de uma coisa assim… Tem uma intensidade, uma beleza, uma força de tal forma visceral que nos deixa rendidos. Suga-nos para dentro da tela. Hipnotiza-nos, manipula-nos, faz de nós o que quer.

É uma obra-prima absoluta. Um clássico instantâneo. Um sério candidato às listagens de filmes que são marcos na história do cinema.

O sonho de Nina que serve de introdução tem tanto cinema dentro que chega a impressionar. Os corpos são filmados com uma elegância, com uma proximidade, com um humanismo, com uma sensibilidade que o resultado não pode ser outro que o puro encantamento.

O “Cisne Negro” tem tanta vida dentro, tem tanto de nós dentro, da fibra com que nós os humanos somos feitos que eu acho que era capaz de estar um dia inteiro a escrever sobre aquilo que me transmite e me faz sentir. Mas não o farei. Não há nada que substitua o visionamento.


O “Cisne Negro” é inteligente e ousado. Fico deveras surpreendido que a academia, que é escolástica e naturalmente conservadora, contemple uma obra que tem um registo claramente independente, não faz qualquer espécie de concessões e avança destemida por caminhos tão ousados como são os da auto-mutilação ou da masturbação. Notável!

Eu vi aquilo como quem chupa o último Ferrero Rocher da caixa que nos deram no Natal. Eu adoro. Eu até me lambo. Coisa boa… Eu vejo uma coisa destas e dou Graças a Deus por estar vivo e me deixar desfrutar de coisas assim tão belas.

O tempo ainda não me permitiu ver os outros filmes que são candidatos aos Óscares mas para mim não restam dúvidas. É matematicamente impossível que no mesmo ano possa ter nascido uma outra obra que almeje sequer chegar aos calcanhares desta. É impossível. É sumptuoso. Caíu-me no goto.

Sendo assim, Melhor Filme, Melhor Realizador (genial Aronofsky), e Melhor Actriz Principal estavam entregues e é aqui que eu paro para suspirar… Natalie Portman… Nina… Natalie… Nina… no papel de uma vida. O que dizer? Dizer que está inesquecível, insuperável, perfeita (e vocês perceberão quão perfeito é usar o perfeito aqui). Natalie Portam está imortal. A sua imagem em pontas é iconográfica. Se algum dia a vida na terra terminar e vierem uns seres de outra galáxia que queiram saber o que foi uma mulher, era esta Natalie Portman que deveriam mostrar. Uma prestação de pura filigrana, sempre à beira do precipício, sempre no fio da navalha… ao mesmo tempo tão frágil e tão forte. Pode a delicadeza ser de aço? Pode. Um Óscar? Eu se fosse eles dava-lhe dois. Um para a sala de jantar e outro para meter na cozinha. Bom demais!

Mas há mais… há um Vissent Cassel brilhante no papel de coreógrafo/encenador, uma Mila Kunis que é a subversão encarnada, uma Barbara Hershey diabólica no papel de mãe dominadora… tudo bom. Tudo do melhor.

Sabem o que vos digo? Quando voltar a estar no meio daquela recorrente discussão sobre literatura/cinema em que uns puxam para os livros e eu hei-de sempre puxar para o cinema, e voltarem a dizer que o livro é sempre melhor que o filme, eu só voltarei a dizer duas palavras: Cisne Negro. Por muito pródiga que seja a imaginação do leitor, jamais poderá pisar solos tão sagradas como os que são criados nesta obra-prima sonhada e gerada por tantos génios criativos durante meses.

Puro êxtase.

10/10.


5 comentários:

André Relvas disse...

Descrição perfeita Pedro...sem dúvida um dos melhores filmes que já vi :) abraço

Catarina disse...

Não sei se foi de ter visto este filme no final da gravidez (em que tudo me irritava) mas a verdade é que não me senti arrebatada pelo Black Swan.

Quer dizer, mesmo sem ter visto a maioria dos nomeados eu dava à Natalie o Óscar de melhor actriz, porque ela está de facto fabulosa, mas é o filme em si, a figura frágil e trágica de mulher que não me enche as medidas.

Os filmes que a mim me deixam sem fôlego são as grandes histórias e os grandes heróis/heroínas. Ou aqueles em que por alguma razão me revejo. São gostos...

A este achei-o demasiado dramático, trágico, mas de uma forma que não me comoveu. Mas é um belíssimo filme, lá está, não lhe retiro de forma alguma o mérito, e se amanhã for o grande vencedor do Kodac Theatre não vou estranhar.

Quanto discussão entre literatura/cinema, pessoalmente, há livros que me deixaram marcas para a vida toda tanto como filmes. E são de consumo lento, mais difícil, exigem mais reflexão, como tudo o que é bom na vida.
Acho que há espaço/momentos para os dois

André Relvas disse...

quando fui ver o filme ao cinema estava algo sonolento e nada "in the mood" para ver o "Black Swan". Apesar da crítica muito positiva da maior parte dos sites da especialidade, o drama era algo que não me seduzia mesmo nada naquela noite...em menos de 10 minutos fiquei completamente absorvido pelo filme, pelo papel soberbo da Natalie Portman, e pela intensidade com que cada segundo passava...

é pesado...sim, mas a palavra mais precisa para o descrever é "poderoso".

Tenho recomendado a toda a gente...na verdade, eu vejo muitos filmes e, se não recorrer a peliculas mais antigas, passo muito tempo sem ver bons filmes...como este, o Incepcion ou como o "The Experiement", um remake com o Adrien Brody e o Forest Whitaker, que também vi muito recentemente...

duas ou três bolsas de oxigénio que me fazer acreditar que ainda se faz cinema de qualidade.

Mac disse...

Se toda a gente gostasse do mesmo e o mesmo fosse amarelo, era uma chatice.
Qualquer opinião é de respeitar. sendo assim, digo-te que estou a torcer pelo inception ou o discurso do Rei, com preferência para este último (melhor filme e realizador), Colin Firth melhor actor, Geoffrey Rush melhor secundário e talvez a Natalie Portman melhor actriz, a rapariga apresenta-se muito bem como esquizofrénica e isso é meio caminho andado, veja-se o caso do Russell Crowe em mente brilhante.
No entanto, acho que deves ganhar-me porque a academia sempre tem o dom de me surpreender.
Mas muito provavelmente vai-te surpreender a ti também (ou seja aos 2) e escolher a rede social porque é uma americanada e assim será empate técnico.

Helena Barreta disse...

Não me posso prenunciar, ainda não vi o filme.

Um abraço